Emilly
Moisés me entregou aquele pacotinho de amor nos meus braços, assim que eu o tomei embalei ele no conforto do meu seio, sentindo uma emoção nova e ao mesmo tempo conhecida. Às emoções transbordava pelos poros.
Beijei sua testinha, raspei o lábio nos cabelos finos. Cheirando, inalando seu perfume de bebê.
Veio outra rajada de vento, passando por nós dessa vez mais intensa, o protegi dando às costas a Moisés.
Ele como um bom pai correu para me acompanhar.
— Vamos para o casarão, não quero que o seu filho fique doente, tadinho.
— Grato pela sua preocupação. A dona tens um ótimo coração.
Andamos juntos indo em direção a casa, no campo as minhas empregadas e o Crivilan já haviam voltando para os seu lares.
Ao chegarmos na entrada, subi os degraus atenta, porém, apressada, só quando passei pela porta que percebi Moisés parado do lado de fora.
— Entre Sr. Whetson, ou irá esfriasse também. — Disse-lhe observando a sua indecisão através dos seus olhos esverdeados.
— Lembra que a dona disse que não seria de bom tom se eu...
— Isso foi antes dele.
Ergo o menino dormindo, acolhido em mim.
— Não seja por isso dei-me o meu filho que iremos ao lugar que pousaremos. — Explicou Moisés.
— Que tipo de pessoa seria eu, se deixassem vocês num celeiro ou estábulo qualquer. — Proferi indignada. — Não sei qual dessas encontrou no seu caminho permitindo um neném dormir num lugar frio e sem estrutura.
Moisés semicerrou os olhos.
— Não os julguem, foram boas pessoas, almas generosas que nos acolheram. Eles tinham famílias grandes, m*l cabiam eles próprios em suas casas, e além de deixarmos lá, também recebemos alimento em nossas barrigas. Dona Tonson.
— Tudo bem. — Enfim disse depois de ouvir o seu sermão de cristão. — Entre!
Suspirando e olhando para os lados ele resolveu entrar.
— Desejas uma água, banho, ou comida? Fica a vontade. — Perguntei-o, enquanto isso adentrei mais na casa com o desconhecido em me alcaço.
— Água seria ótimo, Senho... quer dizer dona Tonson.
— Maravilha, já irei lhe servir.
Parei em frente ao quarto de Jonh, respirei fundo abrindo a porta, tomando cuidado com o neném.
— Aqui será o recanto de vocês. — Informei vendo-o mirando todo o cômodo, sem se atrevendo a entrar.
— Bonito. Era de...
— Do meu falecido filho, vamos, não se faça de rogado, pode vim. — Aceno positivamente.
Moisés passou pelo batente da porta, agora mirando-me nos olhos, olhar forte e intenso.
— Lamento suas perdas, Deus enviará o consolo na hora certa. — Sua voz baixa, sussurrante, me atingiu em cheio.
— Por favor... não diga, não fale sobre esse Deus. — Ditei cerrando os dentes.
— Sei que estás magoada com ele, mas deixa essa mágoa sair, se quiser eu... ___ Aproximou-se.
— Não!
A voz odiosa o fez parar, compreendendo a intensidade dos meus sentimentos referente ao Deus castigador e implacável que se apresentou a mim.
— Isso não lhe fará bem.
— Qual o nome do seu pequeno?
Desviei do assunto.
Moisés fitou-me sorridente, apenas seguia o meu ritmo, sem forçar as suas crenças.
— Benjamin.
— Lindo nome, um dos meus preferidos.
Abri um sorriso.
— É da Bíblia, sabia?
Ergueu uma sombrancelha astutamente.
— Sei disso, me poupe das aulas dominicais caro Sr. Whetson. Conheço a Bíblia de cabo a r**o.
A expressão dele se fez iluminada.
— Que bom... então sabe que Deus nunca falha.
Me subiu uma raiva gigantesca.
— O que sei, é que quando ele quer, se desfazer do homem, ele se desfaz. Como fez na época de Noé, através de um dilúvio, se livrando da sua própria criação terrena, limpando a Terra, como se não valesse-mos nada para ele. E na época de Ló, quando dizimou Sodoma e Gomorra jogando bolas de fogo naquela gente.
Moisés cruzou os braços, encarou-me como se eu tivesse duas cabeças.
— Sabes que aquele povo de Sodoma e Gomorra eram impuros, de má índole, eles praticavam todos os diferentes tipos de perversão, uns que nem poderíamos imaginar, pois a nossa mente não chegaria a tanto.
Ergueu as mãos em aspas.
— Se continuassem naquelas vidas promíscuas seus destinos seriam piores do que a aniquilação total, infelizmente se mostraram incapazes de seguir as leis de Deus, traçando um caminho tenebroso, malignos da perdição. No entanto aquela GENTE. — Enfatizou ele. — Como acabou de dizer, seguiam as suas vontades, seus desejos escusos, sem se importarem se fariam mau ao seu próximo.
— Nossa... estou tendo aulas. — Comentei revirando os olhos. — Moisés, diga-me agora, e sobre o dilúvio? Qual é a desculpa que darás a esse Deus que tu segues?
— Presumo, que eram da linhagem de Caim.
Colocou as palmas das mãos na altura do seu peito e depois na minha direção, apertando a boca antes de prosseguir
— Na minha opinião, é claro. O bom da Bíblia é que podemos questionar, ou não, as suas escolhas em nossas vidas, no entanto, nunca devemos blasfemar contra ele, o que é, e sempre irá de ser.
Terminou o discurso fechando as mãos e abaixando-as, num gesto solene.
— Nossas vidas pertence somente a ele, decidindo a nossa hora de ir desse mundo.
Lembrei do que havia dito, deixando esses assuntos bíblicos de lado antes que viesse-mos a discutir mais seriamente.
— Perdeu alguém, não foi?
— Sim. Alguém muito importante na minha vida e a do Benjamin.
Fechou os olhos, em seguida os abriu, as pálpebras marejados. Sua dor pairava na sua quietude.
— Não precisa falar. Olha! — Mostrei a cama. — Dormirá você e seu pacotinho aqui.
Ouvi o ressoar do seu riso, acho que foi a forma que me referi ao seu neném.
— Agradecido, faz meses que não dormimos em uma cama. — Discorreu vindo pegá-lo do meu colo. — Não é Benjamin? Minha benção.
Trouxera o menino novamente aos seus braços de pai.
A minha vontade era nunca mais solta-lo, pois havia me enchido de uma paz sublime, porém Moisés Whetson era o progenitor. Eu, não era nada para essa criança.
Fitei os meus braços vazios sentindo uma tristeza profunda, desamparada, sola.
Os olhei admirada, vendo o bebê acordando e interagindo com ele.
Que cena edificante... Enchia as lacunas do meu coração partido, tanto que quase derramei mais lágrimas, mas segurei a tempo.
— Vou buscar sua água. Sr. Whetson.
Seu olhar por pouco não se encontrou com o meu, desviei na hora.
— Espere aqui, pode se sentar, John... vai... ama-los tê-los aqui...
Saio do recinto às pressas, a dor da saudade embargada no peito.
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"Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações.
Salmos: 46:1"