Capítulo 6

1453 Words
Emilly A noite se abateu sobre nós, o casarão hoje permanecera acolhedora, como um abraço de mãe. Tudo por causa da chegadas desses dois estranhos, dois seres humanos que precisavam do meu acolhimento. Sem saber como irei pagar a ajuda braçal do meu recente trabalhador. Pelo que pude notar será uma excelente aquisição a fazenda, além do mais, agora só me restou ele e Crivilan. Espero que dessa vez as coisas fluam, não porque restou em mim algun tipo de fé, a fé é um firme fundamento das coisas que não se podem ver, mas das coisas que se esperam... Isso não existe na minha vida. Acredito naquilo que posso tocar, ver, não em milagres. Deitada na minha cama, nos aposentos, estava remoendo o perfeito dia de hoje, embora tenha começado ele m*l, ao final de tudo... encheu o meu ser de alegria. Incansavelmente me pego pensando em Benjamim, estou apaixonada pelo menino do Sr. Whetson. Ele é um bebê lindo... Os olhos do pai, esverdeados no centro, as bordas são amarronzadas... Emilly Tonson! Não deverias notar um homem assim... Conversava comigo mesma. Impossível não perceber a semelhança deles, olhar o filho é como olhar o pai. Sem sombra de dúvida. Tentei dormir, porém o sono fugia de mim hoje. Logo depois do jantar, deixei-os a vontade, é claro que adoraria me intrometer, oferecendo a minha ajuda para dar banho ao bebezinho na banheira antiga de Jonh, no entanto Moisés era um pai bastante experiente, sabia agir como uma verdadeira mãe amorosa, então sai, permitindo a interação dos dois a sós. Acendi todas as lamparinas, caso ele precisasse ir a cozinha pegar algo para comer, ou até mesmo leite morno, mingau ao seu filho. Queria que se sentissem em casa, pois aqui será o seu lar de hoje em diante. Quando tudo se normalizar, vou contratá-lo definitivamente. Mas... pode ser que o Sr. Whetson queira ter uma casa somente para si! É claro, é bem provável que isso aconteça, caso venha acontecer, espero imensamente que não vão morar longe. Estava apegada ao menino, tanto que não conseguia pregar os olhos de pura ansiedade, minhas mãos anseiam em tê-lo aqui, entre os meus dedos. Sorrio só em pensar nessa criança. Meu peito arde de esperança, um amor que transborda... Obrigado Jonh, meu querido filho, por esse presente, esse acalento, ter a oportunidade de exercer a função maternal que foi exterminada da minha vida. Não praticava oração, mas gostava de conversar em pensamento ou em frente ao túmulo deles. Sentia que eles me viam, e me ouviam. Provavelmente Ulisses não devia estar gostando muito da idéia de ter outro homem na casa, porém deve saber que é preciso, então tudo bem. Levantei da cama decidida, pegando meu robe jogado na cadeira, vestir, saindo às pressas do quarto. Minha primeira ação é procurá-los no quarto de Jonh, vendo a porta entreaberta. Sei que isso era errado, bisbilhotar os outros, ainda mais às visitas, entretanto era por uma boa causa. Abri a fresta da porta, não os encontrando na cama. Escutei um risinho infantil vindo da saleta, abandonei o cômodo indo rapidamente ao local. Quando cheguei na saleta, és que vejo Moisés e Benjamim no sofá, ele fazendo umas caretas estranhas na frente do seu filho, enquanto a lareira estava acessa, fazendo os dois ganharem uma iluminação especial, quase... divina, por assim dizer. A próxima careta dele foi tão esquisita que gerou em mim uma forte gargalhada, não consegui evitar, tanto que tampei a boca ao ser flagrada pelo Sr. Whetson. Arregalei os olhos, abafando o riso, seus olhos desceram pela minha camisola, entendendo esse olhar agilmente puxei as pontas soltas do robe, me cobrindo mais, vendo-o ficar sem graça afastando aqueles olhos esverdeados, sua atenção voltou-se ao bebê. — Perdão por incomodá-la Dona Tonson. Bem estranhou a cama. — Riu torto de si mesmo. — Às primeiras noites ele sempre fica assim, por isso acendi a lareira, ele fica distraído, aprecia o fogo e... — Pode parar de dar explicações, quero que os dois se sintam confortáveis nesta casa, então podes ficar onde quiser, todos os cantos dela, cada cômodo, e tudo que há aqui ou fora, se sintam a vontade para pegar, tocar e usufruir... são os meus hóspedes e se quiser... meus inquilinos. Moisés olhou-me instantemente, mostrando surpresa, admiração e um toque de preocupação pelas minhas ofertas. Nos entreolhamos numa espécie de entendimento mútuo, sem precisar usar as bocas para proferir qualquer palavra. Foi... inacreditável essa transmissão, pois havíamos nos conectado em uma sintonia elevada, uma diferente, nunca me senti assim em relação ao Ulisses. Engoli em seco, me achego a eles, tendo seus olhos sobre a minha pessoa. Vou amarrando as pontas do robe dando voltas na minha cintura, para não deixar aparecer minha pele aos olhos deste homem... belo. Admito, agora percebia mais. Está limpo, vestindo roupas menos pesadas, essas os favorecia. Sentei no canto do sofá, um braço apoiado no encosto. Só que Moisés continuava encarando-me no rosto. — O que vê? O que tanto olhas? — Sussurrei sem querer. — Uma linda mulher... Sem esperar por essa declaração corri os meus olhos ao Benjamim vendo ele olhando pra cima, os olhinhos vidrados e divertidos, olhando a minha face. Com a mão livre, corri meus dedos ansiosos naquela cabeleira macia, sentindo a suavidade da textura. — Quantos meses ele tem? — Oito meses. — Quando completar um ano deixarás eu fazer uma comemoração ao seu filho? — Por que se preocupa tanto conosco, dona Tonson? — Perguntou suavemente. No entanto tinha um interesse inexplicável nesse questionamento. — Aprecio a presença de vocês dois nesta casa, sou receptiva aos que me convém, e vocês são uma dessas pessoas. — Agradecido. — Conte-me sobre a mãe dele. — Pedi encarecidamente. — Por favor. Solicitei sem olha-lo nos olhos, minha visão era toda do pequeno gordinho que revirava os olhos quase dormindo. Ouvi Moisés respirando fundo. — Rute e eu morávamos também em uma adorável fazenda, próspera e futuramente seria mais e mais... Éramos casados há cinco anos, achávamos que não seríamos agraciados por uma criança... — Por que? Perguntei erguendo meu olhar ao Moisés que observa o filho adormecendo pelo meus carinhos, envolvido na sua manta azul, deitado no quentinho e confortável sofá. — Se passaram esses anos e nunca houve uma gestação. Mas tínhamos fé no milagre, assíduos na igreja da nossa cidade. Numa noite de culto ouvimos Deus falar conosco. Seu olhar penetrante encontrou o meu, permanecemos assim. — E o que o seu Deus falou, caro Sr. Whetson? Sorriu ele satisfeito pela minha inquisição. — Disse que seríamos abençoados em breve e nove meses depois nasceu Benjamim. — Relatou ele. Em seguida seu semblante ficou nitidamente tristonho. — O que houve depois? — Rute adoeceu muito. — Confessou com a voz falhando no final da frase. — Se quiser não precisa... — Não... — Ergueu a mão limpando uma lágrima que escorreu. — Faz bem ao ser humano falar sobre o luto. Afirmou tentando se recuperar num instante. — Não gosto muito de falar com outras pessoas sobre o meu. — Comentei olhando em seus olhos tristes. — Penso diferente da dona, pois bem... Rute contraiu a febre espanhola, então fomos obrigados a manter-se afastados dela, vivendo longe e perto, víamos ela através de um vidro projetado na parede para olharmos ela todos os dias enquanto era cuidada por duas enfermeiras, que se reversavam entre o dia e a noite, usando roupas e equipamentos especiais. Rute preferiu assim para não contrairmos a doença. Tentamos durante três meses, por esse tempo ela resistiu bravamente, até que a morte chegou e a levou de nós. Ao ouvir cada relato, sentia a sua dor sendo compartilhada comigo. — Meus pêsames. Lamento a sua dolorosa perda. — Falei demostrando as condolências mais sinceras, sabia o que estava sentindo. O sofrimento era presente em nossas vidas. — Agradeço. — Ditou emotivo. — E o que aconteceu com a fazenda de vocês? — Foi vendida para pagar a dívida altíssima que contraímos nesses meses ao mantê-la viva, o banco o tomou de nós. Sobretudo faria tudo de novo, era a vontade de Rute, ela queria ver o nosso filho crescer. Sr. Whetson permitiu as lágrimas saírem livremente, colocou o braço no encosto e imediatamente estiquei a mão na sua para toca-lo. Algo no seu interior parecia ter estalado dentro dele, pois olhou-me fascinado por segundos intermináveis. Em seguida olhamos juntos na direção de nossas mãos unidas. Ele as manteve ali, um confortando o outro. — E mesmo depois disso continua seguindo-o... Por que? Encolhi os ombros não entendendo. — Se não o seguisse, esta hora não teria o calor das suas mãos nas minhas. Dona Tonson.
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