Seis

3115 Words
Marreta  A madrugada era o melhor horário para receber e passar os bagulhos para frente. Por isso cortei a troca de turnos, hoje geral iria ralar que nem eu.  Estava no aguardo de uma única ligação, mas a p***a do meu telefone tocava mais do que sirene de ambulância. A culpa foi minha, nesses dias dei mole pra c*****o, fiquei tão embrazado na onda da e**a que acabei passando meu número pra uma p*****a de p**a. Agora estou sofrendo as consequências.  As v***a não entende que eu só tenho um p*u, não dá pra f***r com 10 num dia.  Botei o telefone para rejeitar os números desconhecidos, e pedi para que Matuto me ligasse pelo número de Taquara. Chega de aporrinhação por hoje. Eu precisava de muita paz e paciência para adiantar a p***a do relatório da semana. Eu quebrava a cabeça toda vez que tinha que fazer aquela m***a. Matemática nunca foi minha praia.  — É o cara, pega a visão! – Taquara se aproximou e me entregou o aparelho, era Matuto na linha.  — Dá o papo.  — Já tô em Nikit com as paradas. Daqui a pouco teu paiol vai tá entornando de pasta.   — Beleza, passa logo pra cá.  — Tô com meia tonelada de coca aqui no caminhão, tu tá ligado que não dá pra atravessar a ponte sem escolta. Os cana fica na cola, fortalece essa p***a aí irmão!   — Vou te dar essa moral, mas é por caridade. Tu tá ciente que tua obrigação é trazer os bagulhos no meu morro! p***a, tu tá muito fraco, piando demais – conferi as horas, já passava das 00:00. Eu tinha que agilizar aquela parada pra ontem. Revirei os olhos apertando o telefone – passa a visão de onde tu tá.  O cara deu as coordenadas, assim que peguei a visão desliguei o telefone e o devolvi para Taquara.  Levantei-me da cadeira deixando na mesa o caderno cheio de rabiscos. Ao lado estava a AK 47, meu xodozinho que sempre fechava nos corre comigo.   — Geral pegando a visão pra agora! – bati palmas chamando a atenção dos meus funcionários da boca – acabou a molezinha. Bora pegar firme na missão, se precisar cês tão ciente: É pra largar o aço sem dó pra cima dos cana, P2, qualquer um que brotar na nossa frente! Copiou?!  — Copiado. Nós tamo aqui é pra fechar contigo mermo patrão! – Jão disse enfiando a mão na calça, apertando a 38 que portava na cintura. — Isso aí, gostosinho no azeite – sorri – então bora porque eu não tô afim de perder mais tempo. Confere aí se seus fuzil tá direito, sá p***a não pode travar na hora, senão lombra pro nosso lado! Os radim também, vê aí se tá carregado… – aproveitei para conferir o meu e ter certeza de que estava tudo no esquema.  Em cerca de dez minutos meus crias e eu conferimos tudo, e sim, estávamos pronto para mais uma missão. Não estava indo com a intenção de arrumar treta, mas se pintasse nós não iríamos ficar de bobeira.  Tragava o cigarro sentindo a fumaça de nicotina aquecer meus pulmões, enquanto olhava meus soldados arrumando as paradas, carregando as glocks, os oitão. Só dava 468, 550 e .40.   Lá fora Taquara já havia dado uma geral nos três carros que iriam fechar com a gente.  Meu rádio chamou.  — Qual foi parceiro? É hoje ou não c*****o, os bagulho já tá tudo no jeito. Bora partir! – Taquara deu o papo.  Não respondi, apenas dei o sinal para os soldados que me acompanhavam dentro do barraco. Seguimos para fora e nos dividimos entre os carros. Taquara e eu aceleramos na frente, na companhia de mais três soldados, dois deles menor. Eu poderia dizer que tinha pena por eles estarem descartando uma oportunidade de viver honestamente e em paz, mas seria uma grande mentira. Passei pela mesma experiência quando moleque. A boca da favela foi minha escola desde menor, aprendi tudo com meu tio, e sempre estive ciente do que podia pegar. Assim como tenho certeza que os malucos que fecha comigo também estão.  O bonde seguia de boa para a baixada, os canos estavam malocados para não chamar atenção. Atravessamos bairros e avenidas até chegarmos na ponte Rio-Niterói. Com o trânsito livre daquela noite não levamos mais do que 45 minutos para chegar ao ponto em que marcamos com Matuto. […]  Num bairro próximo ao centro de Niterói, entre os becos de uma rua asfaltada e sem movimento avistamos um caminhão estampado por uma marca de produtos de limpeza.  O homem ligou o pisca alerta quando nos notou.  Respondemos com o mesmo sinal, liberando a área para que Matuto seguisse em frente, enquanto o bonde acelerava atrás, de tocaia.  Atravessamos a ponte de boa, tudo estava limpo, muito tranquilo.  Só estranhei o congestionamento que se estendia pela Avenida que levava ao complexo.  Fiquei puto. Trânsito logo agora, p***a!  O celular de Taquara tocou outra vez, ele me entregou para eu atender.  — Marreta! É blitz c*****o! Fodeu a p***a toda!   Uma sensação fria subiu como um raio pelo meu peito, depois da visão que o cara me passou. Tentei ficar calmo, fingir que tudo estava bem, seguindo como planejado.  Mas eu sabia a verdade.  A missão lombrou.  — Segue tranquilo. O bagulho tá tudo nas caixa de sabão, não vai dar em nada! — Passei a visão enquanto ajeitava meu cano por debaixo do carpete do carro.  Os moleques manjaram logo o que estava acontecendo, não esperaram meu sinal para tirar os oitão escondidos debaixo dos bancos. Ficaram na atividade, com os canos engatilhados prontos para o combate.   Taquara continuou concentrado no volante da máquina.  — Tá cheio de pulguento farejador ali na frente! Já era meu parça!  O sangue ferveu nas minhas veias. O filho da p**a estava cagando? logo agora?  — Já era o c*****o! Essa p***a tem que abastecer minha boca hoje! Reage mermão! Se der r**m tu mete o pé no acelerador e segue pro Chapadão! Acelera, pisa fundo que o bonde tá indo atrás pesadão!  — Pode crer… só Deus no comando agora… – o medo do cara era explícito, mas compreensível. Se ele rodasse com essa carga, seria no mínimo uns dez anos trancado na gaiola.  Tenso, eu aguardava a vez do matuto na blitz.   Ele vai passar…  Vai dar tudo certo…  Fica tranquilo Marreta…  10 minutos se passaram, finalmente chegou a vez do nosso caminhão ser revistado. Matuto parou diante de uns 5 PMs, um deles segurava a coleira de um cão.   p**a que pariu! Não seria um cachorro que iria f***r comigo!  Os canas estavam com as mãos na porta traseira do caminhão, quando o carro deu um arranque. Matuto saiu queimando os pneus no asfalto, cortou os carros e as viaturas que tentaram bloqueá-lo, de quebra ainda passou sem dó, bolado sobre o corpo de um PM que ficou estirado no chão gemendo, com as pernas amassadas, sangrando incessantemente.  Os filhos da p**a largaram o aço. Iniciaram uma perseguição atrás do meu fechamento, das minhas paradas.  Eu não fiquei quieto.  — Pisa fundo Taquara! – ordenei engatilhando a Ak-47, que estava quente, doida para fazer a festa.  Abaixei o vidro da janela, coloquei o cano do oitão para fora e meti fogo na p***a daqueles vermes. Meus soldados fizeram o mesmo. Taquara socava o pé no acelerador, desviando dos carros e motos à nossa frente.  Os bagulhos valiam mais do que a vida da gente.   Meu mano fez uma manobra louca, e acabou batendo o para-choque numa das viaturas que estava pareada – a uns 15cm de nós – com a nossa máquina, fuzilando, largando o aço sem pena. A partir dali parte dos canas colaram no bonde da escolta. Balas atravessavam os vidros, estraçalhavam tudo.   Uma delas cravou na cabeça de um dos meus crias. O menor urrava, gemia escandalosamente dentro do carro, até começar a fraquejar e perder a voz.  O moleque rodou.  Podia ser eu o próximo, qualquer um ali dentro.  Cinco viaturas seguiam minha encomenda. A pressão me queimou como brasa no inferno. Para mim seria melhor rodar ali mesmo do que perder meia tonelada de coca num t**a, de bobeira.  O suor cortava minha pele quente. Calafrios se alastravam por cada milímetro do meu corpo junto a um desejo infame, violento. A adrenalina veio com tudo. Mirei o cano do oitão no pneu de uma viatura e atirei.  — Pisa fundo Taquara! Arregaça o pneu nessa p***a, não para c*****o! – gritei como um desabafo. Ouvi o tom da minha voz rouca, desesperada, preenchendo todo o carro.  — Não tô de bobeira o****o! Tô afundando o pé na máquina, o bagulho é que tá lombrado!  O barulho das balas contrastando com o assobio das sirenes pirava minha mente. Lá fora as balas passavam raspando na lataria do carro, faltando pouco para f***r com nosso pneu. A PM tinha a vantagem, eu só tinha persistência mesmo. Fazia o possível para mirar nos pneus, ou na cabeça de um dos vermes. Entre um tiro e outro ouvi um estrondo. O pneu de uma das viaturas arrebentou no meio do asfalto. Na mosca c*****o! O carro dos otários derrapou, dançou desgovernado até perder o controle e bater contra um golzinho prata que passava pela pista. Os dois capotaram. Disparei mais vezes, explodindo os carros que nem o Bin Laden. Os policiais se cagaram, uma das viaturas até voltou pra prestar socorro para os colegas.  Fiquei tão ligado no fogo cruzado, que quando me dei conta nosso bonde e até o caminhão já estavam passando pela entrada do morro. Taquara manjava dos atalhos tanto quanto eu. Agora já estávamos na nossa área, duvido que os p*u no cu seriam homens para tentar qualquer parada.  Aproveitei da vantagem e passei o rádio para um dos meus soldados que ficava de plantão na entrada.  — Fica na atividade! Os verme tão brotando c*****o! Não cessa fogo, larga o aço sem dó pra cima dessas viaturas!  — Peguei a visão patrão, vou deixar geral em alerta!   Fiquei de boa, aliviado. Estava tão calmo que não hesitei na hora de conectar meu rádio com o dos vermes.  — Se passar daí tu já sabe. O bagulho vai feder pro seu lado!  — Não vamos passar. Deixa a gente sair, sem covardia! – a voz do polícia rangeu através da linha.  — Então vaza! Segue reto! Se tentar tu já sabe, Chapadão vai cair matando pro seus lado!  — Tudo bem, pode olhar, vamos sair na calma… com fuzil abaixado, sirene desligada…  — Rala!  Desconectei o rádio com os canas, e liguei para um dos olheiros que confirmou que os canas realmente tinham metido o pé.   Pelo menos por hoje.  Guardei o rádio na bolso. Olhei para trás e me senti m*l pelo moleque que tinha rodado. Tão novo, coitado.  A madrugada estava fria.   Acho que levei um choque de temperatura depois de toda aquela tensão.  Chegamos na boca. Guardei as paradas e pedi para dois dos meus crias entregarem o corpo do moleque. Eu costumava patrocinar o funeral para as famílias nesses casos…  — p***a! Essa foi por pouco – estava com os cotovelos apoiados no parapeito da janela quando ouvi a voz do meu mano.  — Foi… graças a Deus mais uma missão cumprida! – abri um sorriso cínico.   Por algum motivo não estava feliz como deveria. Taquara sacava, ele me entendia, mas não palpitava em nada, a menos que eu pedisse é claro. Eu nunca fazia isso…  Ele se afastou, sem mais papo.  Minha consciência estava pesada, fiquei pensando na mãe, nos irmãos do moleque… A fim de me distrair tirei o celular do bolso e encarei a tela. Mesmo rejeitando chamadas aquela p***a continuava recebendo mensagens.   Cliquei nas chamadas perdidas e meu queixo quase bateu no joelho. Um número desconhecido tentou me ligar mais de 30 vezes.  p**a que pariu!  Essas p**a são tudo s*******o mesmo. Eu sei que meu p*u é gostoso, mas p***a… Não é pra tanto.  Fiquei curioso. Essa daí com certeza faria tudo que o pai quisesse.  Disquei o número que foi atendido no mesmo instante.  — Quem é?  — Sou eu, Isabela… – respondeu com a voz um tanto melancólica.  — Isabela da 24? Se quiser broto aí no teu barraco… – pensei por alguns segundos – amanhã! Hoje não rola mais nada.  — Não! Isabela, aquela que você tentou assaltar, que foi com você na praia… eu preciso de ajuda… Eu tô na rua, não tenho pra onde ir…  Meu coração falhou uma batida. Senti raiva, mas também fiquei feliz. Talvez eu já esperasse. Essas minas são tudo da mesma laia. Só dão valor quando precisam.  — Deixa eu adivinhar: Tá querendo vir pra cá?  — Por favor… eu não tenho pra onde ir… – ela estava chorando? Não, eu é que ainda estava meio que neurótico de guerra.  — De boa. Pode vir, mas dessa vez sem frescuragem, c*****o! Sabe onde eu moro?  — Não…  — Só colar no morro do Chapadão. Chegando aqui você pergunta quem é Marreta, meus crias vão te passar a visão.  — Tá, mas o que é cria?   Eu ri.  — Meus funcionários… enquanto isso vou ir ajeitando umas paradas.   — Tá bom, obrigada.  Ela tinha uma voz meiga, um tom doce, suave. Imagina só ela gemendo com essa vozinha e aquela carinha de princesa…  […]  Ajudei meus crias a colocar a mercadoria no paiol, e passei a grana para Matuto que ficaria no morro mais uns dias.  Estava me sentindo cansado, sonolento. Queria dar um t**a, mas eu tinha que dar exemplo. Senão daqui a pouco geral da boca faria o mesmo.  Meu rádio chamou.  — Patrão, tem uma mina aqui querendo subir. Falou que fecha contigo, o nome dela é Isabela…  Não esperei ele terminar para dar o papo.  — Pede os cara pra trazer ela aqui, valeu?!  — Valeu.  Aproveitei o tempinho vago para ajudar meus crias a montarem uns canos que veio desmontado. Odiava ficar parado. Trocamos ideias sobre o fogo cruzado que rolou horas atrás. Agora geral estava de deboche, mas na hora só faltou n**o mijar nas calças.  Estava encaixando os bagulhos, quando um dos meus vapores meu entrou todo desajeitado pela porta.  — Quê isso doido? Fumou p***a?!   — Quê isso patrão, tô suave, meu kenner que arrebentou… – falou desconcertado, num tom baixo – mas eu trouxe a mina, e tipo ela tá muito esquisita… sei lá, parece que tá com medo de nós, pow. Ela não quer entrar, tu quer que eu arraste ela até aqui?  — Não – levantei-me da mesa, peguei as peças e as guardei numa caixa ao lado. Torci o pescoço à procura de Jão – agora é contigo, mermão. Taquara já foi, eu também tô metendo o pé!   — Deixa comigo!  Me despedi dos crias com a mão direita, enquanto ajeitava a glock na cintura com a esquerda. Atravessei a porta morgado, tonto de sono, mas levei um baque quando meus olhos avistaram Isabela. Ela estava escorada na parede com os braços cruzados formando uma muralha sobre os s***s. Os cabelos longos e embaraçados tapava a cabeça inclinada para baixo. Não pude ver seu rosto, mas pude ouvir os sussurros do seu choro, de suas lágrimas.  Engoli em seco, alarguei os passos e acheguei-me até ela.  — Branquinha…   Ela levantou a cabeça demonstrando o rosto pálido, os olhos fundos e avermelhados.  — Oi… – falou baixinho, com a voz falha.  Ela não estava parecendo aquela mina cheia de marra que levei na praia.  — Cara, o que tá pegando? Tu tá acabada!  Ela me deixou no vácuo, continuou de bico fechado prendendo o choro na garganta. Não me contive, fiquei bolado querendo saber o que tinha acontecido. Levantei seu queixo devagar; a boca sangrava, o pescoço estava arranhado, também tinha algumas marcas de chupão. Isabela segurou minha mão com força, raiva, depois me empurrou para longe.  — Fica longe de mim! Não quero que ninguém mais encoste em mim! – as lágrimas desceram, a dor dela era visível, quase palpável.   — Fala o que aconteceu, p***a!   — Nada!  Estalei os lábios e tornei a me aproximar.  — Olha seu estado! Parece até que…  Ela encolheu os ombros e abaixou a cabeça outra vez.   — Tu foi estuprada?! – mordi os lábios puto de raiva. No fundo eu sabia a resposta.  — A culpa não foi minha, eu juro! Eu não me ofereci pra ele… – disse em meio aos soluções.  — Quem fez isso contigo?   Ela não respondeu e eu insisti.  — Quem foi? – apoiei as mãos em seu braço e apertei.   — O marido da minha tia… ela viu e me expulsou… – afirmou sem olhar nos meus olhos.  — Filho da p**a!  Tirei minha jaqueta e coloquei sobre os ombros dela. Segurei-a pela braço, a levei até minha moto. Ela não reclamou, subiu calada e segurou firme na minha cintura enquanto eu seguia para o barraco do meu parceiro. Quando cheguei tentei ligar, mandar mensagens, mas provavelmente ela estaria dormindo àquela hora. A solução foi gritar. Berrei várias no portão até a filha da p**a da mulher dele brotar.  — Mas você é um fodido mesmo! Não deixa Taquara em paz nem pra dormir! Isso lá são horas de ficar aos berros aqui no meu portão?! – Kel deu um berro mais alto que o meu. Escorou na base da porta com os braços cruzados enquanto apertava o edredom enrolado no corpo.  — Vim deixar ela aqui. Ela sorriu ironicamente.  — Não é possível… é sério isso?! – levantou a sobrancelhas desacreditada – você tá querendo enfiar uma das suas putinhas na minha casa?! Tu é um descarado, sem senso! – gritou apontando o dedo na nossa direção.   — Enfia sua língua no cu! A mina foi estuprada e jogada pra fora de casa! Pode ou não, marcar um dez aqui com ela?  Kel ajeitou o edredom e veio séria até nós. Quando se achegou estendeu a mão, ajudando a garota descer da moto.  — Meu Deus, que horror… mas é assim mesmo querida, homem nenhum presta, todos eles não passam de covardes! – eu podia jurar que aquilo foi uma indireta pra mim, mas preferi me manter calmo, não estava a fim de dar corda para aquela maluca.  — Eu vou pegar minhas coisas. Nós vamos pro hospital agora, você precisa de remédios, vai que o filho da p**a tem alguma doença…  Isabela só chorava, tadinha, ficou muito abalada.  — Esse cara mora onde eu te deixei da última vez?  — Sim… Por quê?  — Relaxa. Isso agora é um problema meu, não é mais da tua conta!
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