Cinco

3439 Words
Isabela 4 Perdi a conta do número de currículos que distribuí durante a semana. E mesmo diante de todo meu esforço para conseguir uma oportunidade de emprego, minha tia e seu marido mantiveram a mesma concepção de mim. “Você só dá prejuízo”, “eu ainda estou sendo boa por deixar você aqui.”, “será que não tem jeito de você morar lá naquela faculdade?”. Essas eram as frases, ou melhor, as indiretas mais repentinas que eu ouvia ao longo do dia. Eu, como muitas pessoas nas mesmas circunstâncias, fingia não me importar; mas a verdade é que no fundo suas palavras e a maneira que me tratavam me feria a ponto de magoar. Para não causar um incômodo maior, desde que me hospedei na casa deles o casal não teve que se preocupar com serviços domésticos. Eu lavava e passava, não somente as roupas de tia Lucinda como também os farrapos surrados do Ernesto, além disso eu cozinhava, limpava a casa, fazia tudo sem medir esforços. Não era uma obrigação, e sim uma possibilidade de demonstrar que eu não era apenas mais uma daquele típico modelo de sobrinha oportunista. As garotas que me afeiçoei na faculdade me aconselharam a entregar currículos nos shoppings da cidade dizendo ser um “mar de oportunidades”. Fui na fé, crendo que conseguiria. No ônibus como de costume fui de pé em meio ao aglomerado de pessoas suadas, a maioria vestidas em modestos trajes de banho – inveja branca. Com certeza estavam indo para a praia, enquanto eu iria procurar emprego…  No shopping me senti num labirinto consumista, nunca havia visto tantas lojas num único lugar. Pena que ao entrar e entregar os currículos me deparava com aquela resposta broxante de sempre: “No momento estamos priorizando os currículos que contém certa experiência…” às vezes, para ser sincera, quase toda hora, vinha aquela vontade angustiante de desistir, era h******l saber que nada fluía para mim. Entrei na loja ao lado desanimada, sem nenhuma expectativa, e como se não bastasse acabei escorregando no tapetinho da entrada. Pior de tudo foi dar de cara com o homem que tentou me assaltar há alguns dias.  Meu Deus!  Meu coração falhou uma batida no segundo em que vi os olhos negros com um ar de mistério e o cavanhaque perfeito desenhando aquele rosto sério. Um misto de ansiedade e medo me invadiu, as lembranças daquela noite vieram à tona junto a todo medo que senti. Queria gritar, fugir, correr, mas preferi me acalmar, fingir que ele não fez nada. Até porque ele acabou me dando uma carona, ao invés de levar meu celular. Para ser sincera ele era um gato. Fico pensando: Será que todos os ladrões aqui do Rio são como ele? Claro que não, não se iluda Isabela!  Fiquei meio desconcertada com a situação, mas no final das contas aceitei o convite dele, porque um dos meus sonhos quando vim para o Rio de Janeiro era conhecer o mar, as praias. Jamais iria perder esta oportunidade. […] Estávamos na estrada há mais de uma hora, parecia até que Arraial do Cabo estava localizado no fim do mundo. Dentro do carro havia uma troca incessante de músicas, uma hora pagode, outrora funk. Eles ficavam cantarolando as músicas que para mim até então eram desconhecidas, enquanto bebiam as cervejas da caixa de isopor que havia trazido consigo. A brisa forte que ultrapassava a janela do veículo insistia em brincar com meu cabelo, eu tentava ajeitá-lo, quando notei que Rafael revezava o olhar entre a direção e minhas pernas. — Tá animada com o rolê? – perguntou sorrindo, deixando exalar um ar convincente, daqueles que já conseguia prever qual seria a minha resposta. — Claro! Eu nunca fui à praia, tenho muita vontade de saber se a água do mar é salgada de verdade! – alarguei um sorriso ao dizer. O silêncio dominou o carro, assim como os olhares curiosos que insistiam em me olhar com deboche. — Não, tem gosto de catuaba! – Rafael respondeu sério. As garotas de trás não conseguiram segurar o riso e cuspiram a cerveja espalhafatosamente contra o ar, fiquei com raiva quando ele e o amigo também entraram no deboche daquelas duas. — Qual é o problema?! Eu não tenho culpa se em Minas não tem mar! – fechei a cara, virei-me e apanhei uma cerveja na caixa – aposto que nunca foram numa cachoeira! — Verdade, eu nunca fui, mas pra tudo tem uma primeira vez. Hoje eu te levo na praia, amanhã tu me leva na cachoeira, depois pro teu barraco… – sorriu maliciosamente enquanto acariciava minha perna com a mão esquerda. — Acho melhor você prestar atenção no volante! – empurrei a mão do folgado até o volante, de onde não deveria ter saído. — Tu é f**a Marreta – o amiguinho retardado gritou lá de trás enquanto era abraçado pelas garotas. Revirei os olhos entediada, enquanto aumentava o volume do rádio. Me afastei colando meu corpo na porta do veículo onde recebi a brisa fresca vinda da janela. Hora ou outra Rafael sorria e piscava cheio de malícia para mim, eu apenas ignorava fingindo que não via seu joguinho. Assim seguimos a viagem. […] Senti-me no céu quando pela primeira vez pisei na areia quente da praia. O calor que exalava minutos atrás era ameno, ali sobressaía o frescor das rajadas de vento que açoitavam minha pele agradavelmente. A delicadeza com que as pequenas ondulações atingiam a beirada da praia me hipnotizava. Era tão bom ver aquilo, era maravilhoso estar ali. Fiquei observando a paisagem deslumbrante, os banhistas se movimentando e os camelôs transitando descalços debaixo do sol escaldante. Virei-me para trás e me surpreendi com a eficiência das garotas. O tempo que me distraí foi o suficiente para que elas encaixassem e abrissem o guarda-sol. Por fim estiraram a canga sobre a areia e se banharam com uma porção improvisada, que diziam ser um tipo de bronzeador caseiro. Mesmo louca para correr contra aquela imensidão de águas azuladas, preferi fazer como as garotas. Tirei a saída de praia e me esbanjei com o óleo bronzeador. Confesso que ser comparada a um defunto me deixou abalada, por isso minha prioridade era me bronzear, só sairia dali quando estivesse da cor do pecado e com aquelas marquinhas incríveis que as cariocas possuíam. Deitada de costas, me esforçando para tomar a cerveja antes que ela esquentasse, ouvi uma das meninas me perguntar: — Tu cola com o Marreta a quanto tempo? Nunca te vi no morro – a preta com a b***a duas vezes maior do que a minha, ajeitou o cabelo crespo que caía como uma moldura no rosto fino. — Eu não colo com ele, tá doida? Por coincidência hoje é segunda vez que o vi na vida, a primeira foi esquisita… – ri quando a cena veio na minha cabeça. — Pronto, já até vi. Com certeza ele vai querer ficar contigo, carne nova… – a loira disse com ar de desprezo, enquanto ajeitava a parte de cima do biquíni. — Vocês falam como se nós fôssemos um cardápio! Que ridículo! — Ah para de caô, vai me dizer que você não queria ser o cardápio daquele n***o gostoso? – a preta sorriu me intimidando. — Desgraçado! Além de lindo, fode gostoso! – a loira apanhou uma cerveja da caixa de isopor, com certeza iria usar para apagar aquele fogo no r**o.  Se eu dissesse que ele não é um gato, estaria mentindo. Porém ele não faz meu tipo, é muito atirado, não gosto de homens assim. Enquanto admirava o movimento da praia, notei Rafael e o amigo se aproximando entre os banhistas. Os respingos da água salgada desciam através da pele escura contornando cada músculo do peitoral largo, e da barriga trincada coberta por tatuagens de tribal – a que tinha abaixo do umbigo era a mais bonita –, engoli mais da cerveja e rolei os olhos para baixo, vendo, admirando a sunga vermelha e imaginando o que tinha por baixo. Lembrei das minhas amigas dizendo que todo n***o tinha o p*u grande, é claro que aquilo era mito, mas no caso dele acho que não… Oh meu Deus! O que é que estou pensando?  Fiquei desconcertada comigo mesma. Afundei a latinha vazia na areia e me deitei de bruços, recebendo os raios solares nas costas enquanto prestava atenção somente no barulho das ondas se encontrando com o mar. Estava entretida com a canção viciante das águas, quando meu coração deu um pulo. Senti uma mão pesada batendo contra minha b***a. Constrangida e com um medo terrível me afligindo virei-me no mesmo segundo — c*****o! Agora ficou no grau. Tá com aquela marquinha do jeito que o pai gosta!  – o descarado esfregou as mãos ao dizer. — Perdeu a noção? Cara, você é ridículo! Aposto que iria odiar se um macho escroto como você fizesse isso com sua mãe, ou irmã! Deveria ter o mínimo de respeito comigo, ou qualquer outra mulher – gritei, levantei furiosa, envergonhada, cansada de olhar para aquele o****o. — Qual foi branquinha?! Pow, eu só tava brincando contigo! Viramos o espetáculo do momento, todos pararam para nos olhar com deboche. Como eu tinha vontade de socá-lo até afundar o corpo dele na praia. Porém, ao invés disso eu optei apenas por chutar a areia abrasiva, lançando-a contra sua cara de s****o inconsequente. Depois saí dali marchando, indignada. Mas o que eu poderia esperar? Fui eu que aceitei acompanhar um ladrão até a praia!  Meus pés afundavam na areia, estava desorientada, não fazia a mínima ideia de para onde ir. Foi então que senti uma mão grossa agarrando meu braço, virando-me para trás num impulso, com violência. —Tá indo pra onde? – perguntou sério. A mão áspera continuava me pressionando com força. Aspirei a brisa pura daquela tarde, balancei a cabeça indignada pelo quanto estava tranquilo, como se não tivesse feito nada comigo. — Eu vou embora. Não vou ficar aqui assistindo um homem agindo que nem criança! É um saco ter que aturar suas cantadas, e é um absurdo você bater na minha b***a no meio da praia! Rafael estreitou os olhos, se achegando, abrindo aquele sorriso sarcástico no canto dos lábios, que eu não posso negar que lhe dava um charminho. — Marrentinha… tu não tem ideia de com quem tá falando. Mas tá de boa, não vou mais dar uma de sacana. É que tô acostumado a zoar assim com as mina lá da área, fazer o quê se tu não gosta… – ergueu os braços em sinal de redenção. — Não gosto mesmo. É melhor cada um ficar no seu canto, eu queria ir embora… — Mas já?! p***a, não era tu que tava doida pra pegar um sol, curtir a praia? Tu nem deu uma molhada, relaxa… Ele só falava olhando no meu olho. d***a! Parecia que queria me intimidar de alguma forma. — É que… — Quer dar um rolê de jet? – levantou uma sobrancelha deixando seu semblante ainda mais sacana.  Não consegui disfarçar o sorriso que tomou meus lábios quando ouvir o convite. Jetski. Caramba, é claro que eu queria! Era um sonho para mim. — Eu quero! — Bora! – respondeu com um sorriso. Seguimos pareados, rumo à proa onde alugava a máquina. Colocamos o colete e fomos. Rafael agiu como um cavalheiro, segurou minha mão, apoiou meu corpo me ajudando a me sentar no Jet. Ele sentou atrás, muito perto. Fiquei sem graça quando ele acelerou e o impulso fez com que minha b***a ficasse encaixada entre suas pernas. Nossos corpos colaram um no outro, me arrepiei quando o calor da sua pele me aqueceu, me fez pensar besteiras.  As derrapagens nas curvas eram as melhores. Era tão legal quando vinha aquela chuva de água salgada sobre a gente.  Ri, gritei, aproveitei cada momento. Voltas depois Rafael parou o Jet no meio do mar. De um lado só se via água, olhando para o outro eu ainda conseguia ver a praia como uma miniatura. Uma sensação fria, medonha, passou pela minha barriga. Era minha primeira vez ali, e para completar eu não sabia nadar. — E aí, pronta pra cair na água? – perguntou no meu ouvido, fazendo o medo crescer em mim. — Não… eu não sei… – ele empurrou seu corpo sobre o meu, nos levando para baixo. A água tomou conta, invadiu meu corpo me levando para o fundo. Meu coração parou por um segundo. Se eu não morresse afogada, sofreria um AVC pelo medo. Me aliviei quando o colete me levantou, me deixando imersa com a cabeça para fora da superfície. Cuspi a água, ofeguei aflita. — Desgraçado! Não faz mais isso! Quer me m***r do coração?!  Ele riu. Riu muito. — Acho melhor tu parar de explanar, se não tiver a fim de virar comida de tubarão… – disse sério, me deixando perturbada. — Para. Por favor, vamos embora! — Fica de boa, é zoeira! — Sem graça! – gritei apontando o dedo contra o rosto molhado. — Ah, para branquinha, vai me dizer que não curtiu?!  Apesar do meu coração ainda estar acelerado, confesso que sim: foi muito legal. — Tá, eu curti sim. Mas nunca mais faz isso. Caramba, você vive me dando susto, me pegando de surpresa – suspirei pressionando meu peito com a mão direita, depois falei – apesar dos pesares, hoje foi o melhor dia que tive, desde que cheguei aqui no Rio. E bom… foi graças a você Rafael. — c*****o, que honra. Apesar de que rolezinho de praia não é nada, vou te levar pra curtir embrazada comigo – ele se achegou, faltando poucos centímetros para nossos corpos colarem um no outro de novo – tá aqui a quanto tempo? — Quase dois meses. Rafael sorriu. — Agora saquei porque tu tava perdidaça aquele dia. — Bota perdida nisso, estou me adaptando aos poucos, aqui é bem diferente. Mas se bem que de tudo, o que mais me surpreendeu foi você. Eu não esperava que os ladrões daqui fosse assim… — Assim como?  — Bonzinho – sorri sem graça. Ele franziu a testa, voltou a sorrir em seguida. — Tu é a primeira a me dar esse papo. A gente se engana mermo, quando te vi aquele dia, toda lindinha com a mochila nas costas, pensei que fosse mais uma patricinha daquela faculdade. — Não brinca, fala sério, eu, cara de patricinha?! Quem me dera, tô fodida… longe da família, sem trabalho… – respirei fundo enquanto brincava com os dedos na água. Estava completamente entediada com meu próprio fracasso. Rafael me fitou de cima abaixo com um olhar malicioso, fatal, daqueles que queimava. — Mulher gostosa não precisa trampar, o que não falta é homem querendo dá patrocínio… – o interrompi. — E o que também não falta são mulheres mandando esse tipo de homem ir se f***r! Isso é ridículo, não tem nada pior do que ser bancada por um macho, tendo condições de trabalhar! – ele riu – mas, e você trabalha com o quê? – perguntei. — Eu… – pensou alguns segundos para me responder – eu sou chefe de vendas. — Sério? Me contrata, por favor! Eu faço qualquer coisa, eu vendo, fico no caixa, lavo, passo, cozinho! Sou que nem Bombril: mil e uma utilidades! – me enchi de expectativas, vi ele como minha última esperança para conseguir um trabalho. — Pow, não vai rolar. Mulher no meu trampo embaça as paradas – exclamou sério, não ligando para meus suplícios. — Poxa… podia pelo menos me chamar pra uma entrevista. Vai me descartar só porque sou mulher?! – fiquei nervosa, ele era machista e isso me irritava. — Entrevista… – abriu um sorriso de canto, coçando o cavanhaque bem desenhado – eu não costumo entrevistar meus crias, mas contigo é outra parada, acho que dá pra render. Bora fazer um teste? – franziu a testa, e arqueou as sobrancelhas grossas.  —Teste? Mas que teste? O par de olhos escuros me queimava enquanto o homem se aproximava. Ele colocou o peitoral largo, definido, contra o meu. Nossas peles se tocaram, seu calor me fez espairecer no meio da água, fui levada pela sensação excitante de estar ali tão perto do seu corpo. Quando me dei conta meus lábios já estavam envolvidos com os dele. Senti a maciez da sua boca na minha, as mãos grossas me apertando sem controle, naquele momento não pensei em mais nada, apenas senti sua carne, a língua com gosto forte, exótico de cigarro me devorando, me guiando.  O beijo dele era uma delícia… d***a! Estou mesmo beijando o cara que tentou me assaltar? Meu subconsciente deu um grito, caí em mim. Ofegante, o empurrei para longe. — Descarado! – ofeguei sem ar, foi assim que ele me deixou… Sem ar. — Tu curtiu a entrevista, e tá louca pra continuar – se aproximou deslizando dois dedos pela minha bochecha, penetrou eles entre meus lábios me deixando zonza, pensativa – já fodeu no meio da água?  Acordei do transe nervosa. Maldito. Folgado. — Desgraçado! – Bati na sua cara com força. Ele mudou o semblante, o olhar malicioso desapareceu do seu rosto, parecia estar nervoso, bolado. Confesso que agi por impulso, mas foi ele que procurou. Bati os braços e peguei impulso para longe, me afastando dele. — Faz isso, desaparece na p***a dessa água! – a voz rude me alcançou, fez minha mente estremecer. Fiquei em choque, muda, sem nenhum movimento. Eu apenas o observava subindo no Jet, ligando, acelerando ele… meu Deus, me ajude! — Rafael! Volta! Você não pode me deixar largada aqui! Por favor, volta! – gritei, berrei com as lágrimas atravessando minhas pálpebras. Eu não podia ficar ali no meio da água, do nada.  Olhei para um lado, depois para o outro… Entrei em pânico quando me dei conta de que estava tarde, até o sol estava voltando para casa e eu ali abandonada, deixada no meio do mar por um bandido miserável, um ladrão de m***a. Desgraçado! Se eu pudesse voltar atrás, eu nem estaria na d***a dessa cidade. Contei cada milésimo de segundos dos 5 minutos que passaram, 5 minutos que mais pareciam anos, décadas, o pior era pensar nos próximos. Já estava sem esperanças, expectativas. Pensei que estava sonhando quando o Jet Ski derrapou bruscamente ao meu lado, jogando um jato d'água contra meu rosto. O sorriso estava intacto no seu rosto, assim como o deboche quando ele estendeu o braço para me ajudar a subir. Segurei a mão do homem contra minha vontade, não disse nada, porque se eu falasse mandaria ele ir para o inferno na primeira oportunidade. — De boa, tu ia ficar perdida aqui. Te perdi de vista, custei pra te achar! – gargalhou alto enquanto seguia acelerado, derrapando mais do que antes só para me afrontar. Continuei calada. — Aê branquinha, fala aí tua idade! — Cara, como você consegue ser tão ridículo, sem senso, retardado! Quem olha pra você não tem ideia do moleque que tem aqui dentro! – Bati nas costas largas, com os respingos d’água realçando as tatuagens – mas respondendo sua pergunta, eu tenho 18. — Com corpo de 20 e cabeça de 12! Na boa: tu é chata pra c*****o, tem novinha aí te dando um show no papo, eu podia te deixar ali, mas nem os peixes ia te aguentar! Tem que ter mais humildade p***a, pega a visão! — Que bom que temos a mesma impressão um do outro – me senti mais leve quando falei. — Acho melhor tu fechar o bico, antes que eu perca minha paciência! – dessa vez reconheci o quanto ficou nervoso. Ele se afastou, o corpo ficou mais rígido. Me calei. Fiquei muda até sairmos do veículo, nos encontrar com seus amigos, arrumar as coisas, entrar no carro e partir. […] Duas horas depois Rafael parou frente à casa da minha tia. Desci e me despedi das garotas e do seu colega que sorriram e deram tchauzinho para mim. Antes dele partir aproximei-me do vidro e falei com ele. — Apesar de tudo, muito obrigada pela sandália, pelo biquíni, pelo dia maravilhoso… – ele fez questão de me responder. — Beleza. Só me faz um favor: Apaga a p***a do meu número e some da minha frente! O vidro da porta subiu antes que eu pudesse retrucá-lo. Ele virou o carro com violência, fazendo as rodas arranharem o asfalto num arranque brusco, estridente. Sorri vendo ele desaparecer das minha visão. Idiota! Amostrado! Como se ter ou não o número dele tivesse alguma importância.
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