CAPÍTULO 4

1251 Words
CAPÍTULO 4 ZYAN Eu estava observando o prefeito enquanto ele tomava várias doses de uísque, e conseguia perceber o desconforto da primeira dama sentada ao lado dele, havia algo muito errado nesse casamento, eu dizia a mim mesmo que eu não tinha nada com isso, mas algo me dizia que essa mulher estava passando por algum problema. Vejo quando o prefeito se levanta e se desequilibra, a primeira dama o ampara e eu me aproximo rapidamente para ajudar, ela me olha e eu vejo medo em seus olhos. —Vamos prefeito—digo e ele me olha. —Vejam só amigos, esse é o guarda costas da minha esposa—ele diz e as pessoas me olham, o que esse i*****l está fazendo? —Alberto, precisamos ir—a primeira dama diz. Mesmo contra vontade ele permite que eu o guie até o carro, dispenso o outro motorista e o ajudo a entrar no carro da primeira dama que se acomoda ao seu lado no banco de trás, coloco o carro em movimento enquanto observo o homem encostar a cabeça no ombro dela que encontra os meus olhos no retrovisor, ela parecia tudo, menos uma mulher apaixonada. Sigo para o condomínio onde ficava a casa do prefeito, estaciono em frente a entrada da casa, desço do carro e dou a volta para abrir a porta de trás. —Pode me ajudar a levá-lo para dentro?—ela inquire me olhando. —Posso, saia e deixe-me tirá-lo daí—digo e ela assente, ofereço a minha mão para que ela pegue para sair, e quando sinto a sua pele em contato com a minha, um arrepio sobe pelas minhas costas, e pela forma que ela me olhou, ela sentiu o mesmo. Subo as escadas que levam ao quarto do prefeito, e o coloco na cama, o homem estava tão bêbado que m*l conseguia manter os olhos abertos, e eu me perguntava como alguém como ele poderia governar a cidade. Observo a mulher tirar os sapatos do marido e os óculos colocando-os sobre a mesa de cabeceira. —Se precisar de alguma coisa, estarei na ala da segurança—digo saindo do quarto, mas quando estava no corredor ouço os passos dela atrás de mim. —Zyan—ela diz e eu olho para trás. —Sim—digo. —Obrigada—ela diz. —É o meu trabalho—digo. —Mesmo assim, obrigada—ela diz e eu apenas concordo com a cabeça e sigo para o andar inferior. Caminho até a varanda e começo a olhar a piscina, o que acontecia aqui? Quais podres estão escondidos por trás da imagem de casal perfeito? Sento-me em uma das cadeiras na beira da piscina, e fecho os meus olhos, as imagens da minha casa em chamas invadem a minha mente, eu podia ouvir ela gritarem, quando essa dor me deixaria? Será que um dia ela me deixaria? —Zyan—ouço a voz da primeira dama atrás de mim. —Sim senhora—digo me levantando. —Quero pedir desculpas, sei que já disse que é o seu trabalho, mas você foi contratado para cuidar da minha segurança, não para cuidar de bêbados—ela diz. —Acontece com frequência?—inquiro olhando para ela. —Nunca fora de casa como hoje, mas sempre acontece—ela diz olhando a água parada da piscina. —Ele tem problema com o álcool?—inquiro. —Ele tem problema com tudo, inclusive comigo—ela diz. —Senhora, acho que é melhor voltar ao seu quarto e esperar o seu marido acordar para conversarem—digo. —Não há conversas com ele Zyan, ele sempre tem razão em tudo e provavelmente ele vai me culpar por essa noite também—ela diz e aquilo me incomoda. —E que culpa você tem?—inquiro. —De ter me casado com ele e acreditado em um amor falso—ela diz me olhando. Mil coisas passam pela minha cabeça, eu via sofrimento nos olhos daquela bela mulher, eu via dor, desespero. —Eu não sou um bom conselheiro para assuntos de amor—digo. —Não estamos falando sobre amor Zyan, estamos falando de um jogo sujo de poder e ganância, há uma podridão muito grande por trás da imagem de homem de bem, conservador, e defensor da família—ela diz e vejo uma lágrima escorrer pelo o seu rosto, retiro um lenço do bolso e entrego a ela que me olha. —Um lenço? Isso não saiu de moda há muitos anos?—ela diz. —Bons modos nunca saem de moda, digamos que sou um homem das antigas—digo. —De onde você vem Zyan?—ela inquire. —Turquia, estou no Brasil há um ano—digo. —E fala tão bem o português?—ela inquire. —Eu já conhecia o país, havia passado sete anos aqui, antes de..—paro de falar e ela me olha. Olho para o andar superior e vejo o prefeito na varanda, ele nos olha, ela segue os meus olhos e vê o marido. —Eu preciso entrar—ela diz se apressando, essa mulher tinha medo daquele homem, definitivamente não era amor, era algo muito sujo que acontecia aqui, e eu estava tentando me convencer de que eu nada podia fazer, que eu não deveria me intrometer no casamento deles, mas quando eu olhava para ela tudo o que eu via era uma mulher gritando por socorro. Olho mais uma vez para o homem em pé na varanda antes que ele entre e feche a porta atrás de si com força. Sou tomado pelo sentimento de proteção e caminho até a sala de monitoramento, procuro pelas câmeras no andar de cima, mas como eu previa não há câmeras no quarto do prefeito, tento convencer a mim mesmo que está tudo bem e volto para o meu quarto, tomo um banho e deito na cama, tentando dormir, mas não consigo, e logo vejo o dia amanhecer. Me levanto e tomo outro banho, me arrumo e sigo para a cozinha onde fico esperando as ordens do dia. —Bom dia Zyan—dona Val a cozinheira me diz assim que eu entro. —Está tudo bem por aqui?—inquiro. —Hoje, o prefeito ta com o cão no corpo, ele saiu faz uns minutos, mas ouvi ele gritando com a pobre da dona Marina, não sei como ela aguenta—a mulher diz servindo o café. —Eles brigam muito?—inquiro. —Eles não, por que a dona Marina nem abre a boca coitada, mas ele não vale nada—Val diz num tom baixo. Eu estava terminando o café quando ouvi a voz de Marina na porta. —Zyan, preciso sair—ela diz e eu olho para ela, que está usando um óculos escuro, e aquilo me deixa desconfiado. —Sim, senhora—digo me levantando. Ela segue na frente e eu a acompanho, abro a porta do carro para ela, e ela entra, me acomodo atrás do volante. —Para onde deseja ir senhora?—inquiro olhando para ela através do retrovisor. —Preciso visitar um abrigo de crianças, os seguranças devem ter passado o endereço, é o Lar Esperança—ela diz. —Sim, perfeitamente—digo e coloco o carro em movimento, hora ou outra observando ela através do retrovisor, vejo quando ela seca algumas lágrimas que escorrem dos seus olhos, algo de muito errado estava acontecendo.
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