CAPÍTULO 3

1374 Words
CAPÍTULO 3 MARINA Estava distraída lendo um livro quando Alberto entrou no quarto e me olhou. —Ainda não está pronta?—inquire. —Pronta para o quê?—pergunto. —Como pronta para o quê Marina, o jantar com os apoiadores da minha campanha, como pode não se importar com nada, a única coisa que deve fazer é ser a primeira dama e mesmo assim não consegue—ele diz me olhando. —Eu não sabia sobre o jantar Alberto—digo. —Não sabia, por que não se interessa, eu mudei tudo por você, eu lhe dei uma vida de princesa—ele diz. —Você mudou tudo? Não Alberto você continua a ser quem você era, eu sim perdi a minha vida por você, abdiquei de tudo, da minha profissão, da minha família, mudei todos os meus planos por você, eu poderia ter outra vida, mas veja onde estou. Eu me tornei solitária, estou me perdendo, me anulando, eu perdi tudo e estou perdendo você também—digo olhando para ele. —Que vida você perdeu? Eu lhe dei uma vida, você não era ninguém antes de mim, eu lhe dei um sobrenome, um lugar na sociedade, se não fosse por mim você ainda seria uma enfermeira qualquer, que chegaria cansada na sua casa de cinquenta metros quadrados, financiada por um programa do governo, após doze horas de plantão, ou seja, você não seria ninguém—ele diz. —Esses "ninguéns" que te colocaram onde está, como pode falar assim?—inquiro horrorizada. —Eu só preciso do voto desse povo e mais nada, eles continuam sendo o que são, miseráveis que se agarram a esperança de um amanhã melhor, isso não existe. Então Marina sem mim você não seria ninguém—ele diz e caminha em direção a porta. —Sem você eu seria feliz—digo e ele vira para trás, caminha na minha direção a passos largos e segura o meu braço com força. —Nunca mais ouse falar assim comigo, está ouvindo? Se arrume e me encontre no Le' art, se fizer qualquer coisa para me envergonhar diante dos meus apoiadores irá se arrepender—ele diz apertando ainda mais o meu braço, os seus olhos estão parecendo os de um animal raivoso. —Alberto está me machucando, por favor—digo entre lágrimas e ele dá mais um apertão e me joga sobre a cama, olha para o meu braço e diz. —Use algo que esconda isso. Ele sai do quarto e eu olho para o meu braço onde as marcas dos seus dedos estão bem visíveis. Levanto e caminho até o grande espelho e me olho, o que eu havia feito com a minha vida? Eu nunca me senti tão só em toda a minha vida, estou cercada de pessoas que nunca entenderão a minha dor, nunca saberão como me sinto de verdade, quem de fato é a mulher por trás das roupas caras e sorrisos forçados. Eu só me perguntava porque eu não fugia disso? O que me prende aqui? E eu mesma me respondia, a resposta estava nas palavras de Alberto, eu não era ninguém. Escolho um vestido qualquer, preto por que simboliza a minha vida, um eterno luto, por que a mulher que eu era morreu há cinco anos. Lembro do dia em que o conheci, Alberto ainda não era prefeito, mas seguia os caminhos do seu pai, mas mesmo seguindo os caminhos de Carlos Guimarães, ele mantinha uma inocente nos olhos, inocência essa que se perdeu quando ele ganhou a sua primeira eleição, um ano depois do nosso casamento. Foi o único ano em que fui feliz ao lado dele, ele de fato fazia com que eu me sentisse amada por ele. Mas com a posse dele a cadeira de prefeito tudo desmoronou, a descoberta da infertilidade dele o matou por dentro, e matou também o amor que ele sentia por mim. Eu me casei por amor, nunca tive nenhum interesse, eu realmente me apaixonei por ele e hoje quando olho em seus olhos frios não vejo nem sombra desse amor, não vejo nada além de um homem frio e insensível. Termino de me arrumar como se eu estivesse indo para um enterro, pego a minha bolsa e desço as escadas, assim que saio pela porta o vejo, o tal Guarda Costas, ele me olha e apenas acena com a cabeça. Me aproximo dele e procuro pelo carro. —Onde está o carro?—inquiro. —Pedi outro, o seu chama muito atenção e já está marcado—ele diz com a voz rouca. Uma brisa fria passa por nós e eu abraço o meu próprio corpo, ele me olha. —Parece que vai esfriar—digo e os seus olhos focam o meu corpo encolhido. —Fique aqui —ele diz e entra na casa em passos largos, onde esse maluco ia? Minutos depois ele volta, nas suas mãos reconheço um dos meus casacos, ele se aproxima e coloca sobre os meus ombros. —Obrigada—digo e ele apenas faz uma expressão com o rosto que não era bem um sorriso, mas parecia. Ele era um homem sério demais. O carro chega e ele abre a porta do passageiro para mim, quando vou entrar ele me apoia segurando no meu braço. —Ai—digo. —Eu lhe machuquei senhora?—ele inquire. —Não, não, eu bati o braço hoje e está um pouco dolorido—minto e ele concorda com a cabeça, fecha a porta e dá a volta no carro se acomodando atrás do volante, ele segue para o restaurante enquanto eu olho a cidade passando diante dos meus olhos através da janela. A cidade que eu tanto desejei morar e que só me trouxe dor e sofrimento. —Senhora Primeira dama, chegamos—ele diz olhando para mim. —Não me chama assim não, me chama de Marina—digo. —Senhora esse é o meu trabalho, não temos i********e para que eu possa lhe chamar pelo o seu nome—ele diz. —E eu vou chamar você de quê? Senhor Guarda Costas?—inquiro. —Pode me chamar de Zyan—ele diz. —Por que eu posso te chamar pelo o nome e você não?—inquiro. —Por que eu sou um empregado e sei o meu lugar, fique aqui vou sair do carro e olhar o perímetro—ele diz pegando a sua arma e saindo do carro, o perfume dele estava impregnado no veículo e eu estava distraída no seu cheiro quando ele abriu a porta. —Vamos—ele diz. Eu saio do carro e sinto a sua mão na base das minhas costas, aquele encostar sem encostar, quase imperceptível me guiando até a entrada do restaurante onde Alberto se levantou e sorriu vindo ao meu encontro, mas assim que chegou ele me olhou e disse em um tom baixo, mas que eu tinha certeza que o Guarda Costas ao meu lado ouviu. —Por que está vestida como se estivesse em um velório Marina? Eu apenas sorrio disfarçando e ele segura a minha mão apertando os meus dedos, olho para Zyan que corre o olhar para a minha mão sendo apertada por Alberto. —Está dispensado—Alberto diz. —Desculpe senhor prefeito é parte do meu trabalho estar no mesmo ambiente que a primeira dama, ficarei distante, mas ficarei do olho—Zyan diz e vejo Alberto apertar o maxilar, ele não suporta ser contrariado, mas mesmo assim diz. —Certamente, é para isso que eu lhe p**o, e muito bem por sinal—Alberto diz e caminha ao meu lado até a mesa, onde várias pessoas estão sentadas, cumprimento cada uma delas e me sento ao seu lado, sorrindo por fora e morta por dentro. O meu olhar por um momento ou outro encontrava o de Zyan parado próximo à porta, atento às muitas doses de uísque que Alberto tomava assim como eu estava, pois eu sabia que essas doses resultariam em uma terrível noite para mim, onde ele exigiria o meu corpo, me diria coisas horríveis, me humilharia mais uma vez e descontaria em mim a sua dor de não poder ser pai.
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