CAPÍTULO 2
MARINA
—Não é possível que não veja o perigo que corri, que esteja tão imerso nesse seu mundo que não enxergue o que poderia ter acontecido—digo olhando para o meu marido, que mais uma vez está mergulhado nos seus papéis sobre a mesa.
—Já cuidei disso Marina, não há motivo para chiliques—ele diz sem nem sequer erguer os olhos dos papéis.
—Alberto, eu poderia ter morrido, isso não chilique—digo entre lágrimas.
— Mas não morreu, Marina ouça, eu tenho muita coisa para resolver, não posso perder o meu tempo com essas bobagens, já resolvi tudo, pode voltar para o seu mundo de livros de romance—ele diz finalmente me olhando.
A minha vida para ele era uma bobagem, algo sem importância, nada mais importava para Alberto Guimarães que não fosse a sua candidatura.
Abro a minha boca para falar algo, mas desisto, não vale mais a pena discutir por algo que acabou, por um casamento de fachada.
Apenas viro e saio andando rumo a cozinha, pensando no que eu havia feito da minha vida, eu havia me casado apaixonada, iludida, achando que viveria um conto de fadas, no entanto estou presa nesse filme de terror, nessa podridão.
Saio pelos fundos e caminho para a área da piscina, o meu celular toca e vejo que é uma mensagem da minha mãe, começo a digitar uma resposta enquanto caminho, mais uma vez ela está me pedindo dinheiro. Mas acabo esbarrando em alguém e quando levanto os meus olhos vejo um homem alto, ele tem uma barba n***a assim como o seu cabelo, ele veste um terno escuro como os outros seguranças, mas eu nunca o vi aqui.
—Desculpa—digo olhando o estranho a minha frente.
—Eu quem devo me desculpar senhora—ele diz sério me olhando.
Aquele homem tinha mistério nos olhos, a palavra perigo piscava acima da cabeça dele, era estranho, mas eu tinha a sensação de que o conhecia, mas eu nunca o vi.
—Eu sou a Marina—digo.
—A primeira dama—ele diz.
—Marina, apenas Marina, e você quem é?—inquiro apesar de achar que ele deve ser segurança de algum político que está na casa e eu não vi, isso aqui era a filial da prefeitura.
—Zyan, Zyan Aslan, sou o seu Guarda Costas—ele diz e eu olho para ele.
—Meu o que? Alberto não me disse nada—digo.
—Não disse por que não cabe a você essa decisão—ouço a voz fria de Alberto atrás de mim e me viro.
—É exagero—digo.
—Não, não é—ele diz e olha para Zyan.
—Já conheceu a propriedade?—inquire.
—Sim senhor, mas preciso buscar alguns itens pessoais no meu apartamento—o tal Zyan diz.
—Vai ficar aqui?—inquiro.
—Ele é um Guarda Costas, onde mais ficaria?—Alberto diz—Venha, temos algumas fotos para tirar—ele diz pegando forte no meu braço, e os meus olhos cruzam com o do homem em pé que foca na mão do meu marido.
Eu apenas saio andando ao lado de Alberto até a sala onde já estavam alguns fotógrafos.
Eu já sabia de cor as poses, os sorrisos forçados, onde colocar as mãos e o que dizer. Essa era a minha vida, uma vida de mentiras, uma vida baseada em mentiras.
Assim que os repórteres saem pela porta, eu também me levanto para voltar ao meu quarto, o meu calabouço, mas Alberto me segura pelo braço.
—Marina, ouça bem o que eu vou lhe dizer, esse homem, Zyan, ele está aqui apenas para cuidar da sua segurança, ele não é seu amigo, eu não quero conversas desnecessárias, ele vai entrar no carro dirigir e pronto, sem conversas, entendeu?—ele diz colocando força no aperto.
—Você o trouxe para essa casa, não eu—digo.
—É um aviso eu não vou repetir—ele diz e eu me solto das suas mãos e subo a escada de volta para a minha gaiola de ouro.
Decido tomar um banho e lavar o meu cabelo, pensar um pouco na vida, e na vida que eu deixei para trás, lembro de quando cheguei aqui, cheia de sonhos , de esperança, de planos, recordo de cada noite, cada esforço para me formar e tudo isso foi jogado no lixo, me lembro do dia em que eu disse ao Alberto que eu queria continuar sendo enfermeira, mesmo me casando com ele. Lembro do seu olhar, do quanto ele riu, e me convenceu que o meu lugar era ao lado dele, sendo a primeira dama. Na época eu fantasiei como amor, hoje vejo o quão tóxico isso é, e o quão possessivo Alberto Guimarães se mostrou desde o começo, mas eu achei que era amor.
Saio do banho e enrolo uma toalha no meu cabelo longo castanho, procuro por uma roupa confortável e coloco um vestido mais solto, penteio o meu cabelo e decido respirar um pouco. Abro a porta da varanda do meu quarto e caminho até o parapeito. Corro os meus olhos pelo grande gramado, até que encontro os olhos dele, negros, misteriosos, profundos e tristes, sim aquele homem tinha os olhos tristes, como se carregasse um mundo de dor dentro de si, uma dor que ainda o assombrava. Mas aquele homem estranhamente me passava a sensação de segurança e proteção, como se fosse um anjo protetor que tivesse vindo me salvar.
Eu só podia estar louca, eu estava tão desesperada por escapar desse casamento, por me livrar desse inferno que eu estava vivendo, que eu estava projetando a minha salvação em outra pessoa, e essa pessoa não podia ser um estranho que acabou de chegar.