VINÍCIUS (VN):
Tô no tráfico desde menor. Não entrei por não ter outra opção, pois a gente sempre tem outra opção, minha família até tinha condições, meu pai era mecânico e minha mãe cabeleleira.
Eu sempre via aqueles traficantes com aquelas armas enormes, cheio da grana e mulher do lado, e eu queria aquilo, queria poder comprar as coisas sem me preocupar com outras, sem me preocupar que o dinheiro estava curto. Entrei por ambição mesmo.
Comecei como um aviãozinho qualquer, fui subindo de cargo, até ficar como sub, depois de um tempo eu matei o antigo dono daqui do Jacarézinho, o Kaká. Eu queria o poder todo pra mim, e consegui.
Meus pais ficaram tão decepcionados comigo, mas nem liguei. Hoje nem falo com eles. f**a se.
Essa foi a vida que eu escolhi, e eles tinham que entender. Mas, já que não entendem, f**a se eles, pô.
Depois da Natália ir embora, fumei outro verdinho, me vesti e sai do barraco com a minha cabeça a mil. Eu era galudão pela Natália, a mina sabe o que faz na cama, isso me deixa doido por ela.
Conheci ela em um baile ai, no dia eu não estava com a Karina, fiquei com ela e gostei, desde então ela é minha, só minha, carai. Minha segunda mulher, pô.
Não gosto de ver nenhum homem olhando pra ela, meto o tiro sem dó. f**a se. Odeio quando ela vem com uns papos de largar de mim, meto a porrada pra ela aprender que não estou brincando.
Fui de moto até minha casa, que eu morava com a Karina. Entrei e vi a mesma sentada no sofá assistindo TV.
Olhei para o corpo da mesma, vendo como marcas roxas que deixem. Dei de ombros e joguei minha arma em um canto.
Conheci Karina quando eu tinha 16, na época eu estava começando no tráfico. A mina era perfeita, irmão, não era que nem as outras, tudo interesseira. Tirei a virgindade dela, e pedi a mesma em namoro. Tava doido por aquela morena. A gente tá junto faz anos, e desde que assumi o morro, a cinco anos atrás, confesso que o dinheiro subiu pra mente, o que me deixou cego, Bato nela sem me importar com nada, ainda mais quando tô chapadão de droga.
Ela também vem com uns papos de ir embora, mas não deixo não. Nem sair de casa eu libero.
Karina e Natália são minhas, e isso ninguém tira.
•••
NATÁLIA:
J2: Comi ela de jeito. - sorriu. - Pensa em uma mulher boa de cama, é aquela.
Natália: Transou uma vez e já tá apaixonado, Jorginho? - dei risada, e ele fez careta.
J2: Sai dessa, parceira. Sou homem de se apaixonar não, se liga mermã. Só rola no buraco e já era.
Natália: Então tá, parceiro. - sorri de lado, negando com a cabeça.
Vi de longe o Vinícius com a Karina, que tinha o maior sorriso falso que já vi na vida.
Eu sei que ele bate e maltrata ela, já vi várias vezes ele batendo nela na rua. Eu também percebo que ela não queria estar ao lado dele, que ela quer se livrar daquele demônio, muito mais que eu.
Mas o Vinícius é possessivo com ela, da pra perceber isso de longe. Maluco como sempre!
J2: Sem querer parecer talarico, mais eu pegaria a Karina de jeito. Ô morena gostosa.
Natália: Ela é linda. - falei sincera mesmo.
Karina é morena do cabelo cacheado, e tem um copo do c*****o também. Não tem como negar que essa mulher é perfeita!
J2: Eu faria de tudo por ela, mina é responsa. - suspirou, fazendo uma careta.
Natália: Como tu sabe?
J2: Já colei na casa deles algumas vezes, a mina é mó legalzona, e firmeza. Vinícius que não sabe dar valor ao que tem, vacilão do c*****o, pô.
Natália: Eu tenho dó dela por ela ser essa mulher maravilhosa que você diz que ela é, e ter que ficar com o demônio do Vinícius.
J2: Por isso que eu te digo, larga ele enquanto ainda dá tempo.
Natália: Não é tão fácil assim, Jorge. Tem várias coisas envolvida no meio disso tudo. - suspirei, sentindo meu nariz arder.
J2: Me conta o que é então.
Eu apenas neguei ficando em silêncio.
Do jeito que ele é, se eu contasse que sou obrigada a ficar com o Vinícius, o Jorge pegaria a arma e tentaria matar o Vinícius.
Tem o lado bom disso, por que se ele conseguisse eu finalmente estaria livre, mas tem o lado r**m, que se ele não conseguisse, ele iria se f***r tanto com o comando.
E eu não quero de jeito nenhum ver meu amigo se fodendo por minha causa.
Ele é tudo o que eu tenho, o único que posso confiar e os caralhos. Sem esse homem eu não vivo, não.
Natália: Eu vou ir no bar da dona Gizele hoje, tô precisando encher a cara. - suspirei.
J2: Ih mano, nem começa, vou cuidar de ninguém não. - fechou a cara, cruzando os braços.
Natália: Eu preciso esquecer um pouco das coisas, me deixa.
Beber me solicitando bem, esquecia das merdas da minha vida por um tempo, e só me importava em encher a cara.
Quando estava anoitecendo, fui direto pro bar da dona Gizele, tinha acabado de abrir. Ela sorriu assim que me viu. Eu me sintoi em uma mesa e ela veio até mim.
Natália: Só um litrão pra começar. - sorri de lado pra ela.
Ela concordou com a cabeça e se foi buscar o meu litrão.
Hoje eu não estava boa, queria esquecer dos meus problemas, e só.
Minha cabeça estava tão confusa, cheia de idéias erradas, que me deixava doida só de pensar em uma solução pra tudo isso.
Dona Gizele trouxe minha bebida e lá foi eu ficar mais uma noite louca.
Tocava uns sertanejos de cornos e amantes e eu só lá pensando em como a minha vida é uma bosta. Na moral, cansei de tudo.
Até quando seria esse inferno todo?
Me assustei quando alguém sentou na cadeira em minha frente. Olhei e não acreditei quando vi a Karina ali na minha frente, com a cara de bêbada também.
Assim que vi uma marca roxa um pouco abaixo de seu olho, suspirei, sentindo um apertinho no peito.
Com toda certeza foi o Vinícius!.
Karina: Oi. - sorriu fraco pra mim. - Você também bebe pra esquecer dos problemas, né?
Natália: Melhor solução. - sorri de lado, e ela concordou com a cabeça.
Karina: Por que você tá bebendo? Quiser desabafar ...
Natália: É por causa de bofe escroto. - revirei os olhos, rindo fraco. - E você, por que tá bebendo?
Karina: O filho da p**a do Vinícius me bateu ... de novo ... - passou o dedo indicador em cima do sintoma. - Eu não aguento mais isso, eu juro que tento ter esperanças que ele vai mudar, mas ele faz elas sumirem. Ele me bate, me trai, e me humilha todos os dias. Tô cansada daquele desgraçado, sério.
Ela começou a chorar, e eu só lá me sentindo pior ainda, por ela.
Natália: Eu posso te contar uma coisa?
Karina: Pode sim. - limpou como lágrimas, me olhando.
Natália: Eu ... sou a amante fixa do seu marido. - ela me olhou. - Eu juro que não queria, mas ele me obriga.
Ela me olhou por um tempo, se foi e quando eu pensei que ela iria bater, ela me surpreendeu com um abraço apertado.
Karina: Obrigada! Sério, obrigada mesmo.
Natália: Como ...?
Karina: Por causa de você ele não me torturou, obrigando a t*****r com ele por várias noites, ou até a coisa pior comigo.
Natália: Ele te obriga a isso?
Karina: Sim. - chorou mais. - Eu juro que não aguento mais, se eu iria embora. Mas ele iria me matar antes.
Abracei ela apertado e corei junto com ela ali por cotas.
Foi ali que eu percebi que ela sofre muito mais do que eu.