Chloe Jones
Eu estava mesmo atrasada. Corri pelas ruas da cidade, a chuva fina caindo aqui fora e me deixando ainda mais desesperada, principalmente, por ter esquecido meu guarda chuvas em algum lugar no caminho.
E, quando imaginei que nada pudesse piorar, um carro passou em alta velocidade ao meu lado, respingando lama em toda a minha roupa. O xinguei mentalmente, pisoteando o chão e o amaldiçoava na minha cabeça.
Voltei andar, de qualquer maneira, eu ainda não tinha muita escolha, por isso, anotei mentalmente a placa do carro luxuoso, esperando poder xingar seu motorista algum dia. Eu estava muito atrasada, precisava desse emprego e tinha certeza de que o gerente me engoliria viva.
Entrei no local de trabalho, tocando meu rosto e esfregando-o com um pouco de força. Minha primeira decepção do dia, o gerente.
Ele me aguardava no meio do salão, dedos cruzados na frente do corpo e uma cara de poucos amigos.
— Desculpe, tive inúmeros problemas para chegar. — Avisei, puxando o ar com força para os meus pulmões.
— Senhorita Jones, não posso permitir que meus funcionários se atrasem dessa maneira... — ele começou seu discurso.
— Me desculpe, eu... — tentei dizer, mas fui interrompida.
— Não quero saber, eu quero que você entre se troque e vá atender os clientes no restaurante do hotel. — Ele me expulsou com as mãos.
— Estou sendo realocada? — Perguntei, confusa.
— Sim, sim. Saberia se chegasse mais cedo, vá! — Ele ordenou.
Assenti, sabia que não estava no meu direito de perguntar qualquer coisa a ele. Ele não iria querer saber mesmo e eu não tinha escolhas a não ser obedecer.
Corri para o banheiro, me enfiando no uniforme o mais rápido possível e saindo do local, guardando os meus pertences no armário de funcionários.
Assim que entrou no restaurante, um dos garçons se aproximou dela, com uma expressão de desespero.
— Assuma a mesa seis, pelo amor de Deus, não aguento mais. — Ele me entregou a comanda e saiu.
Procurei com os olhos a mesa até encontra-la, suspirei. Era ele Lorenzo Greco e seu pequeno filho. Engoli em seco e andei a passos curtos até ele.
O restaurante do hotel era independente também, um ótimo negócio. Alguns tinham comida gratuita e outros pagavam por ela e por incrível que pudesse parecer, tinhamos um ótimo controle sobre isso.
Me aproximei da mesa, tentando parecer o mais polida e formal possível.
— Boa tarde. — Cumprimentei. — Estou responsável pelo seu pedido, o que desejam?
— Chloe, olhe papai, a Chloe. — Ela sorriu.
— Olá, pequeno. — Sorri para ele.
— Vou querer um risoto, por favor. — Greco me entregou o cardápio, sem me encarar. — E você, Giovanni?
— Eu quero macarrão, esses dois, com torta de maçã e uma de limão também... — ele tocou o queixo. — Quero um risoto igual ao do papai e esse bife bonito aqui da foto, tá bom?
Ele me entregou o cardápio e eu terminei de anotar na comanda, com a testa franzida. Passei os olhos pelo seu pai, que permanecia em silêncio, apenas observando o filho.
— Não acha que é muita comida? — Perguntei ao mais novo, ele não parecia ter nenhum limite. — Digo, você não vai comer tudo, vai acabar desperdiçando, não acha melhor pedir menos pratos?
O menino me encarou emburrado e cruzou os braços, fazendo bico.
— Não, eu quero! — Ele gritou, batendo as pernas na cadeira. — Eu quero, quero!
A gritaria se perpetúou por todo o restaurante, enquanto eu o encarava com certo pânico, sem saber como agir apartir de agora. Eu não fiz por m*l, na verdade, eu fiz com a melhor das intênções.
— Querido, não... — tentei dizer, mas fui interrompida pela voz grave de Lorenzo.
— Apenas cale-se e traga todos os pratos solicitados. — Ele disse, rude. — Me passe o valor de tudo, imediatamente.
Como sempre, que mais eu podia esperar de Lorenzo Greco?
— Vou pagar a conta agora. — Ordenou.
Fiz os calculos e lhe entreguei a comanda, recebendo uma bela quantia de notas gordas.
Apenas dei meia volta, sem falar nada, sem observar ou agradecer, eu só queria que tudo isso acabasse o mais rápido possível.
— x —
Quando os inúmeros pratos, finalmente, ficaram prontos, os servi e estava na minha última viagem — já que eram mesmo muitas coisas.
Ainda achava que aquilo era muita coisa para um garoto de pouca idade como Giovanni, mas seu pai era um homem com muito poder e eu não podia, de maneira alguma, bater de frente com um homem como ele. Eu não era maluca e muito menos, queria perder meu emprego.
Eu precisava daquilo para sobreviver, precisava mesmo e não queria que algo desse errado em tudo isso. Suspiro pesadamente, enquanto sirvo o últimp prato na mesa — que estava cheia.
Me virei, prestes a sair dali, quando senti os pequenos dedos gelados da criança segurando os meus pulsos.
— Coma comigo! — Ele disse, quase como se estivesse ordenando.
— Oi? — Levantei a sobrancelha.
— Senta comigo para comer. — O garoto fez bico.
— Não posso, estou no meio do meu trabalho. — Avisei.
— Coma comigo, coma! — Ele começou a gritar, ficando sobre a cadeira. — Eu quero, eu quero! COma comigo ou não como nada.
— Não torne as coisas difíceis, estou no meio do meu trabalho!
Ele gritava, chamando a atenção de todos em nossa volta pela segunda vez. O pânico se instalava no meu peito mais uma vez. Como alguém conseguia criar uma criança tão mimada e m*l educada?
— Sente-se com ele. — Greco ordenou, fazendo-me olha-lo chocada.
— Senhor Greco... — Eu tentei dizer.
Quero dizer, eu não podia largar meu expediente por causa do menino e de capricho de sua parte. Eu precisava desse emprego.
Ele me encarou com os olhos comprimidos e uma cara de poucos amigos, chamando um garçom próximo. Senti meu corpo inteiro tremer de raiva, quando ele soltou as seguintes palavras:
— Chame o gerente!
Ele me encarou mais uma vez, com uma cara de poucos amigos e ordenou, com a voz grossa:
— Já mandei sentar!
Engoli em seco, sentando-me ao lado do garoto, que tinha um sorriso de orelha a orelha, com as mãos sobre o meu colo. Meu corpo inteiro tremia, na verdade, eu podia sentir o medo me corroendo por dentro.
Meu gerente chegou segundos depois, tentando parecer o mais controlado possível, mas era claro que ele queria me comer viva ali mesmo, na frente de todas aquelas pessoas.
— Sim, senhor Greco? — Ele perguntou, cordial e polido. — Qual o problema? Chloe, o que está fazendo sentada ai?
— Não fale com ela! — Ele disse. — Fale comigo!
Angelo piscou fortemente e puxou o ar enquanto o encarava, na verdade, sequer eu pensava que isso podia acontecer. Ele estava mesmo sendo submisso a esse homem?
— Qual a diária de Chloe? — Perguntou.
— Cem dólares. — Ele disse, temeroso.
Greco enfiou a mão no bolso e tirou a sua carteira, entregando-lhe algumas notas de cem.
— A diária da senhorita Chloe, quero que ela tenha o dia livre para ficar comigo e... — ele me encarou. — depois que terminar, tanto faz.
— Por mim, tudo bem. — Ele deu de ombros. — Com licença e bom almoço.
E ele se virou, saindo da mesa. Eu sabia que qualquer outra frase dele e eu estava no olho da rua, estava nas suas mãos e completamente vulnerável.
Suspirei pesadamente, olhando para Greco com raiva, enfiando o garfo no bife — que o garoto sequer comeu.
Eu odiei cada segundo daquela humilhação, quero dizer, o garoto tagarelou durante todo o almoço, enquanto eu respondi com uhum, sério?, uau, nossa.
Eu não queria ser grossa com aquele garoto, na verdade, ele não tinha nenhuma culpa de qualquer coisa que estivesse fazendo e sim, do seu pai, que o deixava fazer todas as merdas que lhe dessem na telha.
Eu o encarei com raiva, querendo que ele entendesse que nada daquilo era com boa v*****e e na verdade, eu estava muito insatisfeita, entretanto, ele ignorou completamente isso e continuou calmo e indiferente, ignorando-me completamente.
E, quando finalmente terminamos, quando o garoto parecia satisfeito e Greco tinha limpado seu prato, o encarei com desdém:
— Pode ir embora agora!
Ele me encarou nos olhos e deu um sorriso de canto, ajeitando o blazer.
— Estou indo mesmo, preciso fazer inúmeras coisas e tenho um monte de responsabilidades. — Ele se levantou. — Vamos, Giovanni.
O garoto pulou da mesa e me olhou sorrindo.
— Tchau, Chloe. — Ele balançou as pequenas mãozinhas gordinhas'.
E então, ele saiu do salão, me deixando sozinha na mesa. Suspirei, passando a mão na testa e sai para o lado de fora, precisando tomar um pouco de ar.
Olhei para ele, que andava até um carro e embarcava no banco de trás com Giovanni. Comprimi meus olhos, encarando a placa do carro, dei um suspiro alto e li as letras e números que se misturavam na traseira do carro.
Que m***a, foi ele! Greco foi quem respingou água suja com lama em mim e me sujou completamente a algumas horas atrás.
Ele só podia estar de brincadeira comigo!