Acordei cedo, ouvindo a campanhia tocando diversas vezes. Soltei um suspiro alto e me levantei, colocando os meus pés no chão gelado. De qualquer maneira, eu estava a poucas horas de ir para o trabalho.
Me arrastei, ainda de pijama, até a porta da casa e olhando pelo olho mágico. Franzi a minha testa, enquanto encontrava Anna parada na porta da minha casa. A abri, olhando para a minha amiga.
— Oi! — Ela disse, dando um sorriso sem graça.
— Anna. — Murmurei, desanimada. — O que quer?
— Eu preciso pedir desculpas, mesmo... — Ela disse, se aproximando um passo.
— Olha, Anna, eu não consigo te desculpas pelo que você fez. — Joguei meus cabelos para trás. — Estou muito chateada com você.
— Eu sei que você está chateada e tem toda a razão do mundo para estar chateada, mas estou pedindo desculpas sinceras. — Ela puxou a minha mão. — Você precisa me perdoar, odeio ficar brigada com você.
— Eu não quero, você sabe o perigo que eu corri naquele lugar? — Perguntei. — Você sequer voltou para me buscar ou para saber se eu estava bem. — Gritei para ela. — Eu só... preciso de um tempo, me deixa!
Bati a porta na sua cara, ignorando completamente a campanhia insistente.
Entrei para o banheiro, tomando um banho rápido, enfiando-me em uma roupa completamente confortável — sabendo que eu teria que trocar para o uniforme, ainda mais agora, que eu tinha sido realocada.
Assim que entrei hotel, alguns longos minutos depois, aproveitei para trocar o uniforme e tentar aproveitar os poucas minutos que me restavam parada na recepção, ao lado da menina que atendia boa parte dos nossos clientes.
Ela era simpática e nós nos conheciamos a bastante tempo e eu gostava dela.
— Olá. — Um rapaz se aproximou, um sorriso galante no rosto e cílios enormes piscando na minha direção.
— Olá, senhor Phillip. — Ela colocou os dedos na frente do corpo, ficando quase que imediatamente seria.
E então, quase que imediatamente me lembrei daquele rosto. Era óbvio que eu conhecia aquele garoto — ou melhor, aquele homem, já que deveria ter quase trinta anos —, que parecia querer galantear todas as funcionárias daquele hotel e restaurante.
— Sabe onde meu pai está? — Perguntou.
— Na verdade, ele avisou que chegaria e pediu que eu lhe dirigisse a uma mesa, para que pudesse espera-lo. — Ela disse, tentando não parecer que estava lhe dando a******a.
O filho do chefe não era uma das pessoas mais agradáveis para se lidar, na verdade.
— E você? Quem é? — Perguntou.
— Chloe. — Me apresentei.
— Lindo nome, Chloe. — Murmurou, se aproximando. Pegou minha mão entre os seus dedos e a levou aos lábios, dando um beijo molhado nas costas. — Me acompanha para o almoço?
— Na verdade, não... — pisquei em sua direção. — Não me entenda m*l, senhor Phillip, mas sou uma empregada e estou aqui a trabalho, não seria adequado.
— Sabe que meu pai não se importaria se eu falasse com ele. — Ele murmurou.
— Na verdade, eu dispenso! — Levantei minha palma aberta, pondo distância entre nós dois.
— Bom, sabe onde me encontrar quando mudar de idéia... — Ele me lançou um beijinho no ar e saiu, andando em direção ao salão.
Olhei para a recepcionista, enquanto ela tirava a expressão tensa do rosto e suspirava. Revirei meus olhos, lembrando-me de que ainda precisava trabalhar ali.
— x —
Quase uma semana depois, uma semana inteira e eu me sinto a cada dia mais sufocada por Phillip, o filho de Angelo, o meu gerente.
Ele é completamente incoveniente e tenta, a todo custo, e fazer sair com ele — mesmo com toda a minha recusa.
Me sinto m*l sempre que penso que ele está tentando me comprar com o seu status, como se eu já não tivesse problemas o suficiente na minha vida a ter que lidar com um rico mimado, últimamente, tem aparecido muitos desses na minha vida, ocupando um espaço deliberadamente grande — mas esse é muito pior.
— O que você quer, Phillip? — Perguntei, sentindo o pouco de paciência se esvair.
Ele me puxou pelo braço, me empurrando para o corredor do restaurante, local onde ficavam localizados os banheiros.
— Não fale nesse tom comigo. — Disse.
— Me solte, eu estou no meio do meu trabalho. — o empurrei. — não é apropriado que...
— Não é apropriado que perca seu emprego, certo? — Ele disse.
Levantei a minha cabeça, o encarando sem acreditar nas palavras que tinham acabado de sair da sua boca, na verdade, eu não tinha entendido ao certo...
— O que meu emprego tem haver com você? — Perguntei, na verdade, ele sequer tinha algum cargo aqui.
— Meu pai é gerente desse hotel, ele decide quem fica e quem sai, e leva a minha palavra muito a sério... — ele segurou uma mecha do meu cabelo e enrolou nos dedos. — Se não aceitar sair comigo, eu faço que seja demitida.
Pisquei para ele, ainda chocada com as palavras que tinham acabado de sair da sua boca. Eu não sabia o que fazer, eu estava nas mãos desse cara.
— Você tem até o final do dia. — Anunciou.
E então, ele saiu. Fiquei ali por alguns minutos, um tanto quanto zonza, sem entender ao certo o que estava acontecendo. Eu sabia que estava nas mãos dele, mas porque parecia tão difícil de ser processada?
Depois de recomposta, sai do corredor, ajeitando a minha postura e centrada para voltar ao meu trabalho e decidir, de uma vez por todas, se eu deveria fazer isso ou não.
De repente, pela entrada principal Lorenzo Greco e seu pequeno furacão, Giovanni Greco, entraram pela porta do restaurante, respirei fundo, percebendo que teria que atende-los.
Eles se aproximaram de mim, que tive que parar muito próximo de Phillip — para o meu desgoto.
— Senhorita Chloe, porque não foi me visitar como prometeu? — Perguntou rápidamente, quase não me dando tempo de cumprimenta-los.
— Olá, senhor Greco, olha Senhorzinho... — me abaixei um pouco ao seu lado, olhando-o nos olhos. — Eu estou muito ocupada com o trabalho, me desculpe.
— Se assim for... — Greco disse, chamando a minha atenção. — Largue seu emprego e venha ser a babá de Giovanni. Pode trabalhar na minha casa e eu lhe p**o muito mais que ganha nesse restaurante.
E então, Phillip se aproximou quase que imediatamente:
— Chloe, você é paga para trabalhar e não para... — sua frase foi cortada no exato momento em que Lorenzo lançou-lhe um olhar cortante e completamente ameaçador, fazendo-lhe dar passos largos.
Eles se viraram e andaram até a mesa mais próxima, fazendo-me segui-los.
— Quero dois bifes com purê e uma pequena porção de risoto, Giovanni amou o risoto. — Ele murmurou. — Chame seu gerente e vá para a cozinha pedir que preparem os meus pedidos, depois sente-se e coma comigo.
O encarei sem reação, mas me virei nos meus próprios calcanhares, pisando duro até onde Angelo estava com o seu filho.
— O senhor Greco está lhe solicitando em seua mesa, com licença. — Cada palavra saia da minha boca com desgosto, quando sai dali, entregando os pedidos na cozinha.
— x —
Quando, finalmente, os pratos foram servidos, me sentei ao lado de Lorenzo e de frente para Giovanni, que estava muito quieto hoje. Não sei se levou alguma bronca, mas estava estranhamente educado.
O almoço estava ocorrendo em completo silêncio quando, de repente, Lorenzo me encarou.
— Aconteceu algo, senhor Greco? — Perguntei.
— Na verdade, me encontro inteiramente satisfeito com você. — Ele me olhou calmamente. — Não chegou tarde, assim como o prometido, nenhuma vez essa semana.
Como ele sabia disso? Será que tinha posto alguém para me vigiar? Quero dizer, n******e ser que ele tenha feito uma maluquice dessas, não é mesmo possível.
— Obrigada? — Isso foi mais uma pergunta, que uma afirmação.
Eu não estava satisfeita com tudo o que vinha acontecendo e com a forma que Lorenzo tem tomado conta da minha vida, não me dando opção de coisas que não eram da sua conta e para ser realista, nunca seriam.
Ele estava tentando me controlar e eu estava lhe dando esse controle, fazendo-me ficar ainda mais irritada.
— x —
Cheguei em casa cansada, era noite e eu só queria comer alguma coisa e ir me deitar, para acordar amanhã e repetir todo esse ciclo cansativo mais uma vez.
Meu celular tocou e eu o pesquei dentro da bolsa.
— Chloe falando! — Disse, assim que atendi.
— Chloe, minha amiga.. — A voz de Anna ecoou pelos meus ouvidos, um tanto quanto grogue. Imagino o quanto ela não deve ter bebido essa noite.
— O que quer, Anna? Onde está e com quem está? — Eu perguntei.
— Não consigo viver com a idéia de perde-la, de que não tenho seu perdão... — ela disse, berrando. — Por favor, me perdoe, eu te amo, você é como uma irmã para mim.
Passei a minha mão na testa e suspirei. Era claro que ela estava muito bebada e que precisava de ajuda e eu, bom, não conseguia viver longe dela e saber que eu era o motivo do pequeno desastre que ela tinha se tornado.
— Onde você está, Anna? — Perguntei.
— No bar, aquele mesmo que nos encontramos... — Ela berrou. — Você vem me ver?
— Vou buscar você e depois leva-la para casa. — Desliguei o telefone e me arrastei para fora do apartamento, pegando um taxí.
Era bem tarde quando cheguei na balada cheia, na verdade, não conseguia acreditar que tantas pessoas estavam aqui, quero dizer, eles não trabalham amanhã?
Entrei no lugar, sentindo um arrepio na espinha e procurei Anna, encontrando-a debruçada no bar.
— Você é tão boa para mim. — Ela se jogou nos meus braços. — muito diferente de mim, que larguei você... eu não mereço você, amiga,
— Anna, vamos... — a puxei pelo braço.
— Só se me perdoar. — Ela se levantou cambaleante.
Suspirei, parada no meio daquele lugar, tentando salvar a minha melhor amiga bebada.
— Tudo bem, eu perdoo você, Ana. — Constatei. — Agora, vamos...
Ela assentiu. Passei seus braços pelos meus ombros e a puxei para fora dali, embarcando em um outro taxi. Dei o endereço de Anna e fiquei olhando a cidade, enquando íamos em direção a um lugar perto dali.
Quando, finalmente, chegamos na casa de Anna, empurrei-a para dentro do seu apartamento no quinto andar e entrei junto, ajudando-a a se lavar e usar uma roupa confortável. Não demorou para que pegasse no sono.
Deixei um recado na mesinha e tranquei com a chave reserva que eu tinha em casa.
Cansada e me sentindo estranhamente sortuda, peguei o último taxí da noite, indo para casa.
Assim que cheguei, subi direto para o meu apartamento, exausta. Era muito tarde e eu só precisava de um banho e cama.
Olhei para o meu celular e li a mensagem que estava na barra de notificações:
"Não gostei que chegou tarde hoje, não se esqueça das coisas que conversamos. Espero que não se repita." — Lorenzo Greco.
Merda, como ele sabia onde eu estava? Ele estava mesmo me perseguindo?