03 | A L A N A

1097 Words
A situação era nojenta demais pra eu continuar dentro daquele carro e quando, finalmente, tive forças para abrir a porta e sair, vomitei em um canteiro da obra. Não sabia o que fazer; se ligava para os meus pais ou ia atrás de pedir ajuda da minha irmã. Era a primeira vez que passava por uma experiência tão humilhante e me vi perdida sem ter o amparo dos meus pais. A minha mãe ainda disse que estava com um pressentimento r**m e eu deveria tê-la escutado, afinal, é mil vezes melhor morar na roça pro resto da vida do que ser morta no primeiro dia em uma cidade grande. Eu deveria ter escutado seu conselho e voltado para a casa. Não sei quanto tempo demorou para os três terminarem, mas pareceu como se fosse horas e eu ali esperando, sozinha, no relento daquela construção de um condomínio de casas inacabadas. Havia uma floresta próxima dali e ouvi alguns barulhos esquisitos de animais selvagens vindo de lá de dentro. Não sabia o que era pior: ser devorada por um animal ou assassinada por um homem. Minha garganta começou a doer depois da terceira vez que vomitei e as lágrimas escorreram pelo meu rosto. Olhei para o carro que ainda se movia de um jeito que demonstrava que as minhas amigas ainda estavam fazendo aquilo com o Uber e só queria alguém para me tirar desse lugar. — Esse velho tomou viagra pra tá demorando tanto tempo pra gozar? — gritei quando senti a necessidade de extravasar o ódio dentro do meu peito. Por essas e outras que os meus pais sempre falaram que amigos de verdade só são pai e mãe, porque se essas duas tivessem pelo menos um pingo de consideração por mim, achariam outra solução que não me colocasse em risco de morrer ou pior, ser estuprada. Sentia calafrios só de imaginar perder a minha virgindade com alguém que eu não amasse de verdade. Corri a mão pelo meu cabelo preocupada quando meu celular descarregou e encarei a Juliana com ódio nos olhos quando ela saiu do veículo, toda desarrumada, vindo na minha direção e logo em seguida, a Andrezza surgiu do lado de fora com os olhos tristes, encarando o chão. — Não tinha outro jeito, Alana. — Juliana ficou parada na minha frente e cruzou lá braços. — Desculpa te fazer passar por essa m***a toda, mas eu já estava desconfiada que o seu José tinha nos passado a perna desde que cheguei na rodoviária e não quis colocar pânico nas duas. — Isso foi a pior coisa que já fiz na minha vida. — Andrezza lamentou, me abraçando e senti seu corpo tremendo. — Você não precisava ter participado, eu disse que ia fazer por nós três. — Fiquei com medo dele querer m***r a gente por ser rejeitado. Arregalei os olhos pensando na possibilidade de sermos assassinadas e quem iria encontrar os nossos cadáveres? Como meus pais reagiriam sabendo que perderam mais uma filha? Eles não vão aguentar… — Ele vai levar a gente até a favela que a minha irmã mora? — indaguei, engolindo o choro. — Acho que ela é a única que pode nos dar um lugar para dormir e depois vemos o que podemos fazer. — Combinamos de levar você até lá, porque ele ainda quer ir pro motel comigo e a Andrezza. — Vocês vão passar a noite com esse nojento? — Fiz careta de nojo. — Tem outra solução? Porque eu não tenho dinheiro pra mais nada — explicou, fazendo uma careta. — Meus pais só vão depositar dinheiro pra mim daqui a dois dias. — Eu tenho R$350 ainda. Podemos pagar a corrida e… — Não, Alana, não estamos em posição de negociar com ninguém, porque isso pode sair muito rápido do nosso controle. O que eu posso fazer é ir sozinha com ele pro motel e pedir pra vocês ficarem na casa da sua irmã. — Podemos falar exatamente como você quer e quando chegarmos na favela pedirmos ajuda pra alguém. Não quero que te ver sendo obrigada a t*****r com uma pessoa que você não quer, amiga — sussurrei, dando uma espiadinha para ver se o seu Reinaldo continuava dentro do carro. — Vou manter a minha palavra de dormir com ele, porque não quero me arriscar em ter um t****o atrás de mim por se sentir enganado. Bufei frustrada por não saber o que fazer para ajudá-la e me sentindo um pouco culpada por julgá-la precipitadamente. No final das contas, ela só tentou ajudar as suas amigas. [...] Voltamos para o carro e explico onde a minha irmã mora e o seu Reinaldo, o motorista do Uber, dá partida no carro. Ele e a Juliana trocaram carícias durante o caminho e dei o meu melhor para esconder a cara de enojada. Eu não sabia onde era exatamente a casa dela, mas acredito que seja só procurar pelo chefe do tráfico de lá que todo mundo deve conhecê-lo. Como meu celular estava sem bateria e não sabia o número da minha irmã decorado, não tive como ligar e avisar que estávamos indo vê-la. Espero que ela possa nos ajudar ou estamos muito ferradas. — Não sabia que você tinha uma irmã — Andrezza comentou, esfregando suas mãos uma na outra, demonstrando seu nervosismo. — É uma longa história. Quando puder, conto tudo para vocês — desconversei para não assustar o motorista e ele achar que estou o levando para uma emboscada. — Essa favela aí é bastante perigosa, quase todo dia sai nos jornais que alguém morreu por lá, por isso só posso deixar as duas na frente… O cara que comanda aquele morro é um lunático — Reinaldo referiu-se ao meu cunhado com pavor. — Espero não cruzar com ele — Juliana brincou, rindo. Meus Deus, quando ela souber que estamos indo para casa dele vai querer me m***r. Respirei fundo com a certeza que preciso falar para as minhas novas amigas que estávamos indo atrás de uma mulher de traficante, contudo, o receio de contar na frente do motorista e ele desistir de ajudar a gente é maior que tudo, por esse motivo permaneço calada e continuo determinada a falar a verdade quando chegarmos na favela, pois se alguma delas não quiser ajuda da Ana e do seu marido, posso pedir dinheiro emprestado pra minha irmã para irmos procurar outro lugar. Mas, na minha humilde opinião, qualquer coisa é melhor do que t*****r com um cara que tem idade para ser meu pai e espero que elas entendam o meu lado.
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