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Romance Escondido

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Blurb

[PRIMEIRA TEMPORADA]

Após ser aprovada em uma universidade federal, Alana toma a difícil decisão de abandonar a vida simples que leva com a sua família na roça para estudar na capital em busca de um futuro melhor. O que ela não esperava é ser vítima de um golpe e ao se encontrar sem saída em uma cidade desconhecida, procura sua irmã mais velha para pedir ajuda e descobre que ela roubou o dono do morro e fugiu com o seu maior inimigo. Agora, a garota terá que lidar com um dos homens mais perigosos do país querendo lhe usar moeda de troca ao mesmo tempo que sente seu coração acelerar todas as vezes que está perto do temido Relíquia.

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00 | A L A N A
CINCO ANOS ANTES — A mamãe vai brigar com a gente, Ana — repeti olhando para as duas caixas de coloração para cabelos nas minhas mãos que havíamos acabado de comprar em uma loja. — É o seu aniversário — minha irmã mais velha recordou com um sorriso eufórico no rosto e aumentou a velocidade da caminhonete velha que tínhamos emprestado do chefe do nosso pai. — Ela não pode ficar brava contigo no seu aniversário. — Só não pode, como vai me m***r e eu só tenho doze anos. — Treze, na verdade — corrigiu, toda orgulhosa como se eu tivesse conquistado o prêmio de melhor aluna do colégio. A cada minuto mais próximo da nossa casa, mais ansiosa eu ficava para poder mudar a cor do meu cabelo pela primeira vez, porém, não deixava de temer a reação dos meus pais quando descobrissem que a filha mais nova fez mechas roxas. Ao avistar o portão de madeira rústico com dois X embutidos, a Ana parou com o veículo na frente e eu, rapidamente, tirei o cinto de segurança e desci para abri-lo. Quase me arrependi de ter vestido um casaco de moletom preto com uma calça jeans quando senti o sol quase rachar a minha cabeça, entretanto, odiava vestir roupas justas e curtas quando ia na cidade mais próxima, porque os homens costumavam me chamar de gostosinha e falar palavras grotescas para mim mesmo que eu tenha só doze anos. Bom, estou completando treze anos hoje, contudo, não deixa de ser nojento de qualquer maneira. É muito comum meninas adolescentes se casarem com homens mais velhos pelas redondezas de onde moramos, o que pra mim é pior que a morte, porque eu, particularmente, preferiria ter minha cabeça decepada do que beijar um cara com quinze anos a mais que eu. — Tá passando m*l? — Ana gritou, fazendo com que eu olhasse confusa para trás e a encontrei com a cabeça do lado de fora me encarando com preocupação. — Você tá fazendo cara de quem vai vomitar, Alana. — Ah, isso? — Dei uma risadinha sem graça e abri o portões. — Tô lembrando que a Julie vai casar com aquele velho que é dono do mercado. — Não vamos julgar nossa prima, porque, um dia, pode ser a gente se apaixonando por um idoso. — Deus me livre e guarde desse m*l, Ana! Vai jogar essa praga em outra… Ana soltou uma gargalhada e deu partida na caminhonete enquanto eu esperava ela estacionar embaixo das árvores. — Vai querer pintar hoje ou amanhã? — a morena indagou quando desceu do veículo. — Hoje! Com certeza, hoje! Fechei os portões outra vez antes de correr em direção a nossa casa. — Hermione! — gritei ao ver a minha gatinha ruiva sentada na varanda e a segurei no colo. — A neném da mamãe já comeu? Fiquei acariciando o pelo macio da minha b******a e me surpreendi quando notei a Ana parada ao meu lado com seu olhar fixo na nossa casa como se quisesse gravar na memória cada detalhe da estrutura pintada de verde esmeralda e janelas brancas. — Vou sentir tanta falta daqui, sabia? Passo dias reclamando da vida difícil que temos na roça, mas ainda é o meu lar. — Não sei como vai ser quando você for embora. — Meus olhos se encheram de lágrimas e ela me abraçou de lado. — Tô tão acostumada em passar os dias contigo. — Prometo vir te visitar sempre que possível e assim que você completar dezoito anos, irei te levar pra morar comigo. — Não sei se quero deixar a minha vida aqui, mas é melhor morar com você na cidade grande do que casar com um velho como a nossa prima. — Para de implicar com a Julie, sua chata. — Sua risada chegou aos meus ouvidos no mesmo instante que a garota jogou seu quadril contra o meu. — Tá defendendo muito a dona do asilo, hein? Tem algum Matusalém em vista, é? — impliquei, rindo. — Só se tiver muito dinheiro pra me oferecer uma vida de rainha. — Pode ser o homem mais rico do mundo que eu ainda iria querer distância. Adentrei a sala de estar que parecia um cemitério com tantas fotos de parentes mortos pendurados pelas paredes, o que me fazia sentir observada o tempo inteiro por ter inventado na minha mente perturbada que os espíritos dos meus familiares estavam aprisionados dentro dos quadros e poderiam se rebelar a qualquer momento contra mim. — Vou preparar a tinta — Ana avisou e eu assenti. Coloquei ração no pote para a minha gata e em seguida, trilhei caminho pelo pequeno corredor entre a sala e a cozinha para encontrar a minha irmã. [...] — Meu Deus, tá incrível! — Ana afirmou quando secou o último fio do meu cabelo. Me levantei da cadeira no meio do nosso quarto e dei passos lentos até o espelho embutido no guarda-roupa em verniz, o nervosismo tomando conta de cada célula do meu corpo, me fazendo suar um pouco mais que o normal e sentir a camiseta branca grudar na minha pele. — Ficou legal mesmo? — perguntei enquanto encarava o meu reflexo no espelho do nosso quarto. — Acho que vão me zoar na escola. — Não deixe ninguém pisar em você, Alana. — Ela me abraçou por trás e depositou um beijinho na minha bochecha. — Você é linda e pode esmagar qualquer uma daquelas vagabundas com cara de p**a do seu colégio. — O que vocês fizeram? — Marlene, a nossa mãe, entrou no cômodo inesperadamente e olhou para o meu novo visual de boquiaberta. — Isso foi ideia sua, Ana? — Não, foi ideia minha, mãe — respondi, fechando meus olhos, me preparando para a bronca. — Se for brigar, briga comigo, porque hoje é o dia da nossa princesinha — Ana pediu, apertando as minhas bochechas como se eu fosse uma criança e eu rodei os olhos. — Ela é uma princesa malcriada, mas ainda é uma princesa. — Não vou brigar com ninguém, mas, na próxima vez, gostaria de ser informada quando a minha filha resolver virar roqueira. — A Alana não é do rock, mãe! Ela é emo. — Nem existe mais emo hoje em dia, sua idosa da época do Orkut. — Mas a bonita tem um preconceito com gente mais velha! — Minha irmã colocou as mãos na cintura e fingiu estar chateada. — Você acha que vai morrer sendo novinha? — Deixem de brigar por besteira e venham comer o bolo que a gente trouxe pra comemorar o aniversário da Alana — minha mãe exigiu, quase perdendo a paciência com as duas filhas. — Por que a pia tá toda suja de tinta, meninas?! — escutamos o André, meu pai, gritar. — Ih, esqueci de limpar. — Ana fez uma careta e saiu correndo rumo à cozinha. — De zero a dez, o quanto a senhora tá chateada comigo? — questionei para a minha mãe quando ficamos a sós. — Zero, Alana. — A mulher se aproximou com um sorriso carinhoso e tocou no meu cabelo. — Só foram uma mechas, não tem nada demais, mas gosto de saber o que vocês vão aprontar com antecipação. — Desculpa, mãe. Prometo não lhe esconder mais nada. — Ela me envolveu em seus braços e eu retribui o gesto de carinho no mesmo segundo. [...] Estávamos comendo o bolo do meu aniversário na mesa da cozinha quando o meu pai se dirigiu à sala e ligou a televisão e ouvimos uma notícia de que uma menina de dezessete anos havia sofrido um e*****o coletivo em uma favela comandada por um traficante conhecido como Cordilheira. — Lá vem… — Ana resmungou e nós três respiramos profundamente. — Tá ouvindo isso, filha? É pra essa cidade que você quer se mudar? — Nosso pai voltou para o cômodo que estávamos e encarou sério a minha irmã mais velha. — Pai, por favor, já conversamos sobre esse assunto tantas vezes… — Ela tentou ignorá-lo e voltou a comer o pedaço do bolo no seu prato. — Não sei porque você não faz faculdade por aqui, filha. — Porque eu não quero ter que viajar por mais de duas horas para comprar a p***a de uma tinta e, definitivamente, não quero ser igual a vocês que tem acordar às três da manhã para irem trabalhar para colocar um pouco de comida nas bocas das filhas. — Observei minha irmã empurrar o prato para longe e levantar-se bruscamente, fazendo com que a cadeira caísse no chão. — Então, você tem vergonha da gente? — O pai inquiriu puxando seu braço e a Ana o empurrou com força. — Eu tenho muito orgulho dos pais que tenho! — Ela bateu forte no seu próprio peito. — Porém, nem de longe, isso quer dizer que eu deva seguir os mesmos caminhos que os dois. A discussão foi ficando cada vez pior e a minha mãe teve que intervir enquanto eu fiquei comendo sozinha o bolo que ganhei no meu aniversário.

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