— A Alana vem comigo e as outras duas podem ir com o Deco — Relíquia ordenou, me encarando como se quisesse descobrir algo ao meu respeito. — Amanhã, nós vemos como podemos ajudar as três, mas agora todas vocês precisam é de um banho porque tô sentindo bafo de p***a estragada daqui.
Inconveniente? Sim!
Mentiu sobre o odor? Não!
Não sabia que s**o tinha um cheiro tão repugnante.
— Moro sozinho, mas não se preocupem que não vou fazer nada com vocês — Deco garantiu olhando para a Andrezza que parecia temer ser abusada outra vez. — Não somos santos, mas também não somos e**********s.
— Até porque é mais fácil alguém pagar pra querer t*****r comigo do que eu obrigar alguma menina a f***r. — O homem magro de cabelo verde riu da própria piada enquanto eu fiz um esforço para não rodar os olhos, porque tinha amor à própria vida.
— Tudo bem pra você? — Juliana perguntou-me olhando pra mim claramente preocupada e eu assenti.
— Nos encontramos pela manhã. — Dei um sorriso amigável para as minhas amigas e ambas retribuíram.
Deco chamou alguns rapazes para ajudá-lo a colocar nossas bagagens em um carro e assim que terminou, abracei as garotas, me despedindo ao mesmo tempo que orava em silêncio para não ser a última vez que estávamos juntas.
— Tem medo de andar de moto? — Relíquia indagou quando ficamos a sós e eu neguei com a cabeça.
— Na minha cidadezinha, só andamos de moto — contei, dando um sorriso, tentando ser gentil. — Carro é artigo de luxo.
— Achei que gente da roça andava de jumento.
Peguei a minha mochila do chão, tentando não rir da sua piadinha preconceituosa, mas foi difícil resistir, porque tinha sido bem engraçada.
— Tá com medo de morrer, né? — Ele puxou assunto novamente quando estávamos indo em direção a sua moto.
— Só espero que a minha mãe escolha uma foto bonita quando forem na delegacia falar que tô desaparecida — brinquei, porém, no fundo, estava aterrorizada com a possibilidade.
O magrelo soltou uma gargalhada e eu acabei o acompanhando, o que me deixou menos tensa com toda a situação.
— Não vou fazer nada de m*l com você. Só quero sua ajuda, mas se não quiser me ajudar, tudo bem, só que se eu não te dever um favor, não tenho razão pra estender a mão para as três...
— Isso é uma chantagem? — Ajeitei a minha mochila nas minhas costas, o observando subir na moto e logo em seguida, oferecer uma mão para eu sentar na garupa.
— Prefiro chamar de negociação.
Dei uma risadinha e segurei sua cintura antes dele ligar o motor e dar partida.
Já havia anoitecido, por isso não consegui ver muito bem as casas, ruas e becos, mas senti cheiro de comida ao passarmos por alguns lugares e senti meu estômago roncar de fome.
— Tá com fome? — Relíquia questionou como se tivesse adivinhado meu pensamento, olhando rapidamente por cima do ombro pra mim e eu fiz que sim com um aceno de cabeça.
Dois minutos depois, ele estacionou a moto em frente a uma lanchonete e descemos do veículo de duas rodas.
— Relíquia?! Quanto tempo, meu filho! — a garçonete comemorou sua presença no local e as pessoas que estavam sentadas nas mesas brancas de plásticos se dividiram entre ficar entusiasmadas e amedrontadas.
— Bença, mãe — Ele beijou sua mão, me deixando surpresa com o gesto de respeito em público.
Na minha cabeça, sempre imaginei bandidos completamente pirados, totalmente fora de controle e que não se importavam com ninguém e vê-lo sendo tão gentil com a sua mãe, me fez admirá-lo mesmo que um pouquinho.
— Deus te abençoe, meu filho. — Ela parecia feliz em ter o filho por perto como se não o visse há muito tempo.
— Essa é Alana, irmã mais nova da Ana — Relíquia praticamente anunciou para a favela inteira e eu encolhi meus ombros quando os olhares se voltaram na minha direção.
— Eu sou a Kátia. — Ela estendeu sua mão e eu apertei com educação, mostrando meu melhor sorriso.
— Faz uns sanduíches pra gente, por favor, mãe.
— Claro, vou pedir pro pessoal da cozinha caprichar.
Estranhamente, o Relíquia pegou na minha mão e me levou até uma mesa vazia, tirei a mochila das minhas costas para colocá-la ao lado da cadeira e nos sentamos um na frente do outro.
— Então, por que você veio atrás da sua irmã, Alana? — O homem apoiou seus braços na mesa.
— Eu e as minhas amigas alugamos um lugar, mas o cara simplesmente deu um endereço onde só tem uma obra inacabada e acho que fomos vítimas de um golpe.
— Você acha? — ironizou, balançando a cabeça de um lado para o outro. — Mas vocês foram burras, hein? Não verificaram nem no Google Maps para ver se a casa realmente existia?
— Mas não fomos as únicas que levamos um golpe — rebati na mesma hora e ele fechou a cara, me deixando receosa, mas mesmo assim perguntei:. — Como foi que a minha irmã te enganou?
— Usando a única coisa capaz de fazer um homem como eu ser roubado: sua b****a.
Senti meu rosto esquentar e ele pareceu gostar de me deixar desconfortável com a sua cara de p*u.
— Sinto muito pelo que ela fez — disse com sinceridade após o choque do seu palavreado.
— Digo o mesmo, mas vamos comer primeiro e acho que você tem direito a uma boa noite de sono na minha cama antes de conversarmos sobre como podemos nos ajudar mutuamente.
— Na sua cama? — Engoli em seco.
— É maneira de dizer, Alana.
— Claro que é.
— Ué, as camas que estão na minha casa são minhas. Isso não quer dizer que vamos dormir no mesmo colchão.
— Que bom, porque a única promessa que fiz pra mãe foi justamente nunca me deitar com traficante como a Ana — expus sem pensar e me arrependi ao vê-lo suspender a sobrancelha, ofendido.
— Olha como as coisas são, né? Foram os traficantes que ajudaram as três ou a sua amiga estaria sendo estuprada até agora por aquele motorista enquanto o bandidão malvado que tirou a Ana do caminho certo, tá te oferecendo comida e um teto sem nenhuma maldade em mente.
— Não quis te ofender, Relíquia. Só tô falando que seria algo extremamente incômodo dormir ao lado de um homem que acabei de conhecer, mas claro que sou muito grata pelo amparo que você e o Deco deram pra gente.
Fomos interrompidos por um menino trazendo uma bandeja com sanduíches, refrigerante, suco, batata frita, catchup e maionese caseira. Ele colocou na mesa, agradecemos e não demorou para o Relíquia começar a se servir e comer, então fiz o mesmo e parecia que eu estava comendo o lanche mais saboroso do mundo inteiro devido a fome que estava sentindo.