Capítulo 04 - Nenê

1005 Words
NENÊ NARRANDO Eu tava curtindo a brisa de um bom baseado quando o Cabeça piou na minha sala. Ele sabe que eu não curto esse bagulho de entrar na minha sala sem pedir autorização. — Fala, Monstro. Vim aqui pra te passar a letra: a quebrada tá de moradora nova, é minha prima. Ela chegou pra tentar a vida aqui no Rio, tá vindo lá do Norte, tá ligado? — Ele deu o papo e eu encarei ele através da fumaça. — Beleza. Só não esquece de passar a ficha dela pro Toninho. Tá ligado que aqui tem controle e comando. E também passa as regras, não vou aliviar pra ninguém, sacou? — rosnei por entre os dentes. — Pode deixar — Cabeça deu o papo e saiu. Eu tô ligado que esse papo de ajudar a família dá mërda depois. Família não passa de uma piada. Passei o rádio pro Cabeça e mandei ele passar na boca da treze, os moleque tão tendo que desenrolar um BO dos grandes com uns noia por lá, vagabündo acha que vai passar meus soldados de Otarïo, bando de Vacilão. Esperei o Retorno do Cabeça, na escuridão da minha sala, quando o rádio chiou, Cabeça passou a Visão, Tinha um dos moleque que tava devendo, lá, querendo mais parada. "Leva pra salinha do Galpão" Essa foi a minha resposta, me levantei, Coloquei a minha pistola na cintura, só ando sem camisa. Bermuda e chinelo no pé. Cheguei no Galpão com a cara fechada. Já bolado com o que tava por vir. A salinha é bem conhecida, geral tá ligado que é lá que resolvo os B.O. hoje é só mais um desses dias. O cheiro do Marola e do pó preenchia o ar, o Eco dos meus passos deixa a galera em alerta. A parada fica sinistra com a minha presença. Entrei na salinha empurrando a porta de metal que fez um rangido alto, O espaço é pequeno e meio escuro, com as paredes descascadas e uma mesa de madeira velha no meio, além de umas cadeiras espalhadas. Me joguei numa das cadeiras, me ajeitando para esperar a cabeça trazer o moleque que tá devendo. Não demorou muito para a porta abrir de novo. Cabeça entrou arrastando o garoto, que devia ter uns 17 anos no máximo. O moleque tava com uma cara de pavor, os olhos arregalados. cabeça empurrou ele para frente, e o garoto caiu de joelhos na minha frente. Fiquei olhando para ele por uns segundos, deixando o silêncio pesar na sala. Quando falei, foi com a voz baixa, mais firme, do jeito que não deixa margem para discussão. Não perco meu tempo discutindo com ninguém, na minha quebrada eu sou a lei. — E aí, tu sabe porque tá aqui, moleque? O garoto tremia tanto que mäl conseguiu responder. Eu levantei da cadeira de uma vez, derrubando ela, e fui para cima dele, agarrando pelo colarinho. — Eu perguntei se tu sabe porque tá aqui! — Gritei, sacudindo ele. — S-s-sim, senhor, eu sei...— gaguejou o moleque, quase chorando. — Então me diz, porque tu achou que podia passar a perna na gente? — continuei oscilando entre a raiva e o desprezo. Antes que ele pudesse responder, Soltei o moleque no chão, com um empurrão que fez ele cair de costas. Comecei a andar de um lado para o outro, tentando controlar a fúria que estava crescendo dentro de mim. O moleque foi se arrastando até o canto da sala segurando o pescoço, é um comédia. — Tu acha que eu sou Otarïo, é isso? — rugi. — Tu achou que podia pegar nossas paradas e sumir, e depois voltar pega mais e ninguém ia perceber? Me agachei do lado dele, segurando o rosto do moleque com força. — Aqui a gente cobra. E tu vai aprender isso hoje. Dei o primeiro soco na cara dele, que gritou de dor. E olha que eu nem coloquei toda a minha força, cabeça só observava, de braços cruzados, sem se mexer. Continuei distribuindo cotoveladas e mãozadas no pé do ouvido, xingamentos fazendo o moleque pagar cada centavo na base da porrada. Ele ficou chorando e pedindo para parar. Quando ele se urinou vi que o corretivo já estava bem aplicado. — Isso é para tu aprender a não mexer com quem não deve. Me levantei, deixando o moleque machucado e chorando deitado no chão. Olhei para o cabeça que só assentiu em silêncio. — Leva ele daqui e faz ele entender que isso foi só o começo. Da próxima vez não vai ser só um corretivo — ordenei. Cabeça ajudou o garoto a se levantar e saiu da sala, me deixando sozinho. Respirei fundo, tentando acalmar o sangue que estava fervendo nas veias. Nesse mundo, respeito e autoridade se conquistam com medo de força. Saí do galpão ainda com a adrenalina nas veias, cabeça fervendo. Era sempre assim depois de resolver um B.O., mas não dá pra parar, então fui direto pra boca. Peguei minha moto, uma CB 500 que é meu xodó, e parti rumo a minha Goma, tentando esfriar a cabeça. A rua tava meio deserta, só uns gatos pingados andando por aí. Eu tava acelerando, curtindo o barulho do motor, quando do nada avistei uma garota andando na calçada. A primeira coisa que me chamou atenção foi o cabelo. Vermelho, como fogo, chamando atenção de longe. A pele branquinha, e um rabeta ignorante. Dei uma diminuída na velocidade, sem querer, só pra olhar melhor. A mina tinha um bündão que, sinceramente, é de tirar o fôlego. Quase deixei escapar um sorriso ao ver aquilo. Carne nova no pedaço, pensei. Continuei em frente, mas a imagem daquela mina ficou na minha cabeça. Pele branquinha, cabelo de fogo e um corpo que parecia esculpido por anjos ou por demônios. Cheguei em casa ainda pensando nela, uma mistura de curiosidade e desejo. Quem sabe um dia desses eu não trombo com ela de novo e boto aquela rabeta pra sentar e depois mete o pé.
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