Capítulo 01 - Prólogo
No alto do Morro, onde a vista da cidade se mistura com a poeira dos barracos, o vulgo dele ressoa como um trovão: Nenê, o Monstro do Morro. Conhecido por ser frio e calculista, esse cara já perdeu qualquer traço de humanidade que um dia teve. Dizem que já foi um homem comum, com sonhos e amores, mas a vida o transformou numa bësta fera, um ser imparável que espalha medo por onde passa.
Cresceu no meio da bandidagem, mas não foi isso que o fez virar um monstro. Foi o amor, ou melhor, a traição. Amou uma mulher com toda a intensidade que tinha, entregou-se de corpo e alma, mas o golpe veio de onde ele menos esperava. Ela o traiu, não só com outro homem, mas com o coração da favela inteira. Quando descobriu, o coração dele virou pedra, e a alma, gelo. A dor foi tanta que ele jurou nunca mais amar, nunca mais confiar. Tornou-se uma lenda, mas uma lenda sombria.
O Morro é o reino dele. Conhece cada viela, cada beco. Nada acontece sem que ele saiba. Os mais próximos diziam que ele tem olhos em todo lugar. Sua frieza não é só no trato com as pessoas; ele também é estrategista nato. Planeja cada movimento com precisão cirúrgica. Nada é feito por impulso. Quando alguém desafia sua autoridade, a resposta vem rápida e certeira, como um raio. O medo é a principal arma dele, e sabe usá-la como ninguém.
Para os moleques que crescem ouvindo as histórias, ele é como uma figura quase mitológica. "O Monstro do Morro", dizem, "não tem piedade." Alguns tentam testá-lo, acreditando que podem derrubá-lo, mas rapidamente aprendem que brincar com ele é pedir pra morrer. Sua crueldade não conhece limites. Diz que ele não tem coração, mas na verdade, o coração dele foi despedaçado tantas vezes que não resta mais nada pra sentir. E foi assim que ele decidiu viver: sem amor, sem piedade, sem remorso.
As mulheres do Morro o temem e o admiram ao mesmo tempo. Sabem que ele não é homem de se apaixonar, que não acredita na fidelidade delas. Mas isso não impede algumas de tentarem. Elas vêem no olhar dele um misto de perigo e frieza, uma combinação perigosa que as atraí e as afastava ao mesmo tempo. Mas ele, implacável, mantém todas a uma distância segura. O único amor que conhece é pelo poder e pelo controle. As mulheres, pra ele, são descartáveis, peças de um jogo maior.
A rotina dele é marcada pelo controle absoluto. Chega aos pontos de venda de droga, inspecionava o trabalho dos vapor, resolve desavenças com um simples olhar. Ninguém ousa questionar suas decisões. A hierarquia é clara, e ele está no topo, inalcançável. Mas essa posição de poder tem um preço. A solidão sua constante companheira. Nas noites frias, enquanto a favela dorme, ele fica acordado, contemplando a cidade lá embaixo, se perguntando se algum dia conseguirá sentir outra coisa além do vazio.
O Morro é seu lar e sua prisão. Um lugar que ele domina com mão de ferro, mas que também o lembra diariamente da traição que o moldou. O Monstro do Morro não nasceu assim; ele foi criado pela dor, forjado pela traição. E agora, como uma bësta indomável, continua seu reinado de terror, sem nunca olhar pra trás, sem nunca permitir que alguém se aproxime o suficiente pra machucá-lo de novo. O Monstro não acredita no amor, mas talvez, bem no fundo, ainda exista uma fagulha de esperança. Uma fagulha que ele luta todos os dias pra apagar.
Isabela sempre foi uma sonhadora. Desde pequena, se encantava com as histórias de príncipes e castelos, acreditando que um dia encontraria seu próprio conto de fadas. Cresceu com uma fé inabalável no amor verdadeiro, e quando conheceu Heitor, sentiu que finalmente tinha encontrado o homem que a faria viver aquele sonho. Ele parecia ser tudo o que ela havia desejado: gentil, atencioso, o tipo de pessoa que faria qualquer uma acreditar na magia do amor.
O noivado foi uma celebração dos sonhos de Isabela. Seus amigos e familiares estavam radiantes, e ela não podia estar mais feliz. Imaginar a vida ao lado de seu amor, construir uma família e criar memórias juntos era a sua maior alegria. Mas a vida, com suas surpresas cruéis, não tardou em mostrar o seu lado sombrio.
Foi em uma noite chuvosa que Isabela descobriu a traição. A dor foi como uma faca afiada, cortando o que restava de suas esperanças e sonhos. Heitor, o homem que ela acreditava ser seu destino, estava com outra pessoa. A confiança que ela depositara nele se transformou em cinzas, e o mundo que ela havia construído ao seu redor desmoronou em questão de segundos.
Apesar do sofrimento, Isabela não deixou que a tristeza a consumisse. Se o amor que ela idealizara havia se mostrado uma ilusão, ela ainda acreditava na força de seu próprio coração. Com lágrimas e desilusão, ela fez a escolha de seguir em frente. Abandonou a vida que tinha planejado e decidiu construir um futuro onde a esperança fosse a base de tudo.
Isabela é uma jovem com sonhos grandes e um espírito indomável. Embora a dor da traição a houvesse marcado profundamente, ela usou essa dor como combustível para reescrever sua história. Cada passo que dava era uma afirmação de sua determinação em encontrar a felicidade, mesmo que fosse de um jeito diferente do que havia imaginado.
Ela não permitiu que o passado a definisse. Em vez disso, abraçou a vida com renovada esperança, acreditando que, por mais difícil que fosse, o futuro ainda guardava promessas de alegria e realização. O que não a matou a fez mais forte, e agora Isabela seguiu em frente, pronta para escrever seu próprio conto de fadas, um em que ela seria a heroína de sua própria história.
O que Isabela não imagina é que seu destino já está escrito e será um grande amor com uma verdadeira fera. A fera é conhecida como o monstro do Morro.