Tem coisas que nem mesmo devemos levar a sério...

800 Words
Naquela mesma tarde, depois de toda a tensão anormal, Sophie estava analisando alguns relatórios quando Inácio chegou. Ele estava passando cada vez mais tempo com ela na Fazenda e embora o falatório já tivesse começado - principalmente no Barreto e entre os peões das Fazendas próximas, ele não pareceu muito incomodado: - Me conta, por que é que está com essa carinha ai? - ele pede, assim que Sophie tenta mudar o rumo da conversa pela terceira vez, para evitar falar do que acontecera mais cedo, naquele mesmo escritório com ela e Paulo, o antigo Capataz. - Não se preocupa com isso - ela diz, suspirando profundamente em seguida - tem coisas que nem mesmo devemos levar a sério... - Sophie - ele se aproxima - sabe que eu te conheço desde sempre, e eu detesto te ver com essa expressão preocupada, cansada e irritada. Sei que tem alguma coisa errada e por te conhecer tão bem, eu tenho certeza de que não é pouca coisa - ele completa - vamos, me conta o que foi que houve, se eu não puder ajudar, pelo menos divide isso antes que te consuma. - Tive problemas com os funcionários de novo - ela conta - quer dizer, com um em específico, o Paulo. - O Capataz do seu pai? - Inácio não parece acreditar afinal, um homem com mais de quinze anos de casa dar problema não parece lá muito comum - E por qual motivo? - Não quero conversar sobre isso - ela diz séria: não queria mesmo. Sentia-se constrangida, um pouco humilhada, inclusive, pela insinuações proferidas pelo homem que mais cedo dividira aquele espaço com ela. - Tem certeza? - Inácio sorri - Vamos, sabe que eu sou seu amigo, provavelmente, o seu único e melhor amigo no mundo todo. - Bem - ela sorri - nisso tem razão: é o meu único e melhor amigo no mundo todo... Por alguns segundos, antes que conseguisse, por fim, começar a contar para Inácio o que realmente acontecera, Sophie acaba viajando em seus próprios pensamentos, quando o seu "melhor e único amigo" não era Inácio e sim, Vicente, que sempre estava ao lado dela em todas as aventuras, a pessoa com quem ela pudera contar... Até decidir ir embora. Agora ela nem mesmo sabia onde é que ele estava mas, tinha certeza absoluta de que se ele estivesse ali, nada daquilo estaria acontecendo, por que ele teria resolvido... - Ei - Inácio chama a atenção de Sophie rindo - viajou ai? - Sim - ela suspira - estava tentando me lembrar se alguma coisa estranha tinha acontecido... Enfim - ela sorri - o Paulo esteve aqui no escritório mais cedo, antes da lida. Disse que queria conversar, que queria "acertar" toda a situação - como se tivesse alguma coisa para acertar - ela ri. - Meu Deus - grita Inácio que, conhecendo os "costumes" locais, já estava imaginando o que é que havia acontecido no escritório - por que foi que não me chamou? - Está tudo sob controle - ela suspira - embora eu não consiga deixar de pensar que em alguns pontos, ele tem razão, como na parte que eu não vou conseguir tocar tudo sozinha, entende? Enquanto ele estava aqui, os peões ainda andavam na linha mas agora... Acho que eu vou precisar pensar melhor sobre isso. - Acho que tem como dar certo - Inácio diz - mas eu me preocuparia com o Paulo - conta - ele não me parece lá um sujeito muito estável. - Concordo - diz Sophie - mas há uma hora dessas ele deve estar bem longe daqui. - Ele pediu demissão? - pergunta Inácio. - Não - suspira ela - eu mesma o demiti. Não tinha como ficar com ele aqui, não depois do que ele disse... Inácio está preocupado: sabe que muitas vezes, "a tenteada é livre" mas que o capataz poderia sim ter aceito o não e seguido com o seu trabalho na fazenda. Um demissão de cabeça quente podia acabar gerando um ou outro problema para ela, e ele não queria que Sophie se metesse em nenhum tipo de problemas, afinal, ele a ainda a amava, não como deveria, mas amava... Não muito longe dali, na Estância de Antônio Ottero, um homem chega à cavalo. A poeira da estrada é o que anuncia a chegada de alguém e mesmo que Antônio não seja um homem que costuma receber muitas visitas, naquele dia, ele está bem disposto e ao ver Paulo, o ex capataz dos Bones apeando do cavalo na sombra de uma grande figueira em frente à Casa Grande, sua disposição aumenta ainda mais: ele sempre tem tempo e disposição para tratar de assuntos do seu interesse e se Paulo está ali, provavelmente é porque alguma coisa aconteceu lá.
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