Quando Vicente acordou naquela manhã, tinha aquela nítida sensação de que alguma coisa estava errada. Ele havia sonhado com a Fazenda, com Sophie e com a Casa Grande... Alguma coisa com os peões e desde que acordara, simplesmente aquilo não lhe saia da cabeça, como se estivesse lhe dando o alerta para alguma coisa que estava realmente errada por lá:
- O que é que tem, meu filho? - a mãe pergunta assim que percebe que ele está ainda mais distante do que o normal.
- Sei lá - ele diz, ainda inconformado com seus próprios pensamentos - parece que alguma coisa não está certa.
- Tem dormido pouco - ela observa
- Tem isso também - ele dá um longo gole na cabeça de café quente, recém coado - mas acho que vou ficar uns dias fora...
- Viagem à trabalho? - pergunta a mãe, não que fosse comum, mas já havia acontecido.
- Não - ele responde - eu tenho algumas coisas pendentes para resolver lá na Fronteira.
- Pensei que estivesse com tudo resolvido por lá - ela não parece entender e então, seu novo padrasto aparece na cozinha:
- O que é que vai fazer por aqueles lados? - Rogério não é nem mesmo um pouco diferente de todos os outros mas, pelo menos até o momento, foi o que apareceu de melhor.
- Acho que tenho algumas pendências com o meu antigo patrão - Vicente não está nem um pouco disposto a contar para aquele homem, praticamente um estranho, o que é que quer indo até a Fronteira.
- O homem ficou lhe devendo? - Rogério questiona.
- Não - ri Vicente - é mais provável que eu mesmo tenha ficado devendo à ele.
- Nesse caso, nem mesmo deveria ir - resmunga a mãe - não bastassem todos os problemas ainda quer viajar quilômetros para arrumar mais um...
Vicente apenas ignora e ri sozinho, antes de levantar-se e deixar não apenas a cozinha, mas a casa: encontraria o seu amigo, Marcelo, e depois organizaria as coisas no trabalho, viajaria assim que fosse possível e esse era um dos seus melhores planos nos últimos anos.