- Oi – Gonzalo se aproxima dela – tudo bem aí?
- Tudo sim – ela responde, mesmo sabendo em seu íntimo que não está.
- O Vicente já foi? – ele pergunta tentado esconder seus ciúmes na pergunta descontraída.
- Sim – ela responde – precisava estar cedo de volta na capital, deixou os parabéns...
- Certo – o noivo sorri – você está legal com isso?
- Com o que? – ela pergunta, fazendo de conta que não entendeu.
- Com ele – Gonzalo a encara um tanto sério.
- Vai começar de novo? – ela pergunta.
- Só achei que você ficou estranha... – ele diz.
- Talvez eu nunca mais o veja – ela responde – e ele fez parte da minha infância, é estranho isso de despedir-se de uma pessoa desse jeito.
- Claro que sim – ele a abraça sabendo que parte de seu ciúme é desnecessário, afinal, ela está casada com ele, carregando um filho dele em seu ventre – sinto muito, de verdade.
Os dois permanecem em silêncio, ao menos até que uma outra parte do passado de Sophie volte a aproximar-se sorridente:
- Casal – Inácio diz satisfeito – que festa linda – ele abraça Sophie – parabéns de novo, Sophie - ele está ainda mais lindo sorrindo.
- Obrigada – ela responde sorrindo – e muito obrigada por ter vindo.
- Sabe que eu não perderia – ele sorri – já perdi muitas coisas...
- Querido – ela chama a atenção de Gonzalo – esse é o Inácio Ottero.
- Ah – Gonzalo se apressa para cumprimentar o outro, sabendo exatamente quem ele era – é um prazer conhecer você, finalmente...
- Que é isso – Inácio responde animado – o prazer é meu em conhecer quem está cuidando dessa moça aqui.
- É uma tarefa bem difícil, eu confesso – brinca Gonzalo – mas acho que estou fazendo um bom trabalho.
- Sempre foi difícil – responde Inácio.
Os três conversam por mais um tempo, até Sophie dizer que precisa sentar-se um pouco e Gonzalo a deixar, na companhia de Inácio enquanto vai trocar algumas palavras com alguns parentes distantes de Sophie.
- E então? – Inácio a conduz até uma das mesas já desocupadas – Preparada para a sua nova vida de casada?
- Acho que não – ela suspira profundamente – eu não sei se eu estou pronta para isso.
- Pareceu-me bem decidida em nossa última conversa – ele diz sério – o que mudou?
- Você sabe – ela diz encarando o amigo e ex namorado.
- Não vai querer que eu acredite que a aparição repentina de Vicente deixou você assim? – ele parece não acreditar no que está ouvindo.
- É exatamente isso – ela suspira – eu devo ser louca.
- Nisso eu vou precisar concordar – ele ri amargurado, uma parte dele sempre sentiu ciúmes de Vicente, por saber que ele nunca fora para Sophie, nem mesmo um terço do que aquele cara havia sido – mas tomou a sua decisão, e outra... Esse maluco vai desaparecer de novo e muito provavelmente, você nunca mais o veja.
- Pode ser – ela suspira, decidida a encerrar a conversa.
Aos poucos, os convidados começam a se despedir dos noivos. A festa está chegando ao fim. Sophie gostara de cada detalhe cuidadosamente providenciado por sua irmã – provavelmente Lóren deveria fazer isso para sempre, era especialista em criar eventos cada vez mais perfeitos – e uma parte dela, não queria que a festa acabasse. Tinha dois grandes motivos para isso, além de estar amando: precisaria se despedir de sua casa e precisaria encarar Gonzalo, que possivelmente, havia reparado em sua mudança de expressão após despedir-se de Vicente.
- Tudo perfeito? – Lóren pergunta aproximando-se do casal, dando ainda mais tempo à Sophie.
- Incrível – diz Gonzalo – eu nem mesmo consegui acreditar que estávamos no meio do campo.
- Acho que isso deve ser um elogio – a mais nova se esforça para sorrir, nunca gostou de como Gonzalo desmerece a Fazenda – enfim – ela frisa para mudar de assunto – a senhora precisa descansar – ela pega a irmã pelo braço para leva-la para o quarto – e cunhado, por favor, ajude a mamãe a ir fechando a casa.
- Certo – ele concorda sem ter muita escolha.
As duas caminham de braços dados em direção à Casa Grande, Sophie se sente exausta, mas não tem a menor chance de conseguir dormir: sua cabeça simplesmente não para nem mesmo por um segundo, tentando imaginar todas as possibilidades caso tivesse tomado uma ou outra decisão diferente em sua vida.
- Tá pensando o que aí? – Lóren a encara muito séria.
- Você sabe – Sophie responde – sabe que simplesmente tem coisas que eu não sei lidar.
- Sim – ela sorri – eu sei disso... Mas sei que é a garota mais forte que eu conheço e que em pouco tempo, esse seu desconforto passa e você vai estar focada no que realmente importa.
- O que realmente importa? – Sophie pergunta cansada.
- O bebê mais lindo do mundo? – Lóren toca delicadamente o ventre da irmã – Eu sei que casar e sair daqui não era bem o que você estava planejando...
- ... mas foi o que eu escolhi para mim – responde Sophie – mas sei lá, acho que o Vicente aqui, ver ele, me fez pensar que talvez eu tenha perdido ele para sempre, quando resolvi estudar fora.
- Bem, ao menos tem consciência – a irmã sorri – foi isso mesmo, você tomou a sua decisão e ele tomou a dele, um tempo depois. E todos perdemos eles – ela suspira – sabe que ele era como um irmão para mim, alguém que nunca vai ser substituído em meu coração.
- Eu sei – suspira Sophie – todos gostavam dele.
- E quase ninguém gosta do seu marido – a mais nova ri – mas okay, você que tem que gostar... - ela suspira - E o Inácio?
- Ele está bem - responde Sophie - sei lá, aparentemente surpreso ainda, mas me superou tem muito, muito tempo.
- Sei disso - responde a irmã - e sei que o Pai dele está esperando ele se casar.
- Acho que no fundo, foi o que o velho sempre esperou - Sophie responde, com o pensamento longe.
As duas riem um pouco: Sophie entende a implicância de sua irmã com Gonzalo, ela sabe que sempre amara aquele lugar e com ele, acabaria mantendo-se afastada, em pouco tempo, o apartamento seria trocado por uma casa maior, as férias na Fazenda seriam trocadas por uma praia ou algum destino paradisíaco de capa de revistas...
- Oi – Gonzalo está à porta.
- Estava de saída – Lóren diz suspirando profundamente – boa noite para vocês.
- Obrigada – responde Sophie – por tudo.
- Obrigada – Gonzalo também agradece.
O silêncio toma conta do ambiente: Sophie está em seu quarto, vestindo apenas uma camiseta velha de uma banda de rock antiga, os cabelos ainda presos no penteado delicado do casamento, a maquiagem intacta...
- Você sabia – ele diz sentando-se ao lado da esposa – que está linda?
- Deixa de ser bobo – ela responde sorrindo.
- E com essa camiseta de dez anos, está mais linda ainda? – ele continua.
- Obrigada – ela sorri.
- Eu amo você – ele fala encarando-a – e tudo o que eu quero, é te fazer feliz, fazer nossa família feliz, certo?
- Sim – ela responde sorrindo – eu amo você também.
- Eu sei que me ama – ele brinca, convencido – e agora somos nós três, certo? Para sempre.
- Para sempre – ela concorda.
Apesar de cansada, Sophie não conseguiu dormir: mesmo depois de s**o maravilhoso e intenso e uma massagem relaxante - não era de graça que estava se casando com Gonzalo, ele era realmente ótimo em faze-la sentir-se bem - ela ainda estava agitada e nervosa, como se não soubesse bem como agir em sua nova vida, m*l sabia ela que essa duvida se arrastaria por muitos anos.