Ninguém que conhecesse Sophie Bones um pouquinho acreditaria que ela estaria vivendo aquela vida que vivendo na cidade: Do seu casamento até o parto de sua primeira filha, cinco meses haviam se passado. Bibiana havia nascido uma menina linda e forte, com os cabelos vermelhos acobreados da mãe e os olhos de igual azul. Martha até mesmo tentou convencer a filha de que ela deveria sim, pegar a pequena Bibiana e ir para a Fazenda, onde ela poderia lhe dar assistência e Richard também, pois ela havia prometido que ficaria apenas na primeira semana para que pudesse cuidar de seus afazeres e do marido:
- Está tudo bem - insiste Sophie.
- Mas não teria m*l algum se ficasse conosco, querida - a mãe insiste - uma semana ou duas, até a menina crescer um pouquinho mais e você conseguir cuidar de si mesma.
- Eu consigo cuidar de mim mesma - responde Sophie um pouco m*l humorada: a verdade era simples, ela queria ir, mas Gonzalo jamais aceitar que ela fosse e ela não queria precisar admitir isso - em mais dois dias eu vou estar bem o suficiente, você vai ver.
- Eu espero que esteja - suspira a mãe - mas precisa entender que a pequena só vai conseguir mamar o necessário se você estiver descansada e relaxada, se o estresse toma conta, querida, não é nada fácil.
- Eu sei, mamãe - ela responde - fique tranquila, eu vou ficar bem.
- Acho que está fazendo errado, mas tudo bem - a mãe dá de ombros, ainda um pouco contrariada.
Sophie era bem o tipo de mulher que mesmo sabendo que estava "errada" seguiria em frente: ela jamais iria admitir para a sua família que nem tudo estava tão bem quanto parecia estar e faria isso, principalmente, para não preocupa-los à toa.
Aquela semana pareceu voar e não, foram precisos bem mais do que dois ou três dias para que Sophie estivesse se sentindo "cem por cento". Claro que ela não contou isso para Martha e deixou que mãe fosse embora, no domingo, como o combinado, e agora, seria apenas ela e o seu pequeno e lindo bebê.
Gonzalo não parecia muito disposto a ajudar muito nos assuntos domésticos: ele passava a maior parte do tempo trabalhando e, quando estava em casa, fazia pouco ou quase nada para ajudar, o que frequentemente causava uma série de conflitos:
- Eu não sei fazer - ele protestava, quando Sophie pedia que ele ajudasse com alguma coisa, como por exemplo, a mamadeira de Bibiana.
- Pelo amor de Deus, Gonzalo - ela reclama - é so fazer a medida...
- Me dá ela aqui - ele pega a criança dos braços da esposa - e ai pode fazer...
- Você pode dar? - ela pede - Eu queria tomar um banho.
- Eu não sei fazer isso - ele repete a resposta - por que não tom banho depois disso?
- Está tarde - ela responde - eu preciso lavar os cabelos, e...
Mas Gonzalo nem mesmo escuta, afinal, os afazeres do bebê são de responsabilidade de Sophie, ao menos essas eram as suas expectativas, considerando que mesmo com o seu pai presente, este nunca tinha feito nada pela manutenção de suas necessidades diárias ao longo de toda a sua vida por que aquelas eram coisas que mulheres deveriam fazer.
Bem, a verdade é que Gonzalo nunca disse para Sophie que ele queria cuidar do bebê e nem que ele queria ser participativo. Ele já se considerava um pai excelente apenas pelo fato de ter assumido a criança e de ter se casado com Sophie. Ele a amava, era verdade, mas haviam coisas que não estavam saindo bem como ele havia planeado entre eles e assim, apenas dois meses e meio depois do nascimento de Bibiana, Sophie estava de volta ao trabalho no escritório, mais uma coisa que nem mesmo ela esperava ter feito. Claro que não era o planejamento, ela sempre sonhava em curtir a maternidade, curtir o tempo com os filhos e todas as fases das crianças e tudo mais e agora, quando efetivamente a vez dela havia chegado, ela não podia deixar de lado o trabalho e o escritório, sob a possibilidade de perder o seu emprego dos sonhos... E ela queria ser financeiramente independente, precisava ser independente e provar à todas as pessoas que sim, que ela podia dar conta de tudo e dos filhos...
Ela se culpava, todos os dias, por deixar Bibiana com a Sra. Heinn, porém, era a única maneira que Sophie havia encontrado de conseguir manter-se financeiramente independente e também, de ter um tempo para ela, para ainda ser ela.
O casamento ia bem – embora o estresse e o constante cansaço, somados a um desgaste natural da relação começassem a dar alguns sinais de alerta – e mesmo com todo o caos e correria do dia a dia, Sophie e Gonzalo ainda tinham tempo para eles. Ainda saiam para jantar, para ir ao cinema ou somente para “se darem um tempo” e fugirem da rotina, e isso acontecia apenas por que ela havia voltado ao trabalho e por que pagava - muito bem - a Sra. Heinn.
- Será que eu não estou fazendo tudo errado? - ela perguntou ao marido, em uma dessas noites em que eles haviam saído para jantar fora.
- Do que é que você está falando? - ele a encara.
-A babá - ela responde.
- Se refere ao fato de que deixamos a Bibiana com a Sra. Heinn todos os dias? - ele a encara, um pouco curioso.
- claro que sim - ela suspira - me sinto culpada, entende? Eu acho que não foi bem o que eu tinha planejado sobre filhos e tudo mais... - ela coça a cabeça, nervosa.
- Precisa aprender, Sophie - ele ri - infelizmente, a vida não é o que a gente planeja... Quer parar de trabalhar?
- Não - ela responde, energicamente.
- Então, querida, não tem do que reclamar... - ele encerra a conversa.
Aquilo foi doloroso? Claro que foi. Ainda assim, a pior coisa nem mesmo era a decepção com o marido. Provavelmente a pior coisa de tudo, ainda era o fato de que ela havia se afastado de casa, da família e da Fazenda. Primeiro por que havia pouco – muito pouco tempo – para que ela e Gonzalo pudesse sair e viajar e ainda, ele simplesmente detestava o campo e a ideia de estar longe da civilização na cabeça de Gonzalo era quase que inconcebível. Sophie novamente foi quem cedeu e acabou diminuindo as visitas ainda mais do que gostaria, fazendo com que se resumissem em uma ou outra data festiva, ainda negociada com o marido, o que era absurdo.
- Não está feliz, é isso? - ele pergunta, no fim do jantar.
- Eu estou feliz - ela responde, ainda que por dentro se perguntava "será que eu estou mesmo?" - de verdade, querido, a vida é boa com você... Apenas tem coisas que me questiono algumas vezes - ela completa.
- Que bom que está feliz - ele sorri - e eu também estou feliz com você e a nossa linda Bibi...