Era uma viagem bem simples que eles haviam planejado, apenas para curtirem um tempo juntos fora da rotina à qual ambos já estavam muito acostumados. Tanto Sophie quanto Gonzalo trabalhavam bastante e por isso, alguns dias, por menos que fossem, em um destino não tão badalado e nem tão romântico, poderiam sim, ser bem interessantes para o casal recém casado.
- Sabe que não precisamos ir ainda - Gonzalo diz, percebendo que Sophie está demorando mais do que o normal para arrumar as coisas dela - se não se sente bem ou apenas se quiser ficar...
- Você quer ficar? - ela pergunta e mesmo que ele tenha percebido um lampejo de esperança nos olhos dela, não pode mentir sobre aquilo.
- Sabe que eu não quero ficar - ele sorri - mas fico, se for importante para você.
- Não - ela suspira, um pouco decepcionada - eu estou bem... Nós vamos... Só tenho um pouco de enjoo, mas logo deve passar.
- Certo - ele sorri - quer ajuda com a sua bagagem?
- Sim - Sophie concorda sorrindo - eu quero a sua ajuda sim, por favor.
- Desse jeito eu vou pensar que o enjoo é apenas uma desculpa para não precisar arrumar a sua própria bagagem, querida - Gonzalo brinca.
- Sabe que não é assim - ela resmunga - e um dia, você vai saber como é...
- Espero que não - ele confessa em um suspiro - me parece um tipo de sofrimento acima do que eu sou capaz de aguentar.
- Olha só - ela ri - e nem mesmo falei sobre as cólicas e as dores do parto que dizem ser terríveis.
- Pelo amor de Deus - ele ri alto - sabe que desse jeito eu não vou querer mais filhos, né?
- Ué, quem sofre sou eu - ela dá de ombros.
- É doloroso pensar que está sofrendo - ele completa e sim, aquilo foi bem fofo mesmo.
Gonzalo não era o tipo mais romântico do mundo mas também, não era muito bruto. Se Sophie pensasse bem, Vicente sempre fora muito mais “cuidadoso” com ela do que o próprio marido tinha o costume de ser, embora estivesse se esforçando para ser melhor, principalmente depois de uns puxões de orelha que a cunhada havia dado nele durante os dias em que estivera na Fazenda, antes e depois do casamento.
Sophie conseguiu terminar de arrumar as coisas e, finalmente, partir rumo à Serra. Ficariam pelo fim daquela semana e mais o final de semana seguinte em uma pousada nas montanhas, silenciosa e romântica, para depois voltarem à conturbada rotina que tinham. Os dois sabiam bem onde é que estavam se metendo, claro que sim, mas aquele tempo juntos seria crucial para que os dois criassem uma conexão ainda mais forte como casal e menos como parceiros de negócios que dormem juntos às vezes, que era exatamente do que a relação dos dois havia partido, tempos antes, uma evolução de relações casuais...
Claro que Sophie não conseguiu simplesmente “deixar de lado” toda a coisa de ter encontrado com Vicente e de ele estar, ainda mais lindo do que ela conseguia lembrar. Cada segundo perto daquele homem fazia com que tantas coisas e tantos sentimentos voltassem à tona que ela sentia-se perdida: no fim, era melhor assim... Bem melhor assim, aliás: ela estava casada, indo para a sua lua de mel com um cara bom e prestativo que a amava e que cuidaria dela e do bebê deles, ela sabia disso, não tinha nenhuma dúvida. Ela conhecia Gonzalo bem o suficiente para saber que ele não sumiria no mundo, deixando tudo para trás.
Bem, ao menos era para ser assim e, naquele momento, era nisso que a nossa Sophie estava pensando. Mesmo que ela estivesse triste por deixar tudo o que ela mais amava no mundo - a Fazenda - para trás, ela sabia que era por uma boa causa, que era para que ela e Gonzalo construissem juntos uma família, uma vida juntos, só deles. Sem lembranças estranhas e fantasmas do passado. Seriam apenas eles dois, o bebê e nem mesmo cães ou gatos. Gonzalo era alérgico...
Embora Sophie soubesse muito bem que acabara de fazer uma escolha muito importante, que impactaria em todo o resto de sua vida, ela ainda acreditava que estava fazendo o que era certo para ela, para o bebê e para a felicidade de ambos. Ela queria ter uma vida boa, tranquila... Ela queria ter alguém ao lado dela, como o seu pai tivera a sua mãe, como tantas outras pessoas tinham: alguém que dividisse com ela os dias, que compartilhasse a vida, fosse ela boa ou r**m, alguém com que ela poderia contar, como havia contado com Vicente, por tantos anos.
Esse pensamento a assustou um pouco mas, em poucos dias, ela esqueceu-se dele. Esqueceu que por um momento, acreditou que poderia ser um erro... Esqueceu do olhar perdido de Vicente dizendo para ela que ela sabia que não precisava ser desse jeito e da decepção que ele não havia conseguido esconder quando ela contou que estava grávida. As pessoas faziam escolhas ao longo de toda a vida, algumas delas, geravam resultados imensuráveis, como, muito provavelmente, havia sido a escolha de Vicente, no exato momento em que ele decidira partir da Fazenda, colocando no lixo toda a chance que eles dois tinham de ter uma vida juntos, sumindo da vida dela, provavelmente para todo o sempre...
Ainda que fosse simples – bem simples – e rápida, a Lua de Mel de Gonzalo e Sophie Bones foi boa, para os padrões gerais de uma Lua de Mel, ela cumpriu bem o objetivo. Eles passaram juntos o tempo todo, passearam, beberam, dormiram e aproveitaram, mesmo com os enjoos de Sophie e com uma ou outra queixa de dores nas costas.
Seis dias depois, o nosso casal voltava para casa, para o apartamento financiado e artisticamente decorado, cheio de móveis planejados e detalhes milimetricamente calculados por arquitetos e designs de ambiente. Era o tipo de lugar que Sophie nunca havia imaginado estar, ela gostava da bagunça, das prateleiras um pouquinho desniveladas, que a faziam lembrar de quem é que as havia instalado. Ela gostava das cores “não bem iguais” de duas peças, que provavam que às vezes, um erro pode ser cometido, ou um equívoco... Ou ainda, a alegria de criar um conjunto exclusivo ou combinação única, mesclando peças de valor sentimental com itens comprados em lojas de um e noventa e nove. Aquela casa nem mesmo parecia dela, nem um pouco.