O nosso segundo Bebê

1255 Words
Ainda que nem todas as coisas estivessem saindo como o que Sophie um dia havia idealizado, ela ainda estava sim, totalmente disposta a fazer dar certo, e demonstrava isso com frequência, sendo a parceira que Gonzalo gostava que ela fosse, trabalhando e tentando cuidar de tudo, cada vez melhor. Como as visitas à Fazenda eram cada vez mais raras, Martha e Richard acabavam indo visitar a filha, o genro e a neta na cidade, uma vez no mês. Claro que era bom ver a família, mas não era a mesma coisa que "estar em casa" e tudo o que Sophie mais queria no mundo todo era isso: estar em casa e a casa, era a Fazenda. Gonzalo nunca havia entendido e nem nunca entenderia a real necessidade de Sophie de estar naquele lugar mas, ainda assim, provavelmente o mínimo que se esperava era que ele agisse com um pouco mais de empatia e compreensão. Bibiana tinha pouco mais de um ano quando o mundo de Sophie pareceu que desmoronaria de uma vez por todas: o atraso em seu período era de cinco dias, o teste de farmácia deu positivo e todos os exame de sangue seguintes foram positivos também. Ela estava esperando outro bebê, Bibi seria promovida à irmã mais velha e, muito provavelmente, todas as culpas de Sophie seriam dobradas de agora em diante Sophie planejou cuidadosamente cada detalhe da sua revelação da novidade para o marido: um jantar especial, uma caixinha com um sapatinho e um cartão, dizendo "Agora nós somos quatro" e sim, ela achou emocionante e especial, tanto que esperava de Gonzalo uma reação bem positiva: - O que é isso? - ele pergunta ao receber a caixa, sem nem mesmo abrir. - Abre - ela diz sorrindo: uma parte de Sophie está extasiada com a ideia de ter a sua família completa, afinal, ela sempre sonhara com dois filhos. - Cada coisa que inventa - ele suspira e desata o laço - estamos comemorando alguma coisa? - pergunta - Quer dizer, eu esqueci de alguma data especial? - Ahn - ela sorri - não, não esqueceu de nada... Só abre logo. - Tudo bem - ele tira a tampa e o papel de seda e encara o conteúdo da caixa por longos segundos até dar um longo suspiro, tirando o cartão da caixa - então é isso? - ele pergunta - O nosso segundo bebê? - Sim - ela tenta encontrar a emoção que esperou que ele expressasse em algum momento, mas não viu nada - estou esperando o nosso segundo bebê... - E por acaso nós conversamos sobre isso? - pergunta ele, encarando Sophie sem muita empatia. - Bem - ela suspira - não é uma coisa que eu imaginei que aconteceria tão cedo... - Não tem muito o que fazer - ele força um sorriso - acho que parabéns para nós, então. - É - ela concorda desanimada - parabéns para nós, então. Naquela noite, Sophie não foi cedo para cama. Ela enrolou até mais tarde na sala, dizendo que precisava analisar uns relatórios antes de ir para cama, dizendo que precisava de um pouco mais de tempo para trabalhar... Gonzalo pareceu compreensivo quanto a isso e foi dormir antes mesmo que ela conseguisse fazer com que a empolgada Bibiana caísse no sono. Sophie sentou-se no sofá da sala e encarou o vazio do apartamento cuidadosamente decorado por um profissional, para as paredes vazias e sem quadros de fotografias, para as prateleiras cheias de objetos alinhados e sem história ou valor sentimental, escolhidos a dedo para que estivessem em harmonia com o ambiente ao redor deles e não como uma coleção de memórias, nem nada assim... Totalmente sozinha - ela pensa - dentro desse maldito apartamento, nessa cidade. Sozinha. Sem ter uma palavra de conforto ou um abraço, nada. Sim, nosso segundo bebê, parabéns para nós... - ela suspira profundamente, em uma tentativa quase em vão de conter as suas lágrimas. Ela vira o olhar de total desinteresse do marido frente à novidade, quem sabe até mesmo um pouco de decepção. Ele sempre parecera concodar com os dois filhos, ela não conseguia entender qual que era o problema nem o que é que estava errado com a gravidez... Ou com ela. Precisava conversar... ... O telefone celular tocou três vezes antes que a sonolenta Lóren por fim o atendesse: meia noite e meia. Ela já estava dormindo, não que esse fosse o plano, mas havia pegado no sono enquanto assistia um documentário na televisão. A uma hora dessas, tinha apenas duas opções, o namorado e a irmã. A mãe nunca ligava tão tarde... - Alô? - ela atende sem ver quem ligava. - Lóren - diz Sophie - tudo bem aí? - Sophie - a irmã mais nova responde - aqui está tudo bem e por aí? E como está a Bibi? - Bem - Sophie responde - a Bibi está bem. - E você? - a mais nova insiste. - Mais ou menos - Sophie esfrega o rosto com as mãos. - Quer me contar o que houve? - Lóren acende a luz da sala e começa a organizar as coisas para poder ir para a cama, de verdade. - Promete que não vai contar para a mamãe? - ela não quer preocupar ninguém, ninguém mesmo. - Sim, eu prometo - suspira a outra - o que aprontou? - Estou grávida - conta Sophie sem rodeios - eu não imaginei que levaria tão pouco tempo e... - Isso é maravilhoso - Lóren diz animada - oh, meu Deus, parabéns. - Obrigada - Sophie m*l consegue responder. - ... sabe que isso vai ser ótimo para a Bibi, não? Ter um irmão ou irmã é excelente, é tudo de bom... - ela começa. - Há controvérsias - ri Sophie - como irmã mais velha eu digo que tem dias muito bons e dias muito ruins, sabe? - Eu só vejo as vantagens... - Lóren ri - mas tudo bem, se você acha que isso pode não ser bom. Quero saber o que há de errado? - Como assim, "o que há de errado"? - pergunta a mais velha. - Pelo amor de Deus - o senso prático e provavelmente o sono de Lóren não permitiriam que ela demonstrasse muita paciência. Sua personalidade era assim: prática e imediatista - quando liga essa hora é por que alguma coisa não está tão bem assim, Sophie, eu te conheço. Ainda sou a sua irmã e acho que melhor do que eu, apenas... - ela para, não falaria que apenas Vicente a conhecia melhor, aquilo seria um pouco doloroso de ouvir. - Acho que o Gonzalo não reagiu muito bem à isso - conta Sophie - sabe, aquela coisa de parecer não se importar muito... - E você, provavelmente, tornou a revelação um grande evento - sim, Lóren a conhecia - e a reação não foi bem a que esperava... Sinto muito, Sophie... - claro que a mais nova não sabe bem o que dizer, nunca precisou se colocar em uma situação nem mesmo parecida com a da irmã. - Desculpa incomodar você essa hora com isso - a mais velha diz - eu só acho que precisava conversar... - Sempre que precisar - responde Lóren - e não importa a hora, Sophie, você sabe que eu vou estar aqui para você. Sempre. Assim as duas irmãs encerram aquela ligação: Lóren para tratar de ir dormir e Sophie para sentir-se um pouco culpada por perturbar a rotina alheia com os seus problemas.
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