Capítulo 05 - Keila

1070 Words
KEILA NARRANDO A gente não assumiu de uma vez, primeiro veio a minha sogra, e começou a varredura. O Thiago às vezes vinha também, E por incrível que pareça, a única padaria que tinha na comunidade foi fechada, o dono morreu no confronto. E a mulher dele fugiu do Morro. Como sempre fui a louca dos doces, eu abri uma padaria, por amor a minha profissão de confeiteira, E também porque eu acho que todo lugar é digno de uma boa padaria. mas não tinha tempo para cuidar. Ainda estava morando na Rocinha, Então eu coloquei um gerente, vinha de madrugada, para fazer os doces e os bolos. O gerente era o padeiro. Mas quando nos mudamos de vez, piorou, foi aí que eu não tive tempo mesmo. eu comecei me envolver no comando, decidi que queria treinar, fazer aulas de tiro. Atendia a comunidade, comecei ver a necessidade dos moradores, em especial as mulheres. Então decidi passar o ponto da padaria, para o Zé, que era o padeiro e gerente. Mas não dei as minhas receitas de doces, principalmente do quindim favorito do meu marido, Esse sou eu sei fazer. Só passei as tradicionais. Quando eu e meu marido assumimos o controle do Morro do Babilônia definitivamente, nos deparamos com uma realidade dolorosa. As condições eram precárias e o tratamento dado às mulheres era especialmente cruël. Muitas enfrentavam violência doméstica constante, eram desrespeitadas pelo antigo comando e, em alguns casos, sofriam abusos terríveis. Era impossível ignorar o sofrimento ao nosso redor e, por isso, decidi que algo precisava ser feito. Foi assim que nasceu a ideia de criar uma ONG dedicada a cuidar dessas mulheres. A ONG, que batizamos de "Mulheres do Babilônia", tem como missão proporcionar um ambiente seguro e de apoio para as mulheres da comunidade. Nosso objetivo principal é oferecer assistência em diversas áreas para que elas possam reconstruir suas vidas com pelo menos dignidade. A primeira frente de atuação é o atendimento psicológico. Contamos com uma equipe de psicólogas voluntárias que oferecem sessões de terapia individual e em grupo. Essas sessões são fundamentais para ajudar as mulheres a lidar com os traumas e reconstruir sua autoestima. Além disso, realizamos oficinas de autoconhecimento e empoderamento, onde elas podem compartilhar suas histórias e encontrar força umas nas outras. Em paralelo, oferecemos assistência jurídica. Nesse caso, a nossa parceria é com o escritório do Dr Bruno. Muitas das mulheres precisam de ajuda para lidar com processos de separação, principalmente medidas protetivas e outras questões legais. Temos advogadas que prestam consultoria gratuita e acompanham os casos mais urgentes. Outro pilar importante é a capacitação profissional. Sabemos que a independência financeira é crucial para que elas possam se libertar de situações abusivas. Por isso, promovemos cursos de qualificação em diversas áreas, como culinária, costura e informática, além de oficinas de empreendedorismo, incentivando-as a iniciar seus próprios negócios. Além disso, fornecemos suporte emergencial para as necessidades básicas. Mantemos um estoque de alimentos, roupas e itens de higiene pessoal para distribuir a quem precisa, garantindo que nenhuma mulher passe fome ou fique sem o mínimo necessário. A "Mulheres do Babilônia" também atua na conscientização da comunidade. Realizamos campanhas educativas sobre direitos das mulheres e violência doméstica, buscando criar um ambiente de respeito e igualdade. Apesar dos desafios, cada história de superação e cada sorriso reconquistado nos lembra do propósito maior da nossa ONG. Seguimos firmes, sabendo que, juntos, podemos transformar a realidade de muitas mulheres e construir um futuro mais justo e humano. Thiago e a Lara, foram os primeiros a me apoiar nesse projeto. É claro que meu marido já derrubou muito folgado, que veio na porta da ONG tentar me peïtar. Isso foi bem no comecinho, quando eu aprendi a atirar, cada maluco que chegava tentando bancar o valentão, eu colocava para correr na bala. E assim o tempo foi passando, hoje não somos apenas uma ONG. Somos uma família, defendo as minhas meninas com unhas e dentes. Está acontecendo uma série de roubos na comunidade, fiquei sabendo hoje cedo por uma moradora na ONG. — e vocês sabem o pelo menos suspeitam de alguém que está fazendo isso, a galera sabe que não pode roubar morador. Roubo na comunidade é pedir para cabeça — falei encarando todas que estavam na minha frente. — a gente não sabe patroa, Eu só fiquei sabendo o que aconteceu isso porque Dona Marlene de quitanda falou — disse uma das meninas que é favorecida pelo projeto. Logo Fiquei sabendo que o Thiago já estava apurando tudo pela comunidade, aqui na ONG eu trato ele como meu chefe, até porque se voar o comando e na hierarquia ele está acima de mim, mas quando estamos na nossa casa trato com o meu namorado, meu marido, meu amante. Faço ele de gato e sapato na cama, do jeitinho que gostamos. Fiquei na ONG só na parte da manhã, gosto de participar das atividades mas nem sempre tenho tempo, atendo muitas pessoas durante o dia. Passo mais tempo trancada em uma sala, do que interagindo nas oficinas. Quando fomos almoçar, Thiago já me deu a missão, tenho uma patricinha que eu nunca fui com a cara dela, uma loira metida que se acha. Mas não passa de uma noiada, ela pega as paradas direto com a gente, e revende para os playba. Só que dessa vez ela vacilou, e agora virou o alvo da baba yaga. — Fica prontinha aí, na hora que eu te mandar o sinal, tu desce para o asfalto e faz o serviço. Eu vou te recompensar daquele jeitinho que tu gosta — meu marido falou, enquanto puxava a minha nuca e mordeu os meus lábios. Deixei todo o meu material já prontinho na mochila, hoje vou mostrar aquela patricinha, o que acontece com quem vacila com o nosso comando. Tentando fazer o meu marido pagar de vacilão. Já era quase fim do dia, quando Thiago me ligou, me passou a localização do Falcão. O nosso olheiro do asfalto. Me arrumei. Vesti uma calça jeans, calcei uma bota de salto, na minha bota tem um salado falso, dá para colocar uma mini pistola. Eu sempre ando com essa reserva, caso eu não possa sair com a mochila, a missão não deixa de ser entregue. Vesti uma blusa bem apertada, amarrei o meu cabelo, fiz um rabø de cavalo. E desci para o asfalto, é hora de apresentar a patricinha rebelde, o bïcho-papão.
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