Senti meu corpo tremer e a cama grudar em meu corpo. Os lençóis estavam molhados e pessoas estavam ao meu redor. Olhei através da visão turva causada pela febre.
_ Se a senhora morrer, quem irá governar em seu lugar? _ perguntava Onto para mim sem obter respostas.
_ Ela não vai morrer, saiam daqui seus abutres. _ gritava Halan para as pessoas presentes no quarto.
_ Ela não tem herdeiros. _ disse outro homem que não conseguia identificar quem era.
_ Ela terá. _ gritou Halan.
_ Nesse momento não tem. _ contestou o homem.
_ Ela tem que nomear alguém, vocês ainda não estão casados. _ explicava Eron para Halan.
_ Ela não vai nomear ninguém, quando ela levantar, ela governará. _ disse Halan de volta para Eron.
Era difícil manter meus olhos abertos, quase que eu não conseguia enxergar. Tentei falar, mas minha boca estava seca demais. Eu estava tentando, mas não estava conseguindo.
_ Precisamos de um nome. _ insistia Onto.
_ Diga um nome apenas. _ pediu Eron.
_ Qualquer nome. _ pediu o homem não identificado.
A escuridão tentava me puxar e eu estava fazendo um esforço enorme para me manter acordada, mas estava começando a duvidar de que eu realmente estivesse acordada. Tentei olhar para minhas mãos, mas elas pareciam distantes do meu corpo.
_ Vão para casa do cara|ho. _ gritava Halan tentando tirá-los do quarto.
Minha mente nebulou e sem meu querer, meus olhos giraram para dentro do meu crânio e a inconsciência chegou com o grito distante de uma serva "chamem o médico".
Acordei quatro dias depois com uma serva me limpando. Eu estava com outra camisola e várias compressas de água fria. Ela não parecia acreditar que meus olhos estavam abertos.
Tentei falar, mas a voz estava presa na garganta. Tentei novamente e o som não saía de minha boca. A terceira vez que tentei, minha voz soou estranha até para os meus ouvidos, fraca e rouca.
_ Olá! _ o som saiu debi|mente de meus lábios.
_ A senhora precisa de água? _ a serva me perguntou correndo para pegar um copo em cima da mesa.
O líquido desceu com dificuldade em minha garganta seca, parecia que tinha uma vida que eu não bebia água. Ela me ajudou a tomar outro copo e só então consegui falar melhor.
_ Quanto tempo eu dormi? _ perguntei para ela.
_ Quatro noites, minha senhora. _ respondeu ela fazendo uma reverência.
_ Por que dormi tanto? _ perguntei abrindo a camisola para ver a ferida.
_ Sua infecção demorou de ceder. _ respondeu a mulher.
_ Tive infecção? _ perguntei tentando me lembrar de algo.
_ Infecção e febre, algum medicamento também estava errado. _ explicou ela.
_ Errado? _ perguntei tentando entender.
_ Substâncias que não deveriam estar lá, algo assim, apenas o doutor pode explicar melhor, majestade. _ respondeu nervosamente a serva.
_ Não precisa ficar nervosa. Só tem você aqui? _ perguntei.
_ Sim! Ninguém esperava que acordasse agora. _ respondeu a serva.
_ Onde está o doutor? _ perguntei tentando enxergar o resto do quarto, mas estava com um pouco de dificuldade motora.
_ Ele foi ver um servo que se feriu no manejo de um cavalo. _ respondeu ela. _ O pobre rapaz caiu feio.
_ Cavalo novo? _ perguntei lembrando que meus cavalos já estavam adestrados.
_ Cavalo do príncipe Halan, senhora. Uma b***a indomável. _ disse ela em tom de fofoca.
_ Nenhum cavalo é indomável, basta o treinamento certo. _ expliquei.
_ Esse não respeita nem o dono. _ respondeu ela rindo. _ Ele quase caí também quando foi comprar remédios.
_ Remédios para mim? _ perguntei.
_ Sim! Outros remédios. _ disse ela apontando para a penteadeira cheia de frascos e folhas.
_ Que dia é hoje? _ perguntei tentando calcular, mas minha mente e visão ainda estavam embaralhadas.
_Terça, senhora. _ respondeu a Serva tentando se lembrar.
_ Cinco dias para o meu casamento . _ pensei alto.
_ O príncipe ficará tão feliz, ele não saiu do lado da cama. _ revelou a serva.
_ Onde ele está? _ perguntei olhando novamente para o quarto vazio.
_ Foi cuidar do asseio, creio eu. _ respondeu a mulher.
Tentei me levantar, mas parecia que pesava uma tonelada. Consegui com ajuda da serva, mas ainda estava um pouco desnorteada.
_ Vou chamar o doutor e trazer um café da manhã para a senhora. Sente-se. _ pediu a serva me levando até a mesa perto da janela.
Ela saiu e eu me senti muito sozinha, fiquei incomodada com isso. Ainda estava desorientada, mas resolvi sair do quarto enrolada em um lençol que estava dobrado no pé da cama.
Os soldados me viram sair e pediram para que eu voltasse, pois o médico já estava vindo. Um soldado correu na frente, provavelmente para avisar ao doutor que eu estava caminhando pelo castelo.
Segui reto pelo corredor e não sei como, mas meus pés me guiaram para a porta dele. Olhei para baixo e me vi descalça. Meus pés pálidos destacando no veludo vermelho do carpete.
Os guardas do príncipe fizeram reverência, mas não disseram nada. E eu não sabia ao certo o que estava fazendo ali.
Encarei a grande porta do seus aposentos, e os guardas me encaravam de volta, tanto os deles quanto os meus que me seguiram.
De repente a porta do quarto se abriu e vi Milena sair do quarto, com os botões do vestido desalinhados. Ela estava com uma mancha roxa no pescoço, seus lábios estavam inchados e vermelhos. A outra porta estava fechada.
_ Perdão majestade. _ disse a serva se curvando para mim. _ A senhora acordou.
_ Onde está o príncipe? _ perguntei observando ela concertar os botões da roupa.
_ Estava acordado até esse momento, mas saí o deixando dormindo. _ disse ela fazendo os soldados a encararem.
_ Ele dormiu aqui? _ perguntei lembrando que a serva disse que ele foi fazer o asseio.
_ Não senhora, ele veio antes do sol nascer para atender suas necessidades. Ele é um homem bastante viril e precisa de liberação diária. _ respondeu Milena.
_ Bastante viril? _ perguntei ainda tonta.
_ E um pouco bruto. _ sussurrou ela para mim.
A porta da antecâmara ainda estava aberta, quando vi a segunda porta abrir e revelar um príncipe totalmente nú deitado de barriga para cima ainda duro, ele parecia mais magro. Ele estava com uma calcinha no rosto, cheirando.
_ Milena. _ disse ele para a mulher que se virou vendo a cena.
_ Vou entrar, ele ainda quer mais. Já estou toda assada e ele quer mais. _ reclamou a mulher entrando e puxando a porta.
Senti meu corpo todo tremer, minha mente não estava funcionando bem, mas eu sabia o que tinha visto. Ele não podia mentir sobre isso. Um guarda me segurou quando achei que fosse parar no chão.
Virei-me e voltei para o meu quarto com lágrimas nublando minha visão, mas não dei a ousadia de deixar uma só se quer cair. Não iria chorar na frente dos soldados para depois o castelo inteiro ficar sabendo.
Meu corpo ainda estava fraco das noites de inconsciência e eu tinha que cuidar de mim. Eu precisava pensar em mim e no meu ferimento. Ele me disse que desde que me conheceu, que não se deitava com ninguém. Príncipe mentiroso.
Entrei no meu quarto e não consegui mais segurar as lágrimas, chorei como uma criança. Chorei tanto que quando o médico entrou, pouco minutos depois, ficou preocupado. Caí de joelhos, desabada de tristeza. Meu ferimento doía pelo esforço.
_ Ainda dói, majestade? _ perguntou ele tentando me examinar.
_ Dói, mas não vai doer mais. _ falei tentando arrancar do meu peito a faca imaginaria que o príncipe havia enfiado.
_ Trouxe uma sopa para a senhora, estão procurando o príncipe para avisá-lo de que a senhora acordou. _ comunicou a mulher.
_ Qual seu nome? _ perguntei tentando me apegar a outra coisa.
_ Izabella, minha senhora. _ respondeu docilmente. _ Pode me chamar de Iza.
_ Iza. O príncipe está no quarto dele. _ respondi.
_ Avisarei, com licença. _ disse a garota saíndo.
_ O príncipe alertou sobre a substância misteriosa dentro dos remédios, mas eu duvidei dele e ministrei mesmo assim. Acreditamos que a senhora foi envenenada, por isso não acordava. _ explicou o médico.
_ Remédios que estavam no palácio? _ perguntei enxugando minhas lágrimas.
_ Sim senhora! Remédios que estavam trancados e poucos tinham a chave. _ respondeu o curandeiro.
_ Alguém de dentro do castelo. _ pensei em voz alta.
_ O príncipe jogou todos os remédios fora e foi na cidade pegar outros. _ explicou o médico, mas eu não conseguia entender como ele poderia ser tão altruísta com outra em sua cama.
_ Ele não queria que eu morresse. _ falei olhando para o médico.
_ Ele cuidou muito bem da senhora e não deixou ninguém se aproximar dos remédios depois que trouxe os novos. _ continuou o médico.
_ Ele não queria que eu morresse antes dele ser rei consorte. _ completei deixando o curandeiro confuso.
_ O príncipe Halan interrogou um por um dos servos e nenhum sabe como isso ocorreu. _ cochichou o médico.
_ Um traidor dentro do palácio. _ falei o que ele não tinha coragem de falar.
_ É o que pensamos. _ respondeu o médico.
_ Dois traidores. _ corrigi lembrando das mentiras do príncipe.
_ Não sabemos se quem fez isso agiu sozinho ou se teve ajuda. _ disse o médico.
_ Chame a serva, vou a sala do dragão. _ falei.
_ Não pode se esforçar, deve descansar. _ orientou o médico.
_ Descansarei depois de conversar com quem me colocou no trono. _ declarei me levantando e pedindo novamente para as servas entrarem.
Iza entrou com produtos de banho e outras servas com água para a banheira. O médico saiu para me dar privacidade. Elas me banharam com cuidado e me vestiram com um vestido longo rosa, com botões na frente até o quadril. Caso precisasse era só desabotoar os botões que teriam acesso ao meu ferimento.
Lavaram meu cabelo a contragosto, diziam que não fazia bem lavar o cabelo depois de ter febre, pois a febre podia voltar. Insisti que estava bem e elas continuaram.
Segui para a sala do dragão e respirei fundo olhando para a grandiosa porta, havia um tempo em que eu não entrava, mas eu precisava de orientação.
_ Disseram-me que já havia acordado. _ a voz profunda de Halan ressonou atrás de mim. _ Você se sente bem para estar de pé?
_ Não tão bem quanto você, mas ficarei. _ respondi sem olhar para trás, com a tristeza ainda presa em minha garganta.
_ Vai conversar sobre o traidor no castelo? _ perguntou ele para mim. _ Eu não consegui descobrir nada.
_ Conversarei sobre os dois traidores. _ revelei.
_ Dois ? _perguntou ele.
_ O que tentou me matar e o que fod£ com servas enquanto morro. _ declarei abrindo a porta e entrando.
_ Saga. _ ele me chamou, mas já havia entrado na sala do dragão.