Ponto de Vista: Halan
Observei enquanto aqueles abutres circulavam sua cama, analisando se ela ainda estava viva ou não. Ela gemia pela febre e sua boca tremia. Eles negociavam a melhor saída para caso ela não sobrevivesse.
Eu queria arrancar a cabeça de todos, se eu fosse rei, eles já estariam mortos. O médico explicava que não tinha como saber se ela sobreviveria ou não, ele falava sobre o aspecto purulento de sua ferida.
O conselho pedia detalhes sobre outros casos e o médico falava que não tinha como comparar, pois Saga era marcada pelo dragão, tecnicamente ela era mágica. O conselho explicava sobre os reis marcados que vieram antes dela e que apesar de terem imunidades altas, todos morreram.
Ela tremia e por vezes falava palavras incompreensíveis. Eu orava aos deuses para que ela sobrevivesse, eu tinha acabado de conhecê-la e ela já estava partindo.
Coloquei todos para fora quando começaram a insistir para que ela entre um delírio ou outro falasse um nome. Não havia nomes para serem ditos e ninguém poderia governar em seu lugar.
Eu sentia uma dor imensa por não ter previsto aquela lança vindo, eu deveria ter protegido ela. Ainda tinha pesadelos com o sorriso dele de vitória, quando cochilava de cansaço ao lado da cama. Não deixava ninguém encostar, apenas o médico e uma serva, pois não confiava em ninguém.
_ Estão dando esse remédio para ela? _ gritei com o médico quando o vi ministrar o pote com substâncias duvidosas. _ Você não me falou qual as outras duas substâncias.
_ Todas as substâncias estão no rótulo. _ disse o médico como se eu estivesse ficando louco.
_ Todas menos duas. _ tomei o frasco de sua mão e joguei na parede espatifando o vidro.
_ Não temos tempo de mandar fazer outro. _ gritou o médico enfurecido olhando a substância escorrer. _ O que é aquilo brilhante?
Aproximei-me e senti o cheiro, peguei com o dedo e aproximei de minhas narinas os pedaços brilhantes e azulados de alguma coisa.
_ É uma das substância que estou falando. _ expliquei. _ Não tem essa no rótulo do pote, as que tem conheço os cheiros.
_ É veneno de dragão. _ declarou o médico olhando mais de perto. _ Era importado do reino das fadas, mas com o acordo estabelecido, eles deixaram de fabricar.
_ Veneno de dragão? _ perguntei olhando para o pedacinho brilhante se desfazendo.
_ Ele mata a magia dada pelo dragão e envenena o portador. _ explicou o médico. _ Talvez a outra substância seja algo parecido.
_ Ela já deveria ter acordado, tem dois dias dormindo. _ olhei para o curandeiro com raiva.
_ Ela está envenenada, por isso não se cura e não acorda. _ disse o médico olhando para Saga pálida na cama.
_ Existe antídoto? _ perguntei vasculhando os outros potes.
_ Não! Se não a matar, o organismo irá expelir. _ respondeu o médico.
_ Joguei fora todos esses medicamentos, irei ao centro da cidade buscar novos. _ ordenei ao médico.
Eu estava com tanta raiva que não conseguia pensar direito. Alguém do castelo havia a envenenado, pois a maioria dos medicamentos já estavam no local. Não foi o médico quem trouxe aqueles frascos.
Montei no meu cavalo e ele sentiu minha angústia. Angus não aceitava ser montado com dúvida, só a certeza o levava para a batalha. Ele se balançou tentando me derrubar e jogou as pernas no ar para me desequilibrar.
_ Calma Angus! _ falei com firmeza e ele obedeceu voltando a trotar normalmente.
Cheguei no centro e fui no boticário procurar os remédios que poderiam ajudar Saga. O homem velho e enrugado parecia não ter a menor pressa.
_ O que deseja meu senhor? _ perguntou o velho olhando para mim.
_ Desejo remédios para infecção. _ respondi rapidamente.
_ Qual tipo de infecção? _ perguntou o senhor saindo por entre as prateleiras com alguns potes na mão.
_ Infecção feita por corte, uma lança. _ respondi olhando o homem passear pela loja.
_ Qual o tipo da lança? _ perguntou o senhor me deixando impaciente.
_ O que tem a ver o tipo da lança? _ perguntei irritado.
_ Se não tivesse a ver, meu senhor, eu não perguntaria. _ respondeu o homem com toda calma do mundo.
_ Era de metal. _ respondi irritado.
_ Você viu a cor da ponta? Era laranja? Algumas lanças são feitas de cobre. _ inqueriu o homem.
_ Não! Era cinza. _ respondi lembrando do momento em que o médico tirou o objeto de dentro de Saga.
_ Certo! A ferida tem pus? _ o homem fez novamente outra pergunta.
_ Tem sim! _ respondi.
_ Vermelhidão de quantos dedos ao redor? _ perguntou o senhorzinho me fazendo querer derrubar o balcão.
_ Dois dedos. _ respondi batendo no balcão.
_ Esse deve ser ministrado por cinco dias pela manhã e a noite. Esse durante dez dias ao meio dia. _ explicou o homem me dando dois frascos. _ Se a febre não baixar em um dia, volte que tenho outro remédio para isso.
_ Quanto ficou? _ perguntei ao homem recolhendo os frascos.
_ Duas moedas de prata. _ disse o velho sorrindo, observando minhas vestes.
Dei duas moedas de prata e saí rapidamente do estabelecimento, já subindo em Angus e o obrigando a cavalgar de volta.
Os novos remédios foram adiantados pelo médico. Deixei ele no quarto de Saga com uma serva e fui interrogar os outros empregados do palácio. Mandei Barnepe fazer uma lista com todos e comecei meus interrogatórios. Sentei-me no salão e esperei que Barnepe organizasse as entrevistas.
As perguntas eram as mesmas, perguntava se tinha acesso as chaves do palácio, se era quem limpava a sala de medicamentos, se gostava do trabalho no castelo e outras mais. Todos pareciam ter devoção a rainha.
Eu estava exausto, todos amavam o seu trabalho e poucos tinham acesso ao armário de remédios. Apenas uma serva da cozinha de dez anos não sabia responder as perguntas, mas estava grata pela oportunidade de trabalhar para a rainha.
_ A Fabre dela está baixando. _ disse o médico interrompendo meus pensamentos.
_ Os remédios estão fazendo efeito? _ perguntei apertando a têmpora.
_ Parece que sim ou o veneno está saíndo. _ respondeu o médico sentando ao meu lado.
_ Ela vai acordar? _ perguntei olhando para a lista de servos interrogados.
_ Por agora não. _ respondeu ele.
_ Farei os interrogatórios pela manhã, mas a tarde e a noite ficarei com ela. _ falei.
_ Você tem que dormir. Descansar um pouco. _ sugeriu o médico.
_ Uma mulher morreu aqui dentro e a rainha foi envenenada. Eu não posso dormir. _ declarei cansado.
_ Estamos de olho nela, vamos revezar para protegê-la. _ indicou o médico.
_ Certo! Mas é uma boa notícia. _ revelei.
_ Uma excelente notícia. _ concordou o curandeiro.
Eu estava interrogando um servo pela terceira vez, já estava cansado e ele toda vez que era interrogado, eu encontrava divergências entre seus relatos. Isso aconteceu com outros dois servos e eu estava tentando entender o motivo deles mentirem.
Não fiquei no salão que estavam acostumados a me verem fazendo esse trabalho, fui para um escritório geral para mudar o ambiente. Fazê-los entender que eu estava percebendo as sutilezas em suas respostas.
_ Mas você não tem a chave do armário, não é? _ perguntei novamente.
_ Eu não tenho, quem tem é o meu primo. _ respondia ele.
_ Como você conseguiu ter acesso ao remédio de frieira? _ perguntei desconfiado.
_ Meu primo avisou a chefe dos servos e pegou para mim. _ continuava explicando ele.
_ Senhor, ela acordou, não conseguíamos te achar. _ disse a empregada.
_ Ela? _ perguntei confuso.
_ A rainha. _ respondeu a serva.
_ Onde ela está? _ perguntei muito feliz.
_ Ela está indo para a sala do dragão, vai entrar para falar com ele. _ explicou a serva.
_ Mas ela está podendo andar? _ perguntei me levantando preocupado.
_ Ela não pode fazer esforço, está muito fraca, mas mesmo assim foi. _ disse a serva.
Praticamente corri para a sala do dragão, desviando apressadamente de diversos servos e derrubando um vaso de flores pelo caminho. Ela estava de frente para a porta do dragão, vestida de rosa claro com seu cabelo ainda molhado e solto nas costas. Meu coração disparou e a felicidade inundou meu corpo, ela estava acordada.
_ Disseram-me que já havia acordado. _ falei observando suas costas. _ Você se sente bem para estar de pé?
_ Não tão bem quanto você, mas ficarei. _ senti a pontada de decepção em sua voz e meu coração deu um pulo em alerta.
_ Vai conversar sobre o traidor do castelo? _ perguntei tentando identificar o motivo de sua idade a sala do dragão. _ Eu não consegui descobrir nada.
_ Conversarei sobre os dois traidores. _ disse ela com raiva, ainda de costas para mim.
_ Dois? _ perguntei sem entender como ela já sabia tanto.
_ O que tentou me matar e o que fod£ com servas enquanto morro. _ disse ela e foi como se a lança de sua barriga tivesse cravado em meu coração.
_ Saga. _ chamei ainda tentando me recuperar dessa acusação sem fundamentos, mas entrou e a porta se fechou deixando-me mais uma vez sem ela.