Ponto de Vista: Saga
Ele chegou, avisaram-me. Mas continuei lendo os relatórios, não iria correr atrás dele e o receber como uma noivinha apaixonada. Ele me mandou um contrato avisando que ele teria amantes, que seu quarto estaria trancado para mim e que eu poderia ter outros em minha cama. Meu sangue fervia de raiva.
_ Ele foi emboscado por quinze bandidos. _ comentou o servo a minha frente, fazendo seu relatório.
_ E sobreviveu? _ perguntei sarcasticamente.
_ O seu servo matou dez sozinho. _ continuou o homem me fazendo parar para ouvir aquelas mentiras.
_ Dez sozinho? _ perguntei achando graça.
_ Sim senhora. Mas outros servos do príncipe não tiveram a mesma sorte. _ revelou o homem.
_ Ele perdeu servos? _ perguntei um pouco mais preocupada com o ocorrido.
_ Sim! Perdeu dois servos. _ concluiu o homem.
_ Mas ele está bem? _ perguntei tentando disfarçar a ansiedade.
_ Está sim! Entrou rindo e brincando com as servas. _ respondeu o empregado.
_ Pode ir! _ dispensei o homem.
Ele saiu do escritório e pude ouvir quando ele disse do lado de fora que o príncipe Halan foi emboscado por vinte bandidos. Parecia que toda vez que a história era contada, aumentava um bandido.
O servo do príncipe foi anunciado, mas eu não queria lidar com isso agora. Deixei o servo dele do lado de fora por algumas horas, mesmo sabendo que ele estava com o contrato para assinar, mas eu ainda estava com muita raiva de ser obrigada a obedecer suas regras dentro da minha casa.
Mandei o servo entrar em meu escritório com o contrato assinado por ele. Ele tinha concordado com os novos termos. Parece que o meu noivo quer apenas o título de rei consorte e não a mulher que vem com o título. Sentia-me uma i****a por perder horas do meu tempo pensando naquela boca, naquelas mãos... Não iria mais pensar nisso.
No fundo esperava que ele rasgasse o contrato e me dissesse que não iria me dividir com ninguém. Rainha tola, deveria ser meu novo título, fantasiando com um homem que mostrava ser igual aos outros.
Assinei o contrato acima de todas as suas assinaturas, enquanto o servo se movia desconfortável em seu lugar.
_ Tem algo te incomodando? _ perguntei ainda assinando.
_ Não sei se devo falar minha rainha. _ explicou o servo.
_ Vou perguntar novamente. Tem algo te incomodando? _ repeti a pergunta ainda passando as folhas para assinar o contrato.
_ Eu ouvi os seus servos conversando. _ disse o meu servo nervosamente. _ Ele foi ferido gravemente durante a viagem.
_ Gravemente? Está exagerando. _ perguntei lembrando dos empregados relatando sua chegada.
_ Um curandeiro está em seus aposentos ministrando remédios para baixar a febre. _ completou o servo.
_ Febre? Ele chegou aqui andando, rindo para os empregados. _ esclareci sobre o que me contaram.
_ A ferida está infeccionada. _ completou o rapaz.
Eu não precisava ouvir mais nada, saí do meu escritório como um fenômeno da natureza. Só não corri, pelos corredores, porque iria dar margens para boatos, dentro das minhas paredes.
Atravessei o palácio e cheguei em sua porta esbaforida, seus servos e dois soldados estavam do lado de fora.
_ Saíam da frente. _ ordenei, mas ninguém saiu do lugar, apenas fizeram reverências rápidas com a surpresa da minha chegada.
_ Não podemos, majestade. _ disse o soldado se desculpando.
_ Eu sou a rainha. Saia da frente. _ gritei.
_ Estamos sob juramento, minha senhora. _ respondeu o outro soldado.
_ Estão sob o meu teto. _ retruquei com raiva, crescendo dentro de mim, a marca do dragão queimava exigindo a cabeça dos que me desafiavam.
_ Se eu deixar a senhora entrar, morrerei antes do sol se pôr. _ disse o soldado tentando me fazer raciocinar.
_ É o meu noivo que está lá dentro morrendo, tenho o direito de vê-lo. _ expliquei, mas me sentia uma idiot@, tendo que dar satisfações a um soldado.
Afastei-me da porta e dos soldados que estavam em sua lateral e fui para o fundo do corredor. Olhei ao redor para identificar uma patrulha para conter aqueles soldados, mas ninguém havia me seguido quando saí.
Um servo saiu de dentro da sala, abrindo a porta e deixando-a aberta. A porta de seu quarto também estava aberta e eu o vi deitado sem camisa, de olhos fechados, na grandiosa cama. A porta abriu no momento certo, pois consegui ver ela beijando sua testa. Ele havia trazido uma amante.
A mulher saiu do quarto e fechou a porta do quarto. Eu não vi a decoração do quarto, pois fiquei cega com a imagem do homem recebendo um beijo de sua amante.
A porta da sala foi fechando, entretando ela segurou a porta antes que fosse fechada e saiu, ficando cara a cara comigo.
_ Minha Rainha. _ disse a mulher se curvando, fazendo seus s£ios praticamente pularem para fora do vestido.
_ Quem é você? _perguntei tentando manter uma imagem de imparcialidade.
_ Sou serva do senhor Halan. _ respondeu a mulher com olhar curioso para mim.
_ E qual sua função mesmo? _perguntei novamente fazendo o silêncio ser ensurdecedor.
_ Eu cuido das necessidades do senhor Halan. _ respondeu a mulher com um sorrisinho.
Engoli em seco, minhas mãos tremiam e os soldados se olhavam como se não fosse para ela revelar isso.
Eu queria que ela fosse específica, eu queria que ela dissesse que dava banho nele e nada mais. Meu coração apertava e se eu não perguntasse, eu iria morrer com a pergunta presa dentro de mim. Corroendo minha alma.
_ Ocupa a cama dele? _ perguntei diretamente fazendo os servos ficarem em alerta.
_ Quando ele tem necessidade disso sim. _ respondeu a mulher sorrindo docilmente. _ As vezes ele não tem tempo para cortejos e é mais fácil com uma serva sempre disposta.
Eu senti meu corpo fraquejar e por um segundo a rainha dragão perdeu o equilíbrio. Eu me ajeitei, voltando para minha imagem imparcial, mas não suficientemente a tempo. Ela havia percebido que tinha me afetado.
_ Desculpe-me, majestade. A senhora é uma dama, não tem que ouvir sobre as necessidades sórdidas dos homens. _ desculpou-se a mulher.
As palavras dela rodavam na minha cabeça: "serva sempre disposta", "necessidades sórdid@s", eu queria gritar, mas continuei petrificada em meu lugar.
_ Vou voltar, ele vai acordar dentro de algumas horas e tenho que estar pronto para atendê-lo. _ esclareceu a mulher.
_ Vá cumprir seu dever. _ falei tentando parecer neutra. _ Quando ele acordar diga que estive aqui e estou bastante feliz em te conhecer.
Obriguei as minhas pernas dormentes a andarem pelo corredor. Calmamente elas tomaram o rumo certo e fui em direção ao meu escritório. Eu queria ir para o meu quarto chorar e gritar, quebrar algumas coisas. No entanto, eu era uma rainha e manteria minha postura.
Ele havia trazido uma amante para meu palácio. Eu queria enforcá-lo ou ver sua cabeça rolando depois de minha espada descer. Como ele pode fazer isso comigo depois de se mostrar tão apaixonado? Pura atuação. Ele queria um título e eu dei isso a ele.
Afundei-me em trabalho. Desejei que os dias passassem rapidamente para que esse casamento acontecesse. Ele não me permitia entrar no seu quarto e eu não iria permiti-lo no meu. Suas palavras não envenenariam mais a minha mente.