Ponto de Vista: Halan
Subi na carruagem com três servos levando-me. Meu servo pessoal, Barnepe, tinha ido na frente para decorar e acomodar meus pertences. Dois servos que haviam me visto crescer estavam com ele para montar minha prisão, eu só precisava de três para me servir. Milena tinha ido junto com ordens específicas de aguardar minha chegada.
Fiquei com receio que Saga visse Milena e começasse a cogitar coisas depois do contrato. Eu não sabia o que esperava por mim, uma rainha feliz por futuramente poder se desvincular dos seus deveres matrimoniais ou uma rainha possessa por eu permitir isso.
Eu tinha que ser cuidadoso, pois não sabia em qual terreno estava pisando. Tinha que assegurar primeiro o casamento e a consumação, depois ela poderia ficar irritada a vontade.
Olhei para o sol que estava começando a surgir, deixando suas cores alaranjadas no céu. Ela já deveria estar acordada e possivelmente treinando com muito ódio dessa situação toda. Fodid@mente linda e irritada, derrubando soldados muito maiores que ela. Como eu queria bater naquela bund@.
Seriam três dias de viagens parando em pontos já conhecidos para alimentar os cavalos, dormindo dentro da carruagem. Os animais chegavam tão cansados que era impossível fazer outra viagem com eles imediatamente.
Em uma dessas paradas, quatro homens armados cercaram a carruagem, pediram aos servos que recolhessem pertences de valor. A única coisa de valor, além da própria carruagem, era a gargantilha que eu havia encomendado e eu não iria entregar sem luta.
_ O que está acontecendo? _perguntei saíndo da carruagem com a espada na mão.
_ Fique dentro da carruagem, senhor. _ disse um servo com a espada levantada.
_ É o príncipe da Cidade Forte Marrom? _ perguntou um dos bandidos e foi aí que percebi que era uma emboscada e não um assalto.
A carruagem que estava me transportando não tinha brasão, então poderia ser qualquer nobre dentro dela. Mas o bandido foi direto em mim, logo essa surpresa tinha sido encomendada.
_ Quem quer saber? _ perguntei me colocando em posição de batalha.
Um dos bandidos atacou um dos meus servos, pegando-o de surpresa e o atravessando com a espada. O homem caiu morto, ensanguentado, no chão. Outro bandido começou a lutar com outro servo, que estava mais atento e não foi pego de surpresa.
Dois bandidos vieram para cima de mim e um outro encarava o servo ao meu lado, esperando o melhor momento para o ataque. Desviei-me do bandido e acertei a perna do outro fazendo-o ajoelhar segurando a carne aberta.
_ Quem enviou vocês? _perguntei bloqueando o golpe de um dos bandidos.
_ A morte! _exclamou o bandido que parecia ser o líder, pois os outros obedeciam suas ordens.
Vi na hora em que o servo atrás de mim jogou o bandido no chão e enfiou uma espada nele, mas antes que pudesse retirar sua espada, outro bandido perfurou suas costas assassinando-o.
Ficaram três bandidos, dois sem ferimento, um com a perna cortada e apenas um servo do meu lado.
_ Quanto estão te pagando? _ tentei negociar percebendo a minha desvantagem.
_ Vai fazer contas agora, meu senhor? _ debochou um dos bandidos.
Desviei do seu golpe, empurrando meu servo para o lado para livrá-lo de uma morte certa, mas fui atingido no ombro. Rodei sobre os pés e decapitei um dos bandidos que não estava ferido, sobrou o líder deles e um ferido.
_ Quanto o senhor pretende pagar? _ perguntou o bandido líder.
_ Agora não é mais hora para fazer contas. _ respondi friamente.
Dançamos com nossas espadas sendo bloqueadas uma pela outra, escorreguei e fui atingido na cocha, mas não era um ferimento tão profundo que me impedisse de lutar.
Outra dança se seguiu com o homem sempre um pé na minha frente, o ferimento não me impedia de lutar, mas me deixava visivelmente mais lento. Troquei a postura e tentei investir contra o homem, mas ele conseguiu rasgar minha panturrilha do mesmo lado da cocha. Ele se afastou rindo e contemplando o sangue escorrendo de minha perna.
Olhei ao redor para a estrada vazia, só tinha poeira e árvores secas pelo sol de verão. Poderia demorar dias para passar novos viajantes e não daríamos sorte de encontrar ajuda nesse fim de mundo.
Havíamos passado por uma fazendo, que era um dos nossos pontos de parada. Um dos servos queria pegar água e alimentar os cavalos, mas tínhamos água suficiente para mais dois dias e não achei necessário a parada. Poderíamos alimentar os cavalos na estrada mesmo nesse primeiro dia.
Eles deveriam estar nos aguardando nessa fazenda e não percebemos. Ficaram de tocaia e nos seguiram quando passamos. Paramos algumas horas depois para alimentar os cavalos e cuidar de suas necessidades.
Meu servo estava tendo dificuldade em lutar contra o homem, mesmo com ele ferido. Pelo canto do olho vi o momento em que as espadas se chocaram e voaram longe.
O bandido empurrou meu servo para o chão, tirou uma faca do cinto e subiu em cima dele para degolá-lo, mas foi recebido com outra faca direto no coração, o homem caiu sem vida em cima dele o cobrindo de sangue.
O líder dos bandidos continuou investindo contra mim, espada com espada e em um vacilo seu, joguei-o no chão e pisei em cima de sua mão para evitar que pegasse a espada. Apontei minha espada para seu peito e perguntei:
_ Posso poupar sua vida se me disser quem te enviou. _ negociei.
_ Eu sou um homem morto de qualquer forma se te contar. _ respondeu o bandido.
_ Se me contar viverá ainda alguns dias, se não contar, morrerá hoje. _ afirmei.
_ Eu não posso contar. _ disse o homem.
_ Então não tem serventia para mim. _ falei empurrando a ponta da espada abrindo a carne.
_ Espere, por favor, espere. _ disse o homem em desespero.
_ Diga-me quem te enviou, eu quero um nome justificável. _ gritei.
_ Poha! Eu... eu. _ gaguejou o bandido.
_ Um nome! _ ordenei.
_ Yohan Sobro. _ disse o homem quase engasgando.
_ Príncipe da Cidade Forte Reluzente? _ perguntei indignado.
_ Sim, meu senhor. _ respondeu o homem.
_ Ele não teria coragem para isso. _ retruquei.
_ Ele me contratou, tenho moedas de ouro de sua cidade forte, suas ordens foram claras. _ explicou o homem indicando o bolso.
O servo conseguiu sair de debaixo do homem morto, apontei para que ele pegasse as moedas no bolso e ele o fez. Realmente eram da Cidade Forte Reluzente, moedas que um homem comum nunca conseguiria juntar em vida.
_ O que ele disse? _perguntei entre dentes.
_ Mate o príncipe da Cidade Forte Marrom em sua volta para casa, antes que ele se torne rei. _ relembrou as palavras de Yohan.
_ Como soube meu paradeiro? _perguntei.
_ Esperei até que saísse da Cidade e o segui. _ confessou o homem.
_ Vamos deixá-lo vivo? _ perguntou o servo olhando para mim, ajoelhado perto do bandido.
_ Não se deixa bandido vivo. _ declarei empurrando sua espada para longe e ordenando ao servo que o matasse, ainda ouvi seus gritos de súplica quando subi na carruagem.
O servo amarrou o cavalo do primeiro homem que morreu, em nossa carruagem, e soltou os cavalos dos bandidos. Subiu na frente, onde antes ficavam dois servos, e bateu as redias para que os cavalos trotassem, levando o transporte.
Segui viagem com apenas um servo e ataduras amarradas em meus braços e pernas para estancar o sangue. Ainda bem que tinha mandado Milena na frente junto com Barnepe e pedi a ela que se hospedasse na cidade, aguardando meu retorno. A mulher gostava tanto de gritar que gritaria até que todos nós estivéssemos mortos.