Ponto de vista: Halan
Meu lobo já não governava mais meu corpo, fiquei os três dias restantes dentro da gaiola, por não ter tido liberação. Em alguns momentos achei que ele tomaria meu corpo mesmo de dia. O último dia foi o pior porque eu me sentia extremamente £xcitado e com raiva, ele rosnava em minha mente.
Por vezes jurei que ouvi sua voz, mas deveria ser ilusão do desejo extremo, eu fiquei febril e Milena chegou a implorar para que deixasse ela entrar e me montar. Foi uma tortura negar os pedidos de Milena, mas eu não queria outra e tinha que saber se eu era capaz de conter a fera. Saga não iria querer estar comigo nesses dias.
Quando consegui sair da gaiola, estava todo machucado e sangrando da transformação. Muito fraco e febril dos machucados. Era como se tivesse sido atropelado por cinquenta cavalos e por um milagre tivesse sobrevivido.
Milena cuidou dos meus ferimentos, podia ver nos olhos dela, ela se perguntando o motivo de não querer liberação, s£xo sempre ajudava.
Fiquei ainda mais um dia para organizar algumas coisas da minha partida. Não era uma simples viagem, eu estava indo para morar em outra cidade, deixando meu lar para trás.
Meus objetos pessoais foram embalados e enviados na frente. Toda a mobília necessária para minha comodidade, inclusive meus quadros favoritos.
Fui no joalheiro encomendar uma gargantilha, eu mesmo tinha desenhado, como a que dei durante o baile para ela. Ele não queria fabricá-la em tão pouco tempo, mas insisti.
Era de ouro e tinha pequenas safiras da cor dos seus olhos encrustada. Pediria que ela usasse no dia da cerimônia e ficasse só com ela na noite de núpcias. Não sei se teria coragem de me deitar com ela no primeiro dia de lua cheia, mesmo não me transformando, seria algo para quando ela tivesse mais experiência, se ela desejasse. Mas eu teria dez dias para consumar o casamento.
_ Vou sentir sua falta. _ disse minha irmã. _ Gosto do seu m@u humor pela manhã.
_ Os resmungos dele dá pra ouvir da vila. _ falou meu irmão caçula Márcio.
_ Provavelmente seja porque fica de bebedeira até tarde e no outro dia tem que acordar cedo para cumprir com seus deveres. _ concluiu Mouro.
_ Eu tenho insônia. _ comentei fazendo todos rirem.
_ Não sabia que mulher e conhaque tinham esse nome agora. _ brincou Márcio rindo.
_ Vou sentir a falta de vocês. _ comentei com sinceridade.
_ Vai vir para o enterro de meu marido? _ perguntou minha irmã Melane.
_ Aquele velho vai durar anos ainda. _ disse Mouro.
_ Os médicos discordam, falaram-me que ele não passa do próximo inverno. _ contestou Melane.
_ Disseram isso no verão passado. _lembrou Márcio.
_ Você poderá subir ao trono viúva? _ perguntei para ela.
_ Nosso pai ainda quer governar mais alguns anos antes de me ceder o trono. _ respondeu Melane.
_ Então você terá que se casar novamente antes que isso aconteça. _ disse Mouro.
_ Veja pelo lado bom, com Halan se casando, você é a próxima na linha de sucessão e terá que ter herdeiros. Não te empurrarão um velho incapaz de ... você sabe. _ concluiu Márcio.
_ Até hoje meu casamento não foi consumado. _ sussurrou Melane.
_ Cinco anos sem consumação? _ perguntei incrédulo.
_ Mas você teve provas, vestígios da noite de núpcias. _ lembrou Mouro.
_ Ele estava com uma unha encravada, pediu para eu desencravar, pois estava doendo muito e eu fiz, mas saiu muito sangue. _ revelou Melane.
_ Que cara nojento! _ exclamou Márcio.
_ Então está explicado o sangue. _ constatou Mouro.
_ Ele não tentou consumar o casamento durante esses cinco anos? _ perguntei achando ela muito sortuda de não ter que se deitar com um homem se desfazendo como aquele.
_ Ele tenta toda noite, fala que vai consumar, mas dorme enquanto penteio meus cabelos e eu penteio lentamente. _ contou Melane arrastando a palavra "lentamente". _ Quando acorda já pede seus remédios, pois as dores são mais fortes pela manhã.
_ Espero que ele realmente não passe desse inverno, você tem vinte e cinco anos, precisa começar a viver. _ desejou Márcio.
_ Se Halan subisse ao trono, eu ficaria aqui, enquanto não me fosse exigido um marido, pois preferiria ir para um convento a ter que me deitar com alguém que não desejo. _ falou Melane com pesar.
_ Quero muito que você se case com alguém do teu desejo. _ apontei.
_ Você deseja ela ? _perguntou Melane para mim.
_ Como nunca desejei outra. _ respondi sem pensar.
_ Ela realmente é uma bruxa. Prendeu você nas patas do dragão. _ brincou Márcio.
_ Ela também é uma das mulheres mais bela que já vi, você tem razão de estar impressionado. _ expôs Mouro.
_ Muito linda de tudo, mas tem uma personalidade muito forte que pode ser um problema. Vou estar sossegado só depois de consumar o casamento. _ respondi lembrando daqueles olhos azuis de desejo.
_ O que não vai ser um problema para você. _ riu Márcio.
_ Com certeza não! _ respondi rindo mais ainda.
_ Gostam de brincar com a infelicidade do outro. _ brincou Melane, se fazendo de afetada, e jogando a almofada do sofá em mim.
_ Você já conhece a família dela? _ perguntou Mouro.
_ Só a irmã caçula, Ane. _ respondi.
_ Não sabia que papai era amigo de Auro. _ comentou Mouro.
_ Também não sabia. Não lembro dele frequentando a Cidade Forte Vermelha. _ concordei.
_ Um contrato desse tipo vai além de interesses políticos e comerciais. _ completou Mouro.
_ Eles reconheceram a letra e realmente é a letra dele, talvez seja uma dívida de vida. _ cogitei.
_ Nosso pai viaja muito, talvez uma história de estrada que nunca foi contada, as razões dele faz sentido. _ comentou Melane.
_ Irão para o meu casamento? _ perguntei mudando de assunto.
_ Chegaremos no dia e partiremos assim que a cerimônia acabar. _ respondeu Melane.
_ Gostaria de ficar para ver você expor os vestígios da noite de núpcias, mas acharam melhor assim. _ manifestou Márcio.
_ Quem achou? _ perguntei.
_ Uma mulher foi morta embaixo do nariz da rainha. A Cidade Vermelha não é segura e não podemos arriscar. _ respondeu Melane.
_ Muitos irão se recusar a voltar para o seu casamento. _ completou Mouro. _ Estão com medo, pois foi dentro do palácio.
_ Tudo bem! Que estejam lá para a cerimônia, já agradeço. _ concluí.
_ Meu irmão mais bonito vai se casar! _ exclamou Milena com felicidade. _ Esse dia chegou.
_ Temos que ir para fechar a porta quando você passar, só para o caso de tentar achar uma saída. _ gracejou Mouro.
_ Mas sempre terá um irmão com uma corda e uma carroça de fulga, caso seja requerido. _ contrapôs Márcio fazendo todos rirem.
_ Dessa não irei fugir não. _ comentei ainda rindo.
_ Cuidado irmão, desse jeito vamos achar que está apaixonado. _ divertiu-se Márcio.
Senti uma ansiedade para estar com ela que nunca senti por ninguém, será que era paixão. Sentimentos são difíceis de identificar, eu conhecia o amor através de minha família. Conhecia a raiva e ódio através de minha maldição, mas esse sentimento que surgia era difícil de saber o que era.
Mas uma coisa era certa, eu queria tê-la embaixo de mim, g£mendo meu nome até perder a consciência. Queria vê-la se contorcer, pedindo mais e implorando para que eu não parasse.
Poderia não ser amor ou paixão, mas os deuses sabiam como eu a desejava. Era capaz de segurar minha liberação para estar com ela.
Minhas coisas já haviam sido enviadas, partiria no dia seguinte pela manhã. Deixaria o lar que nasci e vivi durante vinte três anos de minha vida.
Dentro de três dias estaria de frente para a Rainha Dragão. Diziam até que ela cuspia fogo, mas a única certeza que eu tinha era a de que ela pegaria fogo.