Ponto de Vista: Saga
Entramos na igreja, fomos recebidos e guiados pelos cerimonialistas para sentar em um local de evidência. Uma parte mais alta ao lado do altar, onde todos poderiam nos ver.
A igreja era imensa e muito luxuosa, com ouro e pedrarias talhadas em locais específicos. Qualquer um ficava deslumbrado dentro daquelas paredes milenares. Eu não me sentia confortável dentro da casa dos deuses e tentei esconder um pouco meu nervosismo.
Seria o primeiro casamento em que a rainha estava participando, todos se esgueiravam pela porta da igreja para ver a rainha e o noivo. Nobres dentro, convidados pelo conselho e alguns plebeus, convidados do casal.
Sentei-me e olhei para Halan. Ele parecia ter nascido para isso com seu sorriso conquistador e postura relaxada. As mulheres cutucavam umas as outras falando dele, seus olhares de admiração e desejo entregavam o assunto.
Nossa cidade forte era famosa pelas mulheres belas, mas a maioria dos homens deixava a desejar, então ele era um colírio para as vistas cansadas das senhoras.
O príncipe era bastante ciente de sua beleza e do efeito que causava nas mulheres. Ele se divertia quando me pegava olhando para ele, e se enchia de arrogância, quando me desafiava.
O noivo que iria se casar era bonito, alto e forte, mas sua seriedade indicava que estava indo para a forca e não para a noite de núpcias. Ele estava com um traje elegante com as cores de nossa cidade forte, em seu ombro haviam ombreiras, com escamas que indicavam ser militar
As mulheres se dividiam entre olhar o cavaleiro prestes a ser "enforcado" pela noiva ou o príncipe que de sorriso sarcástico.
_ Tem certeza que sua ordem foi para que eles se casassem? _ perguntou Halan baixinho.
_ Tenho sim, por quê?
_ Porque tenho a impressão que entrará uma guilhotina a qualquer momento e cortará sua cabeça. Veja a expressão dele, está indo para a morte. _ brincou o príncipe apontando o que eu já havia percebido.
_ Creio que para ele é o mesmo. _ respondi com pesar.
_ Ele é casto? _ perguntou Halan com curiosidade.
_ A mãe dele vivia doente até que um dia se foi, e dizem que o pai dele morreu de tristeza, mas até hoje não sabemos o que realmente aconteceu. _ respondi lembrando de todo sofrimento de sua família.
_ Sabe o motivo da doença? _ perguntou Halan.
_ Meu pai chamou vários curandeiros de diferentes reinos. Alguns nomearam de tristeza profunda e outros de coração partido. _ respondi.
_ Uma doença da alma. _ constatou Halan.
_ Sim! Apesar de seu pai ser devoto a ela, ela não se casou por amor. _ expliquei.
_ Nem todos casamento arranjado é r**m, se as partes estiverem abertas para um envolvimento emocional maior. _ declarou o príncipe para mim.
_ Quando você fala em envolvimento maior quer dizer colocar em um contrato que vai ter amantes? Ou é a parte de trazer uma amante para dentro da casa da noiva? _ perguntei secamente.
_ Voltamos a esse assunto? Não já estava resolvido? _perguntou ele aborrecido.
_ Nada está resolvido. _ falei o encarando. _ Até que eu suba naquele altar e diga sim, eu posso mudar de decisão e ninguém vai me impedir.
_ Saga, não fui eu que te prendi a mim, foi seu pai. _ argumentou Halan.
_ Algo que não deveria ter sido feito sem o meu consentimento. _ rebati.
_ Eu te prometo que tudo que farei com você será com o seu consentimento. _ prometeu Halan com voz áspera e baixa.
Senti meu corpo me trair com sua voz profunda e promessa indecorosa. Ele sabia exatamente o que falar para me distrair e enviar fagulhas por todo meu corpo.
Ajeitei-me na cadeira e esperei a entrada da noiva. As trombetas já estavam tocando para indicar que ela se aproximava. Os convidados esticavam os pescoços para a entrada, esperando para vê-la passar. Quando ela apontou da entrada da porta, todos se levantaram para recebê-la, inclusive eu.
Olhei para Nicholas, mas não tinha o menor sinal de emoção em seu rosto. O menino que eu havia conhecido estava escondido em algum lugar, e o soldado cavaleiresco tomava o seu lugar.
Pedi aos deuses, que eles fossem felizes e soubessem buscar a felicidade um no outro. Que os dois soubessem administrar essa situação da melhor forma possível.
Ela entrou com um vestido longo com mangas lisas até os cotovelos. Um decote fundo com bordado vazado na beira, subia acompanhando o tecido liso. O tecido liso cobria seus ombros e o bordado continuava pelas laterais de seu pescoço. A costureira tinha feito um vestido belíssimo como havia prometido, digno de aplausos e a noiva era compatível com tal beleza.
Seu cabelo estava preso em um penteado cheio de pequenos cristais brilhantes e o véu era apenas um enfeite abaixo do penteado. Ela estava linda e eu no lugar de Nicholas até desaprenderia a respirar.
Lara caminhou corajosa em direção ao altar, com o queixo levantado em um doce desafio e Nicholas a esperava com a mesma seriedade já notada. Todos comentavam o quanto ela era bela, e o quanto o cavaleiro tinha sorte. Mas os elogios pareciam imperceptíveis pelo ouvido do noivo.
Vi quando ela olhou em seus olhos procurando, talvez empatia por estar na mesma situação que ela, mas sua frieza me congelava daqui.
Ela olhou para a saída e por um segundo pensei que ela correria em direção às portas, mas ela respirou fundo e se virou para o representante religioso continuar.
A cerimônia durou uma hora, com o representante da igreja falando sobre a importância do casamento. Orientando sobre o emocional e a importância da fidelidade e lealdade ser mantida. Muitos que estavam sentados ali via como uma babozeir@, pois a maioria dos nobres não seguiam o que era dito ali.
Nicholas continuava sério olhando para frente e Lara olhou para ele algumas vezes durante a cerimônia. Ele estava como um soldado analisando o campo de batalha e ela toda amorosa tentando lidar com tudo.
_ Será que serão felizes? _ perguntei em voz alta com um suspiro e recebi apenas uma olhada de canto de olho de Halan.
_ Pelos deuses e a rainha aqui presente, eu os declarou marido e mulher. _ concluiu o religioso amarrando uma fita ao redor de suas mãos juntas.
Uma lágrima escorreu do rosto de Lara e tive mais pena ainda de minha amiga. Era uma situação que não desejava colocá-la, mas não tive outra escolha. Ela gostava dele, mas ele não revelava seus sentimentos.
O religioso colocou uma taça com vinho entre suas mãos unidas e eles beberam com um pouco de dificuldade. Primeiro Lara bebeu e depois Nicholas. O representante tirou a taça de suas mãos.
_ Casamento não é um caminho fácil, principalmente quando as duas mãos estão unidas em uma só, tenham força de vontade para que consigam juntos beberem da felicidade conjugal. _ disse o representante apertando suas mãos juntas.
_ Com a nossa benção, podem ir consumar o casamento. _ todos falavam isso, mas era sabido que aconteceria uma festa antes do momento tão esperado chegar.
Eles se viraram com Lara rodando ao redor dele, para não desfazer o laço em suas mãos e atravessaram juntos o caminho da igreja. Ele bem maior que ela e ela acovardada com sua frieza, seus ombros encolhidos como se carregasse toda a culpa da situação.
_ Sempre me emociono em casamentos. _ brincou Halan rindo e percebi que eu estava chorando também.
Enxuguei minha lágrima empática que caiu junto com a dela e olhei para meus dedos molhados. Não lembrava a última vez que havia chorado, eu não era uma mulher de chorar, era uma mulher de gritar e arremessar objetos.
_ Que os deuses dêem forças a ela para suportar essa nova fase. _ desejei de coração.
_ Daqui a pouco vamos ver ela com um barrigão e uma criança remelenta correndo por aí. _ disse o príncipe.
_ Acredita mesmo nisso? _ perguntei me apegando à esperança.
_ Nenhum homem resiste a noite de núpcias. _ respondeu Halan olhando nos meus olhos.
_ E as traições e amantes chegam em qual parte? _perguntei olhando para os dois, mas duvidando que Nicholas fosse capaz disso.
Halan não respondeu, apenas olhou para os dois assim como eu. Ele pegou a minha mão e beijou meus dedos, fazendo as mulheres, que estavam nos observando, soltarem suspiros.
_ Metade da cidade já gosta de você, pelo menos a metade feminina. _ brinquei observando as reações das mulheres da corte.
_ Sinto pena delas, eu só tenho olhos para uma. _ respondeu ele passando o polegar sobre os meus dedos.
_ Vamos? _perguntei já andando.
Eu não iria cair em seus feitiço. Ele trouxe uma amante para debaixo do meu teto e eu não era a noivinha passiva que ele estava esperando. Eu pegava fogo quando ele me tocava? pegava, mas eu sabia brincar com fogo.
_ Está pensando em um jeito de arrancar minha cabeça antes do casamento? _ perguntou Halan examinando minhas feições.
_ Quase isso! _ respondi fazendo-o rir.
_ Por favor! Só me mate depois da noite de núpcias. _ pediu o príncipe para mim.
_ Por quê? _ perguntei achando graça de seu pedido.
_ Para que eu morra feliz, é óbvio. _ respondeu ele protegendo-me junto com os guardas.
Uma multidão esperava do lado de fora e os soldados tentavam contê-los a todo custo. Éramos empurrados de um lado para o outro com os soldados fazendo uma barreira.
Senti o momento em que minha pele foi rasgada na lateral de meu umbigo. Uma lança foi enfiada, consegui segurá-la antes que fosse puxada de volta.
_ A rainha está ferida. _ gritou um soldado segurando a lança.
Eu vi o homem sorridente que tinha me empalado olhando para mim, um soldado o segurou por trás o imobilizando. Ele continuava rindo e olhando para mim. A população começou a ficar dividida entre mim e o homem, tentando arrancá-lo das mãos dos soldados.
_ Tenham misericórdia da rainha. _ gritou uma mulher.
_ Salvem a rainha! _ gritou outra mulher.
_ Deixem que ela passe, pelos deuses, afastem-se. _gritou um homem.
_ Nossa rainha está ferida. _ ouvi outros gritos de pavor.
_ Não! _ gritou Halan antes que o soldado puxasse a lança. _ Ela vai sangrar até a morte.
Eu já havia me ferido em batalha antes, mas não de uma maneira tão covarde com meu inimigo espreitando nas sombras. Combate cara a cara era honrado e digno para os cavaleiros, uma morte limpa tanto para que morre quanto para quem mata.
Halan tirou sua espada e quebrou a lança, deixando ela dentro de mim. Eles abriram caminho com força e a população cedeu esperando represálias pelo ocorrido. Entrei na carruagem com a lança enfiada em meu corpo e Halan do meu lado.
_ Cancelem o almoço, mandem todos para casa e chamem os curandeiros. _ gritou Halan para os servos e soldados antes da carruagem ser fechada.