Ponto de Vista: Saga
Alguns dias se passaram e finalmente a semana do baile havia começado. Eu estava cansada de ter que preparar tudo ou ser consultada de tudo, que não percebi as primeiras horas da manhã passarem. A governanta solicitou aos servos, que não me acordassem para que eu pudesse descansar enquanto os primeiros convidados estavam chegando e se acomodando. Foi um presente bem vindo essas horas a mais de sono. O que me fez lembrar do presente que eu deveria aceitar, será que era uma jóia? Dificilmente eu recusaria uma jóia.
Um grupo de servas entraram no quarto trazendo um vestido cobre de cintura alta com um decote profundo. Apesar de parecer simples, seu brilho deixava claro a qualidade do vestido. Seu decote em formato de triângulo invertido deixava parte dos meus ombros à mostra e muito do meio dos meus s£ios também. Uma capa presa no meu pescoço com um feche de dragão, puxava-me para trás me mantendo reta, a capa tinha pequenas escamas da cor cobre espalhadas por todo o tecido.
A cabeleireira fez um penteado com tranças entrelaçadas e fios soltos, parecia que eu tinha acabado de descer escalando, uma torre mágica onde estava presa.
Desci os andares e fui para o salão principal onde estavam servindo um café da manhã tardío para os convidados que estavam chegando.
_ Eu aposto que ela é horrorosa. _ comentou uma voz vinda do salão.
_ Deve ter algum motivo para chamá-lá de Rainha do dragão, ela deve ser feio que nem o próprio. _ comentou outra voz jovial masculina.
Propositalmente dei permissão para que o guarda do salão principal me anunciasse. Nunca gostei de ser anunciada ao entrar no salão principal, permitia apenas em reuniões e ocasiões festivas onde poderia encontrar pessoas de fora do palácio.
_ A Rainha Vermelha Saga, Senhora da Cidade Forte Vermelha. _ entrei no salão observando os príncipes e princesas fazendo reverências sutis, enquanto os servos e guardas praticamente tocavam o chão ao dobrar o corpo.
Propositalmente passei ao lado dos dois príncipes jovens que pareciam desconcertados com a minha presença. Olhei de canto de olho para observar os jovens, que teriam na faixa de quinze anos e ainda tinham sinais da puberdade por todo o rosto.
A mesa da Rainha já estava preenchida com os membros do conselho. Ao lado esquerdo estava o velho Onto que representava os viúvos e nobres, ao seu lado estava Camim, integrante escolhido pelo meu pai, ele era a voz dos jovens em época de estudos e crianças. Eron era o representante dos comerciantes e estava sentado ao lado de Camim. A cadeira ao lado de Camim estava vazia que era para o representante das festividades sentar, mas o último morreu no mesmo ano que meu pai e não nomeei outro. Minha madrasta sentava na ponta, fechando assim as cinco cadeiras do lado esquerdo.
Do lado direito sentava Lírio que por vezes dava o lugar para Ane e sentava na cadeira vazia ao seu lado, que era para o chefe da guarda real sentar, representando assim os soldados, mas esse cargo estava vazio desde a morte do último. Na terceira cadeira do lado direito sentava Puridino, o representante esquelético dos servos e trabalhadores desfavorecidos, ele era muito religioso e vivia jejuando, o que muito me admirava que ele ainda andasse. Ao seu lado sentava Pamelo, que era o conselheiro encarregado da alimentação, dos gráficos alimentícios e que controlava as reservas para não faltar em épocas de seca. A quinta cadeira sentava Carlos, representante da economia, irmão de Camim, ele que liberava o orçamento e aconselhava os gastos.
Sentei-me em minha cadeira e analisei os convidados que haviam chegado. Jovens bem mais novos do que o esperado por mim, mas talvez o Conselho não esteja ligando muito para isso.
_ Aconselho a observar de perto o nobre Ramos, ele tem uma casa de muita riqueza e muitos bastardos, o que significa que sua semente é muito mais do que eficiente. _ disse Onto, sentado ao meu lado esquerdo, apontando para um senhor baixinho e gordinho se deliciando com um pedaço de torta.
_ O nobre Ramos tem tantas mulheres que acho improvável que ele ainda tenha riquezas, ouvi dizer que estava vendendo algumas de suas terras. _ retrucou Camim ao lado de Onto. _ Não sei quem o colocou na lista, pois esperava apenas nobres solteiros.
_ Gostei do nobre vestido de amarelo, quem é? _perguntou Lírio, sentada do meu lado direito.
Observei o homem alto e forte com uma mulher pendurada apaixonadamente em seu braço. Ela parecia encantada com cada palavra que saía da boca do homem.
_ Aquele é o Rei da Cidade Forte Marrom, ele trouxe seus três filhos homens, inclusive o mais velho. _ revelou Camim me olhando de forma estranha.
A mulher loira de cabelos soltos usava coroa e não parecia preocupada com os penteados complexos que as outras mulheres usavam, seu vestido também era bem simples. O Rei não usava coroa e era um dos homens mais altos presentes no salão, sua altura e força poderia ser confundida com a de um soldado.
_ Agora ficou interessante, dizem que ele é tão bonito que deixa qualquer mulher molhada quando passa. _ comentou Lírio, sobre o filho mais velho, me fazendo corar. Eu poderia ser virgem, mas sabia o que significava ficar molhada perto de um homem, mesmo sem nunca ter ficado.
_ Ele é diferente dos irmãos, isso com certeza é bem nítido. _ disse Camim olhando para o casal.
_ É verdade o que dizem ? Onde estão seus filhos? _ perguntei examinando o salão, mas sem encontrar alguém digno das mulheres se jogarem por seu caminho.
_ Estão pelos bordéis da cidade, não se deram o trabalho nem de passar pela entrada do palácio. _ respondeu Eron. _ Viris com certeza são.
_ Amanhã levarei meu relatório e pode ter certeza que terá um parágrafo sobre esse príncipe. _ sussurrou Lírio para mim.
Eu não estava procurando beleza, mas com certeza o peso do casamento ficaria mais leve ao me deitar com alguém belo. Alguém belo, passivo e humano, lobisomens eram criaturas de sangue frio e nojentos, banidos de vários reinos.
Os lobisomens vagavam pelas estradas a procura de oportunidade, de derramamento de sangue ou deflorar mulheres desavisadas. Eram incontroláveis durante a lua cheia e poderiam matar até mesmo um irmão, a amada, sua própria mãe, quando a lua brilhava no ceu. Um príncipe de linhagem desconhecida não poderia se sentar ao meu lado.
_ São todos feios. _ comentou Ane atrás de minha cadeira, onde não conseguia vê-lá. _ Melhor esperar mais, vai que aparece alguém mais bonito.
_ Você tem seis anos Ane, não deveria estar falando essas coisas. _ repreendi chamando-a com a mão.
_ Daqui a pouco faço sete, no mesmo mês que você. _ comentou a menina loira de olhos castanhos, fingindo estar emburrada.
_ Amo seus cabelos, me lembram o papai, quem os penteou hoje ? _ passei a mão por seus cachos observando as flores presas que combinavam com seu vestido branco.
_ Foi a serva, mamãe estava ocupada. Não gostei do seu vestido. _ apontou Ane. _ Prefiro os matinais.
_ É só durante essa semana, depois volto a me vestir com flores como você. _ tranquilizei, Ane.
Passei o dia distribuindo sorrisos, sendo acompanhada por príncipes e nobres mais novos ou da mesma idade que eu. Jovens que mediam meu corpo e gaguejavam ao falar comigo, empolgados com a chance de se tornarem reis, mesmo que seja Reis Consorte. Recebi alguns presentes e aceitei todos, nenhum que eu tivesse vontade de rejeitar.
_ Majestade, aceite esse presente como forma de agradecimento por uma recepção tão calorosa. _ disse o Rei da Cidade Forte Marrom me entregando uma caixa de veludo mostarda.
O servo que me acompanhava pegou abrindo para mim, dentro tinha um colar em citrinos conhaque que era uma das jóias mais lindas que já vi. Prendi a respiração com o colar prata de complexos desenhos tribais adornados de citrinos.
_ É muito lindo! Obrigada. O senhor trouxe seus filhos, mas ainda não os conheci. _ falei deixando o Rei um pouco desconcertado.
_ Eles estão conhecendo a cidade, parece uma cidade encantadora, creio que estarão aqui para o jantar. _ amenizou a rainha. _ Meu nome é Holana, disse ela fazendo uma reverência sutil.
_ Creio que minha cidade é muito bonita e as mulheres mais lindas ainda. _ comentei com um sorriso debochado. _Seja bem vinda, Holana.
_ O colar foi escolhido pessoalmente pelo meu filho mais velho, Halan. Não é o meu gosto, mas parece que ele acertou o seu. _ declarou Holana me fazendo olhar novamente para a peça.
_ Ele conhece jóias ? _ perguntei fingindo interesse e já voltando minha atenção para outro grupo de convidados chegando.
_ Ele conhece o gosto das mulheres. _ comentou a rainha rindo.
_ Ele tem vinte e três anos, sabe o que as mulheres de sua idade gostam. _ comentou o Rei forçando um sorriso, ainda embaraçado pela ausência dos filhos.
_ Com sua licença. _ sinalizei para o servo levar o presente e colocar com os outros.
A noite me recolhi cedo e não participei do jantar, provavelmente não teria diferença dos participantes. Outros chegariam no dia seguinte e talvez as coisas fossem diferentes.
Rodei na cama e não consegui dormir, talvez por ter me deitado muito cedo. Busquei uma capa grossa, coloquei por cima de minha camisola fina e curta, estava com fome e decidir ir na cozinha pegar algo, algum servo estaria acordado com tanta gente no castelo.
Olhei minha imagem no espelho, antes de sair, não dava para ver a camisola e o capuz da capa escondia parcialmente meu rosto. Usei a passagem atrás da cabeceira da cama. Poucos conheciam as passagens do interior do palácio e eu poderia me mover de forma segura por dentro das paredes.
Desci algumas escadas internas, o segundo e primeiro andar estavam prontos para receber os convidados. Ouvi gemidos em um dos corredores, falei para mim mesma que isso não era da minha conta e que tinha que continuar descendo, mas a curiosidade me fez parar por alguns segundos, quando ouvi a voz de Holana. Ela gemia e pedia pra ele bater na serva.
Não consegui evitar e segui o corredor parando em um ponto de observação, não sabia quem tinha criado, mas alguns quartos do palácio poderiam ser espionados pelos corredores interno.
Holana estava apenas de calcinha com sua mão dentro dela, olhando diretamente para a cama com seus cabelos loiros cobrindo os s£ios. Marco, o Rei da Cidade Forte Marrom, estava atrás de uma serva que rebolava a cada estocada que ele dava e pedia para bater em sua bund@. Ele passou a mão em seus cabelos loiros escuros tirando-os da testa enquanto olhava para sua esposa.
Eu já tinha visto demais, e silenciosamente me afastei da parede tentando seguir meu caminho, mas fui impedida ao me bater em uma parede solida de músculos e carne, dentro do corredor apertado e escuro.
_ Encontrou algo interessante? _ perguntou uma voz profunda acima de mim. Seu divertimento era nítido em sua voz, mas eu não poderia levantar meu rosto para saber quem era, pois o meu seria revelado.