Preparativos para o Baile

1876 Words
Ponto de Vista: Saga Fui acordada na manhã seguinte pela costureira real com tecidos e mais tecidos, babados de todas as cores e rendas de todos os formatos para confeccionar os vestidos da semana do baile. Os convidados chegarão no início da semana e o baile será no final da semana, todos irão desfrutar da "hospitalidade" da Cidade Forte Vermelha por dias. A costureira a princípio veio com a sugestão de fazer os vestidos com peles de lobos, nossos inimigos jurados, mas recusei a ideia, mesmo passando uma imagem de que a rainha estava acima dos lobisomens. Concordamos em vestidos de tons escuros para contrastar com meu tom de pele e passar uma sensação de poder. Decotes profundos, tons escuros de vermelho e azul com bordados dourados, pedrarias e jóias que lembravam escamas de dragões, sete vestidos que não deixariam ninguém esquecer que eu era a rainha marcada pelo dragão. A cabeleireira ouviu com atenção e começou a desenhar os esboços dos penteados que acompanhariam os vestidos, ela queria algo mais natural e selvagem já que eu era chamada de Rainha do dragão além dos muros dos castelos. Uma garota que se tornou Rainha e quase beija a morte ao ser marcada pelo dragão, alguns boatos dizem que passei um dia conversando com o dragão, mas só eu sabia o que aconteceu naquele dia. A costureira tirou minhas medidas novamente e reclamou, pois eu estava sempre emagrecendo e engordando, que nunca tinha medidas de parâmetros para mim. Ela me fez corar ao falar que prepararia um baú com novas lingeries para serem tiradas e rasgadas, todas as mulheres da sala riram, menos a Rainha que se sentia indo para a forca. Tive novas reuniões com o Conselho para deliberar afazeres durante a semana do baile. Juntos montamos vários eventos e passeios para manter as pessoas ocupadas, muitos aconteceriam ao mesmo tempo para dividi-los em grupos, mas sabíamos que planejar é diferente de colocar em prática e poderia ocorrer das coisas fugirem um pouco do nosso controle, o que não me agradava nenhum pouco. Reforcei nossas defesas e criei, com o chefe da guarda externa, roteiros de patrulhas e pontos que precisavam de atenção extra. Convoquei uma nova turma de guardas que só iriam se formar daqui a dois meses, mas que era evidente a necessidade deles na semana do baile. Montei com Lírio, a integrante do Conselho que representa as prostitutas, um esquema para manter os bordéis e casas de shows seguras. Mantendo convidados rivais longe uns dos outros. Algumas Cidades Fortes tinham questões delicadas, umas com as outras e evitavam estarem no mesmo ambiente. Vingança e pequenos atritos era algo oportuno para muito deles, que só esperavam o momento certo de soltar suas farpas. A Cidade Forte Muralha teve uma rainha "roubada" por um príncipe da Cidade Forte Ensolarada, mas dizem que os gritos e gemidos de prazer da rainha falam para quem quer ouvir que ela foi por vontade própria. Lírio com seus brilhantes olhos amarelos conseguia passar por uma mulher comum e ingênua. Ela foi trabalhadora de muitos bordéis até conseguir influência suficiente para ser requisitada pela Corte e virar integrante do Conselho de meu pai e posteriormente do meu. Por volta dos quarenta anos, ela era conhecida e respeitada por toda a cidade. As mães escondiam suas filhas e os pais apontavam seus filhos mostrando Lírio passando, mas todos admitiam que uma garota pobre e sem família, era bastante esforçada para conseguir chegar a ser requisitada como um nobre, todos sabiam que ela tinha seu valor. Observei meu café da manhã frio, já estava próximo do almoço e eu ainda não tinha conseguido comer. _ Majestade, já enviamos os primeiros convites para o baile. _ disse o mensageiro do Conselho entrando no quarto e fazendo uma reverência muito baixa. _ Os burburinhos já estão a todo vapor na cidade e todos querem saber quem de Vermelha será convidado. Olhei para a janela do palácio que ficava ao lado da mesinha em que estava meu café da manhã. Sempre gostei de tomar o desjejum em meu quarto, olhando para a minha cidade e imaginando a vida dos meus súditos. Daqui de cima dava para ver o topo das casas e árvores que davam sombra as ruas. Não dava para ver e nem ouvir as pessoas, mas durante minhas idas ao centro, gostava bastante daquele emaranhado de vozes e cores. _ Avise ao jornaleiro para colocar no boletim que amanhã a noite será divulgada a lista e alguns plebeus estarão nela. _ ordenei ao jovem algo que não foi combinado pelo Conselho, mas que estava na minha mente há alguns dias. _ Sim, Majestade! Com sua licença! _ fez novamente outra reverência e pela sua túnica desgastada de gola folgada, pude ver seu peito marcado com pequenos cortes ainda vermelhos. _ O que foi isso em seu peito? _ perguntei deixando o rapaz sobressaltado. _ Isso foi... foi. _ ele iria mentir pelo nervosismo que percebi em seus gestos. _ Uma aventura com uma senhora, mas não posso revelar qual senhora pelo bem da mesma. _ Peça para que dá próxima vez seja mais discreta, não queremos servos da Corte sendo vítimas de fofocas malicios@s. _ falei corando levemente. _ Sim, Majestade! Com sua licença. _repetiu novamente sem se curvar tanto. _ Antes de ir, entregue um bilhete a costureira do palácio por favor. _ fiz rapidamente um bilhete solicitando pelo menos três túnicas novas para cada servo do palácio e solicitando o descarte de três túnicas velhas de cada um. Não poderia deixar os convidados verem meus servos m@l vestidos, pensariam que meus cofres estão vazios e isso poderia ser até motivo de um ataque já que cidades sem dinheiro não conseguiam manter tropas. _ Entregarei imediatamente, Majestade! _ disse o jovem pegando o bilhete. _ Pode ir! _ Liberei o rapaz lembrando depois de sua saída que ele estava auxiliando Onto em alguns manuscritos. Onto não tem mais esposa, será que poderia ser uma neta ou bisneta ? Isso não é da minha conta, voltei ao meu café da manhã corando. Fui ao salão de baile que também era o salão principal, em uma plataforma um pouco mais alta ficava uma mesa com doze lugares de encosto em veludo vermelho bordado com linha dourada, os dois lugares no centro da mesa com encosto alto era o do Rei e Rainha, os mais altos e mais decorados, para ficar em evidência onde deveriam se sentar. Atualmente minha madrasta sentava em uma das cadeiras da ponta, bem longe de mim e os membros do Conselho preenchiam as outras cadeiras até que eu tivesse uma família para colocar em lugar de destaque. Meus meio-irmãos não faziam questão de sentar próximo de mim. Minha madrasta Amanda fez questão de envenená-los contra mim, como se eu, a irmã mais velha, estivesse roubando algo deles. Apenas Ane sentava na mesa às vezes, sem autorização da mãe, com seus seis anos ela ainda não havia passado pelo teste do dragão, mas era meu dragãozinho preferido. Sentei na cadeira do Rei, a cadeira em que meu pai se sentou durante anos de sua vida e eu fazia questão de sentar no mesmo lugar para que todos se lembrassem de quem havia me colocado ali. Senti o toque macio do veludo no topo de minhas costas e me lembrei de Nico, meu melhor amigo de infância. O menino magricela mais velho dois anos do que eu, era filho do chefe da guarda real e por isso vivia se esgueirando pelo castelo quando seu pai não tinha outra alternativa se não levá-lo. Nico duvidou que eu tivesse coragem de sentar na cadeira do meu pai com ele no salão e eu medrosamente aceitei o desafio. Ninguém podia sentar na cadeira do Rei, só o Rei. Tremendo e me forçando a levantar de meu esconderijo, agachei e andei por trás dos móveis e da grandiosa mesa. Estava pálida e suada quando me sentei na cadeira e Nico a empurrou para frente me prendendo nela, com o pavor não lembrei de escorregar pela frente da cadeira para debaixo da mesa. O som fez todos do salão olharem para mim e pude ver servos horrorizados colocando a mão na boca, mas foi a risada de meu pai que chamou mais atenção, ele ria a gargalhadas. _ Você combina com essa cadeira, Saga. Pode sair daí Nico, vejo seus pés grandes daqui. _ disse meu pai ainda rindo. Saí o mais nervosamente possível, ainda sendo encarada com olhares de repreensão pelos servos que levavam muito a sério as regras do palácio. Nico por outro lado, ainda ficou plantado no lugar em que estava com medo do meu pai. Auro tinha grandes olhos azuis, bondosos, ele me pegou no colo quando pulei para fora da plataforma e me encheu de beijos carinhosos. _ Você é esperta como sua mãe. Não se esconda mais minha Rainha, com esses cabelos negros você nasceu para governar Reis como sua mãe. _ disse meu pai estendendo o braço para segurar Nico também. _ Perdão, Majestade! Minha esposa continua doente, não tive outra alternativa. _ se desculpou o chefe da guarda real. _ Não tem problemas! Deixe Nico acompanhar Saga em suas aulas hoje, talvez assim ela consiga assistir todas. _ ordenou meu pai rindo e passando as mãos pelos meus cabelos. O organizador de eventos me tirou de suas lembranças fazendo uma reverência exagerada na minha frente. _ Temos que escolher tudo Majestade! O último baile que a Cidade Vermelha viu foi o de sua coroação, temos que mostrar que nossos cofres estão cheios. Pena que me deram tão pouco tempo, mas faremos o possível com o que foi nos dado. Trouxe as cartilhas para vossa escolha. _ disse o senhor de cabelos loiros compridos, cacheados como a última moda das ladys da Corte. _ Eu confio em você Álvaro. Sempre fez um excelente trabalho e tenho certeza que irá me surpreender de maneira positiva. _ falei não tendo a menor vontade de passar o dia escolhendo cores que aos meus olhos eram praticamente iguais. _ Sim, Majestade! Vamos começar, queridos. _ ordenou Álvaro batendo palmas e instruindo os servos a se mexerem. Continuei sentada na cadeira e pedi a uma serva para me trazer um chá, enquanto tecidos, papéis e pó colorido voavam pelo salão com as habilidades dos presentes. O chá de folha de goiabeira esfriou intocável enquanto a Rainha provava alguns doces, salgados e caldos para o baile. No meio disso tudo estava gostando que pelo menos estava me alimentando, o que geralmente não fazia em dias atarefados. Mais convites foram enviados e só restava agora esperar pelas respostas ou pela presença. Algumas Cidades Fortes eram tão longe que quando o convite chegasse lá, só daria tempo deles fazerem os preparativos e virem, capaz ainda de chegarem no final da semana apenas para o baile. Um baile de "acasalamento", espero que esse baile possa trazer alguns finais felizes além de minha tristeza. Fiz uma nota mental para pedir a Lara para tomar conhecimento da lista de convidados e me avisar dos perfis, ela amaria ser a casamenteira e eu precisava de um Rei Consorte obediente que tivesse outros hobbies e não tentasse se meter em assuntos do reino.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD