Eu fiquei implorando, gritando a plenos pulmões o quanto eu precisava de pelo menos um maldito copo de água.
Eles estavam me ignorando, então eu me deitei no chão da cela e desisti, talvez a desidratação pudesse me matar antes da vergonha que eu sentia de ter feito o que fiz, e ter acabado do jeito que eu acabei.
- Moça... - disse um deles, e eu me ergui na penumbra que era aquela cela, e como o esperado, era o motorista. - Um pouco de água... e toma rápido, se o meu companheiro volta e me vê sendo legal com você eu vou tomar no cu! - me entregou uma pequena caneca com um pouco de água, plástico é claro, todo cuidado com um Grecco era pouco. Mas não para mim, a filha da p**a mais mimada de toda a Espanha.
- Obrigada... meu Deus... muito obrigada mesmo... - ele pegou o copo da minha mão, me ofereceu um sorriso caloroso que parecia não combinar com aquele lugar fedorento, escuro e horrível.
Virou as costas e eu o chamei novamente, precisava de algumas informações, mesmo que fossem poucas ou m*l contadas - Ei, por favor... qual o seu nome?
Voltou a mim e me olhou com desdém - Ah meu Deus, uma pergunta idiota... você não me diria o seu nome... O que vocês pretendem comigo?
- Moça, eu não pretendo nada, e por mim, eu teria soltado você no meio da droga da floresta, me sentiria melhor sabendo que não matei uma garota tão nova!
- Você tem que me matar, é isso? - engoli seco.
- Não, eu não sei bem, só temos que manter você aqui presa tá entendendo? não contam planos para burros de carga, talvez o Thomáz possa te responder! - ele bateu a mão no rosto se repreendendo - p***a, e eu ainda entrego o nome do cara, é de f***r mesmo!
- Você sabe quem eu sou não sabe? Eu sou uma Grecco... posso oferecer ajuda, dinheiro, anistia, posição... o que você quiser, só me tira daqui pelo amor de Deus! O meu pai... você o conhece?
- O fodão do tráfico? Claro... todo mundo sonha em ir para o lado de lá, todo mundo bem armado, bem tratado... mas não vai rolar bonitinha, até mesmo por que no dia que eu pensar em fazer alguma coisa assim eu não vou conseguir gastar a grana que você vai me dar, por que eu vou estar morto!
- Eu não quero abusar sabe, mas só por curiosidade, viva ou morta, o que você acha que o meu pai, como você disse "Fodão do tráfico" - eu nem acreditava que eu estava me referindo ao meu pai daquele jeito, ele era para mim só o meu pai, mas é claro que o meu sobrenome tinha um significado completamente diferente - vai fazer quando ele descobrir o que rolou aqui?
Ele se afastou de mim, e eu voltei a ficar só.
Para ser justa, eu não apanhei dele, me ofereceu pão com margarina seco e um copo de água de vez em quando e eu acho que ele realmente simpatizava comigo, ou sei lá, tive medo do que ele queria, mas logo provou ser apenas simpatia.
- Menina, eu recebi uma ligação agora... o Thomaz está vindo aí, e o fedelho o filho da p*****a filho da patroa, eu vou te dar um conselho agora, você pode não ouvir mas acho que vai servir... Fica quieta! Apanha quieta, sofre quieta! Não banca a boca dura que nem tu se meteu a fazer lá na praia! Isso aí só vai deixar tudo muito pior...
- O cuzão do Martín está vindo aí? - quem dera eu tivesse percebido o MÍNIMO antes.
- Não me obriga a falar assim, por que aqui nessa p***a tem eco... só me ouve, entendeu?
- Eu entendi... só me diz... qual o seu nome?
- Meu nome é Guilhermo, e de coração mesmo, espero que você saia dessa viva.
- Guilhermo... obrigada... - eu sorri esperando que ele se compadecesse da minha situação, do meu olho machucado e inchado, do fato de eu estar fedendo mais que um gambá, por minhas roupas estarem imundas e rasgadas e a minha dignidade perdida e jogada pela cela escura.
Mas não deu tempo, a promessa da vinda dos cavaleiros do apocalipse impediram o meu momento VT mocinha boa.
- E eu faço o que com ela aqui? p***a, você fode Martín! - disse a voz que eu julguei ser de Thomaz
- Só obedece c*****o, não é por que a minha mãe te dá uns biscoitos de vez em quando que você deixou de ser um funcionário!
Ouvi ecoar as vozes pelo corredor e depois uma batida na parede seguida de um gemido de dor - Olha aqui seu playboyzinho de merda, se você falar assim comigo de novo, nem tua mãe e o respeito que sinto por ela irão me impedir de enfiar um soco nesse teu olho!
Eu odiava o capanga.
Simpatizava com o Capanga.
Me encolhi na cela seguindo a risca o conselho de Guilhermo, se ficar calada... assim eu poderia ao menos não apanhar tanto.
Mas foi impossível quando vi a figura de Martín surgir na cela, sorrindo de orelha a orelha ao me ver como um animal.
- É isso Anaju, finalmente você acabou do jeito que você merecia... uma p**a em um lugar escuro e imundo! - debochou e deu uma longa gargalhada.
- Por quê Martín? O que eu fiz para você? - Era patética a minha pergunta, a minha situação e meus sentimentos, mas só hoje entendi o que a dependência emocional pode fazer a uma pessoa.
E por mais que você apanhe, você permanece... por que foi assim que você aprendeu. - Você já sabia do passado da sua mãe com os meus pais?
- Sabia, os Buenovides tem um passado muito extenso e brutal com os Grecco, você sabia? Eu cresci ouvindo histórias sobre vocês... sobre o dinheiro o poder e tudo isso... e olha aí... você agora... não parece tão poderosa quanto o seu sobrenome sugere.
- É sobre isso? Sobre a sua família ser fodida? Ou sobre o meu pai não ter comido a sua mãe?
- Você está mesmo pedindo para apanhar sua c****a? É isso? - ele se virou e foi até um canto mais escuro, pegou um pedaço de madeira e eu sabia o que ia rolar. Entrou na cela e ficou chacoalhando aquela madeira como um animal, tentando me intimidar.
Eu me esquivei o quanto eu pude - Você acha mesmo que o motivo da minha mãe é esse? Você acha que o motivo foi o imundo do seu pai ter casado com a p***a da sua mãe?
Fiquei quieta, concentrada nos movimentos do doente mental com o taco
- O seu pai matou o meu pai sua desgraçada.. ou você é tão sonsa que também não sabia?
- Pelo amor de Deus eu nem sei quem é a p***a do seu pai! - ele levantou a madeira bem alta, e o olho estava cheio de ódio, fechei os olhos me preparando para sentir a pancada na cabeça.
- Ei c*****o, larga a p***a da madeira! - disse Thomáz entrando na cela, e com um empurrão ele fez o maníaco recobrar a consciência - Sua mãe falou que não era para bater nela animal, e ela está sob a minha responsabilidade. Some daqui c*****o!
E ufa, eu devia uma ao capanga.
Quando Martín deixou a cela e se afastou eu não achei nos olhos de Thomáz algum tipo de simpatia como encontrei nos olhos de Guilhermo, só encontrei ódio genuíno e real mesmo, que fez o meu corpo todo se arrepiar.
- Obrigada... - eu falei baixinho me levantando do chão.
- Não me agradece não Grecco... o teu pai tem a vida de muita gente importante na mão, e eu só não deixei ele amassar o seu crânio até não sobrar nada dentro da cela por que recebi ordens, e acredite... quando a ordem for suspensa... eu mesma quero ter esse prazer!
Me trancou novamente, e largou a madeira olhando nos meus olhos.
- Dorme Bem Anna Júlia Grecco!
E saiu finalmente de cena, minhas mãos tremiam tanto que eu não conseguia controlar, o meu olho começou a ter tiques de nervoso e o meu corpo suava frio.
Me sentei novamente no canto e fiquei encolhida, o medo tomou conta do meu coração novamente.
PS: Pessoal, estou amando as perguntas no meu insta e até os comentários do livro sobre a personalidade da Anna Júlia, é isso que quero trazer discussão! a redenção dessa personagem vai ser um pouco mais quente e profunda!