ÁGUA SALGADA

1378 Words
Eu acordei mais cedo que o Martín no outro dia, ele dormia feito uma pedra e roncava como um porco, e eu não tinha mais condições de ficar ao lado dele. Tomei um outro banho, e chorei um pouquinho só... só o suficiente para a minha alma se acalmar dentro de mim. Eu não queria acorda-lo, coloquei um biquíni e fui em direção a areia da praia, o relógio ainda marcava sete horas da manhã. Eu tirei o meu celular do modo avião e ele começou a apitar com todas as mensagens que me mandaram nessas últimas horas, áudios e mais áudios dos meus pais. PAI Anna Julia Grecco! Onde você estava com a cabeça de sair de casa assim? quando você voltar vamos conversar! MÃE Filha, onde foi que você se meteu? Pelo amor de Deus... dá alguma notícia! ACHADO NO LIXO (LUCCA IRMÃO) Onde foi que você se meteu maluca do c*****o? A mãe e o pai não param de brigar se culpar, a hora que você aparecer aqui vou te dar um p*u! O tom era esse no início, mas logo depois mudou completamente: PAI Anaju minha filha, o que quer que seja... sabe, nós podemos resolver. Eu só quero te ver em segurança, tudo o que eu e sua mãe fizemos até hoje foi garantir que você e o seu irmão ficassem sempre seguros, você não faz ideia do que já sacrificamos para isso acontecer! Sei que está com raiva de mim, mas espero que seja a menina sensata que eu criei, e que volte para casa... Se esse menino gostasse mesmo de você... não teria te induzido a fugir de uma família que te ama. MÃE Anna eu te apoiei em tudo minha filha! Por que você fugiu? Eu me sinto uma palhaça... o seu pai está aqui dizendo que você foi sequestrada, quando eu sei bem que você está com esse moleque! Então, volta para casa! Não merecemos isso não! Nunca estive tão decepcionada com você em toda a minha vida. ACHADO NO LIXO (LUCCA IRMÃO) Anna, estou ficando preocupado... se você está bem pelo menos liga p***a, dá sinal de vida! Se você quer viver com esse i****a aí problema teu, mas não fode o pai e a mãe não sua s*******o do c*****o! Naquele mesmo momento eu coloquei em modo avião novamente, chorei por um bom tempo naquela praia... eu estava sozinha, e ninguém estava ali para me julgar. Nem mesmo Martín. Um vendedor ambulante vinha andando lá longe, veio se aproximando... estava com algumas bugigangas e eu tratei logo de limpar as lágrimas do meu rosto. - Moça bonita, por que está chorando? - disse um jovem de um metro e noventa, aposto que tinha no máximo dezoito anos, a pele morena e o sorriso brilhante, parecia até uma pintura de tão lindo. - Ah, ficou tão evidente assim? - eu disse sorrindo. Ele largou de lado o seu material, se sentou ao meu lado, mas como uma boa distância... olhou para o horizonte assim como eu e disse - Você sabia que não existe nenhum m*l que a água do mar não possa curar? Eu juro! É muito terapêutico, você vai lá e volta renovado. - Eu estou bem aqui! - Eu falei tímida, olhei para trás algumas vezes para ter certeza de que Martín não apareceria ali para dar o seu chilique de sempre. - Você consegue dar uma olhada nas minhas coisas? Eu vou dar um mergulho... - disse sorrindo e eu concordei com a cabeça. Caminhou calmamente até a beira da água, entrou experiente e logo se perdeu nas ondas, eu me diverti com a visão livre de ser do garoto, não parecia seguir regras, parecia ser bem mais humilde do que eu, mas parecia estar envolvo em uma felicidade quase que irritante. Logo ele retornou, pegou novamente as suas coisas e disse - Qual o seu nome? E antes que eu pudesse responder ouvi a voz de Martín dizer nas minhas costas - o nome dela é minha namorada... por que? Eu fechei os olhos bem forte, e quase quis sumir na areia, o menino do qual eu nem sabia o nome respondeu - E desde quando perguntar nome é dar em cima irmão? Relaxa, não se garante é isso? - disse matreiro encarando Martín. - Me garantir? Contra quem? Um vendedor ambulante de merda na praia? - ele riu arrogante. E eu me senti na obrigação de falar alguma coisa - Menos Martín, ele não fez nada! Só me pediu para olhar as coisas dele para ele dar um mergulho! O meu nome é Anna Júlia... - eu respondi ao menino. Nem me atrevi olhar para o rosto de Martín após isso, já que o silêncio imperou. - O meu é Dudu, sabe, todo mundo me chama assim então deve ser o meu nome mesmo... prazer te conhecer Anna Júlia, e obrigada! - sorriu mais uma vez, encarou Martín e saiu andando. Quando Martín se sentou ao meu lado em silêncio, eu senti a tensão no ar. Então, eu continuei olhando para frente... mesmo que minha visão periférica me desse o aviso de que ele estava raivoso me encarando. Ele esperou o menino já estar longe o suficiente para dizer - Então é isso? Me deixou dormindo, vestiu um biquíni de p**a para vir a praia para ficar dando papo para vendedor ambulante? É isso Anaju? Não valoriza a buceta... está dando a troco de centavos? - sussurrou esse monte de impropérios no meus ouvidos, e eu segurei para não chorar. E eu seria muito hipócrita se eu dissesse que aquela havia sido a primeira vez, ele fez isso em TODAS AS FESTAS e EVENTOS SOCIAIS que fomos juntos. Eu fiquei petrificada, eu nem conseguia acreditar no que ele estava dizendo, me levantei e saí andando em direção do bangalô, torci para que ele não viesse atrás de mim, mas ele veio. Assim que entramos a gritaria começou - VOCÊ ACHA QUE ESTOU ERRADO? E SE FOSSE O CONTRÁRIO? - Pelo amor de Deus Martín, eu não fiz nada... você está surtando! - Ter ciúme da pessoa que eu amo é errado então? - Sempre isso, a distorção do que era amor. - Eu não gostei de ver o que você fez, você não me respeita, e muito menos se respeita! Estou com o saco cheio mesmo de ver o quanto você é vagabunda, também, com uma mão como a sua, escrevendo p*****a quem não seria? Eu entendo! Eu não aguentei mais e fiz algo impensado para mim até então, dei um tapa de mão aberta no rosto dele. Ele colocou a mão no rosto, e eu comecei a gritar - Ah meu Deus, me desculpa... eu não sei o que deu em mim de levantar a mão... - E antes que eu pudesse falar ele me deu um soco no rosto, o suficiente para eu cair prostrada no chão. Eu não me levantei, fiquei estirada ali, apenas deixei as lágrimas escorrerem pelos meus olhos. - Viu o que você me fez fazer? - ele me culpou, se inclinou em cima de mim e me levantou - Eu não queria fazer isso, meu Deus, me desculpa! - colocou a mão sobre os meus olhos que estavam ardendo demais - Anaju me desculpa! - começou a chorar copiosamente e o meu silêncio ficou grande demais. - Eu quero ir embora Martín, quero ir para a minha casa... - eu falei firme. - Por causa de uma briga? eu só te bati por que você me bateu, foi agressão mútua... por favor não vai... ainda temos os mesmos sonhos. - Eu realmente quero ligar para os meus pais! - eu peguei o meu celular do bolso, e ele tomou da minha mão. - Eu te amo, não vou deixar você estragar tudo... olha... o seu pai vai me matar! É o que você quer? ser responsável pela minha morte? - EU SÓ QUERO IR EMBORA! - Eu levo você, amanhã! Pode ser? Acho mesmo que nossa ideia de fugir muito ruim... vamos voltar para casa, eu te deixo lá. Mas esfria a cabeça, e vamos cuidar desse ferimento. Dentro de mim só havia raiva, repulsa e um medo terrível que tomava conta de mim.
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