Capítulo 02.

1083 Words
Micaela acordou com os primeiros raios de sol se infiltrando pelas brechas da velha cobertura de telhas. Eufórica, ela percebe que o tão esperado dia finalmente chegou. Com entusiasmo, toma um banho rápido e cuida da higiene matinal. Na cômoda de madeira, desgastada pelo tempo, suas mãos deslizam sobre as roupas cuidadosamente dobradas, escolhendo a que melhor expressa sua alegria naquele dia. Devidamente vestida com seu vestido de alcinha florido, Micaela deixa o quarto e caminha pelos vastos corredores do orfanato. O ambiente está agitado, com algumas crianças menores correndo animadamente, empolgadas com os rumores de que um grupo de casais visitaria o lugar em busca de fazer adoção e assim ganha um novo filho(a). Micaela sorri ao ver a empolgação ao seu redor, sentindo que essa poderia ser a chance que essas crianças tanto esperavam em ter uma nova casa e pais que as amariam, assim como ela ansiou um dia. Parada em frente à cozinha, Micaela cumprimenta. — Bom dia! A Madre Maria lhe deu um sorriso acolhedor e um pequeno bolinho com uma vela em cima. Com os olhos marejados, ela soprou a vela e fez um pedido: — Que esse ano, a felicidade me encontre onde o destino me guiar. — Agora vá para o pátio, Micaela, teremos visitas no orfanato! — Obrigado pelo bolinho, Madre Maria, pronunciar dando aquela mordida generosa no bolinho que derreteu na sua língua. A massa de baunilha era fofinha e a cobertura de chocolate era a combinação perfeita. — A senhora nunca esquecerá o meu aniversário. — Como eu esqueceria, menina, se foi o dia da sua chegada aqui. Um vislumbre de tristeza passa pelos olhos de Micaela que se recorda do dia do seu abandono e da sensação que foi o seu primeiro dia ali, ela chorou desoladamente em busca de um colo quentinho e com cheiro familiar de mãe aquele cheirinho doce de lar, mas tudo que encontrou foi uma cama velha e com cobertas frias e sem vida. Andando em direção ao pátio com algumas mesas e cadeiras de madeira localizadas em baixo de uma grande árvore com um tronco robusto e com galhos longos e folhas verdes que fazem uma sombra generosa, algo chama sua atenção. Um homem de aparência assustadora, e estatura alta, tão alta que Micaela o observou sem perde o foco nenhuma vez, a curiosidade gritava em sua mente para se aproxima e descobre, mas do homem misterioso de aparência tão magnética, ela nunca havia reparado no sexo oposto no orfanato até tinha garotos mais nada se comparava a beleza daquele homem. A atmosfera no orfanato estava diferente, carregada de uma expectativa que ela não conseguia decifrar. O homem, com sua roupa escura e rosto fechado, parecia fora de lugar naquele ambiente acolhedor. — O que será que ele quer? — murmurei para mim mesma, sentindo um frio na barriga. As crianças brincavam no pátio, ignorando a presença estranha. Eu olhei para Madre Maria, que, apesar do sorriso constante, parecia inquieta. — Vamos ficar atentas, Micaela. — Sua voz era baixa, quase um sussurro. — Sua mala está arrumada? — Não, respondo sem entender sua pergunta tão inesperada. — Se aprece e faça isso logo, menina, as coisas não são tão fáceis como parece. Decidi me afastar um pouco, mas não consegui evitar a curiosidade. O que aquele homem planejava? A ideia de que algo pudesse ameaçar o orfanato me deixava ansiosa. Enquanto observava de longe, o homem virou-se e nossos olhares se cruzaram. Por um momento, senti um arrepio, como se ele pudesse ler meus pensamentos. Eu precisava descobrir o que estava acontecendo, mas não sabia como. — Não te falaram que encarar as pessoas é errado, bonequinha! Pega de surpresa por ser notada, Micaela engole em seco e com a voz trêmula diz: — Me perdoe, senhor, me chamo Mica… Uma voz forte interrompeu a voz da menina antes mesmo dela dizer seu nome. — Micaela Sánchez, e melhor você se manter longe de nós, não somos bons. — Já ouviu falar na história, da chapéu vermelho? Micaela se vira abruptamente e bate em uma montanha de músculos. Ela rapidamente se afasta e sua boca se abre em supressa, a montanha de músculos em que ela esbarrou é idêntica ao homem que estava falando com ela minutos atrás. — Sim, e uma história muito conhecida! Indaga com a voz arrastada. — Digamos que os lobos, nessa história, comem a Chapéu. Com suas mãos pesadas e ásperas, Paolo Petrovich afasta o corpo paralisado de Micaela e olha para o seu irmão, que pisca o olho para ela e se afasta, indo para o corredor que leva em direção à sala onde o Padre Tomás se encontra. Decidida a cuidar da sua vida, Micaela retorna para o seu quarto e começa a fazer sua mala. Cada roupa que ela guardava era um misto de recordações que reverberava em sua mente com a última peça de roupa guardada, uma batida ecoa ritmada na porta que, em seguida, é aberta. — Madre Maria, algum problema? Indaga a garota, assustada com a entrada tão abrupta. — Você precisa sair daqui agora, mica, não é mais seguro, pegue esse cartão e saia imediatamente desse lugar. — Se não é seguro, venha comigo? Fala, visivelmente, frustrado e preocupada. — Cresça, Mica, a sua ingenuidade ainda te colocará em maus lençóis, agora saia daqui. Com ajuda da Madre, Micaela teve rapidamente os seus últimos pertences recolhidos e entre eles estava o seu diário “Esperança”. Guiada pela Madre pelas saídas dos fundos, Micaela avistou um caminhão baú se posicionado na entrada principal do orfanato. Homens armados começaram a descer e se comunicavam por meio de um rádio que ficava posicionado no peito de um deles. Micaela sentiu um frio na espinha ao perceber a situação crítica. — Madre, o que está acontecendo? — perguntou, enquanto tentava manter a calma. — Não temos tempo, mica. A Madre puxou-a com força, levando-a em direção a uma porta lateral que dava para uma estrada de areia fina, que a levaria diretamente para a cidade. A Madre empurrou uma tábua, revelando uma passagem estreita. Micaela hesitou. — Você vai ficar bem. Confie em mim! — incentivou a Madre, com olhar sério. Com um último olhar para o orfanato que havia sido seu lar, Micaela se lançou na escuridão da passagem. O cheiro de areia aquecida pelo sol a envolveu enquanto andava em direção ao final da saida, ouvindo o barulho de motor de carros.
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