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1446 Words
China O bagulho está doidão para o meu lado. Depois que o Dexter foi preso, o morro praticamente caiu no meu colo, e eu odeio esse trabalho, tá ligado? Eu gosto de ser sub, irmão. Eu gosto de ficar no baile cantando umas novinhas e não tendo que resolver o bagulho de drogas. Viciado, morro, morador, é muito chato, papo reto. Antes de mais nada, deixa eu me apresentar: me chamo Bruno, mas vocês podem me chamar de China. Sou conhecido assim desde que eu me entendo por gente, por causa dos meus olhos puxados. Antes, eu ficava boladão com os outros, mas não adiantava. Então, ao invés de levar como uma zoação, eu peguei para ser meu vulgo. Tenho 25 anos e sou o subchefe da Rocinha. O bagulho aqui era gostosinho, tá ligado? Eu não tinha muita coisa para fazer porque o Dexter sempre gostou de carregar o mundo nas costas. Eu falei para ele que, na hora que o mundo caísse em cima dele, ele ia se lascar, e ele está lascado. Foi parar em Bangu por causa daquela desgraçada da Camila. Eu sempre bati neurose com aquela mina; dava para ver na cara dela que ela era uma rata, mas ele não acreditou em mim. Estava apaixonado. Olha onde ele foi parar! Tô fora! Esse bagulho de amor é para os fracos. Os fortes dão uma ficada, uma botada, fazem uma safadeza aqui, uma safadeza ali, mas nunca colam com uma mulher, principalmente se ela for do asfalto, tá ligado? As chances dela ser uma x9 são muito grandes. Cafa: Pô, chefe, tu tá ligado que eu não gosto de fofoca, né? Mas eu vim te passar uma visão do que aconteceu lá na boca ontem - ele falou, entrando. O Cafa é o maior fofoqueiro que existe na favela. Se acontecer alguma coisa dentro da tua casa, ele sabe. Como? Não sei, mas ele sabe de tudo. Parece até aquelas velhas que ficam na esquina o dia todo. China: Passa a tua visão que eu não tenho o dia todo. Cafa: Tu tá ligado naquela pretinha gostosa que mora na rua sete, aquela que tu proibiu todo mundo de vender drogas para ela? China: Tô ligado, mermo. Ela está me devendo mais de 10 mil. Não tem nem como esquecer da cara dela. Cafa: Bom, ontem eu estava no meu cantinho na boca e vi o Pato dando drogas para ela. Eu não sei se ela tava com grana para pagar na hora, só sei que ele deu, tá ligado? Ele passou por cima das tuas ordens. China: Eu contei o dinheiro dele, não está faltando nada. Então, provavelmente, ela pagou ou ele colocou o dinheiro no lugar. Eu não sei qual é o problema do Pato. Ele tá achando que tráfico de drogas é caridade, mano. Agora ele vai ficar sustentando viciado? Não é possível! Pode sair e manda outro vapor chamar ele aqui para eu passar uma visão para ele. Cafa: Suave. Eu não vou nem me estressar porque hoje eu vou cobrar a dívida dessa mina. Ela está devendo muito para a boca. No começo, ela pagava direitinho, mas depois ela veio pedindo fiado. Os caras ficaram querendo comer ela e vendiam, mas eles foram anotando no caderno, e quando eu fui bater a conta dela, ela devia dinheiro pra c*****o. Pato: Mandou me chamar, patrão - ele falou e foi entrando todo sem graça. China: Que papo é esse que tu tava vendendo drogas para a mina da rua sete de novo? Eu já não passei a visão que não quero ninguém vendendo drogas para aquela viciada? Ela tá me devendo maior dinheirão, mano, e tu simplesmente abriu o teu bagulho para ela e vendeu, passando por cima das minhas ordens. Qual foi, Pato? Não tô te entendendo. Tu trabalha direitinho, faz tudo correto, mas quando vê aquela mina, tu fica tonto. Pato: Pô, patrão, eu te peço desculpas, mas eu fico com pena dela. Toda vez que ela aparece na boca procurando por drogas, ela está toda machucada. Eu não sei o que acontece na casa dela, mas é alguma coisa séria. E pelo visto, ela não veio da queixa na boca. A mina é trabalhadora, tá ligado, e nunca tem dinheiro. Por isso que eu vendi. Eu coloquei o dinheiro no lugar. Foi m*l passar por cima das tuas ordens, só que sei lá, me dá um bagulho quando eu vejo aquela mina. China: Tu tá ligado que o prazo dela acabou, né? E que agora eu vou com tudo para cima dela cobrar essa dívida? E eu acho muito bom que ela tenha como pagar, porque senão eu vou ter que matar ela. Eu ando sem paciência nenhuma para viciado desde quando o Dexter foi preso e esse bagulho caiu nas minhas costas. Eu não estou aguentando mais. Pato: Pô, patrão, dá uma relevada, papo reto. Ela está toda machucada. China: Se ela não veio até a boca passar a visão do que está acontecendo na casa dela, não é problema nosso. Se eu ficar com pena de todos os viciados que vêm aqui, daqui a pouco a gente vai trabalhar de graça, pô. Pato: Suave, eu entendo. China: Pode voltar para tua folga. Era só essa visão que eu queria te passar. Eu não quero que você venda fiado para ninguém e nem quero você colocando dinheiro do seu bolso para sustentar vício de ninguém, entendeu? Pato: Sim, patrão. China: Então é isso. Pode se adiantar que eu tô cheio de bagulho para resolver e mais tarde eu ainda tenho que cobrar essas dívidas. Pato: Já é. Ele saiu e eu fiquei trabalhando até dar umas 14 horas da tarde. Depois, peguei a minha moto e fui na direção da casa da mina. Bati na porta e um velho bêbado me atendeu. Ele me encarou sério e tentou fechar a porta, mas eu coloquei o pé e empurrei. China: Que falta de educação é essa? Só vim te fazer uma visita, mano. Na verdade, para você, não para sua filha. Cadê ela? Rogério: O que ela aprontou? Deve ser algum engano. Ela quase não sai de casa. China: Tua filha tá me devendo mais de 10.000 em drogas e hoje eu vim cobrar. Tu tá ligado que ela é uma viciada, né? Rogério: Você está confundindo os moradores. A minha filha nunca usou droga na vida dela. China: Tá de óculos, coroa. A mina cheira mais pó que aspirador. Chama ela. Rogério: Eu já disse que você se enganou. Se tem um bagulho que me deixa bolado é quando esses velhos acham que a gente está ficando maluco, tá ligado? Tá querendo me tirar de palhaço. Ele acha mesmo que eu ia sair da boca para vir na casa errada, dando uma de maluco? Empurrei ele, fazendo ele cair no chão. Mandei os meus vapores entrarem e subi a escada, fui arrombando porta por porta até achar a bonitinha dormindo. Sacudi ela com força e ela acordou assustada. Mavie: Chi, chi, China, o que você está fazendo aqui? China: Vim cobrar minha dívida. Te mandei ficar longe das drogas, mas tu quer continuar usando, então tu deve ter o dinheiro para me pagar, né? Mavie: Ainda não, mas eu vou conseguir até o final de semana. China: Teu prazo acabou, mina. Agora a gente vai desenrolar essa fita lá na boca e eu acho bom tu ir quietinha. Vai trocar de roupa ou vai de pijama mesmo? Mavie: Você pode sair para eu trocar de roupa, por favor? Saí do quarto no respeito, porque eu ainda tenho o mínimo de educação. Foi aí que o meu vapor gritou: - Chefe, a mina está fugindo pela janela! Na moral, isso me fez sentir um ódio. Quem ela pensa que é para passar a perna em vagabundo? Saí correndo, desci a escada feito o Flash. A mina estava descendo o morro correndo e eu fui correndo atrás dela. Quando eu consegui me aproximar, eu puxei ela pelo cabelo, o que fez ela cair no chão. China: Tu tá ficando doidona? Tá pensando que aqui tem moleque? Tá achando que tu pode me enganar? Achou mesmo que ia sair do morro? Agora, para mim, não tem nem mais desenrolo. Por mim, eu meto uma bala no meio da tua cara só pra tu deixar de ser otária, filha da p**a - eu falei, levantando ela pelo braço. Não demorou muito para o meu vapor encostar de carro e eu jogar ela dentro. Entrei no carro também e mandei eles levarem a minha moto para a boca. É hoje que eu vou brincar de bater nessa palhaça.
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