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1672 Words
Dexter Como eu já imaginava, eles estão me deixando sem água, sem comida e sem ver a luz do sol. Ainda não estou sentindo tanto porque estou há pouco tempo aqui dentro, mas daqui a alguns dias eu vou começar a ficar fraco. Eu preciso dar um jeito de sair desse lugar. Quando me falavam que o inferno era o pior castigo para um homem, eu sempre ficava rindo, e agora eu vou rir mais ainda, porque, papo reto, quem fala que o inferno é o pior lugar do mundo é porque não conhece Bangu 1. Isso aqui, sim, é o pior lugar que um cara pode cair. Fiquei encostado na parede, de olhos fechados, pensando em tudo que já aconteceu na minha vida. Eu não tenho medo da morte; na verdade, eu não tenho medo de nada. Desde que a minha mãe me largou naquela casa, quando eu tinha 10 anos, eu entendi que a vida é uma passagem: eu vou matar, eu vou morrer, eu vou roubar, e que, depois, se eu tiver que acertar minhas contas com o cara lá de cima, a primeira coisa que eu vou perguntar para ele é por que ele não olhou por mim, por que ele deixou minha mãe me largar, por que ele não me deu um pai direito. São questionamentos que eu perguntei para ele várias vezes, chorando de joelhos, até entender que não tinha ninguém me ouvindo. Justiça é o c*****o; o mundo é dos malandros. E mesmo depois de ter passado por esse bagulho com a minha mãe, eu me abri de novo, me abri para a mulher que me colocou aqui. Mano, toda vez que eu penso nela, passa um flash na minha cabeça daquela noite. **Flashback** Camila: Vai sair? Dexter: Vou. Tenho um carregamento para receber lá no galpão, mas volto para jantar em casa. Você quer alguma coisa da rua? Camila: Não, amor. Hoje eu estou muito cansada, vou dormir cedo. Ver se não atrasa. Dexter: Pode deixar. Naquele dia, eu saí de casa tranquilo. Eu nunca amei a Camila, mas ela era gostosinha e nós estávamos dividindo a vida, tá ligado? Por um minuto, até pensei na possibilidade de ter um filho. Eu odeio criança, mas a mina parecia responsa, então por que não? Eu puxei a ficha dela e coloquei vapores atrás dela durante um mês e não tinha nada, então não tinha nem como eu desconfiar. Fui burro. O China vivia me falando que b****a de fora do morro não valia a pena, mas mesmo assim eu queria comer. Tava passando fome, pelo visto. China: Nosso novo fornecedor falou que vai chegar daqui a 10 minutos, então eu quero todo mundo na atividade. Não pode haver erros. É a primeira vez que esse cara vem aqui no morro, então eu quero segurança total. - Sim, chefe. Dexter: Pelo visto, já está tudo organizado aqui. Eu podia ter ficado em casa. É uma carga muito grande e eu não quero erros. Esse cara que o Cobra indicou deve ser confiável. China: Você sabe a minha opinião sobre o Cobra. Não dá para confiar, senão o vulgo dele seria outro. Mas como nós estamos sem escolha, vamos lá. É como eu falei para os vapores: se ele tentar qualquer gracinha, a gente mete bala. Dexter: É isso. Fomos para o galpão e os meus homens cercaram tudo, tudo mesmo. Não tinha como ninguém passar sem a gente ver e não tinha como ninguém sair sem a gente meter bala. Meu rádio apitou. Eram os vapores avisando que o cara estava entrando. Até o momento, parecia que estava tudo certo. Ele conferiu o dinheiro, disse que as drogas estavam nos caminhões e que não foi seguido até aqui. É claro que eu mandei os meus homens conferirem se eles não tinham sido seguidos. E aí chegou a hora da gente conferir as drogas e foi aí que eu me fudi. Quando eu abri os caminhões, saíram muitos cu azul de dentro. Vocês não têm noção, eram muitos mesmo. A bala começou a comer. Eu fiquei desesperado. Eu botei todos os meus homens em risco, confiando em um aliado que me traiu. Eu mandei o China correr e fui dando contenção. E foi aí que veio o primeiro tiro no peito. Eu já estava no chão quando ouvi a voz dela e, papo reto, eu não queria acreditar que isso estava acontecendo comigo. A mulher que estava morando na minha casa durante todo esse tempo era uma x9. Ela se aproximou de mim, sorrindo, abaixou na altura que eu estava caído no chão e disse: Camila: Daniel da Silva, você está preso por tráfico de drogas e eu acho que, com a quantidade que tem aqui, você vai ficar muito tempo em Bangu. Eu tentei me levantar para dar um porradão nela, mas eu não consegui porque eu estava com muita dor por causa do tiro. Dexter: Eu vou te matar, sua vagabunda. Camila: Hahaha! Toda vez que eu trabalho infiltrada, um traficantezinho de merda fala isso. Só que você nunca mais vai sair da cadeia. Você foi traído pelos seus. O Cobra te deu para mim de presente. Ele queria que você caísse para tentar tomar o seu morro. Olha que lindo! Ele acabou com a sua vida e eu vou fazer de tudo para você nunca mais sair da cadeia, como eu fiz com os outros que eu me relacionei. Você é gostosinho, mas é frio que nem um bloco de gelo. Acho que você nunca vai arrumar uma mulher que te ame, mas vão ter várias marmitas querendo te visitar em Bangu. Ou você acha que eu não sabia das traições? Eu tive que me fazer de cega para poder terminar a minha missão. Mas não se preocupe, eu não fiquei com raiva de você. Pelo contrário, eu adorava às vezes que você chegava com perfume de mulher e não me tocava - ela falou sorrindo e eu dei uma cabeçada nela, fazendo ela cair no chão. Dexter: Eu não vou ficar em Bangu para sempre e, quando eu sair daquele lugar, eu garanto que você vai preferir ver o d***o do que me ver na sua frente. Eu vou atrás de você e eu vou acabar com a sua vida e com todos que você ama. Eu garanto que você vai chorar lágrimas de sangue pela minha prisão, sua p**a. Os policiais saíram me arrastando porque eu estava sangrando muito. Aos poucos, eu fui apagando. Eu pensei que eles iriam me matar, mas não. Eu acordei no hospital, algemado na cama e com vários policiais na porta. Alguém me queria vivo. Agora eu não sei se era o cara lá de cima ou o cara lá de baixo, tá ligado? Sem querer me contradizer sobre as coisas que eu não acredito, mas se existe alguém lá em cima, ele não está olhando por mim. Se existe alguém lá embaixo, ele tá de s*******m com a minha cara. De qualquer forma, eu vim parar nesse inferno por causa daquela p*****a e eu estou esperando a oportunidade perfeita para eu me vingar, porque eu não vou ficar nesse lugar para sempre. Não mesmo. Passarinho não fica preso em gaiola. **Flashback off** Eu estava tranquilo, conformado com a minha vida, quando eu ouvi passos no corredor e depois ouvi várias vozes, mas não consegui identificar quem eram. Então eu fiquei de pé e encostei no canto. A porta foi praticamente colocada no chão. Vários homens entraram, mas eu não consegui reconhecer ninguém porque eles estavam de touca ninja. Então eles fizeram tipo um cerco para eu não conseguir correr. Um deles fechou a porta e gargalhou, e o outro falou: Carcereiro: É, Dexter, você deu trabalho demais, só que agora chegou a sua hora. Sua vida inútil acaba aqui. Os caras vieram para cima de mim que nem bicho, começaram a me bater. O bagulho tava doido. Eu até estava tentando reagir, mas eles eram muitos. Eu estava parecendo até aqueles sacos de muay thai, só tomando porrada sem conseguir reagir. Eu já estava no chão, todo machucado, quando um deles pegou uma faca e enfiou na minha perna. Logo depois, ele enfiou na minha barriga, o que me fez gritar. Carcereiro: Vamos sair daqui. Ele não vai conseguir sobreviver. Ele vai sangrar que nem um porco a noite toda e de manhã ele vai estar morto. Eles saíram e eu fiquei sangrando realmente que nem um porco no chão. Eu tava tentando gritar socorro, mas eu estava fraco demais. Fui praticamente me arrastando até a porta, que estava trancada. Olhei para o alto e falei: Dexter: Se existe alguém aí em cima olhando por mim, essa é a hora de você me provar que você me ouviu durante a minha dor. Salva a minha vida e eu te dou a minha palavra que eu vou orar todas as noites agradecendo e que a minha fé, que está abalada, vai voltar a ser o que era antes. Comecei a sentir gosto de sangue na boca e vários pensamentos vieram na minha cabeça. Eu nunca entendi por que a minha mãe foi embora. Na verdade, eu nunca entendi nada da minha vida e, papo reto, eu não acredito que eu nadei até aqui para morrer dessa maneira desgraçada nas mãos de um bando de cu azul. Eu pensei que eu ainda tinha muita coisa para viver. Fechei os meus olhos, esperando a morte chegar, e foi aí que eu ouvi passos no corredor. Eu estava fraco porque estava perdendo sangue, mas juntei todas as forças que eu tinha e me levantei e gritei pelo buraco da comida: Dexter: Socorro! Depois disso, eu caí no chão, olhei para cima mais uma vez e falei: que seja feita a sua vontade. Senti a fraqueza tomando conta do meu corpo. A porta foi aberta e eu escutei um grito: - O preso da solitária está ferido! Ajuda aqui! - e até tentei ficar acordado, mas depois dos gritos eu apaguei.
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