|22:00 PM Presente Breeze|
Choque. Talvez seja isso.
Saltlake me deixava em choque.
Eu senti isso quando passei pela placa de entrada na beira da estrada. As oito letras envelhecidas pelo tempo quase sumindo em meio ao matagal agora, em plena madrugada, são quase que invisíveis camufladas pela escuridão.
Passo por elas como uma flecha com a visão turva pelas lágrimas que molham meu rosto.
Achei que conseguiria passar pelo menos uma noite aqui, mas todas as memórias me pertubam, fazem com que eu queira correr para qualquer lugar para longe daqui. Eu não vou conseguir.
Contra minha mente eu sempre irei perder, mesmo que eu a treine todos os dias.
Eu não posso ficar nesse lugar. Achei que conseguiria encarar todos os fantasma de meu passado mas eles são muito mais fortes do que tudo o que eu construí até hoje.
Meus soluços se misturam com minha falta de ar e numa fração de segundos, eu sou puxada para trás pelo braço com tamanha força fazendo meu rosto se chocar no peito da figura alta vestida de preto, eu tropeço nos meus próprios pés descalça, mas ele se mantém firme enquanto a nossa frente a ponte cai despenhadeiro abaixo.
Vejo todos do bar saírem para fora por conta do estrondo da ponte que cai causa e em seguida comentários como “meu Deus quase que a moça morre” “por pouco” mas a pergunta do moreno chama minha atenção e eu volto a olhar para ele.
– Tudo bem? – eu balanço a cabeça recuperando o fôlego e ele me solta – Estava correndo para onde então? – o rapaz aponta para a direção em que eu estava correndo e eu mordo o maxilar – Por pouco você não cai junto – ele diz como se eu não estivesse vendo metade da ponte abaixo no penhasco.
– Por Deus, eu... Eu não vi – levo a mão á testa – Deus, eu sinto muito, eu... – suspiro fechando os olhos fortemente enquanto a chuva molha meus cabelos.
– Você estava pronta para cair? – ele diz e só agora o olho no rosto e percebo que seus olhos cor de mel são como uma lua cheia brilhante.
O moreno espreme os lábios demonstrando insatisfação com o tempo que levo para observar sua expressão misteriosa, solta um leve riso e dá as costas.
– Eu não sabia que a ponte iria despencar – respondo o acompanhando e ele assente.
– Estava indo embora?
– Sim, eu... Preciso ir embora desse lugar – respondo evitando contato visual com o mesmo.
– De qualquer maneira, isso aqui vai ficar interditado por um bom tempo. Saltalke é pouco iluminada ao anoitecer, o que significa que para sair essas horas você precisa conhecer bem a cidade, as pessoas e aonde está pisando.
– Eu conheço – ele balança a cabeça soltando um leve riso.
– Se é o que você acha, eu respeito – ele diz levando as mãos no bolso de sua jaqueta de couro preta e me olha por um instante.
– Obrigada por... Me salvar – digo fazendo um coque em meus cabelos castanhos suados pela corrida e ele assente.
– Quer uma carona? – ele responde e noto que o Cadillac estacionado á beira da estrada, antes da ponte é dele, e o mesmo entra no carro dando a partida enquanto varias pessoas se tumultuam perto do penhasco curiosos e outros se aproximam de mim e do carro aonde ele está para saber se me machuquei.
– Não vou aceitar a carona de um desconhecido – balanço a cabeça dando continuidade ao meu caminho e ele me acompanha com o carro.
– Eu não sou um desconhecido. Você sabe muito bem como eu me chamo garota da ponte – por fim o moreno de olhos cor de mel e cílios grandes, dá a partida sumindo no fim da estrada restando apenas a luz fraca de um poste e o bar a beira da ponte.
Zayn.
– Você está bem? – Paige, a garçonete vem ao meu encontro e coloca uma jaqueta de couro cheia de pregas em meu ombro numa atitude de gentileza .
– Obrigada – agradeço enquanto a mesma me guia pra baixo da cobertura do lado de fora do bar – Vou pegar minhas coisas e te deixo em casa pode ser? – acabo por aceitar o convite dela já não guentando mais os olhares de todos ali sobre mim – Vamos lá – ela me chama e pega uma das motos estacionadas ali próximo.
Subo depois dela e Paige da a partida deixado para trás os outros motoqueiros e passamos por alguns carros da guarda municipal que não demoram a chegar no local da ponte para colocar sinalização de risco de desabamento.
Paige não leva cinco minutos para chegar em frente a casa de Joseph e se despedir com um gesto de cabeça.
– Se cuida garota, Saltlake quer puxar todo mundo para de baixo dessa terra maldita – ela diz e eu ergo a sobrancelha com a sua frase voraz.
– Vou me lembrar disso – respondo me despedindo dela.
Quando entro em casa, noto que todas as luzes já estão apagadas anunciando que todos já estão na cama, então subo as escadas sem fazer barulho e encosto a porta de meu quarto, procurando roupas quentes para entrar de baixo da ducha quente.
Só agora que meu corpo relaxa de baixo da água quente, me dou conta do que aconteceu. Por um segundo eu não cai junto com a ponte. A essas horas meu corpo estaria de baixo de toda aquela estrutura.
Por Deus, não consigo para de chorar. Eu não quero mesmo estar aqui.
Saio do banho e caminho até minha cama, mas antes de apagar o abajur, observo o cartão que Paige havia me dado da oficina Olliver' cars com o nome Zayn Malik escrito a caneta no lado de trás e antes de pegar no sono, só consigo lembrar do moreno me puxando para si, me impedindo de desabar junto com a ponte Saltlake city.
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