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1220 Words
Subo as escadinhas que levavam á porta do lugar e antes mesmo de me arrepender do lugar aonde vim parar, pingos grossos começam a molhar a rua numa tempestade  eu entro no bar próximo á ponte que leva para a estrada, para buscar abrigo da chuva e encontro pela frente uma TV no alto da parede, salgados numa pequena estufa, carne no espeto, e bebida, muita bebida. Todos ali conversam alto, a maioria homens, sentados sobre os banquinhos próximos ao balcão com seus copos quase que transbordando de bebida. Olho para os lados perdida com a vista ainda um pouco embasada por conta das lágrimas e meu rosto bate no peito de um grandalhão barbudo de regata preta, deixando visível o ombro com uma caveira tatuada no lado direito e do lado esquerdo uma o rosto de uma mulher. – Vamos com calma pequena, vai uma bebida? –  não respondo, apenas sigo ele até um dos banquinhos e me sento ao seu lado. – Traz uma gelada para essa pequena, Paige, por minha conta – ele pede para uma mulher, de cabelos ondulados e pontas verdes. Paige é uma garota talvez de 20 anos. Ela tem alargadores na orelha, tatuagens no corpo, cabelos negros como a noite e as pontas pintada de verde, a tintura já esta desbotando, evidenciando que já é hora de retocar a cor. A mesma veste uma calça de couro sintético e um top vermelho com algumas pregas de metal. Se havia um lugar que não combinava em nada comigo, esse lugar era o estabelecimento em que eu acabara de entrar. Paige se vira para a máquina de chopp, enchendo um copo, em seguida se vira para mim que agradeço e dou o primeiro gole no copo. – O que uma garota como você faz aqui essa hora? – Paige não consegue se conter e eu pigarreio. – Eu... Precisava – respondo e Paige levanta as sobrancelhas se inclinando sobre o balcão. – Brigou com o namorado? – n**o arqueando a sobrancelha. – Não, eu... Não tenho um namorado – respondo dando mais um gole no copo de cerveja. – Não deixe esses caras descobrirem docinho – Paige sussurra retirando o anel da mão, porém percebo que não há nenhum nome gravado por dentro – É impossível trabalhar aqui se souberem que sou solteira – ela lança uma piscadela para mim que assinto não muito interessada no assunto. – Serve mais dois aqui – um cara chama do outro lado do balcão e Paige suspira caminhando até lá com a garrafa de whisky. A cerveja está horrível. A Breeze em perfeito estado preferiria mil vezes um copo de capuccino quente, e um lugar mais calmo para que pudesse organizar melhor sua mente. Mas sempre tive em mente que esse lugar, sempre é frequentado por pessoas quando estavam se sentindo fracassadas, seja por amor, pela vida financeira, vida familiar ou por problemas no trabalho. Eu me encaixo no quesito familiar, mas só preciso descobrir agora, o que essas pessoas fazem para a dor parar. – Três doses aqui morena – me viro para o rapaz que se sentara ao meu lado e ele faz um gesto com a cabeça como um cumprimento para mim e  volta a se virar para o balcão observando Paige a encher os três copinhos com whisky. – Veio se esconder da chuva Zayn? – Paige comenta com ele enquanto tento me concentrar em meu copo de cerveja. – Se essa é a desculpa, então sim. Vim me esconder da chuva – ele responde e por mais que eu me negue a ouvir o dialogo dos dois é a única coisa que me distrai em todo esse lugar. – Amarga ou gelada demais? – mordo o maxilar ao ver que ele se refere á minha dificuldade de beber o copo de cerveja que pedi. – r**m – Confesso de imediato e por Deus, sei que soei como estivesse desesperada para que ele viesse puxar conversa comigo, mas preciso que alguém me distraia ou vou enlouquecer enquanto a minha ficha cai de que Melissa é só um dos milhares fantasmas que terei de enfrentar enquanto estiver em Saltlake. – E na verdade é r**m, mas, não se bebe pelo gosto, – o rapaz dos cabelos negros, que atende pelo nome de Zayn responde se virando para mim no banquinho. Zayn Já ouvi esse nome hoje, só não me lembro aonde. Ele ergue uma sobrancelha se inclina para mim e faz um gesto com a cabeça para que ela olhe na mesma  direção que ele. – Eles não bebem porque gostam. – Então por que eles bebem? – questiono. – Porque é mais amargo do que eles sentem por dentro. É como se a cada gole você pudesse sentir que existe algo com gosto pior do que você sentiu, entende? – E aí ele vira um de seus três drinques de whisky – é um desvio. – Um desvio? – Sim, é r**m, mas você precisa daquilo, porque precisa aliviar sua outra dor – e bebeu o segundo drink – E se você está aqui, então é porque precisa também – Zayn responde e dou um gole no copo de cerveja, respiro fundo e dou outro gole terminando de beber tudo – Aliás, o que você faz aqui? – Você nem me conhece – retruco estendendo o copo para que Paige encha novamente. – Não conheço mas sei o suficiente para contestar que não pode acordar de ressaca amanhã. – E o que você sabe o suficiente? – Eu vejo o suficiente Breeze Wills. – Como você sabe meu nome? Eu não... – Todo mundo sabe seu nome, aqui é Saltlake, população de 3.000 habitantes, ou devo dizer 2.999 –ele se levanta e eu prendo a respiração, mas ele se volta para Paige que recolhe os copinhos de seus drinks e se despede – a gente se vê morena. – A gente se vê moreno – Paige se despede. – A gente vê Breeze – ele se despede tirando do bolso da jaqueta preta um cigarro e após acender o mesmo sai para porta do estabelecimento, entra no Cadillac preto e da a partida. – Não liga para ele Breeze – Paige solta um leve riso ao ver minhas sobrancelhas arqueadas olhando para fora. – Quem é ele? – Zayn Malik? – Paige responde como se estivesse acostumada a fazer a apresentação. Ela tira do avental um pequeno cartão e estende sobre o balcão. – Oliver Car's Oficina, ele trabalha lá com o senhor Oliver, leva seu carro para uma avaliação – ela me lança uma piscadela enquanto observo o cartão. – Mas, – É tudo o que sei. Se quiser saber mais, vai ter que perguntar para ele – assinto me preparando para ir embora. Aliás, o que vim fazer aqui? Eu nem bebo.  Vai ser assim toda vez que tocarem no assunto da minha família e falarem que eu abandonei o barco primeiro? Vou correr e me esconder no primeiro lugar que encontrar pela frente mesmo que eu não me encaixe ali? Por Deus, não fazem nem 24 horas que cheguei nesse pequeno inferno e já estou a correr desejando nunca ter pisado meus pés aqui. Sinto um peso voltando em minhas costas quando me lembro que Melissa foi só a primeira que encontrei, e a primeira que fez correr como louca para bem longe desse lugar. Sim, correndo para o mais longe que eu conseguir. _____________
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