|3 horas antes|
– Oi,– digo num sorriso fechado e Melissa vem até mim e me abraça forte.
– Por Deus Bree, por que não avisou que vinha, a mamãe sabe? – Ela diz enquanto me abraça e eu n**o.
– Nem eu queria acreditar – digo e ela desfaz o abraço puxando a menininha pelo braço.
– A próxima vez que atravessar sem me dar a mão, não vou comprar seu danone –Melissa bronqueia a menina dando alguns chacoalhões
– Essa é a Lou? – pergunto me abaixando junto a garotinha.
– Sim, dois anos abastecendo esse saco sem fundo com Danone, se lembra quando era você? – Melissa comenta – Por onde você andou? Mandei mensagem, chamei para o chá de bebê mas agora parece que você tem uma secretária eletrônica, mandei um fax e nada, e–mail você também não respondeu, pedi para Anthony te procurar no Skype, f*******:, sua conta no i********: só tem frases motivacionais agora, você casou?Por onde você andou? – Melissa me fuzila com perguntas das quais nem sei como responder.
– Você sabe, estudando. Eu me formei, estou trabalhando, estou sempre ocupada preparando aula – tento encontrar uma mentira e colocar um pouco de verdade nas palavras que convencem Melissa.
Eu sei que não é o suficiente, mas por enquanto é o que faz ela se contentar. Até porque fazem dez anos que não nos vemos, ela não vai querer brigar pela meu sumiço, vai querer saber o que andei fazendo já que da família, eu fui a única que conseguiu sair da maldição de Saltlake.
Olho para os lados, e vejo que Alice se distrair conversando com o senhor da banca de jornal o ajudando a colocar as coisas para dentro para fechar, ela faz um sinal que não entendo muito bem se é para que eu vá com Melissa e a deixe, ou se é para deixar Melissa e terminar o tuor pela cidade que já conheço com ela, opto então em dizer.
– Podemos terminar nossa volta amanhã? Eu vejo você em casa, você vai ficar bem? Já está de noite, acho melhor você voltar para casa avise para Meredith que encontrei minha irmã, eu chego mais tarde – Alice apenas assente e acena para Melissa que não retribui o gesto.
– Não gosto dessa menina – Melissa rosna assim que damos as costas rumo a sua casa.
– Só por que ela é filha do nosso pai? – comento soltando um leve riso.
– Porque ela é a filha de um casamento bem sucedido do Joseph, ah me poupe essa garota tem de tudo, o Joseph só falta carregar ela no colo – Melissa comenta enquanto abre o portão e eu ajudo a mesma com as sacolas.
– Você não fala com ele ainda? – pergunto enquanto entramos.
– Mas é claro que não Bree, ele largou nossa mãe, você foi embora por causa dele, Anthony não fala com você por causa dele e...
– É, eu sei – corto a conversa assim que ela toca no nome de meu irmão mais velho – Achei que depois desse tempo, as coisas tinham se concertado – dou os ombros me sentando no sofá.
– Só se foi para você Bree, aliás é difícil sabe, a mamãe, ele, Anthony, essa Alice, você sabe a cidade é pequena demais, vira e mexe um cruza na rua com o outro – ela suspira enquanto tira a blusa de frio de Louisa – É um inferno – Melissa comenta – Eu e Julian estamos guardando dinheiro para comprar uma casa, bem longe daqui, Detroit talvez ou Ohio, dizem que as casas por lá tem sótão e Julian está precisando de um, essa casa vive cheia de tranqueira dele – sorrio enquanto Melissa tagarela fazendo os deveres de casa e hora ou outra pega Louisa pelo braço pedindo para ela parar de correr.
É como se tivessem adiantado o relógio quando olho para Melissa, quando sai daqui ela só tinha 13 anos e eu 17, e agora, eu volto e vejo ela com uma criança no colo preparando a mesa para o marido que está prestes a chegar para o jantar.
– Quando pretende ir ver a mamãe? – Melissa questiona e eu dou os ombros.
– Amanhã quando voltar do colégio – respondo e ela respira – Por que?
– Não sei se a Alice ia te levar lá mas, ela tem uma loja de ervas agora – arqueio a sobrancelha – Fica uma rua depois dessa.
– Uau – digo boquiaberta.
– Fede a maconha Bree – Melissa suspira – Não sei mais o que fazer,
– Ela está m*l ainda?
– Quando é que você viu a mamãe m*l Bree? – Melissa se senta na mesa junto comigo – É que.... É estranho sabe, ela chama aquele violão de Thor, as vezes dá a louca e ela faz shows naquela perua colorida, parece que tá sempre chapada – Melissa comenta e eu assinto um pouco impressionada – Você chegou hoje? – ela pergunta quase nem dando tempo para que eu absorva o que ela disse sobre nossa mãe.
– Sim, eu cheguei no fim da tarde.
Dá para ver o quanto está exausta. Os cabelos presos num r**o de cavalo parece que foram presos a três dias atrás, alguns fios cobrem–lhe o rosto, o vestido amarelo florido esta sujo de papinha e as olheiras, denunciam suas noites m*l dormidas.
Melissa se tornou uma mãe, que além de ter uma casa e marido para cuidar, agora tem uma mãe que vive chapada para se preocupar.
Ela repara que estou a analisar sua situação e cobre o rosto como numa tentativa de tentar reter suas lágrimas.
– Estou feliz que tenha voltado – ela estende uma mão por cima da mesa e eu seguro, como sempre faço quando uma pessoa tende a chorar na minha frente depois de ter contato seus problemas.
– Eu também estou feliz por ter voltado Mel.
– O Anthony nem liga sabe, ele... É um i****a, ele não me ouve, e tudo é eu, Julian já pediu para eu parar de me meter mas,
– Melissa, você precisa desligar um pouco – interrompo a mesma – Só desliga um pouco, você tem uma família e precisa cuidar dela, escuta, a nossa família acabou. Você não vai conseguir concertar isso sozinha entende?
– Eu sei – ela soluça – Só que não consigo pular fora igual você e o Anthony fizeram – ela solta e as palavras me nocauteiam sem dó.
A porta range e Melissa rapidamente se levanta e se vira para a pia de louça secando o rosto, é Julian e Louisa corre para os braços dele.
– Temos visitas? – ele comenta e eu sorrio me levantando.
– É um prazer, eu sou a Breeze – respondo para o rapaz alto que me abre um belo sorriso de boas vindas.
– Sua irmã querida?! Seja bem vinda! – Julian me cumprimenta com Louisa no colo mas sua expressão se volta para Melissa que funga.
– Bem eu... Já anoiteceu, eu preciso voltar. Foi um prazer conhecê–lo – anúncio limpando os olhos com lágrimas acumuladas.
Saio pela porta e suspiro.
Desço as escadinhas que levam ao portão branco da casa de Melissa e saio pelo mesmo.
Sem que eu consiga evitar minha mente é invadida por flashbacks e meus olhos marejam, um soluço escapa pela minha boca e a caminho para casa de Joseph, passo por um carro preto e uma fileira de motos estacionados frente a loja do senhor Torres ou devo dizer, a loja do senhor Torres que hoje é um bar.