A sala de reuniões era toda branca, daquelas que normalmente ofuscam os olhos se as janelas estiverem abertas para que os raios de sol entrem.
Minha cabeça doía e não era por conta da reunião ou da luz que passava pela janela, mas sim porque eu estava completamente arrependida de ter forjado uma coisa que deveria ser autêntica e que se Jacob descobrisse eu estaria fodida, no m*l sentido.
Simon foi o primeiro a entrar, ele era o primeiro sócio de Corbyn, participava de todas as reuniões, mas nem sequer sua respiração era ouvida na mesa. O cara era lindo, pele n***a, cabelos baixos, bem cortados, lábios cheios, rosto quadrado, viril e um corpo de invejar qualquer um, mas isso não era a coisa mais bonita nele, era na verdade a forma elegante e educada na qual tratava qualquer um, sem distinção de ser homem ou mulher.
— Querida Claire, Jacob já te enviou pra cá? — Ele sorriu, sentando-se na cadeira próximo de mim, ajustando seu terno azul escuro.
Caia muito bem nele.
— Eu decidi vir por conta própria! Acho que ele não está em um dia bom.
Simon Jackson riu mostrando todos os dentes brancos e alinhados dentro da boca.
— Jake nunca está em um dia bom, pelo menos não quando está aqui dentro da empresa. — Disse, ajustando o Rolex no pulso. — Mas garanto que ele é um cara bacana. Gosto de você Claire, acredite quando eu digo que nem mesmo a mãe dele o aguentou.
— Estou prestes a acreditar que não é ele quem deixa as mulheres.
Grampeei algumas folhas depositando sobre a mesa de cada lugar que seria ocupada posteriormente.
— Não é pra tanto. A maior responsabilidade dele é a empresa, então ele não costuma se relacionar ou arrumar comprometimentos externos, entende? Não se trata de não respeitar as mulheres sendo sacana. Mas ele fez a própria escolha, e a Orsoft foi a garota da vez.
Assim como eu havia escolhido meu trabalho ao invés do meu relacionamento.
— Acho que eu o entendo — Suspirei, acomodando-me na cadeira ao lado da cadeira de Corbyn.
— Se afastou da sua família?
— Terminei meu relacionamento!
Suas sobrancelhas grossas levantaram-se levemente.
— É... sinto muito.
— Na verdade acho que foi melhor. Tenho minhas prioridades.
Simon folheou as páginas que eu havia acabado de colocar em sua frente.
Ele teria falado mais alguma coisa, porém a porta se abriu de forma silenciosa e pessoas entraram, na verdade 3 homens, com Jacob entre um deles.
Eu permaneci nervosa na cadeira, com os olhos grudados em cada dado mentiroso impresso nas páginas, rezando o pai nosso em pelo menos 2 línguas que eu nem mesmo conhecia.
Jacob desengatou a reunião com agilidade, uma lábia tão cirúrgica que eu compraria parte dos direitos de a Gossip.com mesmo ser tem um centavo no bolso, mas a forma em que ele gesticulava com as mãos me fazia se perguntar se ele era tão bom com as mulheres como era de dicção nas reuniões sérias e importantes.
— Claire? — Ele me tirou do transe. Balancei a cabeça imediatamente saindo do looping cinematográfico onde eu encarava Corbyn que faltava me sacudir pelos ombros, já preocupado pela minha falta de resposta e pelo transe que eu me encontrava.
— É..hmm, desculpe! — m*l tinha começado.
— Não dormiu o suficiente? — Ele questionou enquanto os dois homens à nossa frente analisavam os papéis, especialmente o da direita.
Aquele era Victor Hendrick. Um dos maiores acionistas internacionais, um dos maiores gestores de pessoas da américa latina que já trabalhou e gestou grandes empresas como f*******: e Google. Embora ele estivesse bem interessado na reunião, não escapou seus olhares para os dois primeiros botões abertos de minha camiseta social que ao menos mostrava algum indício de carne.
A pergunta é: Ou ele procurava carne debaixo do tecido ou ele estava apenas fantasiando o que o'que poderia ter aqui embaixo.
— Veja bem Jacob, os dados são impressionantes. É um site promissor e de grande público, mas acho que essa personalização de atendimentos e áreas de serviço tira a credibilidade, entende? Veja o f*******: como exemplo. Eles continuam formais em todos os méritos e têm o maior alcance do globo. Sei que a maior porcentagem de uso da Gossip.com vem do publico de 18 à 25 anos, e são mais ligados ao mundo online, mas ainda sim se trata de uma empresa séria. — Sua voz fanha me irritava. Victor não tinha menos de 60 anos. Seus fios brancos sequer apareciam em sua cabeça que parecia ter sido lustrada, o paletó de milhares de euros apertava seu pescoço obeso na intenção de trazer elegância, mas apenas mostrava que ele precisaria de um número maior na próxima reunião.
Jacob respirava profundamente.
Eu sabia que ele já estava sem paciência.
Toda reunião, algo se tornava insuficiente, mas logo, seria a paciência de Jacob a se tornar insuficiente para permanecer na sala sem falar algumas palavras pejorativas.
— Não acho que seja prudente comparar o f*******: com a Gossip.com, até porque o f*******: é usado por empresas devido ao tráfego p**o, tráfego orgânico, grupos de discussão e muitas outras coisas. A Gossip.com é um site de relacionamentos, Victor. É somente para culminar a relação entre as pessoas e entre os grupos de forma física e sentimental, não é uma rede onde pais interagem com filhos. É exatamente uma rede social que desde o início minha intenção era torná-la familiar, era torná-la o mais pessoal possível. — Meu chefe se levantou, fechando o punho sobre a mesa pensando. — Já visitou a sede da Google, certo? Já viu como tudo é personalizado?
— Mas a Google é uma empresa de dimensão inigualável, Corbyn.
Jake riu.
— A Gossip também será, Victor. A chave de ouro do site é toda a personalização de atendimento e de entrega informal, chamando os usuários por apelidos, somos amigos dos nossos clientes. Não posso mudar isso, é minha essência.
— Então talvez devêssemos adiar essa reunião por hoje. — E então ele se pronunciou, Arthur Ragnar. O i*****l número um. O jurado masterchef das empresas de Londres. A fama do cara era péssima, nada o agradava. Nem mesmo se a Rainha da Inglaterra beijasse seus pés, ele diria que talvez seus lábios não estariam macios o suficiente.
— Pela oitava vez, Arthur! — Corbyn esfregou seus cabelos impacientemente como se pudesse tirar seus próprios fios da cabeça. — Parece que não vamos chegar a lugar nenhum, não quero perder tempo atoa! Eu quero que dê certo, mas da forma que vocês querem impor fica difícil.
— Formalize a Gossip.com e fechamos contrato.
— Sem chance! — Ele disse sem pestanejar.
Corbyn não abriria mão de sua parte preferida do projeto. A familiarização dos usuários com o layout informal era o ponto de partida, coisa que ele trabalhava diretamente decidindo todos os próximos passos, e ainda que trocassem o nome do site, ele jamais permitiria uma mudança tão grande em algo que ele acreditava ser o coração da coisa.
— Então aguarde meu contato. — Victor sorriu sem traço algum de felicidade.
— Merda! — Jake praguejou apertando os dedos dentro do punho.
— A Pandors é uma empresa séria Jacob, você terá que mudar o site e talvez sua conduta também para ter um contrato conosco. Lembre-se que o Presidente geral fala muito sobre sua empresa, e sua vida desregrada também fala muito sobre a Gossip.com! — Arthur Ragnar finalizou, sorrindo ao sair pela porta junto de Victor.
Simon estava de bico fechado, espantado com as alfinetadas dos empresários que sempre eram diretos, mas dessa vez, perderam a mão com o esporro completamente informal da qual eles pregavam que queria que o site não mais adotasse.
— É, eu acho que eles não vêm por causa da Gossip.com, acho que o decote de Claire é bem mais emocionante do que a premissa de fechar o contrato. — Simon ajeitou seu paletó.
Jacob respirou fundo, algumas vezes mais, cruzando os braços diante da janela, e eu sabia pelo oxigênio que enchia sua caixa torácica que ele não estava com paciência nem mesmo para falar gracinhas ou concordar com Simon.
Ele não estava preocupado em assinar contrato para conseguir mais dinheiro, embora só um louco não gostaria, mas trabalhando durante todo esse tempo com Corbyn, eu aprendi que o dinheiro era só resultado, só consequência. E o que ele realmente queria, era chegar a um fator para gerar essa consequência.
Aquele contrato era exatamente isso.
A expansão oficial da Gossip.com, consequentemente da Orsoft.
— A vida é feita de oportunidades. Haverão outras! — Ele disse sério.
Simon se levantou sorrindo pra mim, seus olhos percorreram o chão, encontrando seu amigo e sócio na janela.
— Acho que estou indo! — Ele murmurou, esboçando seriedade.
Jacob apenas virou o rosto sem olhar diretamente para Simon.
— Tudo bem! Tenho uma entrevista hoje, e vou sair mais cedo.
Simon Jackson saiu pela porta, dando-me um beijo no peito da mão como despedida. Tão galanteador!
Fiquei parada, para logo recolher as folhas sobre a mesa, em cada um dos assentos. Limpei o quadro branco na qual Jacob havia escrito algumas coisas que eu não pude ler pois já era tarde demais. Mas ao encostar a mão na maçaneta, e ouvi-la ranger, ouvi a voz séria de Corbyn.
— Não pedi que você deixasse a sala, Claire.
— Achei que eu fosse mais útil quando fizesse as coisas sem você ter que pedir.
Jacob virou seu rosto pra mim, encostando suas costas no vidro temperado da janela, enfiou as mãos no bolso da calça e analisou cada canto do meu rosto de uma forma incômoda pra mim, pois nunca era rápido, era demorado o suficiente para me fazer acreditar que ele tentava encontrar em meu semblante, algum resquício de mentira das minhas palavras.
— Esqueça essas folhas, queime-as! — Ele sibilou, fitando uma das folhas. — Preciso que vá pegar meu terno no Outlet Next, em Greenwich. Tenho uma entrevista às 15h. Preciso que chegue aqui às 14h.
Seu péssimo defeito era achar que eu deveria fazer milagres quando nem mesmo ele era capaz.
— Não seria possível nem que deus me desse asas. — Me resumi. — Se eu tivesse sorte precisaria de no minimo 1 hora para atravessar o túnel Blackwell, entrar no Outlet, pegar seu terno e voltar para cá.
— Se as asas não solucionarem esse problema, peça um helicóptero a deus. — Esse era o velho Jacob Corbyn, no auge de seu estresse, ácido e cínico. Admito que sentirei falta no dia em que eu deixar meu cargo, pois sei que no pé em que andávamos ultimamente, isso não demoraria a acontecer.
Meu pavio também não era tão longo.
— Porque não pede que a loja mande entregar aqui com um mototáxi ? o gasto será menor e a eficiência maior. — Sugeri, apertando as folhas em minha mão imaginando ser seu lindo pescoço largo.
— Porque esse é o seu trabalho, Claire. Facilitar a minha vida!
— Não é essa a função descrita no meu contrato de trabalho.
— Se preferir posso mudar sua função para ilustradora de móveis, e então veremos se é tão boa limpando armários empoeirados quanto é sendo abusada e linguaruda. — Seus passos eram pesados no carpete abaixo de nós. Ele se aproximou de mim, fitando-me com seus enormes olhos verdes, a barba grosseira pinicando sua pele, e um sorriso de satisfação ao me ver contendo o ódio junto com as palavras dentro da boca. — Não existe dinheiro que pague uma secretária como você.
A ponta de seus dedos, pressionaram meu queixo de cima pra baixo, fazendo fita-lo como uma criança obediente.
— Pois bem, digo o mesmo. Nenhum dinheiro me pagaria o suficiente para ser sua secretária.
Ele riu novamente, mas dessa vez mostrando seus dentes perfeitos e o leve furo em sua bochecha direita. O defeito muscular mais lindo que um homem poderia ter.
— Disseminando ódio, Claire?
— Nem isso você merece, Sr Corbyn.
— Eu fico lisonjeado, mas eu aconselho que você se apresse, afinal, você tinha 1 hora para buscar meu terno, agora tem menos.
Filho da p**a.
(...)
Tem dias que você pede ajuda a algum ser superior que habita os céus, mas a impressão que tenho, é que eles sempre estão dormindo, justamente porque sou sempre ignorada.
O túnel estava completamente engarrafado, a loja completamente cheia mesmo que eu fosse a secretária de um cliente vip. Não era Corbyn ali, era eu. Uma mulher descabelada, com a postura perdida em algum momento do trajeto até ali, os olhos mortos de cansaço e o semblante fadigado.
Essa era eu.
No momento em que pisei de volta no prédio da empresa e olhei para o relógio gigantesco sobre o elevador, soube que estava ferrada, porque o trajeto que eu queria fazer em 1 hora, tornou-se 2 horas.
Eram 15 horas da tarde, exatamente a hora em que Jacob devia estar chegando em sua entrevista. Subi o elevador, como um pecador, em direção ao julgamento. Quando entrei na sala, lá estava ele.
Porque eu deveria me culpar? Corbyn sabia que não era tão rápido atravessar para Greenwich, ainda mais com tanta gente nas ruas. Ele me pediu e eu fiz. Acontece que eu eu já estava tão acostumada naquele looping de culpa, acreditando não ser boa o suficiente para fazer tudo que me era designado, que sempre que eu não conseguia realizar milagres, acabava jogando sobre mim toda a culpa que não me pertencia.
Seu rosto estava sério ao me encarar entrando pela porta, embora já fosse acostumada, sempre me davam calafrios.
— Seu terno. — Estiquei a sacola, depositando sobre a sua mesa, com a maior delicadeza que eu podia.
— Pedi que voltasse em 1 hora. Se perdeu na rua? — Ele desengasgou olhando para o terno de ombros.
— Infelizmente nem tudo que você me pede, acaba se tornando possível, ainda mais quando você me perde pra atravessar o mundo em 1 hora.
Ele gargalhou, pousando a mão sobre o diafragma e logo depois fechou a boca, estalando a língua afiada no céu de sua boca, sem dar um deslize na postura impecável. Quanto mais eu o odiava, mas eu o achava sedutor.
Era um balanceamento perfeito.
— É assim que se realiza conquistas. Transformando o possível impossível, Claire. Mas talvez não esteja pronta para essa conversa.
— Isso não te dá o direito de ser egocêntrico, Jacob.
Ele sorriu novamente, mas dessa vez um sorriso torto, condizente com qualquer coisa maliciosa que percorresse sua cabeça.
— Prefiro ser chamado de Sr Corbyn, Claire. Você não fala com respeito ou formalidade, você fala com…raiva.
Seus passos pesados, novamente, fizeram barulho no carpete no chão. Ele se aproximou de mim, me avaliando da cabeça aos pés, mas na hora de subir novamente seus olhos, eles pararam no meu decote, que provavelmente lhe dava uma boa visão pela altura.
— O que você…
— O foco da reunião não é seu decote, é o contrato. Então por favor venha com menos dele exposto da próxima vez.
Eu respirei fundo. Seu olhar me queimou por inteira, porque infelizmente, Corbyn não tinha o hábito de desviar o olhar mesmo que eu sustentasse os seus. Uma batalha que ele sempre vencia justamente porque em poucos segundos lhe encarando, meu corpo esquentava, e eu tinha receio do que eu sentiria se continuasse sustentando aquilo. Abaixei o queixo encontrando meu peito, abotoando os 3 botões abertos da camisa social com as mãos.
— Pelo visto você presta atenção em tudo mesmo! — Alfinetei, assistindo se aproximar da porta e abri-la.
— Eu percebo tudo, até a falha em sua respiração. — Disse ele — Inclusive, Claire. Você fica até as 19h da noite hoje.
Eu passei pela porta e parei no momento em que ele decretou a extensão do meu horário que já havia sido programado para uma saída.
— O que? Mas porque ? Não tenho o que fazer aqui! — Falei com uma clara indignação em minha voz. Aquilo era errado. Extremamente errado, e mesmo que fosse corriqueiro, eu não podia abaixar a cabeça sempre. Uma coisa era estender horário quando necessário e quando Jacob precisava realmente de mim e outra, era ele praticamente me prender na empresa, porque minhas respostas haviam sido ríspidas o suficiente para que ele me prendesse ali.
— Ah, temos muitas coisas pra fazer! — Ele deu de ombros à minha insatisfação. — Minha caixa de e-mails está cheia. Responda a todos eles!
Ele fechou a porta me deixando com cara de i****a enquanto ele se afastava de mim e se aproximava do elevador aberto.
— Jacob! — Eu o chamei e ele apenas ajeitou sua gravata.
— Até mais, Claire. Lembre-se, nada de decotes! — Sorriu desastrosamente sedutor — Eu sou ciumento até com minhas secretarias.
— Merda! — Praguejei para mim mesma quando as portas de aço se fecharam e ele finalmente foi embora