Eu normalmente podia ouvir em sua voz seu nível de estresse, ou até mesmo em seu semblante calmo, a falta de paciência genuína que sempre o acompanhava, mas diferente de outras ocasiões não precisei que Jacob esboçasse nenhuma reação ou falasse qualquer palavra para saber seu nível de estresse, porque sua blusa social vinho aberta em dois botões e sua gravata repousando em sua cadeira atrás da mesa de granito já falavam mais por si do que ele próprio.
— Jacob, me desculpe eu... — Tentei argumentar, mas ele fez um “shhh” em um sinal levantando os dedos longos aos lábios rosados. Eu normalmente o chamava pelo primeiro nome quando estávamos a sós, pois em público ou na frente de qualquer um, ele era o Sr Corbyn.
— Senhor. — Ele me corrigiu.
Pois é, ele estava realmente estressado.
— Eu acabei me desentendendo com meu namorado e me atrasei... — Ele não precisou falar para me interromper dessa vez, porque o que cessou as minhas palavras foram seus olhos verdes que me encararam sem piscar, como se tivesse algo errado bem na minha testa.
— Seu namorado não trabalha pra mim, Claire. Você sim. — Seus olhos rolaram pelo ambiente. — Então sem respostas infundadas.
Uma característica não menos importante que Corbyn tinha e que eu não gostava de mencionar nem mesmo mentalmente, é que o filha da mãe era estupidamente lindo. Seus cabelos cheios que caiam em sua testa eram de um tom indeciso entre o loiro claro e o castanho médio. Seus olhos eram estranhamente verdes e tinham uma autoridade que faria você dar a ele o que ele quisesse. Seu nariz afilado e singelo combinava com as maçãs do rosto altas e angulosas. Os lábios eram cheios e vermelhos, sempre presos entre seus dentes no menor sinal de aflição. Seu maxilar quadrado era quase escondido pela barba dourada que tinha ali.
Jacob era lindo. Havia saído em inúmeras revistas como solteiros mais cobiçados e influentes da Inglaterra, onde inclusive já tive meu nome citado algumas vezes alegando ser alguém sortuda por talvez passar mais tempo com ele do que sua própria mãe.
Coitados, não sabem como é ter a sorte de estar longe de Corbyn.
— Não vai acontecer novamente Sr Corbyn! — Eu prometi mesmo sabendo se não poderia cumprir.
— Eu tenho certeza absoluta que não vai. — Ele deu uma pequena risada — O mundo hoje amanheceu do avesso! Eu cheguei cedo e você e os empresários atrasados, que maravilha!
Eu me sentei na poltrona, ao lado da porta, depositando minha bolsa sobre minhas pernas fechadas ainda calada temendo abrir a boca e piorar minha situação.
Eu estava atrasada, ou seja, errada. Não tinha porque abrir a boca.
— Lorah me disse que eles se atrasaram. Acho que podemos ganhar mais um tempo pra respirar!
Ele me olhou, com fogo nos olhos.
— Eu preciso de tempo, você teve tempo o suficiente pra se atrasar e respirar de casa até aqui.
E é nesse momento que respiro o mais fundo que posso, em uma profundidade pulmonar que eu nem sabia que tinha.
— Possa ser útil em alguma coisa, Sr Corbyn?
Eu estava entre a linha tênue da ironia e da educação.
— Você é sempre útil quando faz sem eu ter que pedir.
— Tudo bem!
— Porque está sentada aí, Claire? Está pregada à cadeira? Temos uma reunião em alguns minutos. — Ele abotoou a camiseta, fitando sua imagem desconcertante no espelho sobre o vaso de barro pequeno com uma palmeira o preenchendo. — Normalmente eu os deixaria chegar aqui, e quando estivessem sentados na sala de reunião, eu ligaria para eles, e remarcaria. — Jacob disse se referindo aos Shah futuros sócios Orsoft. — Mas isso soaria muito infantil de minha parte.
— Concordo, Sr Corbyn!
— Não trabalha comigo para me encorajar a f***r com meus sócios, Claire. Trabalha comigo para ser competente. — Eu abriria a boca para me defender, mas ele prosseguiu me atropelando com palavras como um trem desgovernado. — Preciso que tire cópias dos dados de conversão de anúncios da Gossip.com, junto com média de público por IOS, Android e rede de notebooks ou computadores, junto com os gráficos e porcentagens...
Jacob continuou falando, mas tudo que eu via era sua linda boca se mexendo.
Era um contrato de milhões.
E se eu o fizesse perdê-lo, estaria na rua.
Tudo porque eu sequer comecei a fazer o relatório para a cópia dos dados.
Não tinha tempo.
O sistema levava pelo menos 12h para conseguir reunir tantos dados em um curto prazo.
Eu poderia prever o futuro agora mesmo e contar ao meu chefe que ele iria me demitir, mas o carnê das parcelas do financiamento parecia vibrar em minha bolsa me perguntando como infernos eu fui esquecer algo que me foi pedido com tanta antecedência.
Parabéns, Claire.
A cota de merdas foi atualizada com sucesso.
Eu merecia um bolo e velas para soprar.
Eu estava ferrada.
Se tudo desse errado eu voltaria para Oxford para vender Brownies.
— Claire, você está prestando atenção em mim? — Ele estava tão próximo. Eu pisquei várias vezes pensando meticulosamente em como resolver o buraco na qual eu havia me enfiado. — Mas que droga, nós vamos nos f***r de novo nessa reunião.
Ele esbravejou e com razão.
O mundo parecia ter amanhecido de cabeça pra baixo.
Jacob estava sempre elegante, mas no mundo paralelo na qual estávamos, ele estava completamente bagunçado. E estava agitado em seu auge de estresse.
Mas ainda sim era sexy.
— Desculpa, estou!
— Então porque já não saiu por essa porta e voltou com o que eu te pedi?
Seu imediatismo me dava nos nervos.
Mais algum tempo como secretária dele e eu poderia investir na carreira de atleta para as olimpíadas.
Era sempre: anda logo, agora mesmo, o mais rápido possível, quando abrir os olhos quero isso aqui, aquilo lá e bla bla bla bla.
Nada tão r**m que não pudesse ficar pior.
Eu tinha duas opções: Pular no tanque de tubarões ou pular no tanque de piranhas. Resumindo: Ou eu forjava dados falsos ou contava para Jacob que eu não tinha feito absolutamente nada do que ele havia me pedido com extrema antecedência.
Busquei o último relatório de dados em minha sala com a ajuda de Helen, uma colega do amoxarifado e simplesmente tripliquei todos eles em números quebrados para que minha peripécia não fosse tão evidente. Anexei tudo no pendrive e pediria a única pessoa que eu não queria ver agora para imprimir.
Lenon Rogers, o i*****l do setor jurídico.
Pode parecer ridículo, mas não havia uma impressora na minha sala ou na de Jacob. E justamente pelo setor imprimir tantas liminares, acordos, banimentos para anexo na sala de arquivos, era o lugar onde ficavam todas as impressoras do andar. Então tecnicamente, se eu quisesse imprimir fotos da minha vó pelada, eu teria que pedir à Lennon.
Ele era o típico homem estilo Jhony Bravo, cheio de orgulho, egocêntrico, com piscadas toscas, olhares lascivos e com a síndrome do homem ego maníaco que a todo momento dizia as mulheres o amavam. Olhos azuis, pele bronzeada e cabelos loiros. Não só gerente do setor jurídico como um dos dois sócios de Jacob Corbyn na Orsoft. E de vez em quando eu tinha vontade de socá-lo com toda minha força.
Lenon era um babaca de merda, onde não importava a roupa que eu estivesse usando, mesmo aquela que tapasse cada centímetro de pele do meu corpo, ele ainda me olhava como um peregrino no deserto depois de pedir um Costela Barbecue do outback.
Era estranho e desconfortante.
Suas piadas sem graça e cantadas imbecis quaisquer dia me tirariam do sério e eu o jogaria pela janela da minha sala.
— E a sua irmã hein? Já falou de mim pra ela? — Ele questionou enquanto agrupava minhas cópias no suspensório da impressora.
Eu fiz a borrada de deixá-lo encontrar meu i********: aberto, e depois que ele fez uma inspeção em todas as minhas 84 fotos, ele encontrou Katie, minha irmã em algumas delas, um fato na qual não havia como não confirmar que não éramos irmãs. O sobrenome na marcação da foto era o mesmo, mas o que era inconfundível era a fisionomia.
— Minha irmã é casada, Lenon. Não preciso falar de você pra uma mulher casada.
Eu juro que tentava ter paciência, mas algumas vezes era impossível.
— É uma pena, mas você está solteira, não é mesmo?
Pra você não.
— Namoro a mais de 4 anos.
— Eu já falei pra você, Claire. Se quiser eu posso estar a sua disposição. — Em que mundo Lenon vivia?
Eu bufei irritada, tentando fazer com que ele notasse minha falta de entusiasmo em suas propostas infundadas.
— Espere sentado, porque se esperar em pé vai ficar com câimbra, artrose e talvez osteoporose. — Retruquei malvada.
— Eu sei que Jacob entenderia. — Ele assoou o nariz. — Ele nunca poupou minhas secretárias e acho que não vai se importar em que eu fique com a sua.
Porque homens tinham essa necessidade de posse?
Nunca foi segredo que Corbyn fosse um homem de muitas mulheres, e que provavelmente ele nunca via a mesma por mais de duas vezes, mas ainda que eu o odiasse, ele me respeitava e até mesmo pra dois inimigos, isso bastava.
— Não sou um bichinho de estimação. Isso não é uma troca de figurinhas.
— Sentido figurativo, Claire.
O cassete que era sentido figurativo.
— Prefiro ter meu apartamento leiloado pelo banco do que ter algo com você, Rogers. Tente as mulheres do andar de baixo, acho que pode colar.
Ele riu em desdenho enquanto me passava folha por folha propositalmente.
— Eu sou tão r**m assim? — Ele perguntou.
Eu lhe daria outra patada sem pensar duas vezes, mas seus olhos azuis desviaram dos meus, e a forma em que Lenon abaixou a cabeça me fez ter certeza de quem era.
— Eu estou tentando adivinhar porque algumas poucas cópias estão demorando tanto. — A voz de Corbyn ressoou relativamente alta. Suas mãos grandes preenchiam o bolso da calça de seu terno e seus lábios se comprimiam entre si.
De volta a realidade atual, onde ele estava passivo, mas ainda sim, calmo e cínico.
Jacob nunca saia de sua sala para vir atrás de mim, e se o tivesse realmente feito, era porque ele estava realmente em estados de nervos e ansiedade no pico.
— Estou esperando que Lenon termine de imprimir.
Seus passos se tornaram duros no granito do chão.
— Ah claro, estou vendo que ele faz questão de te entregar página por página. Certificando-se de que a tinta tenha saído perfeita em cada uma das folhas?
Rogers sorriu miúdo como um gato, enfiando seu r**o entre as pernas a ponto de dar socos na impressora para que agilizasse o processo que ele mesmo tratou de atrasar.
Nunca traí Hardin ou cogitei fazê-lo, mas não posso negar que já me peguei admirando a postura rígida e sedutora de Corbyn. Acho que essa é minha maldição.
Se sentir atraída por homens que nem mesmo ligavam pra mim.
Não é à toa que os maiores pecados estavam na beleza.
— Aqui está! — Depositei a pilha de páginas sobre as mãos dele quando me aproximei, rezando pra que ele não contestasse os números falsos impressos e estranhasse o motivo deles terem duplicado de uma semana pra outra.
Eu havia feito uma merda e carimbado embaixo com o selo de “Eu estou demitida.”