Capítulo 06.

2754 Words
— Claire, entre, agora! Eu nunca disse que você era inútil. — Se retrate perante as funcionárias que ficaram, caso contrário, eu serei a primeira de muitas que irá perder. — Respirei fundo, mantendo a decisão que eu havia tomado a alguns segundos atrás. — Boa sorte com a seleção. E então passei pela porta, com minha bolsa debaixo do braço, ciente de que talvez seria a última vez que eu desceria por aqueles andares. Assim que cheguei próximo do elevador, ouvi a porta bater e os passos duros e longos vindo em minha direção. — Claire, vamos conversar! — Sua feição era séria. Nós nos tratávamos a tanto tempo com cinismo, que nas poucas vezes na qual discutíamos, era considerado como blefe, mas dessa vez seria diferente. — Vai pedir demissão por causa de uma entrevista? Eu olhei com os olhos arregalados em direção a ele, que parou bem na minha frente, impedindo que eu entrasse na caixa de aço. — Vou pedir demissão, porque enxerguei o tremendo i*****l desrespeitoso que você é, mas fico feliz que já que é apenas um emprego, você pode procurar por outra e eu posso procurar alguém que me valorize mais como funcionária. Entrei no elevador, olhando firme em seus olhos até que as portas cortassem nossos olhares. *** Jacob Corbyn *** A ponta dos meus dedos já estava dormente de tanto bate-los sobre a mesa da minha sala. Meus olhos estavam pregados sobre o pão de gergelim queimado e ao lado dele um café tão forte que me fez ter um pequeno infarto no primeiro e último gole. O que fazer com aquilo? — Está tudo bem, Sr Corbyn? — Helen me despertou da reflexão matinal enquanto eu pensava que poderia ter tido uma intoxicação alimentar comendo aquilo. Se completava 2 dias que Claire havia deixado seu cargo recusando minhas ligações, aceitando apenas falar com o setor jurídico a respeito de sua rescisão trabalhista. Minha intenção não foi denegrir as mulheres ao dar a entrevista. Talvez eu tenha sido um pouco machista, sim, quer dizer que eu deva me desculpar? Sim! Mas eu precisava falar com Claire primeiro. 2 dias foram o suficiente para que eu olhasse para sua antiga sala e para o prato na minha frente e sentisse sua falta. Embora eu sempre tenha tido um apreço maior por ela, do que por qualquer outra em um núcleo profissional, eu estaria mentindo se eu dissesse que a visão de Claire a minha frente, vermelha de raiva e autoritária, não me fizesse ter alguns pensamentos impróprios. A minha regra número 1 assim que passei a coordenar a empresa, era que eu fosse acima de tudo um bom chefe, dando boas condições de trabalho, uma ótima remuneração, mas ainda fosse um chefe, e não um amigo. O tempo passou, e a ideia de ser considerado um homem de alto padrão pela sociedade inglesa, foi algo que fez a Orsoft crescer exponencialmente, já que ao mesmo tempo eu fui visto como o maior empresário de Londres e também um homem impossível de ser atendido, pelo grande número de secretarias que pedia demissão por não conseguirem dar conta do cargo. As reuniões de seleção para secretárias começaram a se tornar um evento semanal, iniciando entre alguns funcionários uma aposta sobre qual das candidatas permaneceria por mais tempo. Durante uma época eu quase entrei nos momentos descontraídos, pois o que o jornal pregava sobre a instabilidade do cargo de secretária na empresa, para nós dentro da Orsoft, passou a se tornar motivo de brincadeira até Claire chegar. Estranhamente eu fiquei incomodado pelo fato de ter alguém que desse conta de todas as suas tarefas e inclusive tinha tempo para conseguir gerir as minhas. Era notório a sua irritação com alguns pedidos, que acabou mais tarde por ser um combustível para iniciar nela o desejo de retribuir todas as alfinetadas, devolver o cinismo de forma educada e fina. Mesmo procurando uma secretária, o fato de eu ter encontrado uma que fosse até boa demais para o cargo, me irritava, porque ter alguém para ocupar tal cargo era na verdade acabar com minha reputação de empresário de gostos inatingíveis, e transformaria Claire na Bella que domou a fera. Foram quase 3 anos fazendo sua vida impossível com tantos pedidos que alguns, até mesmo eu considerava criativos. 3 anos tendo a secretária perfeita e só se dando disso 2 dias depois de tê-la pedido. — Sr Corbyn? — Helen chamou novamente. Helen não era a substituta de Claire. Helen era na verdade a menina do almoxarifado que estava tentando me ajudar em algumas coisas como Claire fazia, mas claramente se nem mesmo para trazer um café da manhã correto ela conseguia, Helen não seria capaz de fazer o restante. — Onde você comprou isso? — Perguntei tentando não ser rude. Ela apertou o braço direito com a mão. Deu um sorriso fraco ajeitando seus óculos redondos. — No Fonsocks — Ela respondeu, tímida. Balancei a cabeça de forma negativa. — É Starbucks, Helen! Como conseguiu confundir um restaurante comercial famoso com um Bar de homens duvidosos? — Eu fiquei nervosa, Sr Corbyn! Me desculpe. — Ela disse. Helen ajeitou o cabelo vermelho atrás da orelha. Era notório seu nervosismo, suas mãos tremiam, e acredito eu, que esse era o motivo dela agarrar um dos braços com a mão. 4 anos trabalhando na Orsoft e ela nunca havia me visto pessoalmente. Eu não a julgo. A notícia da demissão de Claire pegou a todos de surpresa, até mesmo a mim. — Tudo bem! — Suspirei — Desça, por favor! Eu vou sair pra comer algo! Helen abriu a porta, mas antes que ela pudesse passar por ela, minha mãe passou pelo batente, entrando com um sorriso no rosto, e o queixo no ar, me fitando séria. — Ah Sr Corbyn, eu esqueci de avisá-lo! Essa moça queria subir pra falar com você! — Sibilou antes de sair. Não escondi meu olhar de desaprovação. Merda, eu estava ferrado se esperasse que Helen pudesse reproduzir metade do que Clair fazia. Inclusive domar minha mãe na recepção e tentar persuadi-la quando ela tentava dizer que eu era um bom homem, e que minha secretária não deveria me odiar. Mas m*l sabia Louiselane, que Claire tinha muito mais motivos pra me odiar do que pra sentir qualquer outro tipo de sentimento por mim. — Jacob Corbyn. — Ela soletrou devagar, tirando os óculos pretos do osso nasal, revelando seus olhos tão azuis como os meus. — Dê-me um bom motivo para não tratar você como um adolescente de 18 anos. Estou a dias tentando falar com você! A vida adulta tinha lá seus méritos, mas os problemas de falta de tempo acarretavam em muitas coisas, inclusive o afastamento familiar. Minha mãe sempre foi a mais pura das mulheres para mim, e talvez na maioria das vezes eu não tenha tido cabeça para responder suas perguntas excessivas que tinham apenas a finalidade de saber o que se passava comigo, como havia sido meu dia, ou talvez como eu estava me sentindo mediante a tanto trabalho. Talvez eu não mereça a mãe que tenho. — Desculpa, mãe! Mas agora não é uma boa hora! Preciso resolver algumas coisas! — E quando será uma boa hora, Jacob? Quando eu morrer? Nunca é uma boa hora! — Ela se sentou na poltrona ao lado da porta, cruzando suas pernas esbeltas e ajeitando seu coque em fios dourados. Minha mãe era linda ao auge dos seus 60 anos, e eu com toda certeza afirmo que muitas mulheres mais jovens não chegavam aos seus pés. Não era apenas a beleza, mas todo o seu jeito de se comunicar e tratar as pessoas, seu jeito de ver a luz dentro da escuridão. — Onde está Claire? Não a vi na entrada! Minha respiração profunda, seguida das mãos que afagaram meu rosto momentaneamente, me delataram sobre minha falta de cabeça para abrir a boca e esclarecer o que havia acontecido de fato. — Bom…meu problema agora é justamente esse! O Fato de Claire não estar aqui. — Abri um pouco a gravata azul marinho, sentindo como se o tecido me sufocasse a cada olhar de Louise. — Por isso eu disse que não é uma boa hora. — Algo aconteceu com ela? — Claire pediu demissão! — Contei sério. Minha mãe se levantou, me encarando, procurando algum engano ou brincadeira. Mas ela sabia que mesmo que eu estivesse com um sorriso no rosto, brincadeiras não eram do meu feitio, ainda mais se tratando da empresa. — O que? — Ela havia ouvido, mas queria ter certeza de minha boca. Foram 3 anos vendo Claire toda semana, e para Louiselane, minha secretária foi o mais perto que ela teve de nora. — Ela pediu demissão, mãe! Louise se aproximou ainda mais, cerrando seus olhos, desconfiada. — Ou você a fez se demitir? — Sabe a entrevista? Então…eu... — Não consegui terminar, pois antes mesmo, as mãos de minha mãe foram de encontro ao meu braço, repetidas vezes em sinal de raiva e indigestão da informação. Era notório que ela também havia ficado tão indignada com a entrevista quanto Claire, e provavelmente muitas das mulheres que estavam assistindo. — Eu... — Soletrou novamente deferindo mais e mais tapas — não te ensinei… — Ela se afastou, recuperando fôlego. — A tratar nenhuma mulher assim, Jacob! Você só disse baboseiras! — Eu me expressei de forma errada, mãe! Eu já entendi! — Entendeu? Se entendeu, porque já não entrou em contato com algum advogado para elaborar um pedido público de desculpas? — Ela perguntou, e estava certa. — Tenho algumas coisas mais importantes pra resolver primeiro! — Com certeza, trazer Claire de volta, caso contrário, minha vida seria arremessada em um redemoinho. — Preciso conversar com a minha secretária. — Espero que resolva. Claire não merece isso! Ela é uma boa menina, a única capaz de suportar você! Não pensou em mim quando falou aquelas besteiras? — Eu não quis afetar diretamente ao público feminino, apenas me referi a homens saberem tratar de dinheiro melhor do que as mulheres… — Errado, completamente errado. Quando seu pai fundou a Orsoft, eu estive ao seu lado durante todo o percurso, ajudando-o e o auxiliando em cada uma das etapas, e te garanto que se eu estivesse longe dele em todo o processo, você não estaria vestindo esse terno caro. — Louise andou pela sala, buscando algo em seus pensamentos que eu não podia alcançar. — Depois que seu pai faleceu, eu senti que deveria passar adiante todo o legado que eu e ele, e também todos os funcionários construímos juntos. Fomos uma família, Jacob. E se você herdou tudo isso, administre com o coração, assim como eu e seu pai fizemos, e eu sei, que o Jacob, meu filho, que falava naquela entrevista, não falava com o coração. Abaixei a cabeça. Eu estava errado e sabia disso. Não havia palavras que pudessem responder a minha mãe, apenas o concordar que deveria partir de mim. Enquanto ela ainda estava de costas, me aproximei e fechei meus braços em torno de seu corpo, beijando sua cabeça e inalando o cheiro doce que tinha minha mãe. — Vou resolver isso! Sai da empresa mais cedo do que o costume, o peso do meu terno parecia infinitamente maior do que nos dias anteriores, e agora sem Claire, a cor do aço na placa de gerente geral nunca foi tão cintilante sobre a minha mesa. Já que eu não pude tomar um café decente pela manhã, o tomaria na parte da tarde, de preferência na companhia de Simon, que me pediu que o encontrasse no fim da tarde. — Que merda é essa? — Sibilei atraindo alguns olhares curiosos de dentro do restaurante. No jornal a minha imagem de terno e gravata era nítida, com um gigantesco letreiro de letras cursivas e arrogantes que induzia erroneamente uma face de mim que não existia. “Jacob Corbyn não é só um empresário de gostos finos para secretárias, mas também para mulheres, e de acordo com ele, o motivo de não ter casado ainda, é porque sua noiva perfeita ainda não nasceu.” Na segunda página havia uma segunda foto minha, com um caso amoroso sensual, escapando de um restaurante em Brixton, e sobre a foto, novamente, um grande letreiro destacável de opiniões bastardas. “O arrogante milionário inglês sempre é visto se divertindo em companhia de lindas damas enquanto sua esposa perfeita ainda não nasce.” — Eu não consigo acreditar nisso…— Sussurrei desacreditado. — Pois é, acho que quem mais ganhou, foi a emissora com audiência! Porque você meu amigo, está sendo m*l falado em todos os lugares possíveis. — Simon deu uma pequena risada enquanto levava seu cappuccino à boca. — Vou processar esse jornal! — Por ter te chamado de arrogante? Esfreguei o rosto, fitando profundamente o jornal. O erro havia sido meu, e aquele jornal havia sido fruto das minhas palavras, assim como a demissão de Claire. — Que inferno! — Praguejei. Simon era meu sócio, mas além disso, ele era meu melhor amigo. E se tinha algo que eu admirava nele, era sua capacidade de sorrir quando o mundo ruía, ou a capacidade de mostrar insatisfação mesmo quando as pessoas diziam que tudo estava bem apenas para me agradar. — Já passou da hora de fazer um pedido de desculpas formal. — Exclamou Simon, ajeitando o relógio em seu pulso largo. — Aliás, e Claire, realmente se demitiu? — Não me lembre disso, por favor! — Eu pedi. — Queria tentar resolver com Claire primeiro, mas já vi que vai ser impossível! — Você sempre foi péssimo em resolver problemas. — Seja meu amigo, Simon e não um leitor do jornal. Ele gargalhou. — E é por isso que estou dizendo que você é péssimo em resolver problemas! Eu aponto seus defeitos e você tenta fazer o possível para melhorá-los! Não vou ser como as mulheres que você sai ou como as páginas de revistas masculinas te nomeando como o homem perfeito! — E é por ser do contra que você é meu único amigo! — Falei — Eu tenho a impressão que só fazendo essa declaração pública de desculpas, não vai resolver os meus problemas! — E eu tenho impressão de que esse problema a qual você se refere seja a Claire! — Não exatamente a Claire, mas a ausência dela. — O respondi, dando um sorriso educado para o Garçom que me trouxe um copo de achocolatado quente com o meu nome escrito. — Ah Jake, precisa entender que eu não sou uma pessoa qualquer, sou seu amigo, e dizer pra mim que o seu comportamento é porque sua secretária pediu demissão, é a mesma coisa que mentir. — Simon bocejou, esticando seu braço longo na beirada do braço do sofá em que estávamos, na lateral dos fundos do Starbucks. — Eu sei que os seus sorrisos de cinismo pra ela, sempre foram de satisfação! Você não está sentindo falta de uma secretária, está sentindo falta da pessoa que ocupava o cargo, e você sabe… — Ei, ei, ei! — O interrompi — Olha o que está dizendo, Simon! Ela é minha secretária! Está querendo dizer que eu estou interessado por ela? Está ficando louco? Você nunca me vê com mulheres e quando está a me ver com uma, cria logo uma história amorosa em sua cabeça? Simon fez algo que eu odiava. Debruçou-se sobre a mesa à nossa frente, enquanto me encarava sem graça a frustrado com a novela que ele havia acabado de criar. Não n**o que nunca pus os olhos admirado em Claire, assim como já pus em várias outras mulheres, mas naquele contexto dissociativo s****l eu nunca havia o feito, pois sempre me policiei para olhar para ela como uma funcionária, e Claire me ajudava nisso, destilando ódio cada vez que olhava em seus olhos, como uma leoa pronta para atacar. — Não criei nada na minha cabeça, Jake! — Ele riu ditando silaba por silaba — Basta olhar pra você quando está debatendo com ela irritado! O brilho nos seus olhos é genuíno! — É sério isso? — Desvencilhei-me do assunto! — Não tem outro assunto? — Tudo bem, tudo bem, parei, prometo! — Simon desistiu, observando as horas no relógio. — Que tal esquecer os problemas mais tarde e sairmos para entornar o copo? Era disso que eu precisava. De um pouco de álcool no sangue, para pôr meu juízo em dia.
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