*** Claire Blackwood ***
— Ainda acho você sem juízo! — Quinn murmurou entre um gole e outro no Gin de limão entre seus dedos da mão. Seus cabelos presos em um r**o de cavalo estavam ali estrategicamente para que o seu amor da vez usasse para puxar durante boa parte da noite. — Se precisava tanto do emprego, porque fez isso?
— Porque eu cansei! Ver ele naquela entrevista, me fez lembrar de todas as vezes que ele fazia de tudo pra me irritar. — Resumi novamente pela milésima vez.
Estávamos no calcinha louca novamente. Fui presenteada com um lote de 6 taças de Gin por ter ganhado a última competição de alguns homens e fui nomeada a estrelinha da cachaça dentro do bar, e como tradição, tive que deixar uma calcinha minha no varal. Quinn resolveu me acompanhar em uma nova dose de bebedeiras durante a noite e já que no dia seguinte eu não tinha que acordar cedo para ir a um trabalho que sequer existia, eu provavelmente iria me preocupar em deixar o estoque de bebidas do Calcinha louca sem uma gota de álcool dessa vez.
— E como vai pagar as parcelas do seu apartamento? com folha de bananeira?
Bem pensado, um desespero interno e tanto.
— Entreguei alguns currículos e vou adiantar algumas parcelas com o valor da rescisão. Vou me virar até lá — Eu respondi, bebendo um champagne que tinha gosto de limão, algo novo na casa.
— Bem pensado! Mas sabe que posso te ajudar se precisar, certo?
— Não se preocupe, não vou precisar! — Eu sorri. Quinn me tratava como uma filha por ser mais velha que eu 12 anos. — Mas de qualquer forma, Obrigado! — A atenção da loira se voltou no celular sorrindo boba — E o seu par romântico, como está?
— Ele quer que eu o encontre! Ele está no restaurante do outro lado da rua! — Seu olhar entregava que ela esperava que eu fosse junto.
— Ah não, por favor, não! Não vou empatar a noite de vocês com meus problemas, fique à vontade!
Quinn fez um bico com os lábios pintados de rosa choque.
— Ah Claire, eu disse apenas que era uma amiga e faria surpresa! Ele também está acompanhado! — Ela falava alegre, feliz, como se tivesse o número da Lottoland e fosse ganhar milhões de euros.
— Pelo amor de deus, não! A última coisa que preciso é de um encontro agora! Vá, se divirta, e quando estiver indo, me ligue e vamos juntar! — Decidi.
— Meu telefone descarregou. — Quinn falou virando a frontal do aparelho em minha direção.
— Então, amanhã você me liga e conta como foi! Eu vou ficar bem, eu juro!
A loira levantou-se, pegando em minhas mãos. Deferiu olhares para o garçom que ria com a cena, e logo se dirigiu para ele através de palavras.
— Tim, se Claire ficar muito bêbada, será sua responsabilidade a botar dentro de um táxi até em casa, Ok?
O garçom sorriu, me servindo uma nova dose de Champagne depois de ver meu copo vazio e o último gole descer pela minha garganta.
— Deixa comigo, loira. Tá comigo, tá com Deus! — E piscou.
Claire saiu pela porta depois de deixar um beijo na minha testa e 30€ euros para o táxi no meu bolso, que só percebi depois que ela havia sumido de vista.
Eu bebi durante aproximadamente quase uma hora ignorando as milhares de chamadas telefônicas de Hardin que insistia em me ver a quase 2 dias, e tudo o que eu podia fazer era fingir que as tentativas dele estavam acontecendo um universo paralelo que não fosse o meu. Mesmo depois de pelo menos 6 copos de champanhe intercalado de um copo de água, não havia sido o suficiente para me embriagar.
Tia Carrie sempre disse que o que separava os lúcidos dos cachaceiros, eram aqueles que já não eram nem mais afetados pelo teor alcoólico, e mesmo que fosse duro de admitir, temo ter chegado a esse patamar.
Até quando eu ignoraria Hardin? Aquilo precisava acabar, na verdade já havia acabado pra mim, agora precisava acabar pra ele. Paguei as taças de Champagne que bebi no balcão, e ao sair de dentro do bar e do barulho, atendi a ligação afoita do meu ex-namorado.
— Seja rápido, Hardin! — Eu me impus ainda ouvindo o barulho do som de dentro do bar.
— Onde você está, Claire? — Ele estava estressado, e eu não o julgo, pois também ficaria depois de ligar milhares de vezes e não ser atendida.
— Não é da sua conta! É pra isso que estava me ligando milhares de vezes? — Eu o questionei.
— Eu quero saber onde você está!
Andei um pouco mais viela adentro, me distanciando de algumas pessoas, longe do som ou de qualquer outra coisa que pudesse falar por mim.
— Estou em casa…próximo de casa…— Desconversei entregando meu nervosismo.
— Ah que maravilha, então se apresse! Estou na sua porta. Você trocou a maçaneta? Eu disse que daríamos um tempo e não que terminaríamos.
Eu parei de supetão, suspirando o mais fundo que podia. Eu havia ido até o bar porque queria dissipar o estresse da cabeça, mas do que adiantaria chegar em casa e encontrar Hardin me esperando para impor coisas que não precisavam da minha opinião. Eu precisava de qualquer coisa para me distanciar, mesmo que tivesse que ficar até de manhã vagando pela rua, esperando que ele cansasse de me esperar, pois eu não seria louca o suficiente para desfazer a noite incrível que Quinn provavelmente estava tendo pedindo para ir para sua casa, pelo menos não a essa altura da conversa.
— Achei que tivesse entendido o recado quando pedi pra tirar suas coisas do meu apartamento.
— Não, não entendi! — Hardin retrucou. — Claire, porque eu acho que você não está próximo de casa?
— Escute Hardin, acabou! O nosso relacionamento acabou! Vamos ser adultos e resolver isso como tal. Você vai pra sua casa e ponto final. Não somos casados, não temos o que tratar.
— Claro, venha pra casa e nós conversaremos!
— Não, não vou! Hoje não!
— Se não vier, eu vou atrás de você em todos os bares de Londres até te encontrar!
Eu ri nervosa. Porque é que ele tinha que ser tão teimoso assim? Meus olhos rodaram pela rua, esperando encontrar Quinn na saída do restaurante da frente, mas provavelmente ela já deveria ter ido embora. Eu não precisaria pedir a ajuda se a encontrasse, pois o pedido de socorro estaria escrito nos meus olhos.
— Espero que esteja descansado Hardin, porque vamos brincar de pique esconde de madrugada pelas ruas de Londres!
— Sei que está naquele bar xexelento do Calcinha louca, e eu estou entrando no meu carro nesse exato…— não o deixei terminar, apenas desliguei o aparelho antes que ele completasse a frase.
Hardin não era dono de mim, eu era. Apenas eu e mais ninguém. Andei em passos curtos, apressada e confusa. Eu precisava sair dali o mais rápido possível. Poderia até me hospedar em algum lugar, mas estava sem minha Identificação. Talvez pudesse pedir ajuda a Quinn caso ela ainda estivesse ali, qualquer ajuda que não comprometesse sua noite. Pus a cabeça na frente da janela do restaurante caro que ela havia ido fazer companhia a seu novo namorado, mas o recepcionista com cara de poucas amizades foi curto e frio.
— Estamos lotados, Senhorita!
Eu ajeitei a postura.
— Ah, não, tudo bem! Eu só quero chamar uma amiga! — o respondi educada.
— Senhorita, eu disse que estamos lotados! — ele repetiu como se eu fosse leiga.
Aquilo me irritou de uma maneira inexplicável e o meu lado sem paciência começou a dar as caras em uma hora imprópria, pois eu precisava guardá-lo para caso encontrasse Hardin, que era um louco quando se tratava de dirigir carros e se eu demorasse muito, provavelmente estaria ali em menos de 10 minutos, já que havia se passado algum tempo desde desliguei a ligação em sua cara, sem chance de resposta.
— Meu querido, não quero comer ou fazer algum pedido, somente quero encontrar uma amiga!
— Eu entendi, Senhorita! Mas não será permitido nem sua entrada. Sugiro que espere na entrada!
Alavanquei o ombro para entrar no salão principal, mas antes que eu atravessasse o batente da porta, meu corpo se chocou contra outro ainda maior e mais rígido. Os olhos azuis foram as primeiras coisas na qual eu fui obrigado a me lembrar, olhos azuis que eu queria evitar tanto quanto o dono deles.
— Claire? — Ele indagou como se estivesse vendo um fantasma em sua frente.
Porque o destino tinha que ser tão c***l? Quanto mais eu corria, mais perto dele eu estava.
— Corbyn?
O garçom se endireitou sob sua cadeira, afunilando os dedos na gola amassada. Um sorriso decadente de vergonha brotou em sua boca, fazendo Jacob fitar ele com os olhos semicerrados tentando entender a situação.
— O que está fazendo aqui? — Ele perguntou confuso.
Talvez eu quisesse entrar, mas não com Corbyn ali.
— Eu…eu...eu estou... — Fui interrompida pelo homem entre nós.
— Sr Corbyn, essa Srta. está com você? — O garçom passou os olhos pela lista de nomes sobre a bancada de madeira. Meu interior culminava ódio por Jacob, mas talvez eu pudesse usufruir do seu status e procurar Quinn ao lado de dentro, sem estar exposta demais para que Hardin me encontrasse e começasse com seus achismos em plena noite londrina.
Meu ex-chefe me estendeu a mão, com uma face indecifrável entre o simpático e o antipático.
— Me responda você, Claire…você está comigo?
Eu olhei para o Garçom com cara de surpresa e para Jacob que aguardava minha resposta.
— Sim, estou! — Corbyn pegou minha mão, me direcionando para o interior do restaurante, agradecendo ao garçom com um aceno.
Uma de suas mãos se encaixaram em minha cintura, guiando-me para a última mesa no fundo do restaurante. Não precisei notar muita coisa para saber o porquê o garçom não queria permitir minha entrada. Os talheres e pratos sobre a mesa eram tão limpos que serviriam de espelho facilmente se eu me aproximasse. As toalhas de cetim marrons e cinzas, eram bordadas com rosas de cores um pouco mais claras. Lamparinas de luzes quentes sobre a mesa com um jarro de rosas brancas sobre cada uma delas dando um toque sensual. Aquilo não deveria ser tão romântico assim para um encontro a três, a não ser que Quinn resolvesse incrementar uma terceira pessoa em sua noite amorosa. O lugar era caro, caro demais, tão caro que provavelmente ninguém ali gastaria menos de 1.000,00€ com pratos tão lindos que davam pena de comer.
Ele puxou a cadeira de madeira e eu me sentei, enquanto algumas pessoas olhavam pra mim, apenas por estar acompanhada dele. Varri os olhos por cada mesa, em cada canto do salão quadrado, mas nem sinal de Quinn ou de qualquer coisa que pudesse remeter a ela.
— Claire? — Jacob me chamou novamente — Estou falando com você, pode prestar atenção em mim?
— Ela não está aqui! — Eu murmurei, olhando por alguns segundos para ele à minha frente, mas logo depois procurando novamente Quinn.
— Ela quem?
— Minha amiga! — Eu disse. Suas sobrancelhas douradas se unificaram na testa branca. — Porque acha que eu tentaria entrar aqui?
— Não sei, na verdade não faço ideia!
— Minha amiga Quinn estava aqui com o namorado dela e um amigo, na verdade antes disso ela estava no bar do outro lado da rua comigo, mas eu não quis estragar sua noite. — m*l terminei e ele começou a rir, coçando sua nuca ainda sem olhar pra mim.
— O bar para bêbados do outro lado da rua? Não entro lá, acho péssimo na verdade.
— Ei, o Calcinha louca é ótimo bar. — Ele começou a rir. — Porque está rindo de mim?
— Não estou rindo de você, estou rindo da situação. Você é a amiga de Quinn? A psicóloga loira?
— Espera, você estava saindo com a Quinn? Meu deus…
Era só o que me faltava. Quinn de romance amoroso com o homem na qual eu declarei ser o mais i*****l da terra. Mas algo ainda não se encaixava.
— Simon, sua amiga está saindo com Simon, e não comigo! — Ele murmurou me observando atentamente.
Droga, Quinn estava saindo com Simon? miserável sortuda. Desfilando com o sonho da metade da Orsoft, mas pra falar a verdade, minha amiga era incrível, então na realidade, Simon era quem estava com sorte. Jacob não me parecia o tipo de homem que eu esperava vê-lo atuava como cupido.
— Onde ela está?
— Tarde demais, ela foi embora com Simon e eu já segurei vela o suficiente, então decidi ficar.
— Mas você estava indo embora, não é?
— Até você chegar! — Ele exclamou contente, enquanto o garçom servia uma taça de vinho do porto em nossas taças. — Gosta de vinho?
— Eu odeio vinho! — Menti, não daria esse gostinho a ele. — Sinto muito Jacob, sou formal apenas no trabalho, mas fora dele prefiro vodcas e tequilas!
Ele pendurou seu corpo para trás, apoiando-se na cadeira, fitando intensamente seu copo enquanto o balançava em movimentos circulares e vagarosos, seus dentes sobressaíram em um sorriso junto com a covinha linda de sua bochecha.
— Então você é formal apenas no trabalho? — Ele ainda não me fitou — Isso quer dizer que voltou atrás com sua decisão de demissão?
Culpa do efeito alcoólico das bebidas que ainda corriam em minhas veias e ocasionavam esse tipo de coisa, me fazia sabotar a mim mesma.
— Não foi você que disse que não me deixaria voltar atrás?
Ele piscou algumas vezes, cético de que eu usaria essas palavras contra ele, mas se eu estivesse errada, no fundo, ele tinha ciência que eu de fato, usaria, e se ele estivesse realmente sentindo minha falta como secretária, voltaria contra seu orgulho. Mas isso seria apenas mel para os meus ouvidos, pois eu não voltaria atrás com a minha decisão.
— A situação é diferente agora! — Ele disse, devagar, sem pressa. — Eu te liguei várias vezes, e você não me atendeu em nenhum momento.
— E qual a situação? — Disse — Não atendi porque não tínhamos mais nada a tratar. Eu era sua secretária, e como não sou mais, não achei viável atender. Não vai me convencer.
— Acredite em mim, eu só precisaria de 2 minutos em um quarto sozinho com você para convencê-la.
— O que? Você… — O praguejei, ferozmente.
— O que você quer pra voltar? — Ele disse por fim, sem mais delongas, direto ao ponto. Meus olhos brilharam e de minha garganta poderia sair muitas coisas. Eu não era orgulhosa, mas se Jacob chegou ao ponto de pedir que eu voltasse, é porque provavelmente havia motivos para isso e talvez essa poderia ser minha cartada para mostrar que eu era muito mais que uma secretária dentro da empresa, eu era seu braço direito.