CAPÍTULO 06
Não estava mais suportando continuar presa dentro desse quadrado , estava me asfixiando.
Num acesso de raiva passei as mãos por cima da bandeja do café da manhã jogando tudo pelo chão , enquanto um surto tomou posse de mim. Corri em direção da porta puxando a maçaneta sentindo o desespero me tomar por completo.
- Abre essa porta! Eu quero sair!. Me tira daqui, me tira daqui agora! – Soco a madeira concentrando todo o ódio que possuo nas veias.
Minha histeria durou cerca de algum tempo , em dado momento me joguei no chão encostando-me contra a cama tentando me acalmar. Se eu permanecesse surtando dessa maneira só estaria dando ainda mais corda a esse louco de me manter em cativeiro por aqui.
Sinto náusea quando as imagens me vem a memória da morte daquelas pessoas , no vídeo que Nikolai Abramov me mostrou , os detalhes eram desumanos e tão macabros quanto poderiam ser. O que aconteceu ali foi devastador e por um lado eu até conseguia compreender o ódio dele em ter perdido sua família para um atentado, qualquer um se desesperaria. Entretanto ele havia conseguido me marcar , porque tinha consciência de que nunca mais eu iria conseguir esquecer aquelas imagens novamente. Sequer poderia ponderar a hipótese de estar naquele lugar tirando fotos ou gravando vídeos daquela pilha de corpos entrando em decomposição, e ainda mais de pessoas que eu amava. O mero pensamento me enche de agonia e só por um instante me coloco no lugar do meu algoz.
Nada disso isentava o fato de que ele havia me sequestrado.
Não o desculpava , mas compreendia sua dor ...pelo que ele era movido , ainda que batalhasse contra o terror e o medo no meu peito.
Nem mesmo conseguia acreditar em sua fala descabida de estar culpando o meu pai pelo que aconteceu no seu país. A questão era que Abramov estava tão cego pela ira e pela dor que queria encontrar um culpado pela catástrofe que aconteceu com a sua família . Eu não queria dizer que não havia mesmo um culpado por detrás de tudo isso , mas eu tinha uma convicção de que nada disso se resumia ao meu pai, ele nunca faria m*l a ninguém.
Porém se Nikolai Abramov acreditava mesmo fielmente que o meu pai estaria por detrás daquelas mortes, ele não teria outra escolha a não ser vir atrás dele e eventualmente da sua família.
Escuto a porta sendo destravada, assim que eu olho para cima deparo-me com ele .
O mesmo me estuda com os braços cruzados.
- Já se acalmou?
Por Deus , ele só estava mesmo me provocando ou querendo que eu avançasse sobre sua jugular e a cortasse, se eu pudesse é claro.
Segurei o ímpeto violento fechando meus punhos.
- Já que vai me manter aprisionada nesse lugar . Pelo menos que eu possa transitar para fora daqui , estou ficando claustrofóbica. – Ele ergue uma sobrancelha .
- Planejava fazer isso hoje , mas como você não cooperou mudei de ideia.
Me levantei possessa , sentindo meu sangue queimar nas veias.
- Como é ? – Afastei umas mechas de cabelos que vieram parar no meu rosto , observando Nikolai prestando atenção à cada movimento que faço. – Você por acaso faz ideia de como é horrível permanecer presa , parada em um só lugar ?
- Sim eu faço , já passei por coisas muito piores que isso. – Sua fala é dotada de inexpressividade.
Meu Deus como eu odiava esse homem!
- Olha só! Eu já perdi a minha paciência , estou cheia. Se vai me matar mata logo! – Abri meus braços o enfrentando- Para que adiar o inevitável? , uma hora ou outra você vai fazer isso mesmo , então faz logo- Meu coração batia enlouquecido contra meu peito embora eu parecesse muito segura.
Ele estuda meu rosto e então um sorrisinho cínico aparece, uma vez em que o mesmo arrasta os dedos por cima de sua boca .
- Eu sei o que está tentando fazer . Você só está querendo a garantia de qual será o seu destino ou do que pretendo te fazer
Odiava o quanto esse louco era perspicaz.
Não era para nem mesmo eu estar surpresa já que sabia que Nikolai Abramov havia estudado minha rotina e cada passo que eu dava, isso para ele é fichinha.
- Ok , eu não vou mais surtar. Mas eu preciso que me tire daqui.
- Estou aberto a negociações – Ergueu as sobrancelhas grossas
- Você me tira desse quadrado e eu fico na minha – Imito sua pose cruzando meus braços .
Era claro que eu não ficaria, mas ele tinha que engolir meu blefe.
Seus olhos passam por meu rosto minuciosamente, tentando captar certamente se eu estava mesmo sendo verdadeira em minha fala.
Quando pensei que por fim teria minha resposta Nikolai Abramov simplesmente me dá as costas indo em direção da porta.
- Não vai mesmo nem considerar?- Perguntei quase entrando em desespero.
Tudo o que eu recebo de volta dele é um olhar enigmático por cima dos seus ombros e em seguida o mesmo tranca a porta me deixando para trás outra vez.
Isso só podia estar sendo um pesadelo!
-Acorda Amélia! ...acorda pelo amor de Deus!- Me estapeei o rosto para ver se eu não estava mesmo em uma alucinação , ou um sono muito pesado e por algum motivo nem acordando estava . Porém a realidade caiu em cima de mim como um banho de água empedrada nem fria era, porque eu querendo ou não eu me encontrava mesmo em cativeiro.
Para não terminar de perder a cabeça , fui para o banheiro tomar um banho – eu tinha que colocar minhas ideias em ordem, quando voltei para o quarto algumas sacolas estavam em cima da cama . Abri cada uma vendo o que tinha dentro, haviam roupas , sapatos , lingeries e eu fiquei passada quando vi o tamanho P .
- Não creio que ele sabe até mesmo o tamanho das peças intimas que eu uso – Coloquei as mãos por cima da minha boca em completo choque.
Como não suportava mais ficar vestindo as mesmas roupas que estava usando desde o sequestro , coloquei uma calça de moletom e uma regata de cor lilás.
Mais uma vez girei pelo quarto com as mãos na cintura sem saber o que mais poderia tentar fazer , e então escuto o click da porta sendo aberta. Tentei conter minha euforia conforme me aproximava , poderia ser uma cilada ...mesmo assim fui até lá e acabei de escancarar a madeira dando de cara com o corredor vazio , não havia ninguém . Portanto haviam duas alternativas ou eu ia para um lado ou para o outro, e eu segui meus instintos.
Estava descalça e nem mesmo fiz menção de colocar um sapato que fosse , porque qualquer coisa que fosse eu daria um jeito de escapar desse lugar , só precisava de uma única chance.
Segui pelo corredor me deparando com uma enorme sala de estar , havia sofá , televisão e uma parede inteira lotada de livros.
Parei boquiaberta.
- Gostou ? – Escuto a voz de Nikolai atrás do meu corpo
Virei-me rapidamente para encará-lo.
O mesmo me estudava atentamente escorado numa pilastra.
- É melhor do que nada – Ele riu conforme me aproximava dos livros , arrastando os dedos pelos mesmos .
- Vai dos clássicos aos mais atuais.
Assinto , enquanto umas ideias me vem vindo na cabeça enquanto passeio pelos livros com Nikolai no meu encalço.
Como ele me quer , vou deixa-lo me ter.
Não é uma estratégia particular nem tenho qualquer ideia se vai mesmo funcionar e até mesmo pode se voltar contra mim. Contudo nas circunstancias que eu me encontrava era melhor já que eu estava prestes a matar cachorro a grito.
Foi ele mesmo quem disse que no dia em que ele me tomasse para ele seria eu mesma quem iria pedir, então parece que esse dia chegou . Se eu me tornasse sua amante , quem sabe ele não me deixaria partir?
Virei-me para ele estudando seu rosto bonito , seu tórax e corpo .
Usava calça jeans escura e camisa sem mangas de cor igual , um rolex se fazia presente em seu pulso dando um visual decente para as veias ressaltas em suas mãos.
O homem não era mesmo de se jogar fora.
Eu não acreditava que iria usar minha virgindade para me tirar da boca da morte.
Mas vou tentar olhar pelo lado bom .
Pelo menos ele era bonito
- O que foi ? – Nikolai pergunta franzindo a testa prestando atenção que eu o engolia com os olhos.
Homens naturalmente gostam de mulheres experientes e eu não era uma , embora lesse bastantes livros e ficasse curiosa a maioria das vezes para saber como era ter relações intimas nunca ousei fazer , sempre tive o pensamento de que essas coisas viriam quando eu me cassasse com a pessoa certa , um dia.
Mas como eu não tinha saída e me encontrava desesperada para sair daqui eu iria adiantar as coisas.
Tenho que tentar fazer com que ele perca o interesse em mim.
Li em um livro uma vez , que o jeito mais fácil e rápido de perder um cara é dormindo com ele.
Ousada naveguei uma de minhas mãos pelo peito musculoso de Nikolai enquanto ele me observava atentamente, imóvel.
Encarei com firmeza em seus olhos.
- Quer me tirar do tédio? – Perguntei usando uma voz melosa
- O que está querendo Amélia? – Seus olhos eram uma cortina escura, brilhantes quanto a noite.
- Eu quero t*****r com você – Um lampejo de surpresa passou por seus olhos enquanto eu o olhava de volta cheia da convicção.
Se ele queria que eu entrasse de cabeça em seu jogo doentio, pois eis-me aqui.