POV AMÉLIA|01
CAPÍTULO 01
Não durou muito até que pudéssemos escutar um estrondo ensurdecedor vindo dos portões da frente quando há todo um alvoroço. Tudo o que consigo captar são fumaças tomando todo o ar, uma vez em que os seguranças correm para nos tirar do jardim da casa.
-Venha por aqui - Um deles diz me agarrando pela mão me incentivando a correr, sendo que havia me perdido da minha mãe e irmã. Quase não dava para enxergar um palmo à minha frente, tudo estava escuro e eu podia escutar tiros e pessoas gritando, o que eventualmente me deixou com um medo terrível.
-Meu pai!, ele está lá ...- Eu grito a plenos pulmões para o segurança que está me puxando para longe das imediações da casa.
Porém o homem não me responde nada de volta. Tentei parar e impulsionar a palma da minha mão para longe da sua , mas ele a apertou com firmeza
-Para onde estamos indo? - Perguntei assustada, ainda olhando para trás por cima dos meus ombros ao me dar conta de que estávamos nos distanciando da propriedade da minha família.
A irritação irradiou por todo meu corpo, e então novamente senti o já tão conhecido calafrio alcançando as imediações da minha nuca. Senti que algo estava errado quando uma van preta esperava por nós do lado de fora.
-Não...eu não vou entrar aí - Tentei frear meus passos, mas fui arrastada assim mesmo, eu não tinha forças para ir contra a massa de músculos no qual o homem era construído nos seus quase dois metros de altura.
Abri minha boca para soltar um grito por socorro, mas o olhar mortal do homem que se virou por cima dos seus ombros para me dar um aviso letal me paralisou no ato.
- Não grite- Sua voz profunda, mas contendo uma clara irritação por detrás do seu tom, fez com que eu engolisse em seco, meus olhos estavam arregalados.
Então no modo automático entrei dentro da van escorregando para bem perto da janela me deparando com mais outros caras, apontando armas para mim uma vez em que direcionei meu olhar para o homem assustada, enquanto ele dizia em outra língua para o outro cara que estava na direção do volante.
-Poyekhali!- E então o carro saiu cantando pneus enquanto eu podia sentir meu coração quase atravessando minha garganta a fora.
-Para onde estão me levando?
-Você faz perguntas demais- Ele tinha traços marcantes, se eu não estivesse com tanto medo o acharia até mesmo bonito, mas eu não queria pensar em coisas supérfluas quanto estas. Era minha vida que estava correndo perigo aqui.
-Eu não conheço vocês ....eu não fiz nada- Minha voz falhou, estava quase chorando, o nó parado no meio da minha garganta se tornou insuportável.
- Você não fez, mas o seu pai sim
Entretanto senti uma fisgada no meu pescoço, levei a mão ao lugar sentindo meus movimentos todos lentos, tudo o que apareceu na minha frente foi uma cortina de escuridão logo em seguida.
***
Despertei sentindo uma dor de cabeça horrível, o mesmo homem que havia me forçado a entrar no carro me olhava de volta, sentado de modo impassível em uma cadeira que estava posta no canto do quarto. Me encolhi, tentando ignorar a dor latente na minha cabeça.
-Porque estou aqui? o que quer comigo?
Seus olhos estreitaram-se em minha direção. Ele era bonito, mas m*l- encarado... frio. Algo em sua energia me deixava em total alerta como se a todo momento eu estivesse correndo perigo e de certo modo não deixava de ser verdade.
- Já disse, tem mais haver com o seu pai do que com você
- O meu pai é um homem correto e honesto, duvido que ele tenha feito algo de errado
Um quase sorriso se estendeu pelos cantos de seus lábios de modo sarcástico.
- Pelo visto a princesinha mimada não sabe mesmo o pai que tem. Não posso te culpar, acontece nas melhores famílias - Ele se ergueu em seu tamanho imponente.
Usava calça jeans preta e camisa de cor igual, enquanto nos pés usava coturnos, isso me despertou para o óbvio de que ele havia substituído a roupa anterior por essa. Eu havia me formado em medicina, mas também era adepta da moda e querendo ou não o estilo do tal me chamou a atenção. Se não fosse claramente um marginal daria para ser um modelo de sucesso, isso não poderia negar. O rosto simétrico tomado por barba dava um contraste e tanto com sua imponência. Algumas tatuagens se espalhavam por seus braços o que o tornava ao mesmo tempo atraente, mas igualmente assustador.
Ele se aproximou de onde eu estava, uma vez em que me arrastei por cima da cama encostando-me contra a cabeceira sentindo-me tremer, com medo do que ele poderia fazer comigo.
Olhando-me de cima ergueu uma de suas mãos na direção da minha boca, contornando meus lábios com seu dedo polegar, a medida em que senti um calafrio me percorrendo por inteiro junto com uma sensação estranha ao qual não combinava em absolutamente nada com o medo que sentia.
- Não precisa ter medo de mim, eu não pretendo te matar
Virei meu rosto para o lado tentando fugir do contato dos seus dedos ásperos contra minha pele. Entretanto de modo desaforado o mesmo agarrou-me pela mandíbula fazendo com que meu rosto virasse para ele, mantendo-me firme no lugar.
O olhei com raiva, por mais que estivesse sentindo um medo terrível não poderia demonstrar fraqueza, não foi o que minha família me ensinou desde criança. Ergui meu queixo o encarando dentro dos olhos tão gélidos e sombrios quanto pareciam ser.
Notavelmente suas pupilas balançaram excitados por ter sido claramente confrontado.
- Faça logo o que tem de fazer e me deixe ir
-Filha de peixe, peixinho é. Não tem medo do perigo?- Estreitou os olhos perscrutando seu olhar por todo meu rosto.
-Acha mesmo que o meu pai vai te deixar sair impune? Quem deveria temer a ele, é você - Eu poderia estar me garantindo demais estando dentro de um quadrado a sós com um bandido psicopata, mas não poderia me render as suas vontades sem antes lutar.
Seu aperto intensifica um pouco mais contra minha pele, porém não saio da minha posição ainda o olhando de igual para igual.
-Que boquinha atrevida. Gostei disso...
Seu tom malicioso fez com que minha pulsação ficasse acelerada, uma vez em que o pânico me corroeu por dentro.
-Qual é o seu nome?- Eu não deveria querer saber, mas a curiosidade que habitava dentro de mim foi maior.
O mesmo sondou meu rosto, avaliando cada reação amedrontada que com certeza acabei deixando transparecer nas minhas expressões faciais.
-Nikolai Abramov - Engoli em seco diante da intensidade maliciosa e severa que encontrei presente em seu olhar, tão escuro quanto as sombras.