Sai de casa após tomar café sozinha. Era oito e pouco da manhã, e eu descendo pro trabalho. Não via a hora de ir resolver o negócio da casa com o Terror.
Quero sair daquela casa o quanto antes. Depender dos outros é f**a, depois eles vem querer jogar os bagulhos na tua cara, dá mó raiva do c****e.
Cheguei no bar, e dona Carla já arrumava as mesas. O bar estava vazio, pois ainda era de manhã. Mesmos que ainda fosse cedo, tinha bastante gente na rua, hoje era sábado, e já percebi que o morro fica agitado nesse dia, ainda mais quando tem baile com show ao vivo.
Sorri pra dona Carla e fui ajudar ela a arrumar as coisas ali.
•••
Hoje o dia aqui no bar tinha sido muito tranquilo, estava um pouco lotadinho, mas eu dava conta de tudo. Era seis horas em ponto e daqui a pouco eu já iria direto na boca resolver com o Terror a casa que irei morar.
Pegaria uma simplesinha mesmo, que dê para eu pagar, e me sustentar com o meu salário.
Carla: Tu já pode ir, Gabi. Eu dou conta do resto.
Gabi: Tudo bem. – sorri tirando o avental.
Me despedi dela e sai dali vendo algumas publicações no meu face. Guardei o celular no bolso traseiro e fui andando rápido até a boca principal. Eu sabia aonde era pois eu tinha que passar por lá quando vinha trabalhar. Era em um beco.
Tinha vários traficantes ali, e alguns usuários. Me fiz de cega e passei por eles fingindo que nem tinha visto os mesmos.
Carlito: E ai Gabi, Terror tá te esperando, pode entrar ai. – falou se aproximando.
Sorri pra ele e fui entrando no pequeno barraco que tinha ali. Vi ele sentado na cadeira com um cigarro no bico, enquanto mexia em seu celular. Ele me olhou, e guardou o mesmo, no bolso da bermuda.
Terror: Senta ai. – murmurou, soprando a fumaça.
Sentei na cadeira em sua frente, a única coisa que nos separava era a mesa que tinha ali. Fiquei encarando ele, e ele me encarava também, sem dizer nada, e isso já estava me agoniando demais.
Na minha cabeça só estava eu saindo daquela casa deles, e indo ser feliz, sem depender de ninguém, apenas de mim.
Gabi: Tô esperando...- cruzei os braços, ainda encarando ele.
Terror: Tenho várias casas espalhadas pelo morro, vê as fotos ai.
Ele jogou algumas fotos em mim, e eu peguei vendo as casas. Eram todas ajeitadinhas, mas teve uma que eu gostei mais, ela era branca por fora, tinha um portão de ferro cinza, e era na rua 7, perto da onde eu trabalho. Tinha algumas fotos dela por dentro, e ela já vinha com alguns móveis, tinha três cômodos, quarto, cozinha, sala e um banheiro no quarto.
Gabi: Eu gostei mais dessa, quantos que é o aluguel? – mostrei as fotos da casa pra ele.
Terror: 650. – suspirou.
Arregalei os olhos, e olhei pra ele assustada. Meu Deus!.
Gabi: Tudo isso? Isso é muito caro pra uma casa de três cômodos, eu só recebo 500 por mês, Terror. – encarei ele. – Abaixa pra mim, por favor!. – pedi e ele negou. – Por favor, faço tudo o que tu quiser, mano, juro!. – falei, e ele parou pra pensar um pouco.
Terror: Eu abaixo o aluguel pra 250, se tu liberar pá mim. – suspirou, sorrindo de lado.
Fechei a cara em uma careta na hora, sentindo meu coração acelerar. Esse cara tá pensando que é quem?
Gabi: Tu tá maluco, é? Nunca que eu vou fazer isso! – neguei com a cabeça, dando uma risada falsa.
Terror: Então eu não posso fazer nada, por que os alugueis das casa são tudo de 500 pra cima. – deu de ombros.
Gabi: Abaixa ai terror, por consideração a minha irmã, cara. – juntei as mãos encarando ele.
Terror: Se liga, Gabriela. – negou. – Ou é isso, ou nada.
Me encostei na cadeira com uma vontade enorme de chorar. Ele não podia estar fazendo isso comigo! Ele sabe que quero mais que tudo sair daquela casa, e fica fazendo essa p***a desse joguinho.
Gabi: Pensa por uma lado, Terror, você vai se livrar de mim, nem vai ver mais a minha cara, não vou mais atrapalhar e tirar a privacidade de vocês dois.
Terror: Já dei meu papo. Se tu liberar eu dou a casa pá tu, nem precisa pagar aluguel, e ainda mando mobiliar ela inteira pá tu, pô.
Arregalei um pouco meus olhos ainda não acreditando nisso. Ele faria isso tudo só pra t*****r comigo? Esse cara é doido ou é muita droga consumida?
Terror: Ou é isso, ou é continuar morando na minha casa junto com a Giulia enchendo teu saco...Tu que escolhe, garota.
Eu encarava ele sem saber o que responder. Eu não tinha o que responder!
Eu não quero ficar morando no mesmo teto que a Giulia, pra ela ficar jogando as coisas na minha cara, mas também não quero ter que t*****r com o Terror só pra mim ter onde morar.
Eu queria chorar, chorar por não saber o que fazer, por talvez ter que me submeter a ficar com ele só pra mim ter minha casa, sem ninguém me encher a p***a do saco.
Gabi: Vai ser só uma noite? – perguntei baixo agora encarando o chão.
Ele não me respondeu, abriu a gaveta, pegou algo dentro dela, e jogou pra mim. Era um molho de chaves, com três chaves nela.
Terror: Vou dar um toque nos moleques pra mobiliar a casa toda, amanhã mesmo tu já pode se mudar pra lá. – concordei com a cabeça.
Gabi: Quando a gente....
Terror: Se preocupa não, que não vai ser hoje que vou atrás de tu. – me olhou. – Tudo no sigilo, se ligou?
Eu apenas confirmei, me levantei com as chaves na mão, e sai daquela boca com o choro entalado em minha garganta.
Desci pra casa da Giulia, entrei e não tinha ninguém. Fui na cozinha e comi alguns biscoitos tomando um toddynho.
Minha mente estava longe, só imaginando como que iria ser as coisas daqui pra frente, como iria ser quando eu transasse com o Terror.
Ele poderia muito bem depois de tudo, ameaçar contar pra minha irmã o que eu fiz, e os caralhos. Na onde foi que me meti, cara?!.
Meu celular começou a tocar, e vi que era a Fernanda. Sorri na mesma hora. Estava morrendo de saudades dessa garota.
Ligação:
Gabi: Oi meu amor.
Fernanda: Oi meu amor nada, sua falsa. Nem me ligou, fiquei mó preocupada, filhona. – respirou fundo, e já imaginei que ela estava com um bico enorme.
Gabi: Desculpa amiga, é que tá acontecendo tanta coisa...- suspirei.
Fui contando tudo pra ela, desde o dia que cheguei aqui, até hoje. Quando disse que a Giulia era mulher de traficante ela surtou, e quando falei que ele queria ficar comigo, ela surtou mais ainda.
Fernanda: Eu preciso muito ir ai. – choramingou.
Gabi: Vem nas férias escolares.
Ela se animou toda, e disse que falaria com a vó dela, mais era bem possível que ela viria. E as férias não estavam longe, daqui três semanas já.
Eu precisava ver a Nanda, estava com maior saudades dela, e ela era a única que conseguia me entender, em tudo!.