Capítulo 3
Eva Narrando
Foi tudo tão rápido que eu nem sei como cheguei até aqui, lembro-me de estar com minha mãe na sala, estávamos sentadas no sofá, comendo pipoca e assistindo algum filme na Tv. Foi a primeira vez que isso tinha acontecido, nunca ficávamos juntas. Após conversamos em meu quarto, descemos para assistir, já que Safira não quis deixar eu ir para o trabalho de jeito algum. Ela falou que precisávamos ter esse tempo para ficarmos juntas, que seria a última vez que algo do tipo iria acontecer. Eu estranhei quando ela falou isso, mas não quis me aprofundar nesse assunto, porque estávamos tão bem. Eu não queria brigar com Safira, pela primeira vez, ela estava sendo uma mãe para mim, e foi uma sensação tão boa. Mas infelizmente tudo o que ela fez foi apenas uma distração para depois apunhalar-me pelas costas. Uma coisa eu sabia, Safira estava esperando alguém, agora quem era eu não fazia a mínima ideia. Até aparecerem aquelas pessoas bem vestidas em minha casa. Dois homens idênticos, e uma mulher loira, olhos verdes, pele branca, vi algo em seu olhar que me deu medo. Vou para o meu quarto assim como Safira mandou, ela falou que tinha algo importante para conversar com as ¨visitas¨. Em meu quarto fico pensando o que Safira teria para conversar com pessoas como aquelas, as mesmas nem pareciam ser brasileiras. Será que elas estão relacionadas com o meu pai? Safira falou que ele não era brasileiro, e se eles souberem do meu pai? Fico tão eufórica que vou para a sala correndo. E se o meu pai descobriu da minha existência e mandou essas pessoas para conversar com a minha mãe sobre mim? Assim que chego na sala vejo a mulher dando uma bolsa cheia de dinheiro para a minha mãe.
Eva – Mãe, para que isso? - Pergunto chamando atenção dela.
Sinto um m*l pressentimento quando minha mãe olha para mim.
XXX – Você vem com a gente . - Um dos dois homens fala com um sotaque forte, o mesmo segura meu braço.
Eva – Mãe, o que está acontecendo? Manda esse homem me soltar. - Peço, olhando para a minha mãe sem entender o que está acontecendo.
Safira – Eva, você irá com eles . - Ela fala, desviando o olhar de mim.
Eva – Para onde eles vão me levar mãe? Eu não quero ir, a senhora não pode deixar isso acontecer, por favor Safira. - Falo já em lágrimas, me debatendo na tentativa falha de fazer o homem soltar-me.
Safira – Prometo que é para o seu bem. - Ela diz isso com uma pitada de alívio na voz.
Eva – Mãe! - Essa é a última coisa que eu falo após sentir uma picada de agulha em meu braço e tudo escurecer.
Então eu acordo nesse quarto totalmente desconhecido para mim, o mesmo é da cor branca, simples e pequeno. Só tem uma cama de solteiro, um guarda-roupas e um banheiro. Tudo é fechado, só tem uma porta. Vou em direção ao banheiro para ver se acho alguma saída, mas decepciono-me quando vejo que não tem. Volto para o quarto e vou até a porta para ver se a mesma está aberta. Forço a maçaneta com intuito da porta abrir, mas está trancada. Sento-me no chão e abraço os meus joelhos, deixando as lágrimas rolarem. Não consigo acreditar que Safira foi capaz de fazer isso comigo, como ela pôde, eu sou a sua filha. Sempre fiz tudo o que ela pediu, a perdoei por tudo que fez e deixou acontecer comigo. Deito-me no chão gelado e ponho minhas mãos em baixo da cabeça, fechando os olhos me vem a mente tudo o que aconteceu em minha vida desde que eu tinha 12 anos. Porque eu acho que foi a partir daí que tudo começou a piorar. Lembro-me de ter matado aquele homem. Tinha tanto sangue em meu quarto, foi horrível aquela cena, e o pior é que eu não consigo esquecer. É como se a mesma se repetisse todos os dias em minha cabeça. Morávamos no Rio de Janeiro, em um comunidade, já que não tínhamos dinheiro para morarmos em um local melhor, mas eu gostava de lá. Mas as coisas começaram a piorar quando Safira começou a envolver-se com pessoas perigosas e a usar drogas. Cada dia ela levava um homem diferente para a nossa casa, e era os mesmo que pagavam as nossas dívidas, já que o pouco que eu ganhava trabalhando de garçonete em um barzinho na comunidade não dava para nada. Safira fazia sexo com os mesmos em troca de dinheiro e drogas, eu não a julgava, mas também não apoiava o que ela fazia. Eu passava o dia trabalhando e a tarde estudando, só ia para casa a noite já que Safira me proibia de voltar durante o dia. Após eu ter matado aquele homem acidentalmente, tivemos que fugir do Rio de Janeiro às pressas porque o homem que eu matei era um traficante, amigo e braço direito do dono do morro. Ouço alguém mexer na maçaneta da porta, encolho-me no canto com medo do que virá a acontecer comigo daqui para frente, sei que tenho que ser forte e encarar o que o destino preparou para mim. Vejo o homem que segurou meu braço abrir a porta e a mulher que me colocou nesse lugar aparece atrás do mesmo. Ela é uma loira falsificada, aparenta ter uns 30 anos. Tem os olhos verdes e é bem elegante, está usando um vestido sofisticado, da mesma forma que eu a conheci. Quando ela se aproxima um pouco de mim, eu não resisto e vou para cima da mesma. Agarro seus cabelos e a jogo no chão. Bato forte com sua cabeça no mesmo varias vezes, sinto seu sangue escorrer pelo chão, ela começa a gritar sem parar, e falar em uma língua desconhecida para mim. O homem que estava com ela, tira-me de cima da mesma, mas não antes de eu morder seu rosto, sinto o gosto metálico do seu sangue em minha boca.
Eva – Isso foi por ter me colocado aqui, sua v***a oxigenada. - Falo cuspindo o sangue da mesma no chão.
O segurança me joga no chão, sinto minhas costas doerem e arderem por causa do impacto. Ele iria me bater novamente mas a mulher o impede segurando em sua mão, ela está com os cabelos desgrenhados e a roupa toda amarrotada e suja de sangue.
XXX – Você enlouqueceu? Amanhã é a noite dela, muitos homens pagaram muito caro para ficar com essa selvagem aí. - Ela fala em português com um sotaque russo.
XXX – Você só sairá daqui amanhã, ficará sem comer e beber nada, para aprender a não se comportar dessa forma. Se algo do tipo acontecer novamente, eu irei esquecer os milhões de dólares que pagarão por você e quebrarei todos os seus dentes. - Ela fala indo em direção a porta.
Eva – Onde eu estou, e o que estou fazendo aqui? - Pergunto, fazendo-a parar no lugar.
XXX – Você está na Rússia, a sua mãe te vendeu. Agora você pertence ao Besserdechnyy (Sem Coração). - Ela fala dando risada e retirando-se do quarto, fechando a porta atrás de si.