Capítulo 2
Eva Narrando
Eu fui tão ingênua em pensar que a minha mãe poderia mudar . Ela sempre foi uma carrasca comigo . Não faria sentido algum ela mudar da noite para o dia , mas eu era tão tola que sempre acreditava nela .
Flashback on
Safira — Filha , como você está linda hoje . - Minha mãe fala na porta do meu quarto, eu nem havia notado a presença dela .
Estranho de primeira a forma como ela me trata , nunca foi assim , nem mesmo quando eu era pequena .
Eva — Mãe , a senhora está bem ? - Pergunto olhando para ela , a mesma está estranha .
Hoje ela está sóbria . Pelo visto não usou nenhuma droga , nem consumiu nenhum tipo de bebida alcoólica .
Safira — Claro que eu estou , bobinha . - Ela fala, sentando-se ao meu lado na cama .
Eva — É que ... a senhora nunca me tratou dessa forma . - Falo , estranhando a mudança dela .
Minha mãe é bonita porém está um pouco acabada por causa das drogas . A mesma tem os cabelos castanhos , olhos claros , eu não me pareço em nada com ela . Meus olhos são azuis, os cabelos pretos , pele clara assim como a dela . Acho que a única coisa que temos em comum é isso .
Safira — Eu queria falar do seu pai , você sempre me perguntou dele ... - Ela diz, passando sua mão em meus cabelos .
Eva — Sério mãe ? - Pergunto alegre, ela não gostava quando eu tocava nesse assunto .
Toda vez que eu perguntava algo relacionado ao meu pai , a mesma ficava chateada . Chegava até a bater em mim .
Safira — Você se parece tanto com ele , os olhos de vocês são idênticos e seus cabelos também . - Minha mãe fala olhando para mim de uma forma que nunca tinha feito antes .
Eva — Que alegria saber disso mamãe . Onde ele está e porque não temos contato? Qual é o nome dele? - Faço várias perguntas, uma atrás da outra, impedindo-a de falar.
Safira — Calma garota, uma pergunta por vez. - Minha mãe fala com um sorriso no rosto.
Eu nunca tinha visto ela dessa forma, sinto até uma alegria em meu peito.
Safira — Para começar, ele não é brasileiro. O nome dele é Russell, e não temos contatos com o mesmo porque ele tem uma outra família, e também não sabe da sua existência. - Mamãe fala um pouco triste.
Eva — Porque a senhora decidiu falar isso para mim agora? - Pergunto olhando para ela, que desvia o olhar.
Flashback off
E foi aí que eu percebi que tinha algo errado, era de se estranhar. Primeiro, ela nunca me tratou bem. Segundo, a mesma nunca tocava nesse assunto, e do nada mudou assim, sem mais nem menos. Ela estava aprontando alguma coisa, só que fui muito tola em não perceber a tempo. Eu ainda não consigo acreditar na crueldade que minha mãe foi capaz de fazer. Como ela pôde me vender dessa forma, como se eu fosse um objeto qualquer. Não existe uma justificativa para isso, mas eu ainda vou explicar como tudo aconteceu, isso me faz lembrar também das vezes que ela teve suas crises de abstinência, quando levava cada dia um homem desconhecido para a nossa casa e os mesmos tentavam me agarrar a força. Lembro também de quando eu tinha 12 anos e ela obrigou-me a pedir esmola na rua para comprar suas drogas. Pensando por esse ângulo, Safira nunca foi um exemplo de mãe. Mais cedo ou mais tarde algo desse tipo iria acontecer. Safira sempre foi grossa e ignorante comigo. Quando eu era pequena e chorava a noite com medo do escuro, ela nem ligava. Eu ouvia sempre os gemidos dela transando com um homem diferente a cada dia. E foi assim que eu perdi o medo do escuro, mesmo ela não estando comigo, eu não me sentia mais sozinha. Sabia que tinha alguém em casa e que nada iria acontecer comigo. Porém eu estava errada. Quando tinha meus treze para quatorze anos, estava dormindo e do nada senti alguém subir em cima de mim. Entrei em desespero, comecei a gritar porém ninguém apareceu, então tentei livrar-me do corpo pesado que estava sobre mim. Só que ele era muito forte. Olhei para o criado mudo que fica ao lado da minha cama e avistei o abajur que ganhei de uma única amiga que eu tinha, peguei o objeto e bati com toda minha força na cabeça do homem e o mesmo caiu no chão desmaiado. Passaram-se alguns minutos e minha mãe veio em busca do seu parceiro. Quando ela avistou ele no chão com a cabeça sangrando, brigou muito comigo. Xingou-me, falando um monte de barbaridades para mim. Mas eu não estava ouvindo nada do que ela estava falando, eu estava em choque no canto de minha cama, abraçada com meus joelhos. O homem foi levado para o hospital, porém o mesmo não resistiu. O golpe que eu dei nele foi fatal e ele veio a óbito. Toda noite aquela cena vem me atormentar, aquele homem, o homem que eu matei, vem assombrar os meus sonhos, junto com a mulher que me deu a luz.