Joana Está de Volta

1604 Words
Na favela da Rocinha, o vento soprava suavemente pelas ruelas estreitas e ladeiras íngremes, trazendo consigo os murmúrios da comunidade. Era uma noite comum para a maioria, mas para Joana, aquela era uma noite de retorno e de recomeço. Após meses de exílio autoimposto, ela estava de volta, e sua mente estava fervilhando com pensamentos de vingança. Joana havia sido uma presença marcante na Rocinha, conhecida por sua ousadia e beleza. No entanto, sua queda foi rápida e dolorosa. Tudo começou com sua obsessão por Coringa, o temido e respeitado líder da comunidade. Ela desejava ser mais do que uma simples amante; queria ser a rainha ao lado do rei. Mas seus planos foram frustrados por Thais, uma mulher que Joana passou a odiar com todas as suas forças. Thais, aos olhos de Joana, era a razão de sua humilhação e derrota. Depois do escândalo em que foi exposta nua pelas ruas da Rocinha, Joana foi ridicularizada e perdeu completamente o respeito que um dia teve. Aqueles que antes a temiam ou desejavam agora a desprezavam. Sem o apoio de Coringa, ela se tornou alvo de zombarias e vinganças pessoais daqueles que havia maltratado ao longo dos anos. A vida na Rocinha se tornou insuportável, e Joana decidiu que precisava fugir para se recuperar. Ela se refugiou na casa da avó, em um pequeno vilarejo no interior do Rio de Janeiro. Lá, longe dos olhares críticos e das fofocas da comunidade, Joana teve tempo para refletir, se curar e planejar. Seu cabelo, que havia sido raspado como uma forma de punição e humilhação, começava a crescer novamente. As cicatrizes físicas e emocionais estavam lentamente cicatrizando, mas a dor e o desejo de vingança permaneciam vivos em seu coração. Durante aquele período de afastamento, seu pai insistiu para que ela deixasse a Rocinha de vez, começando uma nova vida em outro lugar. Ele queria proteger a filha, afastá-la de tudo que havia de r**m naquela comunidade. Mas Joana tinha outros planos. Ela sabia que não poderia simplesmente partir e esquecer tudo. Ela precisava de vingança. E, para isso, ela estava disposta a qualquer coisa. Se Coringa não a queria mais, Joana encontraria uma maneira de feri-lo. Ela cogitou se envolver com alguém próximo a ele, alguém que pudesse lhe dar a proteção necessária e, ao mesmo tempo, acesso a informações valiosas. E quem melhor para isso do que Zé Pequeno, o maior rival de Coringa? Joana estava convencida de que, com as informações certas, poderia se tornar uma aliada valiosa para Zé Pequeno, ajudando-o a derrubar Coringa de uma vez por todas. Naquela noite, enquanto se preparava para a festa de aposentadoria de seu pai, Joana estava concentrada em seus planos. Ela havia prometido a ele que iria à festa, e, por mais que não quisesse, manter a aparência de filha dedicada fazia parte de seu plano de se reintegrar à comunidade e recuperar sua influência. Joana se olhou no espelho, admirando sua nova imagem. Seu cabelo, agora na altura do queixo, estava liso e bem cuidado, tingido de um loiro brilhante que realçava seus olhos verdes. Ela optou por um vestido curto e provocante, de cor vermelha, que abraçava suas curvas de maneira provocativa. Joana sabia que, para voltar a ser relevante, precisava atrair olhares e lembrar a todos quem ela era. A maquiagem estava impecável, com batom vermelho combinando com o vestido e olhos esfumados que destacavam sua sensualidade. Enquanto se preparava, Joana pensava em como faria seu próximo movimento. Zé Pequeno ainda não sabia que tinha uma nova aliada em potencial, mas ela estava certa de que ele não recusaria sua oferta quando soubesse. Afinal, informações privilegiadas eram uma arma poderosa, e Joana estava determinada a usá-las a seu favor. Ela só precisava de uma oportunidade para se aproximar dele e provar seu valor. A festa de aposentadoria do pai seria o lugar perfeito para começar a colocar seu plano em prática. Ela sabia que muitos ali a olhariam com desprezo, ainda se lembrando da humilhação que sofreu. Mas Joana não se importava mais com o que os outros pensavam. Ela tinha um objetivo claro, e nada a impediria de alcançá-lo. Com um último olhar no espelho, Joana sorriu para si mesma. A mulher que a encarava de volta não era mais a garota derrotada que fugiu da Rocinha. Era alguém renascido das cinzas, mais forte e mais perigosa. Ela estava pronta para enfrentar qualquer coisa que viesse em seu caminho. E, se tudo corresse como planejava, tanto Coringa quanto Thais aprenderiam da maneira mais difícil que ninguém brinca com Joana impunemente. Ela saiu de casa com a cabeça erguida, os saltos ecoando pela calçada, pronta para fazer sua grande reentrada na Rocinha. E, enquanto o céu começava a escurecer, Joana sentia que a noite lhe pertencia. Joana caminhava pelas ruas da Rocinha com passos firmes, o som dos seus saltos ressoando no asfalto irregular. Seus olhos varriam o cenário familiar, captando cada detalhe que havia deixado para trás meses antes. As ruelas estreitas, os grafites nas paredes, as crianças brincando descalças — tudo parecia igual, mas para ela, tudo havia mudado. O vento quente da noite trouxe consigo o cheiro de comida sendo preparada em algum lugar próximo, mas isso não conseguia acalmar a tempestade de emoções que fervilhava dentro dela. Enquanto avançava em direção à saída da comunidade, Joana passou pelo salão onde Thais e Soraya estavam fechando o estabelecimento. A visão de Thais, a mulher que, na mente de Joana, havia causado sua ruína, fez seu sangue ferver. A raiva pulsava tão forte que ela sentiu os dedos das mãos se curvarem involuntariamente, como se quisessem agarrar algo, alguém — Thais. Por um momento, Joana parou, observando-as à distância. Thais estava ocupada trancando a porta, enquanto Soraya organizava algo dentro do salão. Ambas pareciam despreocupadas, sem a menor ideia de que estavam sendo vigiadas por uma mulher que desejava sua destruição. Joana apertou os punhos, o ódio fervendo em suas veias. "Maldita", ela murmurou para si mesma, com os olhos fixos em Thais. "Você vai pagar por tudo. Vou acabar com você." Na mente de Joana, Thais era a razão de sua humilhação, e a única maneira de se redimir era destruí-la. Ela sabia que, para isso, precisaria primeiro derrubar Coringa, e estava determinada a fazer isso com a ajuda de Zé Pequeno. Assim que Coringa fosse derrotado, Thais estaria desprotegida, e Joana finalmente estaria livre para acabar com ela de uma vez por todas. Enquanto esses pensamentos sombrios passavam por sua mente, Thais, como se sentisse o olhar de Joana, se virou e a encarou. As duas mulheres trocaram olhares intensos por um breve momento. Thais, sem entender completamente o que aquele olhar significava, apenas franziu a testa, tentando decifrar a expressão de Joana. Era óbvio que havia algo errado, mas ela não sabia o que. Joana, percebendo que havia sido notada, rapidamente disfarçou. Relaxou os ombros e forçou um pequeno sorriso, assentindo brevemente em direção a Thais e Soraya, como se fosse um simples cumprimento. Soraya, ainda dentro do salão, não percebeu a tensão no ar, mas Thais não conseguiu evitar sentir um arrepio correr por sua espinha. "Quem era aquela?" Soraya perguntou, saindo do salão e trancando a porta, enquanto Thais ainda observava Joana se afastando. "Acho que Joana", Thais respondeu, mas sua voz carregava uma hesitação que não passou despercebida por Soraya. Joana, por outro lado, já se afastava, mantendo o passo firme e decidido. Ela sabia que não podia se dar ao luxo de ser notada agora. Havia muito trabalho a ser feito, e a última coisa que queria era levantar suspeitas antes da hora certa. Assim que estava fora de vista das duas irmãs, acelerou o passo, decidida a deixar aquela cena para trás. Chegando ao ponto onde normalmente os mototáxis esperavam por passageiros, Joana se aproximou de um dos pilotos que estava sentado em sua moto, aguardando clientes. Ela não perdeu tempo e, com um aceno de cabeça, indicou que precisava de uma corrida. "Pra onde, moça?" o mototaxista perguntou, já colocando o capacete. Joana respondeu, subindo na garupa da moto. O motor roncou, e eles partiram em alta velocidade, deixando a Rocinha para trás. Enquanto o vento batia em seu rosto e a cidade passava rapidamente ao seu redor, Joana tentava acalmar a mente. Ela sabia que precisava manter o foco. O ódio que sentia por Thais era forte, mas não podia deixar que isso nublasse seu julgamento. Se tudo corresse como planejava, logo estaria em uma posição em que poderia atacar Thais sem medo de represálias. Mas, por enquanto, precisava seguir com cautela. O mototáxi se movia com rapidez, cortando o trânsito da cidade com habilidade, e em poucos minutos, Joana já avistava as luzes e a movimentação da festa no batalhão. Era uma noite importante para seu pai, e Joana sabia que tinha que cumprir a promessa que fez de estar presente. Não que ela se importasse com a aposentadoria dele em si, mas essa era uma oportunidade para se aproximar de pessoas que poderiam ser úteis em seus planos. Assim que chegaram ao local, Joana desceu da moto e pagou o mototaxista, que se despediu com um aceno. Ela respirou fundo, ajeitando o vestido e se preparando mentalmente para enfrentar mais uma etapa de seu plano. Cada movimento era calculado, cada passo dado com cuidado. Agora, era hora de jogar o jogo com maestria, mantendo seu verdadeiro objetivo escondido até o momento certo. Ela entrou na festa com a confiança de alguém que sabia exatamente o que queria — e estava disposta a fazer qualquer coisa para conseguir.
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