Me surpreenda

1647 Words
As ruas da Rocinha estavam relativamente calmas naquela noite, exceto pelo som de risos e conversas que ecoavam dos bares e lares da comunidade. Thais e Soraya, ainda fechando o salão, estavam concentradas em suas tarefas quando o som agudo e familiar de uma moto cortando as ruas estreitas chamou a atenção de ambas. O ronco do motor ecoava pelos becos, reverberando nas paredes dos prédios ao redor. Thais ergueu a cabeça primeiro, os olhos estreitando enquanto tentava identificar a origem do som. Não demorou muito para a silhueta inconfundível de Coringa surgir, montado em sua moto, como um rei em seu trono de metal. Ele estacionou a moto com a destreza de quem já fez isso inúmeras vezes, e o motor rugiu uma última vez antes de silenciar, deixando um eco distante no ar. Soraya, percebendo a chegada de Coringa, parou o que estava fazendo e lançou um olhar cúmplice para a irmã. Coringa não fez alarde; em vez disso, acenou discretamente para Soraya, um gesto sutil, quase imperceptível, mas cheio de significado. Era como se aquele simples aceno dissesse mais do que qualquer palavra poderia. Então, ele virou-se para Thais, seus olhos encontrando os dela com a intensidade de sempre: "Sobe," ele ordenou, com uma voz rouca e firme, que não deixava espaço para questionamentos. O coração de Thais disparou instantaneamente, pulsando em seu peito como um tambor em ritmo acelerado. Ela sabia que, com Coringa, não havia espaço para dúvidas. Tudo o que ele fazia tinha uma razão, um propósito oculto, e, de alguma forma, ela sempre se sentia atraída para essa escuridão enigmática que o cercava. Despediu-se de Soraya com um sorriso breve e sem pensar duas vezes, caminhou em direção a ele. Soraya observou a cena com um sorriso malicioso nos lábios. Havia algo quase mágico na maneira como Thais e Coringa se entendiam, uma conexão que parecia transcender as palavras. Quando Thais subiu na moto e segurou firme na cintura de Coringa, Soraya viu o brilho nos olhos da irmã e soube que, onde quer que eles fossem, Thais estava onde queria estar. A moto acelerou novamente, rugindo com potência, e os dois partiram, rasgando as ruas da Rocinha como um trovão no céu noturno. Soraya ainda sorria enquanto observava a moto desaparecer na curva da rua, o som do motor ficando cada vez mais distante. Era como assistir a uma cena de um filme, onde os protagonistas seguiam para uma aventura desconhecida, deixando para trás o cenário familiar. Ela suspirou, contente por Thais, e finalmente se virou para voltar ao salão e terminar o que estava fazendo. Mas ao girar sobre os calcanhares, ela parou abruptamente. Ali, parado na esquina, com um sorriso nos lábios, estava Murilo. Ele observava Soraya com aquele olhar que sempre a deixava com as pernas bambas, uma mistura de travessura e admiração que a fazia sentir-se especial. "Hey," ele disse, a voz carregada de uma leveza que combinava perfeitamente com o sorriso que exibia. "É minha noite de folga. Que tal comermos alguma coisa juntos?" Soraya sentiu uma sensação cálida e agradável invadir seu peito, uma leveza que sempre a acometia quando estava perto de Murilo. Era como se todas as preocupações do dia simplesmente evaporassem quando ele estava por perto. Murilo tinha essa capacidade rara de fazê-la esquecer o mundo lá fora, trazendo-a para um momento presente onde tudo parecia mais simples e mais fácil. Ela sorriu, sentindo o coração aquecer ainda mais: "Você me leu os pensamentos," respondeu com um brilho no olhar. "Eu estava mesmo pensando em algo para comer." Murilo se aproximou, estendendo a mão para ela: "Então, acho que podemos resolver isso juntos. Tem um lugar aqui perto que eu conheço, serve a melhor comida caseira da região." Soraya aceitou a mão dele, sentindo a familiaridade confortável de seus dedos entrelaçados com os dela. Havia algo quase íntimo nesse gesto simples, algo que transcendia a necessidade de palavras. Era como se, de mãos dadas, eles pudessem se comunicar sem dizer nada. "Vamos lá, então," disse ela, rindo levemente. "Mas você vai ter que me surpreender com esse lugar. Minhas expectativas estão altas agora." Murilo soltou uma risada suave, começando a caminhar ao lado dela pelas ruas iluminadas da Rocinha: "Não vou te decepcionar, prometo." Enquanto andavam, o calor da noite parecia menos intenso, quase agradável. As luzes dos postes projetavam sombras longas nas paredes e calçadas, criando um ambiente aconchegante e familiar. Soraya sentia-se leve, tranquila, como se o mundo tivesse parado por um momento, permitindo-lhes desfrutar daquela simples caminhada juntos. Aos poucos, as risadas e o barulho das motos se distanciaram, deixando apenas os sons suaves de uma comunidade que ainda vibrava com vida. E enquanto Murilo e Soraya caminhavam lado a lado, ela não pôde evitar sentir que, por mais incerto que o futuro fosse, momentos como aquele tornavam tudo mais fácil de enfrentar. Murilo e Soraya caminharam pelas ruas da Rocinha, atravessando o agitado emaranhado de becos e vielas até alcançarem a estrada que os levaria à praia. A noite estava clara, com a lua cheia iluminando o caminho e a brisa suave do mar começando a se fazer sentir. Soraya aproveitava a companhia de Murilo, sentindo-se segura e confortável ao seu lado. Quando finalmente chegaram à praia, Murilo a guiou até um quiosque que ficava bem próximo à areia. De imediato, Soraya percebeu que, apesar da simplicidade do lugar, ele estava lotado, o que indicava que a comida ali era excelente e o ambiente agradável. O quiosque era feito de madeira rústica, com uma cobertura de palha que dava um ar descontraído e acolhedor. As mesas e cadeiras de plástico estavam espalhadas em torno do quiosque, algumas diretamente sobre a areia, enquanto outras estavam mais próximas da calçada, onde as luzes suaves de pequenos postes criavam um ambiente convidativo. O cheiro de comida fresca se misturava com o aroma do mar, criando uma atmosfera irresistível. O barulho das ondas ao fundo dava um toque especial ao local, enquanto as conversas animadas das pessoas ali presentes compunham a trilha sonora da noite. O quiosque era iluminado por luzes amarelas, que pendiam de cordões presos ao teto de palha, conferindo ao lugar um charme rústico e acolhedor. Murilo a levou até uma das mesas que ficava mais próxima à areia, de onde podiam sentir a brisa do mar e ouvir o som das ondas quebrando suavemente na praia. Eles se sentaram, e Soraya se viu encantada pelo ambiente ao seu redor. Era simples, sim, mas havia algo de especial naquele lugar. Talvez fosse a combinação da praia, da comida que já estava ansiosa para experimentar, e da companhia de Murilo. “Esse lugar é incrível,” disse Soraya, olhando ao redor com um sorriso. “Você não exagerou quando disse que ia me surpreender.” Murilo sorriu, satisfeito por vê-la tão à vontade. “Eu venho aqui sempre que posso. A comida é ótima, e o clima é sempre assim, descontraído. É um ótimo lugar para relaxar.” Um garçom jovem e simpático se aproximou da mesa, entregando o cardápio com um sorriso. “Boa noite! Vocês querem começar com alguma coisa para beber?” Soraya olhou para Murilo, que sugeriu: “Que tal uma água de coco para começar?” Ela assentiu, ainda sorrindo, e Murilo fez o pedido ao garçom. Enquanto esperavam, Soraya aproveitou para observar mais atentamente os detalhes do lugar. Havia uma grande churrasqueira na lateral do quiosque, de onde saíam espetos de carne, peixe e frango, grelhados na hora. O cheiro era irresistível. Em uma mesa próxima, um grupo de amigos conversava e ria, enquanto saboreava porções generosas de frutos do mar e batatas fritas. Em outra, um casal compartilhava um prato de camarões grelhados, com uma expressão de puro contentamento. O quiosque, apesar de simples, exalava um charme autêntico e acolhedor, que só os lugares verdadeiramente especiais têm. Não havia nada de sofisticado, mas isso era parte do apelo. Tudo ali parecia genuíno, desde a comida fresca até as pessoas que frequentavam o lugar. O garçom logo voltou com as bebidas, e Murilo aproveitou para pedir algumas porções. “Vamos começar com os camarões grelhados e uma porção de peixe frito. Eles fazem o melhor peixe frito que você vai provar na vida,” disse ele, piscando para Soraya. “Estou curiosa para experimentar,” ela respondeu, já sentindo o apetite aumentar. Enquanto esperavam pelos pratos, Murilo e Soraya continuaram a conversar, a noite parecendo se desenrolar de forma tão natural quanto as ondas que iam e vinham na praia ao lado. Soraya sentiu uma conexão especial com Murilo, algo que ia além do simples companheirismo. Ele era divertido, mas também tinha uma seriedade tranquila que a fazia sentir-se segura. Quando os pratos finalmente chegaram, Soraya não se decepcionou. Os camarões estavam grelhados na perfeição, com um toque de alho e limão que realçava o sabor natural do marisco. O peixe frito, por sua vez, estava crocante por fora e suculento por dentro, servido com uma generosa porção de batatas e molho tártaro caseiro. O cheiro era irresistível, e ao primeiro pedaço, Soraya soube que Murilo tinha razão. A comida era, de fato, maravilhosa. “Isso é incrível,” disse ela, saboreando um camarão grelhado. “Não sei como você descobriu este lugar, mas é perfeito.” Murilo sorriu, satisfeito em vê-la tão feliz. “Fico feliz que tenha gostado. É um dos meus lugares favoritos, e acho que agora também vai ser um dos seus.” Eles continuaram comendo e conversando, enquanto a noite avançava suavemente. O som das ondas, o sabor da comida e a companhia de Murilo criaram uma atmosfera quase mágica. Era uma noite simples, mas especial, e Soraya sabia que guardaria aquele momento com carinho. A brisa do mar, a comida deliciosa e o brilho nos olhos de Murilo formaram uma combinação perfeita, tornando aquela noite inesquecível.
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