Fúria silenciosa

1015 Words
Micheli entrou na clínica e imediatamente ficou impressionada com o ambiente ao seu redor. A clínica era luxuosa, mais do que qualquer outro lugar que ela já tivesse visitado. A recepção estava decorada com elegância, combinando sofás de couro branco com mesas de centro de vidro e flores frescas dispostas em arranjos perfeitamente simétricos. A iluminação suave criava um ambiente acolhedor, enquanto quadros discretos, mas caros, adornavam as paredes em tons pastel. O chão era de mármore brilhante, e o som dos saltos de Micheli ecoava suavemente pelo espaço à medida que ela se aproximava do balcão de recepção. Atrás dele, uma recepcionista bem vestida e sorridente os cumprimentou com uma educação impecável. Seus cabelos loiros estavam perfeitamente penteados, e sua maquiagem era discreta, mas profissional. Com um gesto cordial, ela indicou que Micheli e Igor deveriam esperar na sala de espera até serem chamados pelo médico. Micheli agradeceu e seguiu Igor até a sala de espera, sentindo-se um pouco deslocada. A sala era ampla e decorada com o mesmo luxo da recepção. Poltronas confortáveis estavam dispostas em pequenos grupos, cercadas por plantas exóticas em vasos de cerâmica. Revistas de moda e maternidade estavam empilhadas ordenadamente sobre as mesas laterais. Grandes janelas deixavam a luz natural entrar, iluminando o espaço de maneira suave e agradável. Ela olhou ao redor, notando as outras mulheres grávidas que aguardavam ali. Eram claramente de famílias ricas, vestindo roupas de marca e com acessórios caros. Micheli não estava m*l vestida, mas, em comparação com aquelas mulheres, sentiu-se imediatamente fora de contexto. Ela segurou a bolsa com um pouco mais de força, sentindo uma pontada de insegurança. Já Igor, como advogado acostumado a frequentar tribunais e lidar com pessoas influentes, sentia-se perfeitamente à vontade naquele ambiente. Para ele, aquela clínica era apenas mais um local onde ele sabia como se comportar, onde estava em seu elemento. Ele se sentou ao lado de Micheli com a naturalidade de quem está em casa, pegando uma revista da mesa ao lado e começando a folheá-la. Micheli, por outro lado, estava nervosa. Sentia os olhares de algumas das outras mulheres da sala de espera, e não demorou para perceber que não eram olhares amigáveis. Ela sabia que aquelas mulheres a viam como alguém que não pertencia àquele lugar. Era como se estivesse escrito em sua testa que ela era moradora da Rocinha. Não que ela se envergonhasse disso; pelo contrário, Micheli amava a comunidade onde vivia, mas isso não impedia que o preconceito a atingisse. Enquanto tentava ignorar o desconforto, Micheli notou uma mulher loira, extremamente maquiada, sentada em uma poltrona próxima. A mulher lançou um olhar de desprezo na direção de Micheli, e o gesto foi impossível de ignorar. Igor, que estava distraído com a revista, não percebeu de imediato a tensão que começava a se formar ao redor. Micheli tentou manter a compostura, mas sentiu seu coração acelerar quando a loira se inclinou para o homem ao seu lado e disse, em um tom que claramente queria ser ouvido por todos na sala: "Não sabia que o Dr. Gibson atendia mulher de traficante aqui. Não vou mais me consultar aqui." Aquelas palavras cortaram Micheli como uma lâmina, e o silêncio tenso que se seguiu fez com que todos na sala de espera se voltassem para ela e Igor. A humilhação queimava em seu rosto, e Micheli teve que fazer um esforço para não deixar as lágrimas escaparem. Igor, ao perceber o silêncio repentino e a maneira como todos olhavam para eles, finalmente olhou para cima. Ele viu o exato momento em que a loira revirou os olhos para Micheli, antes de se voltar para o homem ao seu lado com uma expressão de desdém. As palavras cruéis da mulher ainda ecoavam na sala, e Igor imediatamente entendeu o que estava acontecendo. O corpo de Micheli estava tenso ao lado de Igor, e ele percebeu o quanto ela estava nervosa, sentindo-se fora de lugar e exposta a um julgamento tão c***l e injusto. Igor fechou a revista lentamente, suas feições endurecendo enquanto olhava ao redor, notando como todos na sala pareciam estar esperando para ver sua reação. A sala de espera, antes um lugar de calma e elegância, agora parecia um campo de batalha silencioso, onde Micheli se sentia completamente vulnerável. E Igor, ao seu lado, sabia que precisaria fazer algo para proteger a mulher que estava ali com ele, sem deixar que aquelas palavras a ferissem ainda mais. Naquele momento, Micheli observou algo em Igor que nunca tinha visto antes. Era como se ele tivesse se transformado em uma versão do irmão fantasma, aquele que poucos conheciam, mas que todos temiam. Sua postura mudou instantaneamente de relaxada para tensa, seu corpo se tornando rígido, como uma mola prestes a se soltar. Seus olhos, antes cheios de uma serenidade calculada, agora se estreitavam com uma intensidade quase selvagem. Ele encarou a mulher loira com uma fúria silenciosa, e o impacto desse olhar foi imediato. A mulher, que momentos antes havia feito seu comentário venenoso com total confiança, agora se encolheu no lugar, a arrogância desaparecendo de seu rosto. Seu marido, sentado ao lado dela, pigarreou nervosamente, tentando manter uma compostura que claramente estava esvaindo-se. Igor então se levantou, movendo-se com a graça e a precisão de uma fera pronta para atacar. Cada movimento seu era controlado, mas carregava uma ameaça latente, como se a qualquer momento pudesse explodir em violência. A tensão na sala era palpável; todos prenderam a respiração, esperando para ver o que aconteceria a seguir. Mas Igor não gritou, não ameaçou verbalmente, nem fez um único gesto agressivo. Ao invés disso, ele retirou do bolso de seu paletó um cartão de visitas e o estendeu calmamente para o homem sentado ao lado da mulher loira. O homem, agora claramente nervoso, pegou o cartão com uma dose considerável de medo, como se estivesse recebendo um ultimato silencioso. Todos na sala continuaram a observar, a respiração suspensa, aguardando o próximo movimento de Igor, que continuava imperturbável, mas irradiando uma energia que deixava claro que ele não toleraria mais nenhum desrespeito dirigido a Micheli.
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